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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

ODE AOS CRENTES

Acreditei em cegonha, coelhinho da Páscoa e Papai Noel
Acreditei que o homem andou na lua
Acreditei que leite com manga fazia mal
Acreditei.
Acreditei que o bem sempre vencia o mal
Acreditei que bastava me confessar para um padre que os pecados estariam perdoados
Acreditei em pecados
Acreditei em perdão
Acreditei.
Acreditei em finais felizes e fins de semana coloridos
Em almoços de família em domingos ensolarados
Acreditei em versos e prosas
Em discursos e movimentos
Em ideais e mantras
Acreditei.
Acreditei em afirmações positivas
Em meditação ativa
Tarô, mitos e astrologia
Acreditei que amor rima com dor
Rima empobrecida e desgastada pela rotina
Acreditei em vida eterna, vida longa, sem limites
Acreditei
E finalmente, acreditei nas pessoas, nas promessas, nas palavras
Sem saber que é preciso aprender a não acreditar em nada
Que não seja em sua própria falta de razão para existir.

Apenas ser.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

2014 - o ano que não termina

Às vezes o melhor conselheiro não é o travesseiro, mas um bom, cheio e suculento copo de vinho. Sim, copo! daqueles tipo americano, cheio até a borda! Que frescura é essa? Taça? meu amigo, minha amiga, taça é coisa de e pra coxinhas, esqueceu?
Encha um belo copo de requeijão que está aí escondido no fundo do armário para os seus outros amigos coxinhas não saberem que você o conserva aí, e beba à sua solidão! beba à sua sábia solidão! brinde àquela sua sábia decisão de não morar com mais ninguém que te tolha os movimentos. Sim, você é um cara difícil, ok, assuma isso, cheio de manias, e daí? desde quando ter manias é defeito? Roberto Carlos tem um milhão de amigos e mais de um milhão de manias e ninguém acha que isso é um defeito, pelo contrário! As manias dele viram hit, viram rituais a serem cumpridos até pelos convidados de seu enésimo show de fim de ano da Globo.
Portanto, meu amigo minha amiga, beba à você! se brinde, se comemore! se ame! você merece tudo de bom! se um ou outro babaca de plantão (oh, mil desculpas aos mais puritanos que ainda pensam que não pronuncio palavrões ou palavras de baixo calão - isso vai gerar uma polemicazinha básica, mas tudo bem, eu sustento!) vier com aquele papo vago: então é Natal! questione, coloque na parede, jogue no ringue, mas não deixe barato.
Como assim, então é Natal e aí zera tudo? Isso é fraude! é como zerar o odômetro (sabe, aquele equipamento do carro que marca a quilometragem que o pessoal zera de forma fraudulenta pra fazer de conta que o carro tem baixa quilometragem e assim conseguir um preço melhor?) então, achar que porque é Natal todo um passado fica automaticamente zerado é fantasia! é ilusão! ou fraude! como assim? a pessoa te sacaneou o ano todo, a vida toda e aí, porque é natal você beija, abraça e fica tudo bem? Nem com 20 anos de terapia! Espera aí! Pensa!
E principalmente quando você está numa fase numerológica marcada pelo fim de um ciclo e início de outro, Aí, "mermão", se você estiver num trimestre 9 de um ano 9, pode esquecer! As pessoas à sua volta vão pirar!
Porque você vai romper barreiras, você vai subir a ladeira como se estivesse dirigindo uma Mercedes conversível modelo top! Vai pisar no acelerador bem fundo e só vai parar depois de chegar no topo e vai perceber que fez isso com certa tranquilidade, sem machucar ninguém. E se houver um copiloto orientando, melhor ainda! Desfrute desse momento! Curta o seu Natal sem se preocupar muito com as convenções sociais vigentes. Elas costumam engessar os sentimentos, enrijecer as ideias, congelar as emoções!
Viva seu Natal com muita vitalidade e disposição! Esquentando os motores para 2015, esse sim, um ano pra ficar na história! Beijos a todos meus leitores daqui e de além mar (descobri que sou mais lida do outro lado do Pacífico! hahaha1 Ah, mas na Europa tenho uns dois ou três fãs bem fiéis!).
Um ótimo Natal, re-nascer, re-nascimento para todos nós! Vamos rever posições, opiniões, amores, hábitos, costumes! Quem não é flexível enrijece! Parece óbvio, mas apesar da obviedade nem todos percebem o quanto são rígidos em seus conceitos e pre-conceitos. Liberte-se! Libere-se! Sua vida pode ser uma aparente confortável prisão!. Sim, mudar dá trabalho! Mudar dói! Mudar provoca crises, mas principalmente mudar LIBERTA!

domingo, 23 de novembro de 2014

Todo esse mistério

A menina de sapato amarelo e calça jeans delavé (que coisa mais demodé), não sabe.
O rapaz de cabelo rastafári e celular simplesinho, não sabe.
A senhora de chinelo havaiana de duas cores, também ignora.
O distinto cavalheiro de cavanhaque azulado e sobrancelhas grossas...ignora completamente.
A menina de saia rodada e chinelo de dedo...nem desconfia!
O idoso com cara de inteligente... talvez desconfie, mas não tem certeza.
O jovem de óculos tradicionais pensa que sabe...mas está frio.
A mulher de barriga de fora e calça justa pode ser...mas é improvável.
O casal gay feminino está tão ocupado em firmar sua posição, que não vai dar atenção...ao sorriso daquela senhora, beirando os 50, mas bonitona ainda, jovial...Que sorriso é esse? de lagarto?
E aquela japonesinha...loira, de minissaia, tatuada...nem aí...fone de ouvido...nem imagina...
O homem velho, mas vigoroso, acredita que a japinha sorriu pra ele...
Ninguém sabe...
A mulher de chapéu de palha e boca ajustada no preenchimento sorri para o cobrador do ônibus, que solenemente ignora...
O sujeito com cara de executivo decepciona ao tirar a Bíblia da mochila e recitar Provérbios...
A moça com cara de modelo é um travesti. E aí?
Mas ninguém sabe o motivo de seu sorriso de lagarto.
E como Marina, o que você quer é "todo esse mistério"....

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Por que você fala A e o outro entende B?

Como é difícil o relacionamento entre humanos. Quando se é inconsciente, e a maioria das pessoas é inconsciente, fica mais complicado. Relacionamento é um sistema intrincado de projeções e de despertamento de complexos que nem sequer sabemos que os possuímos, ou que somos possuídos por eles. A teoria psicanalítica explica bem o processo.

Você fala A com uma determinada intenção - e a intenção sempre existe ainda que você não tenha consciência - e o outro entende B.

Até aí não teria nenhum problema se a interpretação do outro não viesse carregada de tanto afetamento. E o afetamento acontece por causa das projeções. Eu projeto no outro aquilo que não vejo ou não reconheço em mim e vice-versa.

