Em tempos da minissérie da Globo com o sugestivo nome Felizes para sempre?,
que ainda está no segundo episódio quando escrevo este texto, vale
sempre a pena pensar e repensar nas relações humanas. O enredo mostra
quatro casais - aparentemente saudáveis, felizes e bem-sucedidos - de
uma mesma família, a família Drumond, com um tema em comum:
relacionamento, claro! Afinal, o que move a humanidade desde os
primórdios da civilização não é o amor? Mas, afinal, o que é amor? Quem
inventou o amor? Provavelmente, Hollywood, pra vender filmes e seus
acessórios. E a Rede Globo tem contribuído bastante nesse sentido!
Bom, segundo Freud, o ser humano é constituído de
uma parte gigante chamada ID responsável tanto por nossa preservação
(instintos de vida e de morte) quanto por nosso desejos - dos mais
simples e explícitos aos mais sombrios e ocultos. E é essa estrutura que
basicamente nos comanda. Desejo, logo existo. Mas onde colocar o
desejo?
Uma
outra parte dessa estrutura constituinte da psique humana, porém, é
formada, desde que nascemos, por aquilo que chamamos de regras, leis, ou
seja, aquilo que culturalmente vai nos dizer o que é certo ou errado. E
aí, quando desejamos algo natural como o sexo, talvez o tenhamos de
reprimir, caso a cultura em que nascemos nos diga que sexo é pecado, por
exemplo. Por isso, apesar de bom (por ser da natureza humana) pode nos
parecer ruim (por ser proibido pela mãe, pela religião etc). Quanto mais
repressão, mais essa pulsão vai sair por outro lado. A violência pode
ser uma expressão dessa libido reprimida. Estão aí nossos amigos
islãmicos que não deixam mentir!
A
pulsão sexual (que não é a mesma coisa que sexo, mas tem a ver com) faz
parte do homem e da mulher, ou seja, o desejo (homo ou heterossexual)
sempre vai existir e sempre vai se manifestar.
A civilização
nos trouxe os freios. A começar que nos proibiu de desejar nossa mãe e
nosso pai (embora recentes notícias na internet digam que esse tabu
também já está indo pelo ralo da pia quando lemos que Menina de 18 anos se prepara para casar com o próprio pai),
e apesar de nós os desejarmos inconscientemente quando criancinhas
ainda no colo, à medida que fomos crescendo aprendemos a conter esse
desejo que, depois de algum tempo, vai se direcionar para outros objetos
(de desejo).
Fato
é que a gente não sai transando por aí a torto e a direito. E quem o
faz, é punido (pela sociedade). Esse freio é formado em parte pelo nosso
Supereu e em parte pelo próprio Eu. A minissérie, parece, vai seguir
por uma trilha parecida...casais descontentes com o status quo de suas
relações procuram outras formas de satisfazer esse desejo que elas não
sabem onde colocar! Ainda não sabemos em que direção a trama vai seguir:
se do moralismo maniqueísta ou da liberalidade perversa, A conferir!
Daí
que um casamento nos moldes dos dias atuais, em que as pessoas são
livres para escolher seus parceiros, sempre começa pelo tesão, pela
atração física, pela atração intelectual... E pode terminar exatamente
por causa dessa mesma liberdade de escolha.
E
o que fazer, me dirão os jovens recém-casados, se com o tempo a libido
tende a diminuir? Bom, ela pode ser deslocada para outras esferaa. Por
isso é importante que o casal tenha sempre planos, projetos e sonhos em
comum. É isso que vai manter a chama acesa por mais tempo. Se não houver
esse cuidado...a
libido pode ser projetada em outra pessoa???? Sim, com certeza...Aí, o
bicho pode pegar. Ou não, parece que a humanidade está começando a achar
que ter mais de um parceiro por vez não é assim tão condenável (na
verdade isso sempre existiu só que ficava nos bastidores e agora está
vindo para o palco da vida, de boa!).
Um
casamento, ou um relacionamento íntimo e pessoal, só se mantém pelo
compromisso de ambas as partes de permanecerem juntas uma com a outra,
pois a pulsão pode mudar a todo momento de direção. E muda! Atire a
primeira pedra quem nunca? querendo me enganar, é?
Se
não houver compromisso....e se o SuperEu não for muito
rígido...fatalmente relações múltiplas começarão a surgir e a relação,
digamos oficial, pode balançar até cair.
Isso
é bom? Ruim? Não dá pra afirmar nada! Porque cada pessoa vai lidar com
isso do seu jeito! Não existe fórmula mágica. Talvez a fórmula seja cada
um descobrir como lidar com o seu desejo, onde colocá-lo!
No consultório é comum a queixa feminina da diminuição do interesse sexual do parceiro
tanto quanto é do lado masculino. Ou ainda mulheres e homens que,
simplesmente não desejam mais seus parceiros sem uma razão aparente...
São sinais de alerta importantes.
Mas
casamento é só sexo? Bom, não é SÓ. Existem casais que decidiram não
fazer sexo entre si, liberaram seus pares e, aparentemente, vivem
felizes assim. Será? Se não há uma separação oficial, pode haver uma
acomodação, um acordo de convivência...existem muito mais pessoas
vivendo de aparência do que imagina nossa vã ignorância, meus caros!
De
qualquer forma, se o casal procura ajuda, juntos ou individualmente,
mas ambos (não adianta apenas um dos lados), as chances de se
restabelecer (ou estabelecer, às vezes nem havia uma!) uma nova
relação são muito maiores.
