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terça-feira, 25 de julho de 2023

Transtornos alimentares: o que são, quais os tipos e como a psicanálise pode ajudar?

Tenho certeza de que você já ouviu a expressão “transtorno alimentar” e da mesma forma tenho certeza de que você já leu sobre o assunto na internet (a rede está inundada de reportagens e artigos – confiáveis ou não – sobre o tema), e posso apostar que você se interessou por este artigo aqui exatamente porque você tem, ou acha que pode ter algum transtorno alimentar, ou conhece alguém que foi diagnosticado com essa doença.



“Ah, então o transtorno alimentar é uma doença?” Sim, os transtornos alimentares são doenças do campo da psiquiatria que precisam de tratamento tanto medicamentoso quanto terapêutico. A psicanálise pode auxiliar no tratamento, sim, como veremos adiante.

Como o significado da palavra indica, “Transtorno é sinônimo de alteração, contratempo, contrariedade e prejuízo.” Então, pensando em termos de alimentação podemos dizer que seria uma forma, um jeito inadequado, uma dificuldade (inconsciente! É importante que isso fique bem claro!) de se alimentar adequadamente que vai causar um desconforto, um prejuízo (para a saúde física e psíquica), ou seja, terá consequências não benéficas para a pessoa com essa questão.

Se consideramos ainda que o conceito de “Doença” que é um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde”, podemos afirmar que, sim, qualquer tipo, entre os mais variados, de transtornos alimentares já catalogados pela medicina psiquiátrica, trata-se de uma doença, grave, e que necessita ser adequadamente diagnosticada e, tratada.

Podemos, então, afirmar que os transtornos alimentares são condições de saúde mental que afetam a relação de uma pessoa com a sua alimentação e o seu peso corporal e sua relação com seu entorno social. São caracterizados por padrões anormais de comportamento alimentar, pensamentos distorcidos sobre o corpo e preocupação excessiva com a forma física. Trazem prejuízos à vida funcional da pessoa e comprometem significativamente a saúde física,  mental e social.

Números

Infelizmente o Brasil não possui ainda uma quantidade significativa de pesquisas nesse campo. Porém, estima-se que não seja muito diferente do que acontece ao redor do planeta.

Para se ter uma ideia, mais de 70 milhões de pessoas no mundo estão diagnosticadas com algum tipo de transtorno alimentar. Quem diz é a Associação Brasileira de Psiquiatria e a informação pode ser encontrada facilmente no site do Ministério da Saúde.

No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no mínimo 5% da população possui algum tipo de transtorno alimentar o que representaria cerca de 10 milhões de pessoas, dados de 2022.

A pandemia de Covid-19 agravou significativamente esse quadro que já não era bom. Mas todos os estudos referem-se a estatística fora do Brasil. Por exemplo, uma equipe de pesquisadores liderada por Daniel J. Devoe, do Mathison Centre for Mental Health, da Universidade de Calgary, Canadá, realizou uma revisão sistemática examinando a literatura científica sobre covid-19 e Transtornos Alimentares.

Cinquenta e três estudos foram incluídos nessa revisão sistemática, totalizando 36.485 pessoas com Transtornos Alimentares. Destas: 3.223 apresentavam anorexia nervosa; 1.203 bulimia nervosa; 722  transtorno de compulsão alimentar periódica; 1.243 outros transtornos alimentares especificados; 126 transtorno alimentar restritivo/evitativo; 47 transtorno purgativo; 25 síndrome da alimentação noturna. A média de idade dessas pessoas era de 24 anos com prevalência de 90% para mulheres.

Apenas os adultos sofrem com esse tipo de transtorno? Infelizmente, não.



Crianças e adolescentes também engrossam as estatísticas mundiais como revela um outro estudo mais recente, de fevereiro de 2023, publicado pela revista eletrônica JAMA Network (The Journal of the American Medical Association é um periódico médico revisado por pares, publicado 48 vezes por ano pela American Medical Association. Publica pesquisas originais, revisões e editoriais cobrindo todos os aspectos da biomedicina) que incluiu 63.181 participantes de 16 países, em que 22% relataram que crianças e adolescentes apresentavam distúrbios alimentares. A proporção foi ainda mais elevada entre meninas, adolescentes mais velhos e aqueles com maior índice de massa corporal. E o mais preocupante é que o estudo, quando menciona crianças e adolescentes está se referindo a um público que vai dos 6 aos 18 anos! A pesquisa alerta para o aumento assustador desse tipo de transtorno nas crianças e adolescentes nos últimos 50 anos.

Segundo o estudo, “a causa dos transtornos alimentares é muito complexa e, à semelhança de outros transtornos psiquiátricos como a depressão e a ansiedade, decorre da combinação de diversos fatores de risco. A prevalência de transtornos alimentares em crianças e adolescentes (11 a 19 anos) tem sido estabelecida entre 1,2% (meninos) e 5,7% (meninas), com incidência crescente nas últimas décadas. Considerando que a adolescência é um período de pico de transtornos alimentares e seus sintomas, conhecer e compreender a proporção de transtornos alimentares entre os jovens é uma questão crucial.”

Um dos maiores problemas que envolvem o diagnóstico de transtornos alimentares, ainda segundo o estudo “é o fato de algumas crianças e adolescentes com transtornos alimentares conseguirem ocultar os principais sintomas da doença e retardar a busca por atendimento especializado devido a sentimentos de vergonha ou estigmatização.” Ou seja, é bastante provável que os transtornos alimentares sejam subdiagnosticados e, consequentemente, subtratados.



Pais, professores, responsáveis pelas crianças ou adolescentes, ​​e também os profissionais de saúde, devem estar atentos aos sintomas dos distúrbios alimentares, que incluem comportamentos tais como preocupação exagerada em fazer dieta para perda de peso, compulsão alimentar, vômitos autoinduzidos, exercícios excessivos e uso de laxantes ou diuréticos sem que tenha havido uma prescrição médica. Ou ainda uma percepção equivocada de seu próprio corpo, por exemplo, a pessoa está excessivamente magra, mas “se enxerga” gorda e vice-versa também! O indivíduo está visivelmente com excesso de peso, mas “se vê” magro. Vamos abordar esses casos mais adiante.

Possíveis causas e tipos dos Transtornos alimentar

Os transtornos alimentares, como já dissemos anteriormente, são doenças psiquiátricas, e ao lado de diversas outras doenças dessa ordem, estão catalogadas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da American Psychiatric Association, mais conhecido por DSM-5 (“5” porque ele já está na sua quinta versão).

Mas antes de partirmos para apresentar os tipos de transtornos alimentares, vamos explicar, afinal, por que motivo uma pessoa decide comer demais ou de menos (grosso modo é disso que se trata, mas existem também outros tipos de transtornos que envolvem o consumo de produtos que não são alimentos, como veremos logo mais).

Para a psicanálise, os distúrbios relacionados à alimentação geralmente surgem como uma espécie de defesa inconsciente da pessoa contra algo que nem ela é capaz de definir com clareza, que chamamos de angústia. E o que provoca a angústia? Geralmente a angústia é gerada por um conflito inconsciente dentre o desejo de realizar algo que a própria pessoa entende como “errado”, ou que a sociedade entende como errado, ou a Igreja, a religião, seus pais ou todos ao mesmo tempo, e que a pessoa acredita que se realizar esse desejo isso poderá “manchar” a imagem idealizada que ela tem de si mesma, ou que ela acredita que as pessoas em volta dela (amigos, pais, membros de alguma comunidade da qual ela faz parte) têm dela. Essa imagem idealizada que a maioria das pessoas tem, de ser boa, correta, sem defeitos provoca angústia quando confrontada por pensamentos e desejos de fazer algo que poderia abalar essa imagem.