E por que ocorrem as discussões e os mal-entendidos? Porque o A que você falou inocentemente funcionou como um gatilho, um despertador de algum complexo de inferioridade, ou de superioridade, ou de poder, ou paterno, ou materno, enfim, o tal do A interpretado como B desencadeia aquilo que no linguajar terapêutico é o "ficar afetado pelo complexo".

Quer um exemplo?

Joana, uma moça trabalhadora, simples, porém, sofisticada, feliz de um modo geral, com seu trabalho e com sua vida, diz para Paulo, seu colega de departamento, moço bem-sucedido financeiramente, e provavelmente na vida pessoal já que ele nunca comenta nada sobre o assunto de forma negativa, que ele está num nível acima da média da humanidade. Joana se referiu à uma possível condição em nível espiritual, já que Paulo é sempre considerado e citado pelos seus amigos mais próximos como uma pessoa generosa, ponderada, meio fria, não demonstra muito seus sentimentos, mas por isso mesmo é considerado por alguns como uma pessoa que tem controle sobre seus impulsos mais primitivos, que a  maioria dos reles mortais não possui. Resumindo: Paulo aparenta ser uma pessoa perfeita, que, naturalmente não é, embora não faça nenhuma questão de demonstrar para o mundo sua falibilidade.

Paulo entende que Joana está se referindo à sua condição financeira que é, em termos de conta bancária, propriedades etc, sim, maior do que a de Joana, e ele entende que ela, por ter uma condição financeira inferior estava sendo sarcástica e fazendo uma crítica velada ao fato de ele ter uma posição endinheirada "um nível acima" da dela. E aí, Paulo, tomado pelo seu complexo de inferioridade (sim, apesar das aparências Paulo tinha um enorme complexo de inferioridade que vem sempre acompanhado de um de poder, de forma compensatória, claro) começa a discursar para Joana que sempre que ela se refere ao fato de ele ter mais grana do que ela faz com que ele se sinta como um lorde inglês que, no fim da história será descoberto como sendo na verdade o filho do cocheiro. E que ele tem grana porque sempre trabalhou, que nunca roubou, que acorda cedo, que  se sacrificou (sabe lá Deus quanto), que juntou, que poupou, que fez e  aconteceu, sempre de forma honesta, e que não via nenhum problema em ter mais dinheiro do que Joana ou qualquer outra pessoa etc etc etc.

Bom, Joana se espantou com a reação de Paulo. Justamente ele, o ponderado, o controlado, o educado, o sempre tão inteligente e culto. Paulo perdeu as estribeiras e Joana não entendeu por quê.

Você, com certeza já deve ter vivido ou presenciado cenas assim. Tanto no papel de Joana quanto no de Paulo.

Então, bem-vindo(a) à normalidade dos 95% da população neurótica que habita este planeta. Não se avexe. Você não está sozinho. Sozinho permanece aquele que se acha diferente.  Ou que pensa que esse post não é pra ele.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Mulheres são mais vulneráveis aos males do alcoolismo


Neste mês de março, as mulheres comemoram uma porção de conquistas. Mas é interessante que fiquem ligadas no consumo excessivo de bebidas alcoólicas - já está comprovado que, neste quesito, não se deveriam igualar aos homens

Porém, não é o que vem ocorrendo. De acordo com o site www.semexcesso.com.br durante muitos anos as mulheres se mantiveram longe das bebidas alcoólicas. Até o início da década de 1920 era praticamente impossível ver uma mulher em bares ou mesmo bebericando algo em um restaurante com amigos. Em 1932, nos Estados Unidos, mais de um milhão de americanas já tinham se associado à Womens Organizations for Nacional Proibition Reform, algo como “liga das Mulheres Contra a Lei Seca", que cairia um ano depois naquele país.  

Hoje as mulheres estão completamente livres para frequentar bares e festas e estão começando a abusar dessa liberdade, comprometendo negativamente sua saúde, muito mais do que os homens. 

Segundo o dr. Drauzio Varella "O metabolismo do álcool nas mulheres não é igual ao dos homens. Se administrarmos para dois indivíduos de sexos opostos a mesma dose ajustada de acordo com o peso corpóreo, a mulher apresentará níveis alcoólicos mais elevados no sangue.
A fragilidade aos efeitos embriagadores do álcool no sexo feminino é explicada pela maior proporção de tecido gorduroso no corpo das mulheres, por variações na absorção de álcool no decorrer do ciclo menstrual e por diferenças entre os dois sexos na concentração gástrica de desidrogenase alcoólica (enzima crucial para o metabolismo do álcool).
Por essas razões, as mulheres ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e suas complicações médicas.
Diversos estudos documentaram os benefícios do consumo moderado de bebidas alcoólicas, tanto em homens como em mulheres. A margem de segurança entre a quantidade de álcool benéfica e a que traz prejuízos à saúde das mulheres, entretanto, é estreita e nem sempre fácil de delimitar"
Leia mais sobre o assunto no site www.semexcesso.com.br, primeiro portal no Brasil que aborda exclusivamente o consumo responsável de bebidas alcoólicas, estimulando a reflexão e a conscientização a respeito das consequências da falta de moderação. Trata-se de uma iniciativa da Associação Brasileira de Bebidas – Abrabe, num esforço conjunto com suas mais de 50 associadas. O portal consolida a campanha nacional “Comemore com Sucesso, sem Excesso” que em dois anos já desenvolveu uma série de ações e foi agraciada em 2010 pelo 30º POP – Prêmio de Opinião Pública, concedido pelo Conselho Regional dos Profissionais de Relações Públicas – CONRERP.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Culpa, medo e manipulação, como se libertar do jogo?

