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sexta-feira, 1 de março de 2013

Velha, eu?

Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro.
Uma cliente em terapia relatou outro dia:" Será que estou com cara de muito velha? Velhinha?"
Devolvi assim: Por que você está preocupara com isso? Ela respondeu: "Não sei, ás vezes tenho a impressão que as pessoas me acham velha. Outras penso que me elogiam para me consolar. Como uma moça que não via há muito tempo. Ela me disse que eu estava muito bem e me perguntou o que eu andava fazendo. Eu dei risada e respondi: nada do que vc está pensando que eu estou fazendo! Muitas pessoas, muitas não, algumas, me tratam como jovem, me tratam como se não houvesse essa questão do tempo. Outras...não sei, não sei mesmo o que pensam a meu respeito. Algumas pessoas com quem convivo diariamente nunca me fizeram um único elogio, nem desses simples que se faz assim só para agradar, ou consolar, tipo, 'como vc está bonita hoje'. Esse é o tipo de elogia seletivo. Vc está bonita naquele dia por alguma razão especial. Isso não quer dizer que vc é uma pessoa bonita. Não, de jeito nenhum. Vc é uma pessoa comum, mas naquele dia estava bonita. Pode ser um dia que vc acordou de bem com a vida, com os gatos, com o cachorro, enfim. Pode ser um dia que vc se maquiou melhor, se vestiu com mais apreço...
Mas quando eu entro no metrô e alguém se apressa a se levantar para me dar o lugar...eu aceito, sabe?, mas sempre fico me perguntando, será que pareço ser assim tão velha? Afinal, aquela reserva de bancos especiais é para maiores de 60 e eu ainda não tenho essa idade...Quem inventou essa história de "melhor idade" não tem nem 40 anos!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Domingo

Caminhos...
Você acorda, e ainda na cama alonga os músculos do corpo todo num espreguiçar enorme....olha para o celular na mesinha de cabeceira, vê que horas são e pensa que a noite, afinal, não foi de todo ruim mas podia ter sido melhor.
Enumera mentalmente e rapidamente o que precisa ser feito o que deve ser feito e não o que quer fazer/gosta de fazer enquanto afasta os lençóis e estica as pernas para fora da cama. Encontra os chinelos embaixo da cachorrinha que dormia ao lado, sai do quarto e, apesar da vontade de fazer xixi, desce a escada, abre a porta da sala, pega os jornais e vai para a cozinha. No caminho, vê a caca dos cachorros que precisa ser limpa e que hoje, por causa da chuva está pior a bagunça do que nos dias secos. Resiste a limpar a lavanderia e vai mesmo direto pra cozinha, mas não resiste á bagunça da mesa do sábado. Passa um Veja em tudo e quando percebe está fazendo isso também no balcão, e aí, para. Coloca a toalha limpa na mesa e vai ajeitar as xícaras, pires, talheres etc. Olha para a Tv e pensa se deve ou não ligá-la. Melhor seria ouvir uma música, um mantra...mas pra isso teria de subir até o quarto, pegar o CDplayer os CDs....desiste. Ajeita as xícaras nos pires, coloca as frutas nos pratinhos auxiliares, guardanapos...tudo em ordem/ mais ou menos, pensa. Só então vai beber seu leite com café. Antes, engole suco com farelo de trigo (ouviu num programa de Tv sobre saúde que é bom para o funcionamento do intestino) e junto vão as cápsulas de vitamina D, quitosana, spirulina e isoflavona, metade receitado pelo ginecologista para ajudar na menopausa, metade pegou por intuição na prateleira da loja de produtos naturais porque leu em algum lugar que ajudavam a emagrecer. Há 4 anos briga com a balança. Coincidentemente, há quatro anos não menstrua mais. Já fez caminhadas, academia, pilates, dietas orientadas por nutricionistas....e, nada. Piorou há dois anos quando resolveu reatar um casamento abandonado há 12 anos. Mas piorou muito mais quando há mais ou menos um, teve certeza de que a escolha fora equivocada. Aliás, parece que escolhas equivocadas são sua marca registrada. Você olha para as torradas com patê de peito de peru e chega quase a se deprimir.
Mas decide que não adianta chorar pelo leite derramado. Coloca a caneca personalizada dentro da pia, dá tchau pros pets, pega a bolsa e sai sem escovar os dentes. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O outro é aquele que me diz quem eu sou.

Você deve conhecer um sem-número de pessoas que passam a maior parte do tempo delas criticando os outros. Do governo ao vizinho passando pelo chefe, colegas de trabalho e parentes.

São pessoas que, em geral, se preocupam muito com a vida dos outros e olham muito pouco pra si mesmas.

Estão sempre envolvidas com questiúnculas que, somadas, transformam suas vidas em verdadeiros infernos. São pessoas que lembram muito aquela figura do cão correndo atrás do próprio rabo, ou seja, não saem do lugar.

E por que criticamos o outro? Porque o outro é aquele que muitas vezes me diz quem eu sou.
E a minha fala sobre o outro revela, em parte, também o que eu penso sobre mim, que vejo refletido no outro. Aliás, existe até uma célebre frase de Freud: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo."

Quando ouço o outro falar de mim tenho de tentar entender o que ele fala de mim: é meu mesmo? Ou é dele projetado em mim.
Confuso?

Bem, a clínica psicanalítica pode ajudar nessa tarefa de prestar atenção no que o outro me revela, pois só reconheço no outro aquilo que existe em mim. E o outro só reconhece em mim aquilo que existe nele.

Muitas vezes as pessoas se assustam quando ouvem essa afirmação. E se revoltam. Num movimento natural de autodefesa, negam e repudiam qualquer tentativa de esclarecimento.
Obra de Picasso

Com frequência desdenham psicólogos, psicanalistas e gritam que não precisam de seus conselhos. No que eu concordo. Psicanalista não dá conselhos. Se o seu dá, fuja dele. 