Por exemplo: uma jovem por volta de seus 16 anos, que tem uma educação excessivamente rígida em relação à sexualidade (no sentido de proibições, repressões dos pais ou da igreja que frequenta) pode desenvolver fantasias através de pensamentos ou até mesmo sonhos em que o sexo é uma constante. Isso causa a ela uma angústia que ela pode tentar aplacar de diversas formas: consumo excessivo de álcool, outras drogas, consumo de roupas ou outros objetos sem necessidade e, da mesma forma, a ingestão descontrolada de comida. Ou, o oposto, a recusa em comer. Mas, repito, isso não acontece de forma racional. Ou seja, a pessoa não pensa: vou comer, comer, comer porque tenho “maus pensamentos” que preciso manter escondidos de tudo e de todos. Não. Quem sofre de transtornos alimentares (ou de quaisquer outros tipos de transtornos não alimentares) simplesmente sente uma angústia inexplicável, aparentemente sem uma razão específica, que precisa ser acalmada, digamos assim, de alguma forma. Uma delas pode ser através de um dos transtornos alimentares descritos a seguir.

Quais são os tipos de transtornos alimentares mais conhecidos?

Os mais conhecidos e catalogados no DSM-5 são também os mais prevalentes, ou seja, que possuem mais notificações médicas e, consequentemente são os que mais atingem a população como um todo: Compulsão Alimentar, Anorexia e Bulimia.

Compulsão alimentar - Em primeiro lugar é necessário diferenciar a compulsão alimentar daquele exagero eventual que podemos cometer durante uma festa de fim de ano, um casamento, um aniversário, por exemplo, ou diante de um prato de nossa preferência que a mamãe ou a vovó preparou para nós com todo o carinho. Exagerar nesses casos, não configura compulsão alimentar.

Para se caracterizar como compulsão alimentar alguns “ingredientes” devem estar presentes nessa “receita”. Um deles é a ingestão de alimentos muito acima do normal, acima do necessário, de forma incontrolável pelo indivíduo, que pode até se iniciar durante um evento social e se prolongar após a pessoa chegar em casa. Por exemplo, “um indivíduo pode começar a comer compulsivamente em um restaurante e depois continuar a comer quando volta para casa. Lanches contínuos em pequenas quantidades de alimento ao longo do dia não seriam considerados compulsão alimentar”, explica o DSM-5. Além da falta de controle e da quantidade excessiva, outro fator relevante é a falta de critério do que comer. O compulsivo alimentar vai misturar doces e salgados, por exemplo, pode misturar arroz e feijão com torta de maçã, sorvete com coxinha, não importa, não existe uma escolha racional. Vai consumir o que estiver disponível, o que encontrar em armários ou na geladeira.



Outra característica fundamental é a vergonha em comer compulsivamente. A pessoa o fará escondido, longe dos familiares ou de conhecidos, tentará esconder vestígios do que foi consumido. Se sentirá muito mal se for pega em flagrante. “Indivíduos com transtorno de compulsão alimentar geralmente sentem vergonha de seus problemas alimentares e tentam ocultar os sintomas”, diz o DSM-5, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico. Um agravante da compulsão alimentar são os métodos compensatórios que a pessoa utiliza para tentar minimizar os efeitos nocivos como ganho de peso: uso de laxantes e provocar o próprio vômito, o que nos leva a um outro transtorno bastante conhecido.

Bulimia nervosa – Um dos fatores diagnósticos da bulimia é a presença da compulsão alimentar. Outros são os comportamentos compensatórios como já dissemos, uso de laxantes e provocar o próprio vômito. O bulímico faz isso mais de uma vez por semana, às vezes todos os dias, às vezes em todas as refeições, nos casos mais graves. Existe uma insatisfação, muitas vezes injustificada, com seu próprio corpo. Porém, muitas vezes a compulsão alimentar pode ocorrer em razão de a pessoa estar de fato acima do peso, mas não necessariamente obesa (aliás, é bom que se diga que a obesidade não está no rol dos transtornos alimentares, nem das doenças psiquiátricas, ou seja, obesidade não faz parte do rol de doenças catalogadas pelo DSM-5, embora a medicina a considere uma doença que, da mesma forma, precisa ser tratada).

O maior risco da bulimia para o indivíduo é o de suicídio. De acordo com o DSM-5 “a avaliação completa de indivíduos com esse transtorno deverá incluir determinação de ideação e comportamentos suicidas, bem como outros fatores de risco para suicídio, incluindo história de tentativas de suicídio.” A ideação suicida se apresenta para pessoas com esse tipo de transtorno justamente porque ela não vê a curto prazo uma solução ou uma melhora. Como ela se sente infeliz e culpada, com baixíssima autoestima a maior parte do tempo, muitas vezes vai pensar que acabar com sua própria vida é igualmente acabar com aquele problema.



Anorexia Nervosa – Aqui é a ingestão exageradamente restritiva de alimentos que caracteriza esse transtorno. Apesar disso, todos os fatores que compõem a compulsão alimentar, como a bulimia, estão presentes, por exemplo, a pessoa pode até se alimentar para cumprir um protocolo social, por exemplo, um almoço em família, ou um evento social com amigos, que funciona como um, digamos, “disfarce” do problema, e imediatamente à ingestão ela vai provocar o vômito sem que ninguém perceba.

O que leva muitas vezes familiares e amigos a desconfiar que algo não vai bem é a excessiva perda de peso da pessoa anoréxica. Mas ela vai negar que esteja magra e, de fato, ela não se vê magra como já dissemos. O perigo de a anorexia se manifestar em adolescentes, por exemplo, (em crianças, é muito raro), é o comprometimento do desenvolvimento corporal e psíquico. As pessoas com anorexia têm verdadeira obsessão em se pesar, em conferir suas medidas com frequência e não aceitam que estejam se prejudicando ou se tornando subnutridas. Esse comportamento com frequência compromete o tratamento porque a pessoa simplesmente não acredita que está doente. Pelo contrário! O anoréxico enxerga sua perda de peso como resultado de sua grande disciplina e autocontrole.

Pica – Caracteriza-se pela ingestão de produtos que não são nem alimentos nem nutritivos, por exemplo, fezes, terra, papel, sabão, tecido, cabelo, fios, giz, talco, tinta, cola, metal, pedras, carvão vegetal ou mineral, cinzas, detergente ou gelo, em grandes quantidades. Algumas crianças quando estão começando a engatinhar ou a andar e estão conhecendo o mundo, não raro comem um cocô de cachorro que encontram pelo caminho, ou uma porção de terra, ou um pedaço de sabonete quando já tomam seu banho sozinhos na banheirinha. Esses eventos não são transtornos alimentares. Esse transtorno, também conhecido como alotriofagia, é chamado Pica ou síndrome de Pica devido a uma espécie de pássaro conhecida como Pica Pica. Este pássaro, também chamado de pega-rabuda, se alimenta de quase tudo o que vê pela frente...

Essa síndrome pode vir acompanhada de outras doenças como transtorno do espectro autista e esquizofrenia, principalmente quando acomete adultos, e, segundo o DSM-5 “pode estar associada a tricotilomania (transtorno de arrancar o cabelo) e transtorno de escoriação (skin-picking) e pode igualmente estar associada ao transtorno alimentar restritivo/evitativo”, que veremos a seguir.