                É muito comum atendermos pessoas com sérios problemas no casamento que envolvem culpa, medo e manipulação. Um cliente, tempos atrás, tinha a seguinte queixa: já havia um certo tempo em que ele se sentia insatisfeito e acabou se envolvendo com outra mulher. O relacionamento extra conjugal veio à tona. A esposa descobriu tudo e muito sofrimento foi gerado. A princípio decidiram se separar. Passado certo tempo da separação conversaram e decidiram retomar o casamento. Ela falava que tentaria perdoar o ocorrido e ele afirmava que tudo seria diferente dali por diante já que dizia realmente gostar da sua esposa e se sentia culpado pelo sofrimento que havia causado.
                Entretanto, algo muito mais fundamental, que vai além do diálogo racional não foi cuidado até aquele momento: os sentimentos de raiva e mágoa da esposa e a culpa que ele sentia.
                Guardando ainda ressentimentos do marido, a esposa passou a exigir mais e mais dele no relacionamento. Demandava que ele abrisse mão de todas as suas vontades para satisfazer as dela. Era ao mesmo tempo uma forma de puni-lo e de exigir que ele provasse que a amava. Como ele carregava a culpa de tê-la feito sofrer no passado, não conseguir impor limites e cedia cada vez mais, para compensar o que tinha feito.
                Esse jogo de manipulação acabou dando origem a brigas e mais sofrimento. Embora os dois afirmassem que desejavam continuar casados, a situação ficava cada vez mais insustentável.
                Quem guarda raiva ou mágoa de outra pessoa será levado de forma inconsciente por esses sentimentos a querer se vingar. Isso pode vir na forma de manipulação como ocorria com este casal. Mas o jogo só funciona quando o outro lado se sente culpado e cede às manipulações como forma de tentar compensar a culpa. Ela remoía e alimentava a mágoa do marido, e ele, sem saber, estava também alimentando a mágoa dela ao manter o sentimento de culpa pois entrava no jogo da chantagem. A cada dia ficavam mais infelizes.
                O jogo de manipulação precisa das duas partes para sobreviver: um lado magoado e o outro lado que se sente culpado para ceder ao jogo. Só existia uma maneira para que ele saísse desse jogo. Ele precisava acabar completamente com todo o seu sentimento de culpa, assim conseguiria impor limites na relação. Isso acabaria sendo benéfico para os dois, pois ela passaria a respeitá-lo e o relacionamento certamente melhoraria.
                Depois de muitas sessões de terapia, ele apresentava sinais de que havia dissolvido o sentimento de culpa. Sugerimos que ele deveria conversar com a esposa, dizendo que entendia a responsabilidade do que ele havia feito e que estava consciente do sofrimento que havia causado. Mas mesmo assim, a partir daquele momento ele voltaria a ter seu espaço no relacionamento como tinha antes. E que se não fosse dessa forma, seria melhor realmente uma separação definitiva pois aquela situação só estava causando mais sofrimento para os dois lados.
                Surgiu então o medo de que isso o levasse a se separar. Esse é também um sentimento que dá grande margem para a manipulação. Afinal, a esposa era resistente a fazer análise, acreditava que o problemático da relação era apenas o marido já que era ela quem fazia terapia.
Ele tentou conversar com ela, expondo seus sentimentos.
                No início ela reagiu à nova postura e tentou fazê-lo novamente sentir culpa relembrando o sofrimento que ele havia lhe causado. Ele ouviu e voltou a afirmar que sabia da sua responsabilidade mas que viveria a vida daquele momento por diante, e que se ela não estivesse preparada, a separação era o único caminho. Ele recomeçou a impor os limites e ela de vez em quando ainda tentava puni-lo. Mas como não havia mais o sentimento de culpa ele não mais cedia, deixando de alimentar a mágoa da esposa. Isso pode parecer frieza para algumas pessoas, mas não se trata disso. É apenas uma forma madura, livre de negatividade, de lidar com uma situação difícil. Ele já havia anteriormente pedido perdão várias vezes, mas ela permanecia alimentando a mágoa.
O processo não é rápido. Mas, com perseverança é bem possível que o relacionamento se transforme e as brigas acabem.
                A culpa que sentimos serve para alimentar a raiva dos outros a quem fizemos ou achamos que fizemos algo de "errado". Quando nos livramos da culpa a mágoa do outro não mais consegue crescer  pois não há mais qualquer ganho secundário em mantê-la já que não é mais possível haver manipulação.
                Quando estamos nesse jogo, a única forma de conseguirmos nos libertar é liberando nossos sentimentos de culpa e medo, deixando o outro livre para se afastar se ele desejar. Mas o afastamento raramente vai ocorrer. Normalmente o que acontece é que nós paramos de alimentar uma relação doente e o outro lado fica também mais saudável e acaba se aproximando de uma forma muito melhor.
                Esse jogo também pode ocorrer entre pais e filhos. Uma mãe que abandonou a filha e depois tenta retomar a relação com ela será muito suscetível a ser manipulada se guardar sentimentos de culpa. A filha vai alimentar a sua mágoa jogando na cara o quanto sua mãe lhe fez sofrer. Com isso a mágoa cresce e a filha tem o poder de conseguir mais coisas desse relacionamento doente. No momento em que essa mãe se libertar da culpa pelo erro cometido e do medo que a filha se afaste, ela conseguirá se aproximar da filha com outra postura e não se deixará manipular. A filha a princípio irá tentar manter o jogo, mas não haverá o outro lado contribuindo. A tendência será então que haja uma reaproximação e melhora na qualidade do relacionamento.
                O processo também pode ocorrer dos filhos para os pais. Filhos de pais manipuladores carregam muitas culpas. Esse pais são mestres em criar esse sentimento nos filhos. Cobram de mais e fazem chantagem emocional. O filho se sente um devedor, que nunca atende às expectativas, e se sente culpado por não conseguir dar alegria aos pais. Movido pela culpa, vira uma presa fácil da manipulação, cria uma vida infeliz de escolhas para agradar o pais, e alimenta a mágoa insana deles. Curando sua culpa, conseguirá se libertar desse jogo, será mais respeitado e uma transformação para melhor ocorrerá no relacionamento.
                O manipulador, embora possa parecer que está ganhando algo, apenas alimenta o seu ego e cria sofrimento para si mesmo e para os outros. A satisfação em fazer o outro atender a sua vontade é apenas uma falsa satisfação que encobre mágoas e problemas de autoestima. Esse texto é importante para ajudar a identificar os dois papéis, assim é possível se libertar de qualquer um deles com mais facilidade. Sozinho é possível, mas muito mais demorado. Procure a ajuda de um profissional.


domingo, 6 de novembro de 2011

O complexo de inferioridade e superioridade

Alfred Adler (1870/1937), psicólogo austríaco.
O texto a seguir faz parte do acervo de estudos compilados por nossos professores no curso livre de Psicanálise com abordagem junguiana do qual faço parte. Aqui vamos conhecer um pouco sobre Adler, médico e filósofo que trabalhou com Freud e que, posteriormente, também rompeu com ele, por não concordar com sua abordagem limitada ao instinto sexual.
Trata-se de um texto bastante didático sobre dois dos complexos mais comuns que incomodam grande parte da população.
No final, um teste para você identificar se é um deles que tem guiado suas atitudes e comportamento ao longo da sua vida.
Caso a resposta seja positiva,não se preocupe. Você não pode mudar seu complexo, mas pode aprender a conviver com ele de maneira harmoniosa e produtiva por estar consciente. Inconsciente será conduzido por ele (complexo) como provavelmente tem acontecido até hoje.
Mas isso pode mudar. É só você querer. E uma boa terapia também ajuda.