Psicanalistas pontuam, ampliam a fala do analisando, podem interrogar, comparam a fala de hoje com a da sessão anterior, repetem palavras aparentemente ditas ao acaso...não julgam, não se antecipam, aguardam, respeitam silêncios, lágrimas e ausências.

O processo terapêutico, fase inicial da clínica psicanalítica, auxilia o indivíduo a perceber a si mesmo, a se conhecer e, se conhecendo, a se analisar, fase posterior e muito rica, pois é o próprio indivíduo que se descobre, através da fala de si mesmo e da fala do que ouve do outro e que ele traz para dentro do setting terapêutico; dos conteúdos oníricos trazidos na sessão, das lembranças de sua infância, de sua vida de uma forma em geral.

Então, dá próxima vez que se flagrar criticando alguém, olhe para dentro de si mesmo e tente perceber se esse conteúdo está presente também em você.



quinta-feira, 24 de maio de 2012

Abusos e abusadas

Eu não vi, mas fiquei sabendo que no domingo 22 uma famosa apresentadora da televisão deu um depoimento sobre os abusos que sofreu quando criança, de uma pessoa próxima, um parente ou algo assim.
Acho interessante que pessoas famosas e conhecidas relatem publicamente que sofreram abusos na infância porque isso, infelizmente, é mais comum do que se pode imaginar. No ano passado uma outra pessoa conhecida, irmã de um grande empresário do ramo de supermercados fez uma revelação semelhante. Uma ex-modelo, famosa nos anos 80, também apareceu num programa de entrevistas na tevê comentando sobre os abusos que sofreu. Em comum, além de da beleza, as moças foram molestadas por familiares muito próximos, pessoas que conviviam com elas no seu dia a dia.
Não acho que abusos estejam acontecendo mais só nos dias de hoje (leia reportagem com os índices do Ministério da Saúde no fim deste texto). Acho que isso sempre ocorreu. Mas não era tão divulgado, as pessoas não tinham nenhum tipo de apoio familiar nem terapeutas (isso era coisa de louco ou de rico) que pudessem ouvir seus dramas. E essas pessoas famosas virem agora a público revelando seus segredos de infância só reforça minha tese. Muitas pessoas que estão lendo este blog neste momento podem ter passado por situação semelhante e, provavelmente, nunca comentou o fato com ninguém.
Eu também sofri abusos quando criança. O primeiro de uma pessoa da família bem próxima a mim. O abuso na verdade não se concretizou completamente porque outra pessoa interrompeu. Foi a minha salvação. Mas, assim como a maioria dos que sofrem abusos, eu também não contei nada pra ninguém. Porque, assim como a maioria das pessoas, se contasse, isso implicaria delatar alguém muito próximo, alguém tido como de confiança da família....e aí? como ficaria a situação? essa pessoa, o abusador, seria condenado, punido...e eu ficaria no papel de algoz. Eu era muito pequena, devia ter uns 4 ou 5 anos. Mais tarde, com 8 ou 9, fui bolinada por um senhor, um alfaiate que fazia roupas para minha mãe e para mim e que era pai de uma das melhores amigas dela. Saí correndo do ateliê do velhinho que ficava na edícula da casa dessa amiga da minha mãe Entrei na cozinha onde elas conversavam animadamente. Elas devem ter percebido que algo acontecera. Me perguntaram, mas eu não tive coragem de falar. Como eu ia estragar a amizade da minha mãe com aquela moça tão boa, tão bacana? Não falei nada, mas depois, a caminho de casa, disse à minha mãe que não queria mais fazer roupas com o senhor fulano, que preferia comprar em lojas que eram mais modernas do que as roupas que ele fazia. Ela não fez nenhum comentário. Mas nunca mais fizemos roupas com o alfaiate sacana. Não sei se ela desconfiou de algo...talvez intuitivamente, quem sabe? O fato é que não fiz mais as roupas lá.
Uma de minhas filhas também foi molestada quando era criança. Foi molestada por uma menina mais velha, filha de uma amiga minha. Viviam brincando juntas - porque apesar de mais velha a garota era bem infantilizada - .Ela só me contou depois de adulta...perguntei pra ela por que não me contara na ocasião? e ela me deu os mesmos motivos pelos quais eu também não revelei à minha mãe os abusos que sofri. Se ela contasse, a amizade entre mim e a mãe da menina acabaria e ela seria responsabilizada por isso.
Desconheço se minha mãe sofreu algum abuso na infância. Mas uma das irmãs dela disse que foi molestada pelo próprio pai, ou seja, meu avô, aquele velhinho risonho, que era tão carinhoso comigo, que levava bombons Sonho de Valsa todos os domingos numa caixa em formato de coração quando ia almoçar na minha casa... Bom, ela teve coragem de falar, mas ninguém na família lhe deu crédito. Não sei o que é pior. Carregar o segredo para o resto de sua vida ou revelá-lo e ninguém acreditar e você ainda passar por mentirosa, imaginativa, pessoa que vê coisas, ou ainda ser acusada de alguma forma ter provocado aquela situação, e isso é muito comum. Não ser considerada, nesses casos, ou seja, não ter crédito, causa mais trauma do que o abuso em si.
Conheço umas cinco moças e pelo menos dois rapazes que também sofreram algum tipo de abuso na infância. Algumas dessas pessoas contaram, foram consideradas, outras não contaram. Algumas amargam até hoje consequências doídas dessa situação vivida quando crianças...outras, viveram suas vidas como se nada tivesse acontecido, guardaram num cantinho da memória aquilo que lhes faz tanto mal um dia.
Sofrer um abuso nos causa um constrangimento muito grande. Vergonha, culpa, são sentimentos que acabam nos acompanhando por muito tempo.
Veja bem: o abuso que eu sofri não é nada comparado com o abuso que milhares de crianças sofrem todos os dias de pais, tios, irmãos, padastros estupradores. Pais e padastros que abusam de suas filhas anos a fio. Filhas que geram filhos de seus abusadores.
Esse não foi o meu caso nem de minhas conhecidas, mas nem por isso, por ser algo "menos" contundente, deixamos de sofrer o trauma. Porque toda violência gera um trauma.
A diferença da consequência do ato de abuso na psique de uma pessoa para outra é a interpretação que ela dá ao fato. Existem relatos de meninas que abusadas por seus parentes próximos anos a fio diziam pensar que era assim mesmo já que suas mães, muitas vezes, eram coniventes com o caso. Tinham conhecimento e nada faziam. 
Cada caso é um caso. Nunca podemos generalizar.
Uma pessoa como a apresentadora famosa pode ter virado o jogo e, inconscientemente, pensado: ninguém mais vai abusar de mim. Vou crescer, ser feliz, ter sucesso! e vai em frente! Outras, também inconscientemente, acabam acreditando que mereceram ser abusadas e passam a vida sendo "abusadas" por terceiros: abusam de sua paciência, de seu talento, de seu tempo, de sua saúde, beleza....
Contar é sempre melhor do que não contar. Muitas vezes o apoio de uma terapia é o melhor caminho para amenizar os prejuízos causados na alma do(a) abusado(a).
Abuso é abuso. Não é brincadeira. E é crime. Confira mais dados oficiais na reportagem abaixo que transcrevi do site Terra.