Transtorno alimentar restritivo/evitativo – Parecido com a anorexia, esse distúrbio alimentar leva à perda de peso excessiva, porém, as razões se diferenciam porque nesse caso um agravante é que se trata da criança na primeira infância (do 0 aos 6 anos) que se recusa a comer determinados alimentos seja por sua aparência, cor, textura, odor, temperatura ou paladar. Não se trata de uma recusa pontual que eventualmente e normalmente as crianças menores de 6 anos podem fazer. Trata-se de uma recusa persistente que leva não só à perda evidente de peso como à uma deficiência nutricional grave. Em crianças mais velhas e adolescentes, a evitação e a restrição alimentar podem estar associadas a dificuldades emocionais mais generalizadas como ansiedade depressão.

De acordo com o DSM-5 “crianças com transtorno alimentar restritivo/evitativo podem ser irritadiças e difíceis de consolar durante a amamentação ou parecer apáticas e retraídas”. Em alguns casos, a relação mãe e filho pode contribuir para o problema de alimentação do bebê (por exemplo quando a mãe apresenta o alimento de maneira inapropriada ou interpreta o comportamento do bebê como um ato de agressão ou rejeição). A falta de nutrientes adequados pode exacerbar as características associadas como irritabilidade, atrasos no desenvolvimento e contribuir ainda mais para as dificuldades de alimentação.

Transtorno de Ruminação – Ruminar é tornar a mastigar ou a mascar os alimentos já mastigados e engolidos que voltam do estômago à boca. É exatamente esse ato, que não tem origem em problemas gastrointestinais, que caracteriza esse tipo de transtorno alimentar. Porém, para ser diagnosticado é necessário que ele aconteça no mínimo durante um mês. Essa é a característica essencial do transtorno de ruminação. Segundo o DSM-5 “o alimento previamente deglutido que já pode estar parcialmente digerido é trazido de volta à boca sem náusea aparente, ânsia de vômito ou repugnância. O alimento pode ser remastigado e então ejetado da boca ou novamente deglutido.”

Outra característica que deve estar presente é a frequência: deve ocorrer pelo menos várias vezes por semana, em geral todos os dias. É mais prevalente em indivíduos com alguma deficiência intelectual e em bebês que estejam amamentando. Quando acontece em adolescentes ou adultos, geralmente sentem vergonha, tentam esconder, principalmente porque é algo incontrolável, como aliás, todo transtorno psíquico e no caso aqui, alimentar. De acordo com o DSM-5 “nos lactentes, bem como em indivíduos mais velhos com deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou outros transtornos do neurodesenvolvimento, o comportamento de regurgitação e ruminação parece ter uma função calmante e estimulante semelhante à de outros comportamentos motores repetitivos, como balançar a cabeça ritmicamente”.

Síndrome do comer noturno – Sabe aquela fugidinha da cama para a cozinha para assaltar a geladeira durante a noite? Se for algo eventual, talvez não haja grandes consequência, mas esses “assaltos” à geladeira, para o DSM-5 podem significar problema à vista. Segundo o Manual essa síndrome faz parte da categoria Outro Transtorno Alimentar juntamente com outros que não reúnem os critérios para um transtorno alimentar específico ou não há informações suficientes para que seja feito um diagnóstico mais específico.

Mas os tipos de transtornos alimentares não terminam por aqui. Existem mais alguns que, apesar de ainda não estarem catalogados pelo Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais causam danos à saúde e os profissionais da saúde como um todo já procuram tratá-los da melhor forma possível. Vamos a eles.



Ortorexia Nervosa - Caracteriza-se pela fixação por uma alimentação exageradamente saudável tornando-se uma obsessão doentia porque a pessoa só consegue se alimentar com o alimento biologicamente puro, o que, obviamente, acarreta restrições alimentares significativas. O indivíduo que sofre com essa síndrome possui uma preocupação exagerada com a qualidade dos alimentos, a pureza da dieta (livre de herbicidas, pesticidas e outras substâncias artificiais) e o uso exclusivo de “alimentos politicamente corretos e saudáveis”.

Embora exista um caráter positivo cultivado por uma alimentação saudável, a área da saúde já entende que determinados comportamentos supostamente “saudáveis” podem levar ao prejuízo da saúde. A consequência da ortorexia é que essas pessoas se privam, muitas vezes, de nutrientes essenciais ao bem-estar e à qualidade de vida. Além disso, tendem a se isolar socialmente, pois adquirem uma série de restrições alimentares que impedem o simples convívio social rotineiro. Não se trata de comer saudável, e sim de uma situação extrema e obsessiva em que a alimentação passa a dominar seus pensamentos e seus comportamentos. Ou seja, a pessoa acaba se isolando socialmente por não encontrar à sua disposição os produtos que acredita serem “puros” o suficiente para serem consumidos por ela.

Por ser um transtorno descoberto recentemente não existem estudos significativos nem estatísticas confiáveis. Entretanto, já se sabe que as consequências no estado nutricional de ortoréxicos são as mesmas que ocorrem a partir de uma alimentação inadequada como desnutrição, anemias, hiper ou hipovitaminoses, carência de nutrientes essenciais, hipotensão e osteoporose. Em casos mais avançados da doença, a própria carência de vitaminas pode acarretar alterações de comportamento que acentuam ainda mais a obsessão por alimentos saudáveis. É aquela velha máxima: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tudo que é exagerado para mais ou para menos resulta, na maioria dos casos, em transtornos...



Vigorexia – Também conhecida como Complexo de Adônis ou Transtorno Dismórfico Muscular a principal característica desse distúrbio é a percepção distorcida da imagem corporal e depreciação do próprio corpo. Possui prevalência acentuada no sexo masculino, porém pode atingir qualquer pessoa independentemente de classe social ou etnia. Adônis era o deus grego da Beleza, o correspondente a Vênus para a beleza feminina, que possuía medidas e forma física consideradas perfeitas. E desejar ser bonito ou ter um corpo que você olha e gosta do que vê não é necessariamente uma doença. Entretanto, esse distúrbio leva a pessoa a uma busca obsessiva por uma perfeição inalcançável e por exercícios musculares que teoricamente deveriam levá-lo a atingir seus objetivos que nunca são atingidos. Como consequência, essa busca incontrolável pelo corpo com músculos superdefinidos traz consigo a diminuição do investimento na vida emocional, social e ocupacional por conta das longas horas investidas em musculação dentro de academias. O grande objetivo é aumentar cada vez mais a sua massa muscular e diminuir ao máximo a porcentagem de gordura do corpo, o que pode levar o corpo a extremos limites de exaustão. Muitas vezes o resultado nunca é considerado suficiente, o que leva a pessoa a ter crises de ansiedade ou depressão, e até mesmo distúrbios físicos como por exemplo, amenorreia (falta de menstruação) nas mulheres e disfunção erétil nos homens. Em geral, pessoas com esse tipo de distúrbio simplesmente eliminam de sua dieta nutricional todo tipo de carboidrato e passam a consumir anabolizantes para “turbinar” seus treinos, colocando sua vida em risco, sem falar nos prejuízos sociais que tudo isso acarreta. Esse transtorno também ainda não está catalogado pelo DSM-5.

