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domingo, 19 de julho de 2015

A Outra


Levava a pequena criança pela mão, atravessava o mar de carros na avenida e voltava pra casa. Era assim todas as manhãs e à tarde. Não questionava.
Depois, bebia o chá, comia o bolo e sonhava: agora sou outra.
Feira, açougue, padaria. Fogão, máquina de lavar. Mas hoje, hoje vai ser diferente. Porque agora sou outra.
Coloca o vestido decotado, calça o sapato de domingo, passa o batom e o perfume emprestados, e sai para encontrar seu amor.
No caminho, alimenta o sonho: agora sou outra.
O coração, acelerado, lugar-comum dos apaixonados, quase pára com as lembranças das cenas na sala de estar da casa da melhor amiga. Foram beijos obscenos, pegação, esfrega-esfrega e a promessa de Jurandir: quero te comer todinha. Me liga. Era sua primeira vez como a outra. Mas que importa? Agora sou mesmo outra.
E no local combinado, assenta o corpo na cadeira do café. Pede um cappuccino e suspira enquanto deseja o marido da amiga, um gostoso tão diferente daquele indigente, pai de sua filha.
Meia-hora, uma hora...finalmente...o encontro naufragado. Os olhos choram por dentro. O que eu fiz de errado? Agora não sou a outra?
Travestida de indiferença, paga a conta pro garçom que, acostumado, adivinha o desfecho do enredo. Mas, não, com ela, não. Afinal, agora ela era outra.
Volta pra casa, se arrasta. Depois, pega a criança pequena pela mão, atravessa de volta o mar de carros e em casa faz sopa de letrinhas. Mistura lágrimas à salsinha, coloca ração para o gato, água para o periquito, tira a roupa do varal... enquanto pensa: agora sou outra mulher.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Crematório de seres vivos

"O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira o encerramento formal da Guerra do Iraque, com a retirada dos últimos soldados do país e o final das operações que duraram quase nove anos, custaram bilhões de dólares e milhares de vidas."



"A notícia sobre o brutal espancamento sofrido por um cãozinho yorkshire publicado ontem (15) pela Agência Nacional de Direitos Animais (Anda), chocou o país e mobilizou a sociedade, ganhando grande repercussão na internet e na imprensa em geral.
O assunto desde ontem é um dos mais comentados no Twitter, Facebook e Orkut. Os internautas, indignados com a violência, compartilham e pedem justiça para mais este caso de maus-tratos e crueldade contra um inocente animal."

O mal está à solta. Em homenagem (póstuma) aos dilemas de cada dia, um poema de Giacomo Leone, atualmente meu colega revisor na revista IstoÉ.
Crematório de Seres Vivos -

por Giacomo Leone

Vamos!
Toquem as trombetas!
Os arautos insensatos anunciam:
Eis o trágico espetáculo
Do circo pirotécnico da Terra.
Palhaços pálidos invadem o cenário
Eis o anúncio trágico de sua triste herança.
É para tu, bicho homem.
Toma!
A Terra é tua.
Destrua!

Aquele ser patético que a tudo devora.
E devora pra depois pôr pra fora
Num vômito frêmito em jato corrosivo
A bile derretida desses espíritos entristecidos.

Viva!


Cadáveres eufóricos celebram o jubileu das trevas.
A brindar com o próprio sangue àquele verme entorpecido de tanto tempo antigo.
Vibram os mármores tectônicos a estremecer a Terra.
O terremoto é o prenúncio infindo para um triste caminho.

Mas... Vamos!
Toquem as trombetas!
Os arautos insensatos anunciam:
Eis o trágico espetáculo
  Do circo pirotécnico da Terra.
Palhaços pálidos invadem o cenário.
Eis o anúncio trágico de sua triste herança.
É para tu, bicho homem.
Toma!
A Terra é tua.
Destrua!

Vamos, defuntos vadios! Por que diabos ficam aí a jazer?
Levantem-se para o inevitável crematório carnavalesco dos seres vivos!
Venham com esses mesmos ternos carcomidos pelo teimoso roer
O que importa é celebrar a glória deste triste mundo antigo.

Viva!

Vamos inaugurar uma nova central de horrores!
É tempo de exaltar a energia nuclear! A bomba!
Vamos exibir, mudos, nossos sempiternos temores!
Marchemos, pois, ao encontro da intempérie atômica!

Mas... Ora! Vamos!
Toquem as trombetas!
Os arautos insensatos anunciam:
Eis o trágico espetáculo
Do circo pirotécnico da Terra.
Palhaços pálidos invadem o cenário.
Eis o anúncio trágico de sua triste herança.
É para tu, bicho homem.
Toma!
A Terra é tua.
  Destrua!


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