Ambos os conceitos que serão desenvolvidos neste estudo são a parte principal da obra do psicólogo ALFRED ADLER, primeiro discípulo de FREUD e também o primeiro a romper com o mesmo, por discordância na supremacia do instinto sexual na modelagem da personalidade. ADLER achava que o complexo de inferioridade era algo intrínseco à natureza humana, justamente pela fragilidade da criança perante o ambiente que a circunda. Sua extrema dependência dos familiares e impossibilidade de várias coisas acarretavam dito complexo. Em contrapartida desenvolvia fantasias de superioridade para compensar tal situação desvantajosa. Essa trama ou binômio (inferioridade-superioridade) acompanhariam o indivíduo pelo resto de sua vida. Pretendo estudar tais complexos dentro de nossa atualidade e analisando os fenômenos sociais que os acompanham. 


O complexo de inferioridade nasce quando a criança percebe o simples fato de não ser o único objeto do amor, afeição ou cuidado de seus pais; seja por ter outros irmãos ou os pais darem atenção a outras tarefas; o ciúme e raiva se desenvolvem bem cedo na criança. ADLER inclusive achava determinante na formação da personalidade que posição a criança ocupava no quadro familiar (primogênito, caçula, filho do meio). A ruptura da condição de não ser única ou do narcisismo infantil traz como herança a comparação e competição que também nos acompanharão pelo resto de nossas vidas.


Inferioridade, disputa de poder e rivalidade formam um dos núcleos centrais da alma humana. Todas visam originalmente obter atenção e controle sobre um ambiente hostil ou desconhecido. Seria uma visão completamente equivocada e reducionista achar que tais fenômenos são apenas reproduções dos processos econômicos e sociais; muito pelo contrário, o desenvolvimento de tais instintos é que moldará uma personalidade que mais tarde se tornará ávida pelo poder ou dinheiro. De certa forma não haveria nenhum problema com a competição e disputa de poder se paralelamente se desenvolvesse o núcleo da solidariedade como ADLER apregoava. Quantos de nós carecemos daquela figura generosa que nos mostrasse que uma derrota não é de forma alguma uma humilhação de nosso íntimo. A ausência de tal instrutor já é o primeiro gerador do complexo de inferioridade, pois não houve treino ou acompanhante para o processo da perda.


A grande questão para o pleno desenvolvimento da autoestima é “regar” na criança determinada potencialidade que jamais se dissolva no processo social ou da opinião alheia, sendo a prova máxima da existência de alguma verdade atemporal carregada por um ser humano e no qual dará um uso mais amplo do que meramente um ganho pessoal. Esta é a precisa definição do que vem a ser a segurança pessoal. Pode se iniciar com um mero elogio dos pais perante uma habilidade do bebê, que no decorrer de sua formação irá entender plenamente sua tarefa e responsabilidade por ter algo especial. Mas, infelizmente as coisas não são tão fáceis. Muitas vezes o mestre mais duro em relação ao nosso dever não cumprido ou falta é a inveja. A mesma sempre nos lembra o incômodo de talvez o outro crescer mais rápido, trazendo agonia e angústia perante algo que começamos a desejar e negligenciamos no passado recente. A felicidade é um estado transitório de alienação e afastamento do complexo de inferioridade, e a infelicidade é a dura recordação da tarefa não cumprida exposta acima. O complexo de inferioridade coloca a questão de todo o nosso desenvolvimento nas diferentes etapas da vida perante a opinião alheia, máximo carrasco de nossa era, adquirindo hegemonia perante nossas ações e medos. Personagens são então criados para abafar toda esta ansiedade criada. O que não se tolera é que alguém descubra uma determinada compulsão pessoal que visa encobrir nosso espírito solitário. Inferioridade em todos os níveis é sinônimo de solidão, rejeição e exclusão.


A inferioridade mesclada com a solidão é não ter a companhia ou testemunho de alguém acerca de nossa capacidade de proporcionar êxtase, sendo que se desenvolve a convicção profunda de não termos nenhuma importância do ponto de vista pessoal. Solidão e inferioridade são uma poupança cruel ou economia forçada de afetos, também dizem do mais extremado medo de não ter uma pessoa que na convivência possa coibir nossos desequilíbrios. Inferioridade e solidão são o represamento do poder pessoal, dando uma mensagem incessante de que jamais poderemos utilizá-lo, acarretando uma espera agonizante para que alguém nos liberte desse drama. Inferioridade também é o ódio pela expectativa não cumprida. O próprio mecanismo da compensação já é por si mesmo o complexo de inferioridade; se utilizar algo ou alguma característica de ênfase pessoal para encobrir ou facilitar o que se percebe como difícil. Praticamente todos fazem isso, seja através da estética ou dinheiro, como exemplos. Aliás, estética por si só nunca foi sinônima de saúde, apenas um determinado modelo que se procura imitar. O sucesso tão almejado é o mais puro esconderijo de todas as frustrações, e a humanidade sempre encarou tal questão como um segredo, quando na verdade é o sentido da vida dentro da estrutura social de competição que se criou ao longo dos séculos. O sucesso sempre foi protegido ou blindado de sua verdadeira função ou análise, parecendo que é um tabu denegrir tão cobiçado conceito.


Inferioridade diz da imagem de um passado não resolvido, turbulento, que está plenamente ao lado de qualquer prazer ou potencial presente, anulando constantemente o mesmo. O real não é percebido firmemente, podendo ser invadido a qualquer momento pelos fantasmas dos infortúnios vivenciados. O medo instintivo do ser humano, que geneticamente serviu para o instinto de autopreservação se transforma em corriqueiras cargas energéticas de humilhação ou inferioridade para a pessoa em questão; é uma espécie de piloto automático que avisa o indivíduo que o perigo nunca passa, isto é a essência da fragilidade, sendo que a exacerbação do cuidado é o nódulo central de todas as fobias que acometem a mente. Mas porque isto acontece, qual sua origem na infância? Sem sombra de dúvida este pesadelo da inferioridade começou quando a criança percebeu em algum momento a morte ou perigo de aniquilamento de seu ego, disparando todas as cargas extras sensoriais, hormonais e psíquicas para tentar se proteger.