Fatorexia – É considerado o distúrbio oposto à anorexia no sentido de que nesse caso a pessoa está obesa, segundo os padrões dos índices de IMC (Índice de Massa Corporal – um cálculo simples para saber se a pessoa está ou não no peso ideal segundo critérios médicos) utilizados pela sociedade médica em geral, porém, ela não percebe, não se vê assim, a percepção dela é que ela está muitos quilos abaixo daquilo que o espelho mostra. O perigo dessa percepção distorcida de seu próprio corpo é que não se sabe até onde sua obesidade poderá chegar já que a pessoa não se vê doente, não procura e nem aceita ajuda médica ou psicológica. As consequências adversas para a vida da pessoa que carrega esse distúrbio, que também ainda não está no Manual DSM5, são inúmeras. Outro nome para esse transtorno é megarexia.



Drunkorexia – Também sem catalogação do DSM-5 esse distúrbio nada mais é do que o consumo de álcool em substituição a qualquer tipo de alimentação. É um jeito mais “bonitinho”, muito divulgado pela mídia, de se falar em alcoolismo. Mas na verdade, nada mais é do que isso: alcoolismo. Todo alcoólatra troca a comida pela bebida e é justamente isso que o drunkoréxico faz, embora a justificativa seja não engordar: não me alimento com comida para não engordar então eu bebo em vez de. Resultado? Viro alcoólatra. Basicamente é isso. Claro que as justificativas do indivíduo dependente de álcool podem ser um pouco diferentes do drunkoréxico. Este justifica a ingestão do álcool no lugar da alimentação normal porque está em busca do corpo perfeito, magro, segundo seus próprios critérios ou aqueles que ele julga que a sociedade exige e que ele deve cumprir. Só por isso esse distúrbio aparece na lista de transtornos alimentares. Mas no fundo, sempre que alguém deseja se entorpecer com algum tipo de droga é porque não consegue aceitar a realidade como ela se apresenta na sua vida.

Como a psicanálise pode ajudar no tratamento desses transtornos?

Primeiro é preciso deixar claro que a psicanálise não faz diagnóstico de doenças psiquiátricas como por exemplo os inúmeros transtornos sejam eles alimentares ou não. Ou seja, se você após ler este artigo se identificou com algum dos TA descritos muito sucintamente, diga-se de passagem, já que nosso objetivo aqui não é esgotar o assunto de forma alguma, sugiro que procure um médico psiquiatra. Este sim, é o profissional preparado tanto para diagnosticar doenças psiquiátricas, que os transtornos alimentares são, como medicar se for o caso.

Acontece que apenas estar medicado (e isso vale para transtornos de ansiedade, depressão e outros) não resolve. Ajuda. Mas não resolve. Então, se o seu psiquiatra for de fato um bom profissional muito provavelmente ele vai sugerir, indicar que você procure uma terapia.

E aí que a psicanálise entra.

Se você já leu meu outro artigo sobre Psicanálise, (www.guiadaalma.com), você já sabe que a matéria prima com a qual um psicanalista trabalha é o Inconsciente do paciente.

Partindo dessa premissa não espere que o psicanalista vá orientá-lo sobre reeducação alimentar, mudanças de hábitos alimentares ou algo similar. Não. Isso é assunto para nutricionistas, nutrólogos e sim, se você for diagnosticado com algum dos TA descritos aqui deve procurar ajuda desses profissionais também. Não é novidade que TA devam ser tratados multidisciplinarmente.

O que o psicanalista vai fazer então? De forma muito simplificada posso afirmar que cabe ao psicanalista ajudar o paciente a perceber, identificar, reconhecer aquilo que o faz sofrer. Lembra quando falamos da angústia? Veja, os TA nada mais são do que a ponta do iceberg, aquilo que está aparente, aquilo que é possível ver. Mas o que levou o sujeito a desenvolver essa doença? É esse garimpo emocional que o psicanalista fará junto com o paciente até que aquela angústia desconhecida deixe de ser um tesouro oculto e passe a ser algo que o paciente consegue lapidar, polir  no seu dia a dia.

Falando assim parece simples. Mas não é. Por quê? Porque é o desconhecer o que causa sofrimento, e que leva ao desenvolvimento dessas doenças, que traz dor ao paciente. Mas chegar até o veio precioso do ouro escondido por debaixo de várias camadas de terra (defesas) daquilo que foi a origem de tudo leva tempo.

Mas não é só isso. Mesmo que o paciente passe a identificar o motivo de seu sofrimento, será que ele deseja de fato se livrar dele? Essa é a pergunta de um milhão de dólares! Às vezes a dor conhecida que aprisiona o sujeito naquele lugar de sofrimento causa menos medo do que a liberdade desconhecida. É o que eu chamo de “desconforto confortável”.

Sem contar que, geralmente, num primeiro movimento, o paciente vai identificar a causa de seu sofrimento como sendo atribuída a um outro. E até ele conseguir perceber a sua parcela naquilo do que se queixa (como diria Freud) vai um bom tempo de sessões onde quem faz a “análise” é o próprio paciente. O psicanalista acolhe, escuta, pontua, mas é o paciente que ao longo das sessões vai percebendo que aquilo que ele diz que o faz sofrer é justamente aquilo do qual ele não quer abrir mão.

Sim, é o tal do desconforto confortável.

No caso específico dos TA a psicanálise não ignora os fatores socioculturais que têm levado as pessoas a desenvolverem cada vez mais esse tipo de transtorno, onde o corpo ocupa um lugar prioritário em detrimento de outros aspectos da vida humana inclusive do próprio sentido da vida.

Como diria uma historiadora e professora brasileira chamada Mary Del Priore, que defende a ideia de que hoje a história das mulheres, principalmente, passa pela história de seus corpos e com humor, observa:

“Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da desgraça da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho.”

Finalizando, gostaria de reproduzir uma fala da renomada psicanalista Marina Ramalho Miranda, da SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo), numa entrevista ao blog dessa organização que disse:

“Será o psicanalista que irá oferecer uma escuta que se concentra na investigação do que não pôde ser dito ou do que não pôde ser ingerido (ou absorvido em excesso), do que não aparece (ou do que desnuda), do que está interditado (ou do que transborda) permanecendo desconhecido e estranho à compreensão do paciente, que por sua vez se alivia ao descobrir que seus sintomas não serão vistos como doença e sim como sinais indicativos de que algo muito sério aconteceu em algum momento de sua vida, alterando o rumo de desenvolvimento a ser seguido. A(o) paciente fala pelo corpo e com o corpo. O comer o nada ou o tudo devorar, o vomitar e expurgar são tomados como pistas a serem seguidas ou como rastros de conteúdos emocionais brutos, contraditórios, que entraram intrusivamente em seu interior e pedem para serem remastigados”.

E esse processo de “remastigação” pode ser feito através da psicanálise muito mais do que por outras terapêuticas comportamentais. Esta é também a percepção que desenvolvi ao longo de toda minha experiência clínica.

Texto originalmente publicado no site Guia da Alma em 12 de julho de 2023

https://guiadaalma.com.br/tipos-de-transtornos-alimentares/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Psicanálise para uma vida mais saudável

 

Muitas pessoas me perguntam na primeira sessão: mas, afinal, o que é psicanálise? Como funciona? O que eu preciso fazer?

Longe de conseguir responder completamente, dada a complexidade do tema, vou tentar explicar grosso modo, de uma maneira mais acessível (embora tenha muita informação na internet, é sempre bom lembrar a necessidade de se ter um certo cuidado com o que se encontra por aí), afinal o que é e como a psicanálise funciona terapeuticamente falando.

A matéria prima da psicanálise é aquilo que Sigmund Freud (1856-1939), um médico neurologista de Viena, considerado Pai da Psicanálise, chamou de Inconsciente, que é a maior parte da nossa mente, digamos assim, e cujo conteúdo nós não conhecemos, não temos consciência, daí, o nome Inconsciente.