A violência sexual em crianças de até 9 anos é o segundo maior tipo de abuso de força característico desta faixa etária, ficando pouco atrás apenas das notificações de negligência e abandono. A conclusão é de um levantamento inédito do Ministério da Saúde, que registrou 14.625 notificações de violência doméstica, sexual, física e outras agressões contra crianças menores de dez anos em 2011.
O abuso sexual contra crianças até 9 anos representa 35% das notificações. Já negligência e abandono tem 36% dos registros. Os números são do sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do Ministério da Saúde. O VIVA possibilita conhecer a frequência e a gravidade das agressões e identificar a violência doméstica, sexual e outras formas (física, psicológica e negligência/abandono). Esse tipo de notificação se tornou obrigatório a todos os estabelecimentos de saúde do Brasil, no ano passado.
A maior parte das agressões ocorreram na residência da criança (64,5%). Em relação ao meio utilizado para agressão, a força corporal/espancamento foi o meio mais apontado (22,2%), atingindo mais meninos (23%) do que meninas (21,6%). Em 45,6% dos casos, o provável autor da violência era do sexo masculino. Grande parte dos agressores são pais e outros familiares, ou alguém do convívio muito próximo da criança e do adolescente, como amigos e vizinhos.
"Todos os dias, milhares de crianças e adolescentes sofrem algum tipo de abuso. A denúncia é um importante meio de dar visibilidade e, ao mesmo tempo, oportunizar a criação de mecanismos de prevenção e proteção. Além disso, os serviços de escuta, como o disque-denúncia, delegacias, serviços de saúde e de assistência social, escolas, conselhos tutelares e a própria comunidade, devem estar preparados para acolher e atender a criança e o adolescente", afirma a diretora de análise de situação em saúde do Ministério da Saúde, Deborah Malta. "Este assunto deve ser debatido incansavelmente nas escolas, comunidades, família, serviços de saúde, entre outros setores da sociedade", ressalta ela.
Os dados preliminares mostram que a violência sexual também ocupa o segundo lugar na faixa etária de 10 a 14 anos, com 10,5% das notificações, ficando atrás apenas da violência física (13,3%). Na faixa de 15 a 19 anos, esse tipo de agressão ocupa o terceiro lugar, com 5,2%, atrás da violência física (28,3%) e da psicológica (7,6%). Os dados apontam também que 22% do total de registros (3.253) envolveram menores de 1 ano e 77% foram na faixa etária de 1 a 9 anos. O percentual é maior em crianças do sexo masculino (17%) do que no sexo feminino (11%).http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5788485-EI5030,00-Abuso+sexual+e+o+segundo+maior+tipo+de+violencia+no+Brasil.html

domingo, 6 de novembro de 2011

O complexo de inferioridade e superioridade

Alfred Adler (1870/1937), psicólogo austríaco.
O texto a seguir faz parte do acervo de estudos compilados por nossos professores no curso livre de Psicanálise com abordagem junguiana do qual faço parte. Aqui vamos conhecer um pouco sobre Adler, médico e filósofo que trabalhou com Freud e que, posteriormente, também rompeu com ele, por não concordar com sua abordagem limitada ao instinto sexual.
Trata-se de um texto bastante didático sobre dois dos complexos mais comuns que incomodam grande parte da população.
No final, um teste para você identificar se é um deles que tem guiado suas atitudes e comportamento ao longo da sua vida.
Caso a resposta seja positiva,não se preocupe. Você não pode mudar seu complexo, mas pode aprender a conviver com ele de maneira harmoniosa e produtiva por estar consciente. Inconsciente será conduzido por ele (complexo) como provavelmente tem acontecido até hoje.
Mas isso pode mudar. É só você querer. E uma boa terapia também ajuda.


Ambos os conceitos que serão desenvolvidos neste estudo são a parte principal da obra do psicólogo ALFRED ADLER, primeiro discípulo de FREUD e também o primeiro a romper com o mesmo, por discordância na supremacia do instinto sexual na modelagem da personalidade. ADLER achava que o complexo de inferioridade era algo intrínseco à natureza humana, justamente pela fragilidade da criança perante o ambiente que a circunda. Sua extrema dependência dos familiares e impossibilidade de várias coisas acarretavam dito complexo. Em contrapartida desenvolvia fantasias de superioridade para compensar tal situação desvantajosa. Essa trama ou binômio (inferioridade-superioridade) acompanhariam o indivíduo pelo resto de sua vida. Pretendo estudar tais complexos dentro de nossa atualidade e analisando os fenômenos sociais que os acompanham. 