O resultado não é apenas o trauma, mas o hábito do stress literalmente, quando o assunto é se gostar. O complexo de superioridade é justamente o oposto disso tudo, não há a necessidade da preservação, sem limites para o gozo ou exercício do poder. O espaço é da pessoa por natureza, um monarca com o direito a derramar todo o seu potencial agressivo. Obviamente para o desenvolvimento de dito complexo, a criança desde cedo foi mimada ou reforçada em demasia em vários dos eventos nos quais participou, inflacionando a verdadeira dimensão de seu potencial, e consequentemente contribuindo para o prejuízo de seu senso de comunidade. Não precisamos ir muito longe para observarmos as crianças e jovens mimados de hoje em dia, verdadeiros tiranos que exploram a culpa dos pais, lhes forçando ao provimento de todos os seus caprichos materiais e pessoais. A competição desde cedo invade a mente e alma destes, sendo que não se enxerga o verdadeiro valor de outro ser humano, apenas utilizando o mesmo contra a solidão ou o pânico da exclusão. A solidão é também extremamente pesada em nossa época por colocar numa regra matemática as desvantagens e vantagens de tal fenômeno. O conceito soa um tanto estranho, mas o fato é que a mente não tolera uma resposta tão precisa de eventos emocionais. A fantasia e fabulação não deixam de ser mecanismos protetores contra a frustração real da afetividade não vivenciada. A solidão primeiramente fornece as vantagens das desobrigações para com o outro e o sentido da liberdade íntima, mas a seguir advém a agonia de saber que se está no mais puro isolamento que um ser humano pode suportar, afora a culpa corrosiva de achar que sempre afastou as pessoas ao seu redor.


Se desde cedo, percebemos o diminuto de nossa existência, é claro que os desejos de poder ou imortalidade ao menos na memória coletiva seriam as compensações. O narcisismo em voga na nossa sociedade é o exemplo máximo dessa tentativa de superioridade, ao contrário da pessoa que se sente inferior, não conseguindo descobrir ou atuar num ramo em que obteria a grandeza. Outro núcleo do complexo de inferioridade se estabelece quando a pessoa no transcorrer de sua vida perdeu quase que totalmente a capacidade para dizer um não. O ceder inicialmente corresponde à expectativa de uma futura gratidão por parte do outro. Mas quando não ocorre o que justifica a continuidade do comportamento nefasto para a pessoa? A resposta é o ódio disfarçado de uma mágoa constante visando cobrar o que lhe seria devido. Porém, tal processo pode se arrastar por anos e coibir completamente a autoestima do indivíduo. A dificuldade do não diz do tabu perante a agressividade e o ódio, elementos fundamentais que precisam ser elaborados em nossa existência. Para alguns atuar o não é desenvolver uma paranóia extrema perante uma retaliação que talvez seja até inexistente. Obviamente há uma ativação total do medo, sendo que a preocupação se torna dilacerante, preenchendo todos os espaços da mente. Isto é exatamente o oposto da chamada “paz de espírito”, e todos temem passar por tal agonia. A sensação de covardia se contradiz com o ter de reagir perante eventos que na maioria das vezes sabemos que são mais do que ínfimos.


Pensemos em um dos conceitos clássicos da psicologia que é a elaboração do luto. O mesmo teria a finalidade de um tempo para que a pessoa vivenciasse a experiência da dor ou perda. O que tal tese não percebe é a diferença radical entre luto e velório. O primeiro é extremamente tendencioso a uma continuidade destrutiva para a saúde psíquica do sujeito; já o velório é um processo de curta duração, sendo que a pessoa é obrigada a encarar frontalmente a perda. O tempo sempre é fundamental para evitar a sedimentação das sequelas emocionais que uma separação ou perda produzem.Uma separação sempre é igualada ao complexo de inferioridade não apenas pelo receio da crítica social, mas por se achar impossível novamente encontrar alguém que entenda a intimidade da pessoa. Tal fato sempre foi confundido como uma espécie de comodismo ou apego para o reinício de algo, não que tais fenômenos não ocorram, mas muitos se esquecem de analisar que o grande drama é perceber que uma nova ligação coloca sempre o desafio se a pessoa realmente é capaz de conquistar alguém. É engraçado e curioso como no terreno afetivo o ser humano exacerba o medo de perder, permitindo o desperdício do tempo.


A verdade é que em nossa atual sociedade já foram criados nódulos fixos do complexo de inferioridade: não conseguir lucro material, obesidade, solidão, ausência de amizades e exclusão social (entrando o racismo nas diferentes áreas). O dilema de toda pessoa é se a mesma pode vir a possuir algo que a princípio não seja mero fruto da pressão externa, mas que um dia seja reconhecida pela mesma de forma natural, assim sendo, isto seria realmente algo que preencheria o sujeito, e não todos os recalques que se carregam pelo medo da opinião alheia. A questão não é propriamente que tipo de inferioridade se abate sobre o sujeito, mas como irá enfrentá-la, com agressividade, tristeza, inconformismo, timidez. Todas o afastam plenamente da aceitação de sua pessoa. A timidez talvez seja a pior de todas, pois se criou um segredo quase que absoluto sobre a pessoa que não deseja dividir sua intimidade. A lei que passa a vigorar é encaixotar qualquer emoção mais profunda perante outro ser humano. O tímido jamais aceita fazer sua parte quando o assunto é se abrir para os relacionamentos em geral; abstendo-se de tudo, até da denúncia de um sistema que segrega, já que optou por tal modelo pessoal espontaneamente. Percebam mais uma vez que o problema da inferioridade é a proibição da criação no presente; tudo está amplamente ligado ao passado, devendo compensá-lo a todo instante. É quase uma suprema autorização mais do que abstrata para se poder viver, e que nunca chega.


A prática profissional me deu a certeza de que o problema do complexo de inferioridade ou neurose é quando não há mais a discriminação entre o “grande ou pequeno” dentro do esquema mental da pessoa, nivelando quase que toda a experiência pelo medo ou terror. É desnecessário dizer que tal prática deixa seqüelas quase que irreparáveis na socialização e humor do indivíduo. O esquema econômico oportunista inventou uma espécie de vacina para tal moléstia; o consumo. Este parece ser a única cura para quem sofre de algum transtorno com sua autoestima; novamente nivelando ou dando a fuga para todos os males da personalidade. É óbvio que algo ou alguém iriam desenvolver um projeto de lucro ou ganho em cima do sofrimento psicológico; a história da humanidade é prova viva de tal prática. O problema é que tal assunto é apenas encarado de forma ideológica, sendo que a essência não é a fuga citada para o consumo, mas, quais consequências irão surgir ao longo do tempo para quem aceita o suborno material para o que não consegue lidar? O sistema criou caricaturas de pessoas consumistas com altas doses de infelicidade (madames, crianças mimadas), quando na verdade todos aguardam a oportunidade de recorrer a tal expediente. O dinheiro há muito tempo não é apenas o seguro contra a privação, sendo a garantia máxima de adiar o confronto contra o balanço pessoal sobre se a pessoa obteve satisfação, plenitude ou ansiedade e desgraça.