Basicamente, uma das funções da Psicanálise seria trazer para a consciência esses conteúdos desconhecidos para a nossa consciência. Por quê? Porque segundo Freud, as raízes de todos os nossos problemas, e que nos levam a procurar ajuda, estão justamente guardadas no Inconsciente. E por desconhecê-los, ficamos à mercê deles. E qual o problema disso?



O problema é que temos pensamentos, desejos, intenções, traumas, medos, crenças, fantasias, que são armazenados no nosso Inconsciente desde quando éramos bebês, e que vão se manifestar na forma de sintomas (os mais variados, como ansiedade, tristezas inexplicáveis, e até mesmo doenças físicas), porque foram reprimidos em algum momento, de alguma forma, e esses danadinhos desses conteúdos querem vir à tona sem pedir licença para nós. Daí que temos o que podemos chamar popularmente de angústias, sentimentos que não conseguimos explicar, que nos incomodam e que nos levam a procurar ajuda através de uma terapia.

Isso que eu chamei de “sintomas” pode ser traduzido pelas queixas mais comuns que levam as pessoas a procurar ajuda (não no início do problema, mas geralmente quando não se aguenta mais!) como por exemplo: não me dou bem como minha mãe (ou pai, filho, irmão, marido, chefe etc.), tenho medo de falar em público, me sinto inseguro no trabalho, não consigo um emprego decente, tenho dificuldade de me relacionar emocionalmente, meus namorados (ou minhas namoradas) me traem, só atraio pessoas abusivas, enfim... a lista é imensa!

Não quero me estender muito, nem entrar em muitos detalhes, afinal, o paciente não precisa estudar sobre Psicanálise para fazer sessões de psicanálise, mas, basicamente, Freud identificou duas estruturas psíquicas principais entre os seres humanos: uma onde o sujeito nem realiza seus desejos, nem os abandona, pelo contrário, esconde-os, reprime-os, e outra onde ele sequer possui desejos porque está psiquicamente alienado ao desejo do Outro.

Claro, que tudo isso são processos inconscientes e por isso mesmo é que os "reprimidos" vão sempre tentar furar a barreira da censura e "aparecer" disfarçados em sintomas, ou em sonhos, atos falhos e todos aqueles outros “problemas” que eu citei acima.

Bom, mas aí você pode perguntar: "mas se reprimir esses conteúdos lá do Inconsciente causa tantos problemas, não seria então mais saudável realizar TODOS os nossos desejos???”.

Eu diria que, embora, os noticiários, principalmente os policiais do tipo "espreme sai sangue", nos deem a impressão de que de fato as pessoas estão por aí realizando todos seus desejos, principalmente os mais violentos e perversos, de forma alguma podemos pensar que não os reprimir seria a solução. Se realizarmos todos nossos desejos a civilização vai pro brejo! Meio que é essa a sensação que a gente tem, não?

É tanta violência, é tanto descontrole...



Por isso, a proposta da psicanálise para se ter uma vida saudável não é a de realizar todos seus desejos e sim, de reconhecê-los. Sim, reconhecer que você não é nenhum santinho, que não é bonzinho, certinho, bonitinho, que pode ter desejos inimagináveis, MAS que não vai realizá-los aleatoriamente e que se o fizer, estará por sua conta e risco, ou seja, vai possivelmente arcar com as responsabilidades e consequências de seus atos.

O psicanalista nunca vai te dizer o que vc deve fazer com seus desejos.

Vai apenas ajudá-lo a reconhecer que eles existem. E daí em diante, seguir a vida, com menos sintomas, menos dores, doenças, mais livre de suas próprias hipocrisias...

E agora, se você leu até aqui, deve estar se perguntando: ok, entendi, mas, na prática, como a psicanálise pode me ajudar?

Então, repetindo com outras palavras: toda aquela lista de queixas, ou problemas que levam as pessoas a procurar ajuda em algum momento de suas vidas, possui origem naqueles conteúdos lá do seu Inconsciente, lembra? Que a psicanálise também chama de desejos (como dito mais acima). E que, como você os desconhece porque são inconscientes, é papel do analista ajudar você a descobrir quais são e a olhar para esses conteúdos excluídos do seu Consciente (até porque se fossem conscientes e se você desse conta deles não precisaria de ajuda, certo?) para que você possa administrar seu dia a dia de uma maneira mais saudável e produtiva.

Repito: o analista não vai fazer milagres, não vai te dar conselhos, não vai te dizer o que tem de ser feito. Mas vai estar ali, presente em todas as sessões, apto e disposto a te ouvir falar tudo o que você quiser, tudo o que vier a sua mente (essa é uma das premissas básicas da psicanálise, que o paciente faça associações livres de tudo que lhe vem à mente durante as sessões).

Mas como o analista vai auxiliar? Ele fica só ouvindo??? Não! Absolutamente! O analista vai pontuar, vai interpretar, vai auxiliar o paciente a perceber o que de fato é a razão de seu incômodo, vai auxiliar o paciente a se perceber, a perceber a realidade em que vive, a perceber que é capaz de interferir e mudar a sua realidade, de modo que num determinado ponto do processo analítico (sim, é um processo e não é curto!) o paciente poderá dizer: nossa, isso faz todo o sentido; ou: puxa, nunca tinha pensado por esse ângulo; ou ainda: percebi que talvez eu também seja parte do problema do qual me queixo...

Enfim, cada caso é um caso e só é possível entender “como funciona” de fato se submetendo à análise.

Normalmente, as sessões acontecem semanalmente, com duração de 45 a 50 minutos aproximadamente. Atualmente, só estou atendendo na modalidade on-line aqui pela plataforma Guia da Alma, através das parcerias das empresas com a própria plataforma, ou com a parceria com a empresa Gympass. Mas também é possível me contatar direto na plataforma, caso a empresa onde você trabalhe não seja atendida por essas duas possibilidades.

E agora que você já sabe um pouco mais sobre o que é a psicanálise, que tal agendar uma sessão? Lembrando que quadros de depressão e ansiedade talvez sejam atualmente os de maior demanda, mas a psicanálise funciona muito bem também para pessoas diagnosticadas como borderline, transtornos afetivos bipolar, transtornos alimentares, TDAH e outros transtornos de ordem psíquica e emocional.

(Texto originalmente publicado do site Guia da Alma em 21 de junho de 2023)

https://guiadaalma.com.br/psicanalise-freudiana/

 

domingo, 2 de agosto de 2020

O que atrai é o mesmo de separa

"O que é o amor?

E o que é o sexo?

Não são parte do mesmo fenômeno, muitas vezes antagônico?

Quando nascemos, ocorre uma mudança para pior. É o fim da harmonia. É a expulsão do Paraíso, nosso Big Bang foi no encontro do espermatozoide com o óvulo.

Levamos um tempo, às vezes a vida toda, para nos adaptarmos ao novo mundo cheio de ameaças, desconforto e desamparo.

E aí começa a sensação de que para que tenhamos algo parecido com aquele aconchego uterino precisamos nos acoplar (de cópula mesmo) a uma outra pessoa, que vai substituir o primeiro objeto de desejo de todos nós: a mãe!

Nossos amores giram em torno disso. Se nosso companheiro não nos proporciona esse "aconchego", conforme essa memória uterian, trocamos por outro que, supostamente, fará essa função, e vamos trocando sempre que entendermos que o outro não nos dar aquilo que entendemos sermos merecedores.