O complexo de inferioridade nasce quando a criança percebe o simples fato de não ser o único objeto do amor, afeição ou cuidado de seus pais; seja por ter outros irmãos ou os pais darem atenção a outras tarefas; o ciúme e raiva se desenvolvem bem cedo na criança. ADLER inclusive achava determinante na formação da personalidade que posição a criança ocupava no quadro familiar (primogênito, caçula, filho do meio). A ruptura da condição de não ser única ou do narcisismo infantil traz como herança a comparação e competição que também nos acompanharão pelo resto de nossas vidas.


Inferioridade, disputa de poder e rivalidade formam um dos núcleos centrais da alma humana. Todas visam originalmente obter atenção e controle sobre um ambiente hostil ou desconhecido. Seria uma visão completamente equivocada e reducionista achar que tais fenômenos são apenas reproduções dos processos econômicos e sociais; muito pelo contrário, o desenvolvimento de tais instintos é que moldará uma personalidade que mais tarde se tornará ávida pelo poder ou dinheiro. De certa forma não haveria nenhum problema com a competição e disputa de poder se paralelamente se desenvolvesse o núcleo da solidariedade como ADLER apregoava. Quantos de nós carecemos daquela figura generosa que nos mostrasse que uma derrota não é de forma alguma uma humilhação de nosso íntimo. A ausência de tal instrutor já é o primeiro gerador do complexo de inferioridade, pois não houve treino ou acompanhante para o processo da perda.


A grande questão para o pleno desenvolvimento da autoestima é “regar” na criança determinada potencialidade que jamais se dissolva no processo social ou da opinião alheia, sendo a prova máxima da existência de alguma verdade atemporal carregada por um ser humano e no qual dará um uso mais amplo do que meramente um ganho pessoal. Esta é a precisa definição do que vem a ser a segurança pessoal. Pode se iniciar com um mero elogio dos pais perante uma habilidade do bebê, que no decorrer de sua formação irá entender plenamente sua tarefa e responsabilidade por ter algo especial. Mas, infelizmente as coisas não são tão fáceis. Muitas vezes o mestre mais duro em relação ao nosso dever não cumprido ou falta é a inveja. A mesma sempre nos lembra o incômodo de talvez o outro crescer mais rápido, trazendo agonia e angústia perante algo que começamos a desejar e negligenciamos no passado recente. A felicidade é um estado transitório de alienação e afastamento do complexo de inferioridade, e a infelicidade é a dura recordação da tarefa não cumprida exposta acima. O complexo de inferioridade coloca a questão de todo o nosso desenvolvimento nas diferentes etapas da vida perante a opinião alheia, máximo carrasco de nossa era, adquirindo hegemonia perante nossas ações e medos. Personagens são então criados para abafar toda esta ansiedade criada. O que não se tolera é que alguém descubra uma determinada compulsão pessoal que visa encobrir nosso espírito solitário. Inferioridade em todos os níveis é sinônimo de solidão, rejeição e exclusão.


A inferioridade mesclada com a solidão é não ter a companhia ou testemunho de alguém acerca de nossa capacidade de proporcionar êxtase, sendo que se desenvolve a convicção profunda de não termos nenhuma importância do ponto de vista pessoal. Solidão e inferioridade são uma poupança cruel ou economia forçada de afetos, também dizem do mais extremado medo de não ter uma pessoa que na convivência possa coibir nossos desequilíbrios. Inferioridade e solidão são o represamento do poder pessoal, dando uma mensagem incessante de que jamais poderemos utilizá-lo, acarretando uma espera agonizante para que alguém nos liberte desse drama. Inferioridade também é o ódio pela expectativa não cumprida. O próprio mecanismo da compensação já é por si mesmo o complexo de inferioridade; se utilizar algo ou alguma característica de ênfase pessoal para encobrir ou facilitar o que se percebe como difícil. Praticamente todos fazem isso, seja através da estética ou dinheiro, como exemplos. Aliás, estética por si só nunca foi sinônima de saúde, apenas um determinado modelo que se procura imitar. O sucesso tão almejado é o mais puro esconderijo de todas as frustrações, e a humanidade sempre encarou tal questão como um segredo, quando na verdade é o sentido da vida dentro da estrutura social de competição que se criou ao longo dos séculos. O sucesso sempre foi protegido ou blindado de sua verdadeira função ou análise, parecendo que é um tabu denegrir tão cobiçado conceito.


Inferioridade diz da imagem de um passado não resolvido, turbulento, que está plenamente ao lado de qualquer prazer ou potencial presente, anulando constantemente o mesmo. O real não é percebido firmemente, podendo ser invadido a qualquer momento pelos fantasmas dos infortúnios vivenciados. O medo instintivo do ser humano, que geneticamente serviu para o instinto de autopreservação se transforma em corriqueiras cargas energéticas de humilhação ou inferioridade para a pessoa em questão; é uma espécie de piloto automático que avisa o indivíduo que o perigo nunca passa, isto é a essência da fragilidade, sendo que a exacerbação do cuidado é o nódulo central de todas as fobias que acometem a mente. Mas porque isto acontece, qual sua origem na infância? Sem sombra de dúvida este pesadelo da inferioridade começou quando a criança percebeu em algum momento a morte ou perigo de aniquilamento de seu ego, disparando todas as cargas extras sensoriais, hormonais e psíquicas para tentar se proteger.