FREUD acreditava que o núcleo da neurose era a compulsão para a repetição, um evento mórbido que tinha a característica de repetir diversas vezes o mesmo trauma até uma possível tentativa de assimilá-lo. Além dessa questão indiscutível do ponto de vista técnico, tal fenômeno quando ocorre inicia uma espécie de jogo econômico no plano mental, poupando o sonho ou prazer almejado pelo indivíduo. Isto visa ampliar de forma indireta a experiência do prazer; se concentrar em eventos passados é um disfarce para o tédio que a curta duração da satisfação proporciona, é como conquistar um troféu e apenas esperar pelo próximo, sendo o centro total da ansiedade. A sexualidade não tem a primazia por sua questão de prazer propriamente dita, mas, exatamente pela extrema finitude e curta duração do ato do gozo. O tempo sempre foi e será o centro de toda dimensão e complexidade psicológica, sendo o último complexo, podendo passar por liberdade, sofrimento, confinamento, alívio, dentre outros. O indivíduo que não aceita tal desapego citado acaba adiando sua busca pessoal de satisfação, não percebendo que a cada dia se afasta mais de seus objetivos. Não precisamos ir muito longe para vermos diversos exemplos em nossa sociedade, à busca da perfeição em um parceiro ou companheiro afetivo e sexual, tornando a pessoa arredia e isolada neste terreno. É um tanto estranho que uma sociedade tão consumista e hedonista não consiga efetivamente gastar ou vivenciar o prazer em sua plenitude, exatamente pelo conflito do tempo citado. O mesmo jamais será uma mercadoria, pelo contrário, nosso juiz máximo para o autoconhecimento ou horror da perda.


Seja a passividade de alguém tentando agradar a todos, para se evitar o tormento do conflito, ou a pessoa que faz deste último sua meta de vida, o problema da rejeição está intimamente relacionado ao complexo de inferioridade. O próprio fenômeno do amor não deixa de ser uma tentativa de cura para tal pesadelo de nossa alma. A rejeição também está relacionada à dificuldade de se lidar com o problema do erro. Pessoas que não conseguem lidar com o mesmo, encaram tal fenômeno como único, sendo que talvez não terão mais oportunidades de reparo ou outras chances de reconhecimento; é como se no decorrer do desenvolvimento o lado afetivo fosse uma espécie de um teste de emprego, ou se consegue o cargo ou se está totalmente excluído, sendo que o amor dos pais é visto nesta perspectiva de não ter aproveitado a ocasião. O centro máximo da psicologia na atualidade passa também pela temática do apego. O grande malefício do mesmo é quando cada ser humano faz uma leitura do medo da perda de algo que lhe trouxe felicidade ou satisfação, quando na verdade tudo pode não passar de um núcleo de comportamento vicioso, obstruindo novos caminhos. Obviamente que o conforto, materialismo e raciocínio de segurança de nossa era amplificam tal questão: boa conta bancária como seguro contra a miséria, casamento ou relacionamento para afastar a solidão, dentre outros.


A tentativa de perpetuação com certeza nunca foi o melhor caminho para a saúde psicológica. Porém, sejamos francos, nenhum ser humano em nossa sociedade conseguiu viver outro modelo. A posse enseja a loucura da perda e recomeço, como disse acima, e quem não possui vive o dilema do desejo, que se torna também loucura por ter de vivenciar uma paciência que parece que nunca traz o objeto almejado. Sendo assim, o desejo acaba por ser algo dilacerante, que corrói e transmuta negativamente sua própria origem e finalidade. Então estamos falando da mais pura ilusão, sendo que todo esforço é para compensar medos irreais que quase nunca conseguimos trabalhar, mas que afetam totalmente nossa vida diária. Se a realidade então supre uma necessidade inconsciente quase que fantasmagórica, parece que se vive no limbo, ou talvez isto seja a resposta de todo o nosso fracasso no âmbito pessoal e social. O problema do dinheiro não é sua retenção ou alguém se tornar perdulário, mas assim como o sexo e afetividade, quando se usam tais instrumentos para encobrir o medo da impermanência citada anteriormente. É um mito um tanto tolo achar que o trabalho teria um sentido de expulsão do paraíso, quando na verdade também é usado para encobrir várias angústias existenciais, e este é sempre o problema ontológico, em qualquer direção que seguimos, percebermos a finitude.


A superação do complexo de inferioridade passa por um aspecto na correta efetivação do que chamo de “contabilidade emocional”. O que determinada pessoa recebeu de afeto versus o que pode doar sempre são excludentes, ao contrário do que quase todos pensam. A prova disso é que se a fórmula fosse igual, a pessoa mimada teria necessariamente de doar amplamente, fato que nunca ocorre. Este é o ponto nevrálgico de libertação, pois o que se possui internamente jamais provém apenas do reforço, mas de uma habilidade de reconhecer sua potencialidade. Pensemos no indivíduo que não para de chorar diante da angústia de sua história de vida, paralelamente ao desprezo de outro perante sua suposta fartura emocional (o mimado citado). A cura final é o ponto onde se desperta o prazer, sendo que deve ser um fenômeno da mais pura meditação pessoal, sem qualquer interferência da ditadura da opinião alheia. Mas alguns irão questionar se a descoberta da potencialidade não depende do reforço de outro? Jamais, apenas a conscientização de uma avareza daquele que podia ajudar ou doar e não o fez, assim como enxergar seu histórico de se sentir totalmente privado de algo.


Outro conceito importante para a superação da inferioridade é perceber a semelhança entre o ato do amor e a própria evolução da pessoa. Ambos têm sua junção na percepção do que cada pessoa ao seu redor pode fazer ou não no preenchimento das necessidades afetivas de ambos, tarefa muito mais profícua do que a perda de tempo no sofrimento da expectativa da transformação do outro. A intuição sempre nos alerta de que a insistência já é por si mesma uma mensagem do não retorno daquilo que se almeja. Amar também é abandonar a tempo um sujeito incapacitado para a arte da troca, evitando a cristalização de sequelas quase que irreversíveis para a saúde afetiva. Isto seria o mais puro uso correto do que podemos chamar de sensibilidade, ao contrário das pessoas que a utilizam apenas na arte da superstição ou no desenvolvimento da angústia ou sintomas. Devemos estar extremamente atentos ao manejo daquilo que sonhamos e ainda não o obtemos. Estar sempre de sentinela perante o desejo não cumprido em nada garante a sua consecução. Lembro-me de um sonho de um paciente onde no mesmo sonhava que estava para ser enterrado vivo, por uma outra pessoa desprezível do ponto de vista estético e higiênico; tentava ganhar tempo a todo custo, para ver se fugia; na sequência fora transportado para uma outra cena onde conhecia uma mulher que lhe proporcionou o mais intenso e puro momento de felicidade. O inconsciente é a total dualidade, o embate constante de opostos, assim sendo, permanecer fixado apenas no desejo ou só num determinado caminho, sem a percepção de outros processos não garante nenhum êxito como disse acima.