O amor é um remédio para a sensação desagradável de desamparo. É a sensação agradável que deriva do fim da dor ou do desamparo.

"Os homens se atrapalham muito quando tentam juntar sexo com amor. O que deixa as mulheres perplexas!"

Não se pode tomar a sexualidade como referência da qualidade da relação. A maior parte dos casais que se dão bem têm uma vida sexual relativamente pobre. Igualmente não se pode tomar a sexualidade como indicativo do que vai acontecer no futuro.

O amor deriva da admiração (Platão).

O problema é que os critérios dessa admiração vão sofrendo alterações com o passar do tempo (ou da cultura etc, entre os islâmicos os critérios são uns, católicos, outros, asiáticos, ocidentais, etc)

O que pode acarretar o colapso amoroso da relação a qualquer instante. A pessoa é legal, mas aquilo que eu achava legal não acho mais. O sentimento amoroso vai despencar pela mesma razão que um dia ele subiu.

Vou me desencantar pelas mesmas razões que um dia me encantei.

E, ATENÇÃO! quanto mais baixa minha autoestima mais vou me encantar pelo meu oposto!

Aquela história de que os opostos se atraem, como se isso fosse algo positivo, é propaganda enganosa! Muita atenção!

O fim do amor não é necessariamente o fim imediato do relacionamento conjugal. Existem milhares de casais, principalmente na maturidade, que con vivem relativamente bem, sem necessariamente se amarem e muito menos fazerem sexo.

Ah mas eles nunca vão se separar? Pode ser que sim, pode ser que não.

A separação, se acontecer, vai acontecer em decorrência do mesmo motivo que houve o casamento."

(este texto são anotações minhas feitas durante algum seminário do qual eu não me lembro o nome, nem quem o proferiu, por isso coloquei entre aspas. Sorry. Fazendo umas arrumações em armários, cadernos, livros etc encontrei várias anotações como essa, sem data, sem referências precisas... e para que elas não se percam completamente vou compartilhar aqui e no meu blogue que anda meio abandonadinho. LMR)


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

ODE AOS CRENTES

Acreditei em cegonha, coelhinho da Páscoa e Papai Noel
Acreditei que o homem andou na lua
Acreditei que leite com manga fazia mal
Acreditei.
Acreditei que o bem sempre vencia o mal
Acreditei que bastava me confessar para um padre que os pecados estariam perdoados
Acreditei em pecados
Acreditei em perdão
Acreditei.
Acreditei em finais felizes e fins de semana coloridos
Em almoços de família em domingos ensolarados
Acreditei em versos e prosas
Em discursos e movimentos
Em ideais e mantras
Acreditei.
Acreditei em afirmações positivas
Em meditação ativa
Tarô, mitos e astrologia
Acreditei que amor rima com dor
Rima empobrecida e desgastada pela rotina
Acreditei em vida eterna, vida longa, sem limites
Acreditei
E finalmente, acreditei nas pessoas, nas promessas, nas palavras
Sem saber que é preciso aprender a não acreditar em nada
Que não seja em sua própria falta de razão para existir.

Apenas ser.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ninguém segura esse rojão

Durante uma aula de teoria psicanalítica, alguém comentou sobre suicídio e a nossa professora disse que o suicídio é um ato falho do psicótico. Por que? perguntou alguém. E ela explicou que, de verdade, a pessoa não quer se matar. Mas aí, dá certo: Bingo! ato falho. Bom, pra quem não está acostumado com o linguajar psicanalítico atos falhos são coisas que se faz ou se fala "sem querer", mas que no fundo possui uma intenção inconsciente. Atos falhos são manifestações do nosso inconsciente. Por exemplo: você troca o nome de uma pessoa, tipo chama Ana de Maria porque vê em Ana algo de Maria. O problema é quando fazemos isso durante uma transa e chamamos o marido pelo nome do amante ou vice-versa, falamos o nome do marido quando estamos com o amante. Se isso acontecer, livre-se dos dois porque na verdade você está ou trocando seis por meia dúzia ou é masoquista e quer sofrer duplamente, enfim, ninguém tem nada a ver com isso, cada um faz o que quer, mas cá entre nós: quem acha o amante parecido com o marido ou vice-versa, precisa de um analista urgente, né, não?
Mas voltemos ao nosso suicida.
Então, segundo a teoria psicanalítica freudiana, a maioria dos suicidas são psicóticos. "Mas NEURÓTICOS TAMBÉM SE MATAM!", disse minha professora olhando pra mim!!!! Na hora falei: puxa isso dava um excelente nome de filme! e a sala despencou a rir. Tenho mania de chistes. Isso é outro "sintoma" da minha neurose e talvez tema para outro post. Aliás, dois sintomas: mania e chistes. Segue a aula: alguém disse, ou um livro! Sim, boa ideia, repliquei. Então, antes que a notícia se espalhe, já providenciei a troca do nome do meu blog de O Revelado e o Oculto, para Neuróticos também se matam, nome do meu próximo livro.
Por que neuróticos não costumam se matar? perguntará o leitor mais atento. Sim, não costumam se matar porque os neuróticos são neuróticos, entre outras razões, porque estão sempre cheios de dúvidas, de incertezas, por isso, dificilmente conseguem se matar. Eles gastam muita libido, que é a energia criativa e criadora (daí ser a energia sexual, como dizia o mestre Freud, afinal, que outra energia é mais criativa e criadora? fazemos outro ser humano com essa energia! somos quase deuses!!!!), discutindo consigo mesmos se devem ou não fazer isso ou aquilo, se fecharam as janelas na iminência de uma chuva, se trancaram de fato a porta da frente antes de dormir ou quando saem de casa (alguns voltam várias vezes para conferir), se estão vestidos adequadamente, se estão falando dele (tipo: por que a minha professora estava olhando justamente para mim quando disse aquela frase?) e assim vai. Os neuróticos são a maioria. Freud já havia percebido isso há mais de 200 anos.
Claro que as coisas não são assim tão simples. Estou brincando (chiste?) com algo sério. Que deve e precisa ser tratado de maneira séria. Mas que também pode ser olhado de uma forma mais branda e bem-humorada. Afinal, como dizia Chico Buarque
"Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão"...


Link: http://www.vagalume.com.br/chico-buarque/meu-caro-amigo.html#ixzz2QY2XB2Yg

terça-feira, 12 de março de 2013

Internação compulsória: sim ou não?


O crack é usado hoje por pessoas de todas as classes sociais e faixas etárias, atingindo, por exemplo, executivos que o consomem em casa, nos finais de semana, de forma relativamente controlada. “O perfil do usuário atual é mais amplo”, comenta a professora Amanda Reinaldo, especialista em dependência química e professora do Departamento de Enfermagem Aplicada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
    Ela é a coordenadora do Ciclo de estudos em crack e outras drogas, que começa hoje, 12/03/2013, na Escola de Enfermagem, e reunirá, em sete encontros periódicos que se estendem até julho, especialistas e profissionais de saúde que lidam com temas como o estigma sobre o usuário de drogas, a rede de saúde e de atendimento e a importância da participação da família na recuperação do dependente químico.
    Em entrevista ao Portal UFMG, a professora Amanda Reinaldo analisa o comportamento não exclusivista do dependente de crack, que também consome outras drogas, o forte estigma social que o persegue e sugere estratégias para o tratamento dos viciados – e elas não passam, em sua avaliação, pela internação compulsória, adotada desde o início do ano em São Paulo.
    “O ideal seria que as políticas públicas para essa área seguissem o princípio da redução de danos, que foca seus esforços na relação que o usuário tem com a droga”, propõe.