O resultado não é apenas o trauma, mas o hábito do stress literalmente, quando o assunto é se gostar. O complexo de superioridade é justamente o oposto disso tudo, não há a necessidade da preservação, sem limites para o gozo ou exercício do poder. O espaço é da pessoa por natureza, um monarca com o direito a derramar todo o seu potencial agressivo. Obviamente para o desenvolvimento de dito complexo, a criança desde cedo foi mimada ou reforçada em demasia em vários dos eventos nos quais participou, inflacionando a verdadeira dimensão de seu potencial, e consequentemente contribuindo para o prejuízo de seu senso de comunidade. Não precisamos ir muito longe para observarmos as crianças e jovens mimados de hoje em dia, verdadeiros tiranos que exploram a culpa dos pais, lhes forçando ao provimento de todos os seus caprichos materiais e pessoais. A competição desde cedo invade a mente e alma destes, sendo que não se enxerga o verdadeiro valor de outro ser humano, apenas utilizando o mesmo contra a solidão ou o pânico da exclusão. A solidão é também extremamente pesada em nossa época por colocar numa regra matemática as desvantagens e vantagens de tal fenômeno. O conceito soa um tanto estranho, mas o fato é que a mente não tolera uma resposta tão precisa de eventos emocionais. A fantasia e fabulação não deixam de ser mecanismos protetores contra a frustração real da afetividade não vivenciada. A solidão primeiramente fornece as vantagens das desobrigações para com o outro e o sentido da liberdade íntima, mas a seguir advém a agonia de saber que se está no mais puro isolamento que um ser humano pode suportar, afora a culpa corrosiva de achar que sempre afastou as pessoas ao seu redor.


Se desde cedo, percebemos o diminuto de nossa existência, é claro que os desejos de poder ou imortalidade ao menos na memória coletiva seriam as compensações. O narcisismo em voga na nossa sociedade é o exemplo máximo dessa tentativa de superioridade, ao contrário da pessoa que se sente inferior, não conseguindo descobrir ou atuar num ramo em que obteria a grandeza. Outro núcleo do complexo de inferioridade se estabelece quando a pessoa no transcorrer de sua vida perdeu quase que totalmente a capacidade para dizer um não. O ceder inicialmente corresponde à expectativa de uma futura gratidão por parte do outro. Mas quando não ocorre o que justifica a continuidade do comportamento nefasto para a pessoa? A resposta é o ódio disfarçado de uma mágoa constante visando cobrar o que lhe seria devido. Porém, tal processo pode se arrastar por anos e coibir completamente a autoestima do indivíduo. A dificuldade do não diz do tabu perante a agressividade e o ódio, elementos fundamentais que precisam ser elaborados em nossa existência. Para alguns atuar o não é desenvolver uma paranóia extrema perante uma retaliação que talvez seja até inexistente. Obviamente há uma ativação total do medo, sendo que a preocupação se torna dilacerante, preenchendo todos os espaços da mente. Isto é exatamente o oposto da chamada “paz de espírito”, e todos temem passar por tal agonia. A sensação de covardia se contradiz com o ter de reagir perante eventos que na maioria das vezes sabemos que são mais do que ínfimos.


Pensemos em um dos conceitos clássicos da psicologia que é a elaboração do luto. O mesmo teria a finalidade de um tempo para que a pessoa vivenciasse a experiência da dor ou perda. O que tal tese não percebe é a diferença radical entre luto e velório. O primeiro é extremamente tendencioso a uma continuidade destrutiva para a saúde psíquica do sujeito; já o velório é um processo de curta duração, sendo que a pessoa é obrigada a encarar frontalmente a perda. O tempo sempre é fundamental para evitar a sedimentação das sequelas emocionais que uma separação ou perda produzem.Uma separação sempre é igualada ao complexo de inferioridade não apenas pelo receio da crítica social, mas por se achar impossível novamente encontrar alguém que entenda a intimidade da pessoa. Tal fato sempre foi confundido como uma espécie de comodismo ou apego para o reinício de algo, não que tais fenômenos não ocorram, mas muitos se esquecem de analisar que o grande drama é perceber que uma nova ligação coloca sempre o desafio se a pessoa realmente é capaz de conquistar alguém. É engraçado e curioso como no terreno afetivo o ser humano exacerba o medo de perder, permitindo o desperdício do tempo.


A verdade é que em nossa atual sociedade já foram criados nódulos fixos do complexo de inferioridade: não conseguir lucro material, obesidade, solidão, ausência de amizades e exclusão social (entrando o racismo nas diferentes áreas). O dilema de toda pessoa é se a mesma pode vir a possuir algo que a princípio não seja mero fruto da pressão externa, mas que um dia seja reconhecida pela mesma de forma natural, assim sendo, isto seria realmente algo que preencheria o sujeito, e não todos os recalques que se carregam pelo medo da opinião alheia. A questão não é propriamente que tipo de inferioridade se abate sobre o sujeito, mas como irá enfrentá-la, com agressividade, tristeza, inconformismo, timidez. Todas o afastam plenamente da aceitação de sua pessoa. A timidez talvez seja a pior de todas, pois se criou um segredo quase que absoluto sobre a pessoa que não deseja dividir sua intimidade. A lei que passa a vigorar é encaixotar qualquer emoção mais profunda perante outro ser humano. O tímido jamais aceita fazer sua parte quando o assunto é se abrir para os relacionamentos em geral; abstendo-se de tudo, até da denúncia de um sistema que segrega, já que optou por tal modelo pessoal espontaneamente. Percebam mais uma vez que o problema da inferioridade é a proibição da criação no presente; tudo está amplamente ligado ao passado, devendo compensá-lo a todo instante. É quase uma suprema autorização mais do que abstrata para se poder viver, e que nunca chega.


