segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Afinal, o que é psicoterapia?

Por  Adriana Tanese Nogueira 

“A psicoterapia é um ramo da arte de curar que se desenvolveu e alcançou uma certa autonomia nos últimos cinquenta anos. As opiniões neste campo foram se transformando e se diferenciando de vários modos, e a massa de experiências que se acumulou deu lugar a diferentes interpretações. Isso porque a psicoterapia não é aquele método simples e único que num primeiro tempo se acreditava, mas revelou-se aos poucos uma espécie de “procedimento dialético”, um dialogo, uma avaliação entre duas pessoas. A dialética, originariamente arte de conversar dos filósofos antigos, logo serviu para designar um processo criativo de novas sínteses.” (“Pratica della Psicoterapia”, C. G. Jung Opere, Torino, Boringhieri, 1981, Vol. XVI, p. 7).

          Essas são as primeiras palavras que abrem o livro de Jung “Princípios da psicoterapia prática”, cuja primeira edição saiu em 1935. Vejamos o que elas querem dizer.
          A psicoterapia é uma cura, precisamente “uma arte de curar”, uma forma de produzir saúde, no caso, saúde “mental”. A saúde psíquica em questão se expressa como alegria de viver e geral bem estar, capacidade de tomar iniciativas, de  concentrar-se e perseguir os objetivos postos, criatividade para formular projetos de vida e atividades, independência física, emocional e intelectual, habilidade de reagir de forma adequada frente às decepções e dificuldades. É psicologicamente saudável a pessoa age não conforme estereótipos e “obrigações morais”, mas como resultado de sua profunda auto-consciência. Também, possuir discernimento e escolha faz parte do ser psicologicamente saudável.
          Psicoterapia não é destinada a doentes mentais, apesar deles poderem em alguns casos se beneficiar dela como tratamento colateral ao psiquiátrico. Esquizofrenia, psicóses, alucinações e outros distúrbios mentais graves pode ser inteiramente devidos a problemas orgânicas, necessitando portanto de tratamento médico. O psicoterapeuta não faz uso de remédios e conta com a consciência do analizando para poder fazer seu trabalho. Quando esta consciência (de qualquer nível for) faltar, o único tratamento possível é o psiquiatro. Como Jung escreve, psicoterapia é dialogo, e sabemos que com os loucos não tem conversa.
          A psicoterapia é destinada a todas as pessoas “normais” que não estão satisfeitas com sua vida ou aspectos da mesma. São pessoas que querem entender o que sentem e por que sentem o que sentem; desejam se conhecer para compreender suas escolhas e as situações que vivem; querem mudar o padrão de suas relações ou encontrar a bússola para sua vida. Enfim, a psicoterapia é para pessoas “normais” que têm problemas. Estes porém todos temos, problemas fazem parte da vida. Então por que fazer terapia?
          Einstein disse: “É a teoria que decide o que podemos observar”, o que significa que a mentalidade que temos (a teoria) nos faz ver uma coisa e não outra, privilegia pontos de vista, esconde ou revela o que é aceito pelos seus conceitos. Ninguém percebe o que seus olhos não estão acostumados a ver; a forma de pensar decide o que existe e o que não existe, além de dar interpretações previstas pela “teoria”. Logo, quando não se consegue resolver um problema é preciso analisar os olhos que estão enxergando esse problema. Isso é o que a psicoterapia faz (além de muitas outras maravilhas).
          A psicoterapia oferece outro ponto de vista. Ele é sempre mais abrangente e rico do que a mentalidade comum, mesmo aquela dos “cultos”, porque sua visão basea-se não só num mais amplo conhecimento da natureza humana como também nos conteúdos inconscientes (sonhos, sensações e etc.). O ponto de partida da psicoterapia é também mais profundo do que o da mentalidade comum porque pressupõe que o psicoterapeuta tenha feito seu trabalho interior e tenha conhecimentos que vão desde as teorias que ele segue à física quântica, antropologia, mitologia, literatura, sociologia e etc.
          Concluindo, psicoterapia é um trabalho de cura baseado no processo de auto-conhecimento do analisando ajudado pelo psicoterapeuta. Acontece semanalmente, uma ou duas vezes por semana, quando analista e analisando se encontram. É pago, pois esta é uma profissão e não um hobby, e fundamenta-se no compromisso, honestidade e continuidade de ambas as partes. O objetivo da psicoterapia é promover o bem estar do indivíduo, capacitando-o a compreender-se melhor e, portanto, a direcionar sua vida de acordo com suas necessidades reais, enfrentando de forma apropriada os conflitos e dificuldades que encontrar. A chave para isso tudo é o poderoso processo de evolução da consciência que leva para inesperadas e atraentes novas interpretações e modos de viver.

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...