    O ciclo de estudos que começa hoje, na UFMG, tem o crack em lugar de destaque nos debates e até mesmo no nome do evento. Por que essa droga tem ganhado tanto espaço na agenda do governo e da sociedade?
    O crack é a bola da vez. Se pensarmos epidemiologicamente, outras drogas como o álcool provocam mais impactos sociais e financeiros que o crack. Mas o crack choca a sociedade e chama a atenção, porque seus usuários estão na rua, eles saem de suas casas e vão para as cracolândias, perambulam pela cidade e isso incomoda a sociedade. O uso do crack levanta outras questões sociais como prostituição e a degradação humana. Já o usuário de álcool em geral tem sua família e sua casa e não incomoda tanto a sociedade, a não ser nos casos de acidentes de trânsito. O crack incomoda muito mais, socialmente falando.
    O crack então é uma droga menos aceita socialmente?
    Sim, por conta da degradação e outras questões sociais que ele gera. O crack está associado à violência e a comportamentos de risco. Como exemplo, lembro que têm aumentado os casos de crianças portadoras do HIV; as mães usuárias e contaminadas pelo vírus não fazem pré-natal, o que poderia impedir a criança de contrair o vírus.
    A violência e outros problemas que aparecem associados ao uso do crack são os responsáveis pela exclusão social dos usuários dessa droga?
    Não acho que usuário do crack seja excluído socialmente. Ele é temido socialmente, a partir do momento em que causa um incômodo, as pessoas não querem vê-lo perambulando pelas cidades. Ele está na cidade, anda e convive com as outras pessoas, mas incomoda. Ele não está excluído na periferia, circula pelos espaços. Em geral, as pessoas têm mais medo do usuário de crack do que de um alcoolista ao volante.
    Por que o crack tem matado tantos usuários?
    Não podemos falar que o crack é a droga mais devastadora para o organismo. O uso de qualquer droga deve ser visto como uma doença e não um desvio de caráter, e o crack não mata por si só, está associado a doenças secundárias, tais como tuberculose, aids, pneumonia, câncer de boca. O usuário morre devido às comorbidades associadas ao uso da droga. Alguns indícios trazidos por determinadas pesquisas mostram que os usuários de crack estão começando a autorregular o seu uso da droga.
    Como isso acontece?
    Há estudos em andamento que mostram que o crack está entrando em uma fase de uso mais “estabilizado”, por assim dizer. Quando a droga surgiu, houve um boom no seu uso, sendo que o ápice foi percebido pela população com o surgimento das cracolândias. Mas hoje já existem sinais apontando que as pessoas que usam crack, assim como os usuários de cocaína e álcool, estão começando a moderar o consumo. Há usuários de fim de semana que controlam o uso para trabalhar e ter uma vida normal.
    Qual é o perfil desse novo usuário?
    É muito difícil traçarmos esse perfil, porque ele é muito amplo. Há desde o executivo que faz uso aos fins de semana em casa, de forma regular, porém mais controlado, até as donas de casa e os aposentados. O crack não é mais uma droga da rua, seu perfil mudou e ele agora atinge todas as classes sociais. Além disso, os consumidores de crack são "poliusuários".
    Isso significa que não uma há exclusividade no consumo...
    É muito difícil vermos usuários de uma droga só. As pessoas experimentam de tudo, mas fazem uso maior daquela droga à qual se adaptam melhor, que gostam mais do efeito. Aquele caminho clássico indicando que a pessoa começava no cigarro, migrava para a maconha e depois para drogas consideradas “mais fortes” não é mais comum. O grande “barato” do crack é o efeito instantâneo, mais rápido. Mas o usuário de crack também consome maconha, álcool e cocaína.
    Como o usuário de crack deveria ser tratado?
    O usuário de drogas é uma pessoa doente e que precisa de tratamento. O ideal seria que as políticas públicas para essa área seguissem a mesma linha do álcool, por exemplo. É a política de redução de danos, que foca seus esforços na relação que o usuário tem com a droga. O objetivo final é sempre a abstinência, que a pessoa pare de vez de usar o crack. Mas se hoje a pessoa fuma 20 pedras por semana e consegue passar a fumar 10 ou 5, isso já é bom. Juntamente com essa redução de danos, deve haver ações como reinserção no mercado de trabalho e na família, para que a pessoa consiga parar de usar a droga e voltar a ter vida normal. O usuário de crack precisa ser amparado de todas as formas e reintegrado à sociedade.
    A recuperação de usuários de crack é mais difícil que a de dependentes de outras drogas?
    É uma recuperação bem árdua, tanto pela dependência física, quanto pela psíquica. O usuário de crack pensa que precisa da pedra para sobreviver. Ele não acha que a droga em si é ruim, porque, se assim fosse, ninguém usaria. O usuário se sente mais forte e corajoso, e isso dificulta o tratamento. O ex-usuário precisa desenvolver um autocontrole e tentar não se expor às situações de risco.
    As internações compulsórias são uma solução para o problema do crack nas grandes cidades?
    Na área da saúde há grupos contrários e favoráveis a essa medida. Os grupos a favor alegam que o dependente perde a capacidade de decidir o que é bom e o que é ruim, e, por isso, o Estado tem a obrigação de decidir por ele. Os grupos contrários encaram essa internação como violação de direitos e de autonomia. A internação compulsória não vai resolver o problema do crack, mas é preciso dar uma resposta à sociedade.
    Como tem sido o resultado dessa medida nos locais onde foi adotada?
    Até onde temos conhecimento, a maioria dos internados compulsórios retorna ao uso, porque não há o desejo do tratamento. Quantas vezes a internação compulsória já foi feita e não deu certo? Foi feita com os portadores de hanseníase, com os doentes mentais e com os tuberculosos. Todas essas pessoas incomodaram a sociedade e foram retiradas das ruas pelo Estado. Com os anos, nenhuma dessas internações deu resultado, porque você isola a pessoa e cria uma sociedade à parte, sem solucionar o problema. Ao tirar as pessoas da rua e interná-las à força, o crack não deixa de existir. E em algum momento elas vão sair da internação, pois ninguém pode ficar enclausurado para sempre. Logo vai aparecer outra droga e qual será o próximo passo? Vamos criar serviços de internação para cada nova droga? Esse é um assunto muito delicado e que desperta posições conflitantes. Alguns usuários questionam a internação compulsória e, ao sair, voltam a usar droga. Já outros agradecem pela internação depois que se recuperam.
    Como o Estado participa dessas internações?
    Nos locais em que ocorrem, elas são resultado de parceria do governo com a justiça. Nossa preocupação é que o Estado pode não dar conta de manter as internações compulsórias, porque isso é muito caro. A quem interessa a internação compulsória se o Estado não tem condição de internar todo mundo? As clínicas privadas vão se interessar e aí a pessoa deixa de ser um usuário de drogas, sabidamente doente, e se transforma em uma cifra. Quanto mais usuários, mais serviços privados e mais dinheiro o processo vai envolver. Já existe a intenção e esforço político para a causa, mas esse esforço tem que ser canalizado de forma inteligente.
    Como a universidade tem participado dos debates sobre dependência química e uso do crack e outras drogas?
    A UFMG difunde o conhecimento e cria políticas de multiplicadores desse conhecimento. A universidade ajuda a destruir mitos e a mostrar que este é um problema de saúde pública. Além disso, ela forma profissionais nas áreas da saúde que estão se preparando para enfrentar o problema. Muitos profissionais estão indo para o mercado de trabalho sem saber lidar com essa questão. Além disso, a UFMG tem feito avanços na pesquisa para gerar conhecimentos que ajudam a compreender melhor a dependência química.