A prática profissional me deu a certeza de que o problema do complexo de inferioridade ou neurose é quando não há mais a discriminação entre o “grande ou pequeno” dentro do esquema mental da pessoa, nivelando quase que toda a experiência pelo medo ou terror. É desnecessário dizer que tal prática deixa seqüelas quase que irreparáveis na socialização e humor do indivíduo. O esquema econômico oportunista inventou uma espécie de vacina para tal moléstia; o consumo. Este parece ser a única cura para quem sofre de algum transtorno com sua autoestima; novamente nivelando ou dando a fuga para todos os males da personalidade. É óbvio que algo ou alguém iriam desenvolver um projeto de lucro ou ganho em cima do sofrimento psicológico; a história da humanidade é prova viva de tal prática. O problema é que tal assunto é apenas encarado de forma ideológica, sendo que a essência não é a fuga citada para o consumo, mas, quais consequências irão surgir ao longo do tempo para quem aceita o suborno material para o que não consegue lidar? O sistema criou caricaturas de pessoas consumistas com altas doses de infelicidade (madames, crianças mimadas), quando na verdade todos aguardam a oportunidade de recorrer a tal expediente. O dinheiro há muito tempo não é apenas o seguro contra a privação, sendo a garantia máxima de adiar o confronto contra o balanço pessoal sobre se a pessoa obteve satisfação, plenitude ou ansiedade e desgraça.


FREUD acreditava que o núcleo da neurose era a compulsão para a repetição, um evento mórbido que tinha a característica de repetir diversas vezes o mesmo trauma até uma possível tentativa de assimilá-lo. Além dessa questão indiscutível do ponto de vista técnico, tal fenômeno quando ocorre inicia uma espécie de jogo econômico no plano mental, poupando o sonho ou prazer almejado pelo indivíduo. Isto visa ampliar de forma indireta a experiência do prazer; se concentrar em eventos passados é um disfarce para o tédio que a curta duração da satisfação proporciona, é como conquistar um troféu e apenas esperar pelo próximo, sendo o centro total da ansiedade. A sexualidade não tem a primazia por sua questão de prazer propriamente dita, mas, exatamente pela extrema finitude e curta duração do ato do gozo. O tempo sempre foi e será o centro de toda dimensão e complexidade psicológica, sendo o último complexo, podendo passar por liberdade, sofrimento, confinamento, alívio, dentre outros. O indivíduo que não aceita tal desapego citado acaba adiando sua busca pessoal de satisfação, não percebendo que a cada dia se afasta mais de seus objetivos. Não precisamos ir muito longe para vermos diversos exemplos em nossa sociedade, à busca da perfeição em um parceiro ou companheiro afetivo e sexual, tornando a pessoa arredia e isolada neste terreno. É um tanto estranho que uma sociedade tão consumista e hedonista não consiga efetivamente gastar ou vivenciar o prazer em sua plenitude, exatamente pelo conflito do tempo citado. O mesmo jamais será uma mercadoria, pelo contrário, nosso juiz máximo para o autoconhecimento ou horror da perda.


Seja a passividade de alguém tentando agradar a todos, para se evitar o tormento do conflito, ou a pessoa que faz deste último sua meta de vida, o problema da rejeição está intimamente relacionado ao complexo de inferioridade. O próprio fenômeno do amor não deixa de ser uma tentativa de cura para tal pesadelo de nossa alma. A rejeição também está relacionada à dificuldade de se lidar com o problema do erro. Pessoas que não conseguem lidar com o mesmo, encaram tal fenômeno como único, sendo que talvez não terão mais oportunidades de reparo ou outras chances de reconhecimento; é como se no decorrer do desenvolvimento o lado afetivo fosse uma espécie de um teste de emprego, ou se consegue o cargo ou se está totalmente excluído, sendo que o amor dos pais é visto nesta perspectiva de não ter aproveitado a ocasião. O centro máximo da psicologia na atualidade passa também pela temática do apego. O grande malefício do mesmo é quando cada ser humano faz uma leitura do medo da perda de algo que lhe trouxe felicidade ou satisfação, quando na verdade tudo pode não passar de um núcleo de comportamento vicioso, obstruindo novos caminhos. Obviamente que o conforto, materialismo e raciocínio de segurança de nossa era amplificam tal questão: boa conta bancária como seguro contra a miséria, casamento ou relacionamento para afastar a solidão, dentre outros.


A tentativa de perpetuação com certeza nunca foi o melhor caminho para a saúde psicológica. Porém, sejamos francos, nenhum ser humano em nossa sociedade conseguiu viver outro modelo. A posse enseja a loucura da perda e recomeço, como disse acima, e quem não possui vive o dilema do desejo, que se torna também loucura por ter de vivenciar uma paciência que parece que nunca traz o objeto almejado. Sendo assim, o desejo acaba por ser algo dilacerante, que corrói e transmuta negativamente sua própria origem e finalidade. Então estamos falando da mais pura ilusão, sendo que todo esforço é para compensar medos irreais que quase nunca conseguimos trabalhar, mas que afetam totalmente nossa vida diária. Se a realidade então supre uma necessidade inconsciente quase que fantasmagórica, parece que se vive no limbo, ou talvez isto seja a resposta de todo o nosso fracasso no âmbito pessoal e social. O problema do dinheiro não é sua retenção ou alguém se tornar perdulário, mas assim como o sexo e afetividade, quando se usam tais instrumentos para encobrir o medo da impermanência citada anteriormente. É um mito um tanto tolo achar que o trabalho teria um sentido de expulsão do paraíso, quando na verdade também é usado para encobrir várias angústias existenciais, e este é sempre o problema ontológico, em qualquer direção que seguimos, percebermos a finitude.