Se
apenas um dos pares procura o auxílio da análise é bem provável que o
casamento termine ainda que seja para esse par entender por que as
coisas desandaram e talvez, quem sabe, desejar criar um novo vínculo com
o par anterior ou com um novo. Por isso, o ideal é o casal, junto,
buscar o entendimento.
E
por que casamento é uma expressão da fantasia humana? Porque as
pessoas, em pleno século 21, ainda se casam pensando que viverão um
conto de fadas, o eterno "e viveram felizes para sempre"...e isso,
definitivamente, não existe.
Porém,
é possível, através de esforço e atenção permanentes, construir seu
casamento, do jeito específico do casal, seja lá como os dois imaginam
que seja satisfatório para os dois, dia após dia, juntos! Pode ser até
com a participação de terceiros ou quartos...vai saber! Já comentamos
aqui: o poliamor já é uma clara tendência. Só que não!
Um mergulho no repertório mais estranho, profundo, eclético, divertido, dramático e pungente. Um mistério que nem Freud nem Lacan conseguiram definir... o que é uma mulher? o que quer uma mulher?
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Mulheres no trem
Como andam as mulheres nesse trem desumano, pegajoso, que cheira a suor, pum e arroto?
Andam, em sua maioria, em pé, apertadas, amassadas, cansadas, tocadas, bolinadas, caladas, sofridas essas mulheres.
Os homens vão sentados, em sua maioria.
As mulheres, em pé. Poucos homens dão lugar, dão espaço, dão atenção, consideração às mulheres, sejam novas, sejam velhas, crianças, mulheres barrigudas, bonitas, feias, gordas, magras. Carregam sacolas, crianças, malas, guarda-chuvas, pacotes, caixas. Sozinhas. Sem ajuda. Ninguém ajuda, às vezes outra mulher. às vezes mais velha até da mesma idade. Mais nova, difícil. Pensa que não vai envelhecer. Olha pro lado, de lado, desvia o olhar, finge que dorme. Abre a boca. Baba. Homens? Dormem,roncam, têm o olhar perdido no vazio. Desde o século passado sua maior motivação ainda é o futebol. São os primeiros a entram no vagão. São os primeiros a se sentar. As mulheres vão em pé. Ali. Na fuça deles. E, nada!
No frio é menos ruim. Mas não é bom.
No calor é pior. Não tem ar-condicionado. Um sistema de ventilação transforma o ar em algo que venta quente, agrava a temperatura. As janelas abertas não amenizam o abafado. O bafo, o mau-hálito. O calor indesejado no cangote. O encosto. O roçar incômodo. O ultraje. Dos que vão em pé. Não passam nem um perfume, um desodorante...raro sentir um cheiro bom dentro do trem vindo de um macho. Fedem. Não cheiro de macho. Cheiro de falta de banaho, de falta de amor por si mesmo. Não se gostam tanto quanto não gostam de mulheres, de crianças, de velhos...
As mulheres têm alma. Homens têm alma. Alma feminina. Alma masculina. Há que resgatar essas almas. Há que salvar essas almas.
Almas sofridas, vividas, cheias de vida.
Há que deixar essas vidas se manifestar, brotar, nascer, desabrochar, emergir, vir à tona.
Mas como? Como acessar esse feminino tão ultrajado? Tão vilipendiado? De que maneira? E o masculino? Onde está?
Andam, em sua maioria, em pé, apertadas, amassadas, cansadas, tocadas, bolinadas, caladas, sofridas essas mulheres.
Os homens vão sentados, em sua maioria.
As mulheres, em pé. Poucos homens dão lugar, dão espaço, dão atenção, consideração às mulheres, sejam novas, sejam velhas, crianças, mulheres barrigudas, bonitas, feias, gordas, magras. Carregam sacolas, crianças, malas, guarda-chuvas, pacotes, caixas. Sozinhas. Sem ajuda. Ninguém ajuda, às vezes outra mulher. às vezes mais velha até da mesma idade. Mais nova, difícil. Pensa que não vai envelhecer. Olha pro lado, de lado, desvia o olhar, finge que dorme. Abre a boca. Baba. Homens? Dormem,roncam, têm o olhar perdido no vazio. Desde o século passado sua maior motivação ainda é o futebol. São os primeiros a entram no vagão. São os primeiros a se sentar. As mulheres vão em pé. Ali. Na fuça deles. E, nada!
No frio é menos ruim. Mas não é bom.
No calor é pior. Não tem ar-condicionado. Um sistema de ventilação transforma o ar em algo que venta quente, agrava a temperatura. As janelas abertas não amenizam o abafado. O bafo, o mau-hálito. O calor indesejado no cangote. O encosto. O roçar incômodo. O ultraje. Dos que vão em pé. Não passam nem um perfume, um desodorante...raro sentir um cheiro bom dentro do trem vindo de um macho. Fedem. Não cheiro de macho. Cheiro de falta de banaho, de falta de amor por si mesmo. Não se gostam tanto quanto não gostam de mulheres, de crianças, de velhos...
As mulheres têm alma. Homens têm alma. Alma feminina. Alma masculina. Há que resgatar essas almas. Há que salvar essas almas.
Almas sofridas, vividas, cheias de vida.
Há que deixar essas vidas se manifestar, brotar, nascer, desabrochar, emergir, vir à tona.
Mas como? Como acessar esse feminino tão ultrajado? Tão vilipendiado? De que maneira? E o masculino? Onde está?
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