segunda-feira, 25 de junho de 2012

O outro é aquele que me diz quem eu sou.

Você deve conhecer um sem-número de pessoas que passam a maior parte do tempo delas criticando os outros. Do governo ao vizinho passando pelo chefe, colegas de trabalho e parentes.

São pessoas que, em geral, se preocupam muito com a vida dos outros e olham muito pouco pra si mesmas.

Estão sempre envolvidas com questiúnculas que, somadas, transformam suas vidas em verdadeiros infernos. São pessoas que lembram muito aquela figura do cão correndo atrás do próprio rabo, ou seja, não saem do lugar.

E por que criticamos o outro? Porque o outro é aquele que muitas vezes me diz quem eu sou.
E a minha fala sobre o outro revela, em parte, também o que eu penso sobre mim, que vejo refletido no outro. Aliás, existe até uma célebre frase de Freud: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo."

Quando ouço o outro falar de mim tenho de tentar entender o que ele fala de mim: é meu mesmo? Ou é dele projetado em mim.
Confuso?

Bem, a clínica psicanalítica pode ajudar nessa tarefa de prestar atenção no que o outro me revela, pois só reconheço no outro aquilo que existe em mim. E o outro só reconhece em mim aquilo que existe nele.

Muitas vezes as pessoas se assustam quando ouvem essa afirmação. E se revoltam. Num movimento natural de autodefesa, negam e repudiam qualquer tentativa de esclarecimento.
Obra de Picasso

Com frequência desdenham psicólogos, psicanalistas e gritam que não precisam de seus conselhos. No que eu concordo. Psicanalista não dá conselhos. Se o seu dá, fuja dele. 

Psicanalistas pontuam, ampliam a fala do analisando, podem interrogar, comparam a fala de hoje com a da sessão anterior, repetem palavras aparentemente ditas ao acaso...não julgam, não se antecipam, aguardam, respeitam silêncios, lágrimas e ausências.

O processo terapêutico, fase inicial da clínica psicanalítica, auxilia o indivíduo a perceber a si mesmo, a se conhecer e, se conhecendo, a se analisar, fase posterior e muito rica, pois é o próprio indivíduo que se descobre, através da fala de si mesmo e da fala do que ouve do outro e que ele traz para dentro do setting terapêutico; dos conteúdos oníricos trazidos na sessão, das lembranças de sua infância, de sua vida de uma forma em geral.

Então, dá próxima vez que se flagrar criticando alguém, olhe para dentro de si mesmo e tente perceber se esse conteúdo está presente também em você.



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