A superação do complexo de inferioridade passa por um aspecto na correta efetivação do que chamo de “contabilidade emocional”. O que determinada pessoa recebeu de afeto versus o que pode doar sempre são excludentes, ao contrário do que quase todos pensam. A prova disso é que se a fórmula fosse igual, a pessoa mimada teria necessariamente de doar amplamente, fato que nunca ocorre. Este é o ponto nevrálgico de libertação, pois o que se possui internamente jamais provém apenas do reforço, mas de uma habilidade de reconhecer sua potencialidade. Pensemos no indivíduo que não para de chorar diante da angústia de sua história de vida, paralelamente ao desprezo de outro perante sua suposta fartura emocional (o mimado citado). A cura final é o ponto onde se desperta o prazer, sendo que deve ser um fenômeno da mais pura meditação pessoal, sem qualquer interferência da ditadura da opinião alheia. Mas alguns irão questionar se a descoberta da potencialidade não depende do reforço de outro? Jamais, apenas a conscientização de uma avareza daquele que podia ajudar ou doar e não o fez, assim como enxergar seu histórico de se sentir totalmente privado de algo.


Outro conceito importante para a superação da inferioridade é perceber a semelhança entre o ato do amor e a própria evolução da pessoa. Ambos têm sua junção na percepção do que cada pessoa ao seu redor pode fazer ou não no preenchimento das necessidades afetivas de ambos, tarefa muito mais profícua do que a perda de tempo no sofrimento da expectativa da transformação do outro. A intuição sempre nos alerta de que a insistência já é por si mesma uma mensagem do não retorno daquilo que se almeja. Amar também é abandonar a tempo um sujeito incapacitado para a arte da troca, evitando a cristalização de sequelas quase que irreversíveis para a saúde afetiva. Isto seria o mais puro uso correto do que podemos chamar de sensibilidade, ao contrário das pessoas que a utilizam apenas na arte da superstição ou no desenvolvimento da angústia ou sintomas. Devemos estar extremamente atentos ao manejo daquilo que sonhamos e ainda não o obtemos. Estar sempre de sentinela perante o desejo não cumprido em nada garante a sua consecução. Lembro-me de um sonho de um paciente onde no mesmo sonhava que estava para ser enterrado vivo, por uma outra pessoa desprezível do ponto de vista estético e higiênico; tentava ganhar tempo a todo custo, para ver se fugia; na sequência fora transportado para uma outra cena onde conhecia uma mulher que lhe proporcionou o mais intenso e puro momento de felicidade. O inconsciente é a total dualidade, o embate constante de opostos, assim sendo, permanecer fixado apenas no desejo ou só num determinado caminho, sem a percepção de outros processos não garante nenhum êxito como disse acima.


Cada época expressa de forma singular suas idiossincrasias e medos. Nossa era reúne dois núcleos centrais na inferioridade, e que são causadores dos mais graves distúrbios de personalidade: a exclusão sócio-econômica e o abandono afetivo. O receio das pessoas perante estas duas áreas é claríssimo, porém o que ninguém ousa tocar é a natureza de tais fenômenos. É impressionante como ambos são os causadores máximos de vários distúrbios psicossomáticos, e obviamente ninguém deseja passar por tal infortúnio. Além disso, outro ponto de extremo pesar é quando sentimos aquela tristeza contagiante de outra pessoa, e sem sabermos a razão, nosso humor e talvez aquilo que se chame de sorte foi completamente tirado de nós. Seria isto a pura energia negativa? Diria que afora o misticismo, tais acontecimentos negativos têm a capacidade de ativação de nosso lado destrutivo que tanto tentamos abafar ou negar, e por mais que tentemos a negação, sabemos intrinsecamente que qualquer malefício sempre está perto de nossa vida. Mas enfim, como aprender a se gostar com todas as armadilhas citadas no texto? Diria primeiramente que deveria haver uma espécie de equilíbrio entre as exigências estéticas e sociais do meio com os aspectos da personalidade do sujeito, sendo que o mesmo aprenderia a investir no externo e interno, este último possui uma defasagem descabida em nossos dias.


Muitos atrelam seu valor a outra pessoa, uma espécie de “salvador”, para que o mesmo tenha a função de ratificar as potencialidades da pessoa em déficit. Sem dúvida alguma vivemos em sociedade e pouca coisa possui valor na solidão e isolamento. Mas no assunto da autoestima deveria haver uma quebra momentânea, sem aquele cunho neurótico ou esquizofrênico, onde a pessoa em determinado ponto percebesse seu aspecto pessoal de genialidade e capacidade, seja na área sexual, companhia, inteligência ou estímulo e vontade para a mudança. O “se gostar” é amplamente diferente do êxtase de uma felicidade momentânea ou a satisfação de um sonho tão cobiçado, o problema é que a maioria confunde estes setores, se diminuindo e tocando ao longo da vida um projeto de segurança, que nada mais é do que o sinônimo máximo da mediocridade. O ápice da escravidão moderna é a loucura da dependência em todas as áreas: drogas, opinião alheia, companheiro (a), dinheiro, receio de perder o que se conquistou, ou as coisas que nos distraem. 


O stress é a conspiração diária da ansiedade e desejo irreal de segurança, nos transportando para um mundo ilusório dentro da curta realidade de nossa vida. 


Por fim, segue um teste dinâmico, acerca dos fatores históricos que causam a inferioridade, que deve ser feito preferencialmente conjuntamente com um terapeuta profissional que tenha ciência da junção entre conflitos psíquicos e esquema social.


Teste sobre o complexo de inferioridade e superioridade:


“Qualquer teste só é válido para uma reflexão pessoal, e não confiar a algo estático um juízo de valor para nossa personalidade”.


1)No decorrer de seu desenvolvimento foi estimulado ou sempre motivo de ironia ou gozação?


2)Lembrar de todos os apelidos que teve e as razões que as pessoas tiveram para os imputar.


