terça-feira, 11 de março de 2014

O apaixonamento


Que interessante! Este post estava na seção de rascunho há nem sei quanto tempo. Há muito tempo. Cliquei para ver o que eu teria escrito sobre o tema e a surpresa: estava em branco.

O que me chamou a atenção é que este termo, especificamente este termo, apaixonamento, foi mencionado durante a minha sessão de análise pessoal.Não posso revelar o contexto, é claro, mas sabe-se que o apaixonamento também faz parte do processo analítico.

E como nós, psicanalistas, sabemos que somos muito mais guiados pelo nosso sábio inconsciente do que imagina nossa vã consciência, me intrigou o tal apaixonamento. Ou eu estaria implicada?

Ainda não tenho as respostas.Mas não se preocupe. Caso você também esteja intrigado com algum possível apaixonamento que o esteja rondando como um fantasma, não se assuste. Talvez ele seja apenas a manifestação de um amor dirigido a vários alvos. 


Podemos nos apaixonar por nós mesmos, pelo outro, pelo trabalho, por um livro, pelo autor do livro, por uma música, uma poesia. Freud identifica esse apaixonamento como o depósito da libido em um objeto, associando-o a aspectos pulsionais que estão a serviço de um ideal perdido. Mais ou menos isso: quando nos apaixonamos, estamos desejando sentir aquele aconchego do colo materno, o prazer da proximidade do seio nutridor, enfim, aquele amor de mãe que nós achamos que é insubstituível e por estarmos assim iludidos navegamos pelas ondas das sensações físicas que a proximidade de outros corpos nos dá, imaginando, inconscientemente, que estamos novamente no embalo do primeiro colo. Sem falar que estamos projetando no outro aquela imagem positiva que temos de nós mesmos (e vice-versa), como fazíamos quando bebês e olhávamos no espelho e não nos reconhecíamos, mas pensávamos que se tratava de outra criança e dizíamos "bebê", na terceira pessoa.

E por nos equivocarmos assim, pensamos que nosso amado ou amada atenderá a todos as nossas carências sem nos darmos conta de que do outro lado também jaz um ser que, da mesma forma, deseja que nós atendamos a todas as usas carências. 


É mais ou menos como se colocássemos dois bebês de cinco a seis meses um ao lado do outro e ficássemos observando de longe. Enquanto estiverem bem alimentados e limpos estarão alegres, tranquilos, se divertindo, rindo, brincando com seus próprios dedinhos ou pezinhos. À medida que o tempo passa e a fome ou o desconforto da fralda molhada aumenta, eles passam a ficar irritados, choram e se desesperam porque um não pode fazer nada pelo outro. Quem vai salvá-los? A mãe.
Só que não. Num apaixonamento, pensamos que o outro é a mãe. Mas ele (ela) não é. É apenas outro bebê chorão.


Por isso os relacionamentos amorosos são tão complicados. Em geral, nos apaixonamos por nós mesmos pensando que é o outro. Quando descobrimos que o ele não sou eu e que o eu não sou ele, vem a decepção frases comuns do tipo: mas quando a gente começou (o namoro, casamento etc) ele era outra pessoa!!! Sim. Era você. Depois vem a fase mais triste e turbulenta que é quando ambos se esforçam para atender às necessidades do outro - como uma mãe faria - mas a luta é inglória! Os bebês são tiranos insaciáveis! Sempre querem mais e mais. E a insatisfação se instala na vida do casal. Ela reclama de um lado, ele sai batendo a porta de outro.


Como solucionar esse impasse? Se não podemos ou se não devemos desejar o outro como a uma mãe nutridora e provedora, mas ao mesmo tempo, segundo Freud estamos condenados a isso o tempo todo, como se dá, afinal o verdadeiro apaixonamento entre dois adultos e não entre dois bebês? Isso existe? É possível? Quem sabe?

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