    Fonte: Agência de Notícias da UFMG

    Particularmente não concordo com algumas ideias da professora, principalmente no que diz respeito à comparação que ela fez entre hansenianos, tuberculosos e dependentes de crack. A hanseníase e a tuberculose, assim como a Aids e outras doenças infecto-contagiosas não limitam a capacidade do doente de discernir e tomar decisões. Dependentes químicos, em geral, e de crack em particular, em graus muito avançados de fato não conseguem ter lucidez suficiente para decidir o que é melhor para eles, nem se querem mesmo se tratar ou não. Como afirmar que todo dependente químico que foi internado compulsoriamente tem recaída por esse motivo? Então, por que razão os que são internados voluntariamente também têm recaídas? O assunto é muito complexo e vai além de questões do tipo: concordo ou não concordo com essa ou com aquela política pública. O sistema prisional, igualmente, não resolve a questão da recuperação dos presos e nem por isso, não prender um infrator seria a solução ou perguntar para ele se ele quer ser preso seria a solução. Ah! não sou a favor da internação compulsória nem de hansenianos nem de tuberculosos ou aidéticos. Mas se internar compulsoriamente dependentes químicos não resolve, me parece que deixá-los à revelia também não. Vide caso recente do cantor Chorão, morto semana passada. A Justiça, sempre sábia, não concordou em interná-lo compulsoriamente e o fim da história nós vimos como foi. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Velha, eu?

Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro.
Uma cliente em terapia relatou outro dia:" Será que estou com cara de muito velha? Velhinha?"
Devolvi assim: Por que você está preocupara com isso? Ela respondeu: "Não sei, ás vezes tenho a impressão que as pessoas me acham velha. Outras penso que me elogiam para me consolar. Como uma moça que não via há muito tempo. Ela me disse que eu estava muito bem e me perguntou o que eu andava fazendo. Eu dei risada e respondi: nada do que vc está pensando que eu estou fazendo! Muitas pessoas, muitas não, algumas, me tratam como jovem, me tratam como se não houvesse essa questão do tempo. Outras...não sei, não sei mesmo o que pensam a meu respeito. Algumas pessoas com quem convivo diariamente nunca me fizeram um único elogio, nem desses simples que se faz assim só para agradar, ou consolar, tipo, 'como vc está bonita hoje'. Esse é o tipo de elogia seletivo. Vc está bonita naquele dia por alguma razão especial. Isso não quer dizer que vc é uma pessoa bonita. Não, de jeito nenhum. Vc é uma pessoa comum, mas naquele dia estava bonita. Pode ser um dia que vc acordou de bem com a vida, com os gatos, com o cachorro, enfim. Pode ser um dia que vc se maquiou melhor, se vestiu com mais apreço...
Mas quando eu entro no metrô e alguém se apressa a se levantar para me dar o lugar...eu aceito, sabe?, mas sempre fico me perguntando, será que pareço ser assim tão velha? Afinal, aquela reserva de bancos especiais é para maiores de 60 e eu ainda não tenho essa idade...Quem inventou essa história de "melhor idade" não tem nem 40 anos!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

FREUD E O LUCRO DOS SEUS NEGÓCIOS


Luiz Fernando Garcia
Neste post, dou espaço para Luiz Fernando Garcia que é especialista em psicodinâmica aplicada à gestão. Ele  reúne empresários de médio e grande porte e por meio de uma terapia em grupo ajuda-os a compreenderem e, com isso, alterarem seus comportamentos no dia a dia dos negócios.
 No artigo “Freud e o lucro dos seus negócios”, Luiz Fernando explica como o controle de alguns comportamentos _ presentes na rotina dos negócios  e também estudados por Freud – pode melhorar o desempenho de toda a empresa.




O que o famoso alemão Sigmund Freud tem a ver com o sucesso de empresários e seus empreendimentos? Muitas vezes, a reposta é simples: tudo. Entender os conceitos da Psicanálise e aplicá-los à prática do universo corporativo pode ser a solução para muitos homens e mulheres que não conseguem entender por que suas empresas não conseguem ter um bom desempenho.

Considerado por muitos como um dos grandes gênios dos séculos XIX e XX, Freud deixou um legado àqueles que buscam o entendimento da própria mente – fato este que, muitas vezes, não é almejado pelos donos de negócios. Sobre isso, vale dizer que um dos maiores desafios que enfrento no dia a dia com empresários é fazer com que entendam que a origem de problemas como baixos resultados financeiros pode não estar em estratégias, funcionários ou sócios. Em grande parte dos casos, o ponto-chave é a própria dinâmica mental desses executivos.

Ao se aproximarem dos conceitos do Pai da Psicanálise, homens e mulheres de negócios “desatam os nós” que possuem, e quase sempre passam a colher os frutos com o melhor desempenho de todos na empresa e, consequentemente, com o aumento dos lucros. Durante a convivência com mais de 1.200 empresários ao longo dos últimos 12 anos, busquei fazer com que entendessem os Mecanismos de Defesa da Psicanálise, algo constantemente presente no cotidiano corporativo.

Praticamente todos os empresários, inconscientemente, põem em prática esses mecanismos, o que prejudica – e muito – o desempenho dos negócios. Ao levar para a empresa um problema mal resolvido em casa, eles aplicam o que Freud chamou de Deslocamento e apenas transferem as preocupações de ambiente. Outro fator presente no comportamento dos donos de negócios é a Negação. Ou seja, eles deixam de enxergar determinado problema para realizar seu objetivo, por exemplo, um investimento arriscado. Mesmo que os números do relatório preparado pelo contador apontem que o momento não é propício para ampliar a fábrica ou fazer contratações, os empreendedores em estado de negação optam pelo caminho do “sei que vai dar certo” e correm até o risco de quebrar.

Além de negar o risco em uma negociação, o empresário, frequentemente, é “muito apaixonado” por seu negócio. Por conta disso, põe em prática a Idealização para justificar uma decisão, especialmente as que parecem não fazer sentido para o restante das pessoas. A chamada Projeção também é algo muito presente no ambiente empresarial. Esse Mecanismo de Defesa pode ser observado, por exemplo, em uma relação de sociedade, com a transferência de desejos ou conteúdos que estão em você ao outro – “ele vive viajando” e “ele vive com mulheres mais jovens” são frases que podem exemplificar esse tipo de atitude. Em linhas mais populares, poderíamos tratar esse último tópico como “uma inveja disfarçada pela visão crítica”, já que os defeitos dos outros são, na verdade, muitas vezes as virtudes que gostaríamos de ter.

Com o conhecimento dos conceitos da Psicanálise e a prática de algumas técnicas, esses comportamentos inconscientes são compreendidos e alterados. Ao mudar sua maneira de pensar, o empresário também passa a agir de forma diferente. Isso potencializa o desempenho de seus subordinados e acaba por ampliar os lucros nos negócios.

Luiz Fernando Garcia – Administrador de Empresas, criador da metodologia de Psicodinâmica em Negócios, formando em Psicanálise e responsável pelo desenvolvimento de mais de 50 metodologias de treinamento destinadas à capacitação de empresários e profissionais de liderança, com mais de 1.500 empresas atendidas em 30 mil horas de aplicação em estratégia de desenvolvimento.

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...