Cada época expressa de forma singular suas idiossincrasias e medos. Nossa era reúne dois núcleos centrais na inferioridade, e que são causadores dos mais graves distúrbios de personalidade: a exclusão sócio-econômica e o abandono afetivo. O receio das pessoas perante estas duas áreas é claríssimo, porém o que ninguém ousa tocar é a natureza de tais fenômenos. É impressionante como ambos são os causadores máximos de vários distúrbios psicossomáticos, e obviamente ninguém deseja passar por tal infortúnio. Além disso, outro ponto de extremo pesar é quando sentimos aquela tristeza contagiante de outra pessoa, e sem sabermos a razão, nosso humor e talvez aquilo que se chame de sorte foi completamente tirado de nós. Seria isto a pura energia negativa? Diria que afora o misticismo, tais acontecimentos negativos têm a capacidade de ativação de nosso lado destrutivo que tanto tentamos abafar ou negar, e por mais que tentemos a negação, sabemos intrinsecamente que qualquer malefício sempre está perto de nossa vida. Mas enfim, como aprender a se gostar com todas as armadilhas citadas no texto? Diria primeiramente que deveria haver uma espécie de equilíbrio entre as exigências estéticas e sociais do meio com os aspectos da personalidade do sujeito, sendo que o mesmo aprenderia a investir no externo e interno, este último possui uma defasagem descabida em nossos dias.


Muitos atrelam seu valor a outra pessoa, uma espécie de “salvador”, para que o mesmo tenha a função de ratificar as potencialidades da pessoa em déficit. Sem dúvida alguma vivemos em sociedade e pouca coisa possui valor na solidão e isolamento. Mas no assunto da autoestima deveria haver uma quebra momentânea, sem aquele cunho neurótico ou esquizofrênico, onde a pessoa em determinado ponto percebesse seu aspecto pessoal de genialidade e capacidade, seja na área sexual, companhia, inteligência ou estímulo e vontade para a mudança. O “se gostar” é amplamente diferente do êxtase de uma felicidade momentânea ou a satisfação de um sonho tão cobiçado, o problema é que a maioria confunde estes setores, se diminuindo e tocando ao longo da vida um projeto de segurança, que nada mais é do que o sinônimo máximo da mediocridade. O ápice da escravidão moderna é a loucura da dependência em todas as áreas: drogas, opinião alheia, companheiro (a), dinheiro, receio de perder o que se conquistou, ou as coisas que nos distraem. 


O stress é a conspiração diária da ansiedade e desejo irreal de segurança, nos transportando para um mundo ilusório dentro da curta realidade de nossa vida. 


Por fim, segue um teste dinâmico, acerca dos fatores históricos que causam a inferioridade, que deve ser feito preferencialmente conjuntamente com um terapeuta profissional que tenha ciência da junção entre conflitos psíquicos e esquema social.


Teste sobre o complexo de inferioridade e superioridade:


“Qualquer teste só é válido para uma reflexão pessoal, e não confiar a algo estático um juízo de valor para nossa personalidade”.


1)No decorrer de seu desenvolvimento foi estimulado ou sempre motivo de ironia ou gozação?


2)Lembrar de todos os apelidos que teve e as razões que as pessoas tiveram para os imputar.


3)Quando as lembranças mais agradáveis da infância se dissiparam? Sentiu que conseguiu a satisfação sobre tal período, ou o tempo de felicidade foi extremamente curto?(pergunta fundamental que investiga toda a fantasia e tendência a um saudosismo irreal, fazendo com que a pessoa veja a trajetória de sua carência e falta de oportunidade para vivenciar o prazer, esta pergunta ainda dá pistas sobre como a pessoa não se dá à oportunidade para resolver ou aproveitar aquilo que sempre desejou)


4)Como sempre sentiu a conversa com os pais?(convidativa ou com um tom de reprovação?)


5)Qual a área que sua família priorizou?(material, disciplinar, prazer e amizade entre seus membros? Notem que quanto mais envelhecemos observamos o que mais faltou em nosso meio)




6)História de seu rendimento escolar (destaque, mediano, abaixo da média, sendo que sempre lhe cobraram a mais do que conseguia?)


7)A história de suas relações afetiva e sexual (acabaram como? Em total discórdia, se preservou algo? - pergunta fundamental para se obter onde repousa o núcleo da afetividade; no ódio, agressividade, lamentação dentre outros)




8)Como sempre trabalhou o aspecto da rejeição? (com imensa dose de angústia, desespero, ou procurou refletir o porquê de a pessoa ou situação darem errados? Sentia que sempre poderia encontrar outra pessoa, ou seu apego dava a noção de ser a última oportunidade de sua vida?)


9)Que tipo de homem ou mulher fantasiou desde a adolescência?(aspectos estéticos, fama, poder, procure refletir sinceramente quais foram às influências que motivaram tais conteúdos)


10)Na área histórica do trabalho como sente que foi sua atitude emocional (paranoia, conflito, sensação de incapacidade, atenuador de discussões ou seguro de si mesmo)?


11)Qual a tônica de seus relacionamentos em geral?(disputa, rebeldia, passividade, paternalismo, indiferença?)


12) Excetuando perdas de familiares, qual foi à vivência mais triste de sua vida? (Não confundir com dificuldades cotidianas; o objetivo é localizar determinado fenômeno que deixou sequelas.)


13) Conseguiu avançar no tocante à amargura de determinado desejo não realizado? E sobre a inveja perante os outros, como sempre lidou com tal questão? Parou para analisar o incômodo de tal sentimento quando ocorreu, ou tentou apenas esquecer o acontecimento?


14) Quais foram os acontecimentos que mais lhe proporcionaram arrependimento? O que houve? Demora na ação ou resposta, timidez? (o arrependimento deve ser encarado como uma pista de algum bloqueio ou sabotagem perante algum desejo nosso; pois quando se encontra ao alcance, muitas vezes se desenvolve um mecanismo de medo ou temor perante os mesmos. Devemos refletir que o problema não é ter perdido algo, mas, quanto de possibilidade e motivação nos resta para a continuidade de nossas metas.)


15) Se tivesse que fazer um balanço de situações de sofrimento, quais das mesmas efetivamente lhe causaram prejuízo, e quantas não foram valorizadas simplesmente pelo medo da exclusão ou repetição de algo? (novamente insisto na dimensão da mistura do grande e pequeno, e o nível de tolerância de uma pessoa, sendo que o resultado para alguns é um imenso desperdício não apenas de seu humor, mas, da motivação que sempre é subtraída pela preocupação).


16) Consegue analisar o tamanho de sua insegurança ou ciúme? Pensar nas situações de descontrole, exemplo: ligar desesperadamente diversas vezes para uma pessoa, a insistência carregada de ódio modifica algo? Forçar a continuidade é prova de nosso poder pessoal? A insistência não seria também uma prévia de uma futura ruptura?


17) Na questão do sono, qual a essência corriqueira de seus sonhos ou pesadelos? Caso os temas sejam recorrentes, quando começaram? Se há insônia, consegue visualizar o motivo, ansiedade, depressão, falta de iniciativa durante o dia para pensar ou perceber como poderia resolver seus conflitos?


18) Que tipo de prazeres estariam ao seu alcance, mas, que simplesmente você trava na hora de os executar? Sua tentativa de disciplina interna apenas segue o comando da opinião alheia?


19) Quanto tempo calcula que levará para resolver ou alcançar as reais metas de sua vida? Por que não as efetuou até o momento?


20) Como encara qualquer tipo de ajuda, seja psicológica, familiar, com orgulho? Com naturalidade? (pergunta fundamental para se iniciar o processo de mudança, pois pessoas com grande soma de inferioridade resistem à qualquer tipo de intervenção externa).


21) Qual o peso que carrega pela falta de investimento naquela área que seria prioritária para sua satisfação pessoal, mas, que por indolência e resistência não o fez? (a pergunta mais importante, pois dá uma dimensão da falta de sentido da vida de determinado sujeito que apenas segue modelos, obstruindo sua criatividade).


Fonte: ADLER, ALFRED. "O CARÁTER NEURÓTICO". BUENOS AIRES, EDITORA PAIDÓS, 1912

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Síndrome do pânico: a epidemia psicológica da década

Emprestei o texto abaixo do especialista em hipnoterapia Bayard Galvão. Achei o tema pertinente com tudo o que sempre comentamos por aqui. Espero que seja útil aos meus leitores.




Síndrome do pânico é um sofrimento psíquico provocado pelo “medo de ter medo”, ou mais especificamente, “medo de ter, novamente, uma crise de ansiedade”, sendo essa crise uma ou mais das seguintes sensações, com intensidade: taquicardia, falta de ar, sudorese nas mãos, confusão mental e dor no peito. Ela é muitas vezes confundida com um ataque cardíaco, levando o indivíduo ao hospital por achar que isso está ocorrendo, pelo menos na primeira, ou primeiras vezes. 




O próprio medo de ter uma crise de ansiedade dispara a crise, ou seja, o medo provoca o que é temido, gerando um quadro violento de retro-alimentação: o medo gera a crise, a crise provoca tanto desconforto que gera o medo de ter a crise.


Um ou mais dos seguintes efeitos são comuns ao indivíduo que tem esse quadro psicológico, em maior ou menor nível: medo de fazer esporte, medo de viajar, medo de passar pelos lugares em que a crise ocorreu, depressão, isolamento, medo de sair de casa, início da dependência da companhia de alguém, sensação de incapacidade, diminuição de auto-estima, alterações de apetite e aumento de alguma compulsão.


O seguinte movimento constitui, na maioria esmagadora das vezes, a síndrome do pânico:


Bloco I: ansiedades/ preocupações/ pressões/ cobranças/ "nervosismos" cotidianos


Problemas de relacionamento, no trabalho, doenças, dificuldades financeiras, com filhos, com amigos, crises existenciais, assalto/ violência e/ou uso de drogas geram um acúmulo de um ou mais desses pesos comuns do viver provocando um pico de ansiedade, comumente confundido com ataque cardíaco, direcionando-se ao hospital, geralmente passando por inúmeros exames cardíacos para chegar à descoberta que o corpo está bem, e que a causa das alterações fisiológicas é psíquica.


Bloco II: medo de ter a crise


Após uma ou mais crises, o indivíduo começa a ter medo de sofrê-la novamente, seja pela (a) dor dela em si, (b) sensação de morte que a crise representa, pela possibilidade de (c) passar vexame ao ter a crise em frente a outros ou (d) pensamento suicida por considerar ser uma solução para a dor presente.Ademais, um ou mais desses medos se tornam gatilhos para a crise, bastando pensar neles por segundos para provocá-la.




Um efeito comum, limitante também, é a fobia originada pelo medo de se encontrar no mesmo contexto em que ocorreu a crise, por exemplo: caso tenha ocorrido ao estar no trânsito, avião ou situação social, o indivíduo pode vir a criar uma fobia de passar por essas situações, circunscrevendo mais ainda a vida.


Síndrome do pânico como epidemia


É possível considerar a síndrome do pânico como a doença psíquica da década, e potencialmente do século, por duas crescentes causas (além da divulgação constante de violência, catástrofes e outros aspectos ansiogênicos): (a) culturas/ sociedades têm aumentado as pressões/ cobranças dos indivíduos de múltiplas formas, seja no convívio familiar-relacionamento (antes o homem tinha menos obrigações em casa ou com os filhos, não era tão exigido que fosse um bom ouvinte, que estivesse disposto a conversar com mulher e filhos, que fosse tão atencioso com a mulher e outras exigências de alta performance, inclusive em sexo), no trabalho (antes a mulher não precisava se preocupar tanto em ser bem-sucedida numa profissão, bastava se formar no segundo grau, hoje, tanto homem como mulher precisam ter uma boa faculdade, duas pós-graduações, uma língua além da nativa, ser líder, saber se relacionar bem com os colegas e outras “obrigações de alta performance”), na aparência (é preciso ser magro e jovial por toda a vida para ser digno de valor), ou no estado de humor, é preciso estar de bem com a vida o tempo inteiro, sendo sinal de fraqueza ou inferioridade não “estar sorridente” ; e (b)antes as pessoas tinham mais facilidade de lidar com a morte (embora pudessem sofrer imensamente pelo medo de terem que pagar pelos seus pecados no inferno após a morte), pois as religiões eram mais fortes, dando respaldo para lidar com o fim da vida, diminuindo o medo da finitude (outra causa tão forte para a crise de ansiedade quanto o próprio medo de tê-la).


Portanto, a ansiedade no cotidiano aumentando gradualmente, intensifica radicalmente a probabilidade de ocorrência da “síndrome do pânico”. Contudo, é possível na psicoterapia moderna, principalmente fazendo uso da hipnose, em colaboração com remédios psiquiátricos, curar mais de 70% dos indivíduos com esse sofrimento em até 20 sessões.


Bayard Galvão

domingo, 16 de outubro de 2011

Quero viver algo assim


"Que você tenha sempre : 

Colo de mãe. 
Abraço apertado. 

Riso de graça.
Brilho nos olhos. 

Amor no que faz. 
Tristeza que passa. 
Força nos ombros. 
Criança por perto. 
Astral bem bonito. 

Prece nos lábios.
Saudade mansinha. 

Fé no futuro. 
Música no ouvido. 

Conversa que cura.
Cotidiano enfeitado. 

Paz no coração. 
Firmeza nos passos. 
Sonhos que salvam e muita saúde. 

E se livre de tudo que te trave o riso.

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."
(Fernando Pessoa)

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...