3)Quando as lembranças mais agradáveis da infância se dissiparam? Sentiu que conseguiu a satisfação sobre tal período, ou o tempo de felicidade foi extremamente curto?(pergunta fundamental que investiga toda a fantasia e tendência a um saudosismo irreal, fazendo com que a pessoa veja a trajetória de sua carência e falta de oportunidade para vivenciar o prazer, esta pergunta ainda dá pistas sobre como a pessoa não se dá à oportunidade para resolver ou aproveitar aquilo que sempre desejou)


4)Como sempre sentiu a conversa com os pais?(convidativa ou com um tom de reprovação?)


5)Qual a área que sua família priorizou?(material, disciplinar, prazer e amizade entre seus membros? Notem que quanto mais envelhecemos observamos o que mais faltou em nosso meio)




6)História de seu rendimento escolar (destaque, mediano, abaixo da média, sendo que sempre lhe cobraram a mais do que conseguia?)


7)A história de suas relações afetiva e sexual (acabaram como? Em total discórdia, se preservou algo? - pergunta fundamental para se obter onde repousa o núcleo da afetividade; no ódio, agressividade, lamentação dentre outros)




8)Como sempre trabalhou o aspecto da rejeição? (com imensa dose de angústia, desespero, ou procurou refletir o porquê de a pessoa ou situação darem errados? Sentia que sempre poderia encontrar outra pessoa, ou seu apego dava a noção de ser a última oportunidade de sua vida?)


9)Que tipo de homem ou mulher fantasiou desde a adolescência?(aspectos estéticos, fama, poder, procure refletir sinceramente quais foram às influências que motivaram tais conteúdos)


10)Na área histórica do trabalho como sente que foi sua atitude emocional (paranoia, conflito, sensação de incapacidade, atenuador de discussões ou seguro de si mesmo)?


11)Qual a tônica de seus relacionamentos em geral?(disputa, rebeldia, passividade, paternalismo, indiferença?)


12) Excetuando perdas de familiares, qual foi à vivência mais triste de sua vida? (Não confundir com dificuldades cotidianas; o objetivo é localizar determinado fenômeno que deixou sequelas.)


13) Conseguiu avançar no tocante à amargura de determinado desejo não realizado? E sobre a inveja perante os outros, como sempre lidou com tal questão? Parou para analisar o incômodo de tal sentimento quando ocorreu, ou tentou apenas esquecer o acontecimento?


14) Quais foram os acontecimentos que mais lhe proporcionaram arrependimento? O que houve? Demora na ação ou resposta, timidez? (o arrependimento deve ser encarado como uma pista de algum bloqueio ou sabotagem perante algum desejo nosso; pois quando se encontra ao alcance, muitas vezes se desenvolve um mecanismo de medo ou temor perante os mesmos. Devemos refletir que o problema não é ter perdido algo, mas, quanto de possibilidade e motivação nos resta para a continuidade de nossas metas.)


15) Se tivesse que fazer um balanço de situações de sofrimento, quais das mesmas efetivamente lhe causaram prejuízo, e quantas não foram valorizadas simplesmente pelo medo da exclusão ou repetição de algo? (novamente insisto na dimensão da mistura do grande e pequeno, e o nível de tolerância de uma pessoa, sendo que o resultado para alguns é um imenso desperdício não apenas de seu humor, mas, da motivação que sempre é subtraída pela preocupação).


16) Consegue analisar o tamanho de sua insegurança ou ciúme? Pensar nas situações de descontrole, exemplo: ligar desesperadamente diversas vezes para uma pessoa, a insistência carregada de ódio modifica algo? Forçar a continuidade é prova de nosso poder pessoal? A insistência não seria também uma prévia de uma futura ruptura?


17) Na questão do sono, qual a essência corriqueira de seus sonhos ou pesadelos? Caso os temas sejam recorrentes, quando começaram? Se há insônia, consegue visualizar o motivo, ansiedade, depressão, falta de iniciativa durante o dia para pensar ou perceber como poderia resolver seus conflitos?


18) Que tipo de prazeres estariam ao seu alcance, mas, que simplesmente você trava na hora de os executar? Sua tentativa de disciplina interna apenas segue o comando da opinião alheia?


19) Quanto tempo calcula que levará para resolver ou alcançar as reais metas de sua vida? Por que não as efetuou até o momento?


20) Como encara qualquer tipo de ajuda, seja psicológica, familiar, com orgulho? Com naturalidade? (pergunta fundamental para se iniciar o processo de mudança, pois pessoas com grande soma de inferioridade resistem à qualquer tipo de intervenção externa).


21) Qual o peso que carrega pela falta de investimento naquela área que seria prioritária para sua satisfação pessoal, mas, que por indolência e resistência não o fez? (a pergunta mais importante, pois dá uma dimensão da falta de sentido da vida de determinado sujeito que apenas segue modelos, obstruindo sua criatividade).


Fonte: ADLER, ALFRED. "O CARÁTER NEURÓTICO". BUENOS AIRES, EDITORA PAIDÓS, 1912

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Síndrome do pânico: a epidemia psicológica da década

Emprestei o texto abaixo do especialista em hipnoterapia Bayard Galvão. Achei o tema pertinente com tudo o que sempre comentamos por aqui. Espero que seja útil aos meus leitores.




Síndrome do pânico é um sofrimento psíquico provocado pelo “medo de ter medo”, ou mais especificamente, “medo de ter, novamente, uma crise de ansiedade”, sendo essa crise uma ou mais das seguintes sensações, com intensidade: taquicardia, falta de ar, sudorese nas mãos, confusão mental e dor no peito. Ela é muitas vezes confundida com um ataque cardíaco, levando o indivíduo ao hospital por achar que isso está ocorrendo, pelo menos na primeira, ou primeiras vezes. 




O próprio medo de ter uma crise de ansiedade dispara a crise, ou seja, o medo provoca o que é temido, gerando um quadro violento de retro-alimentação: o medo gera a crise, a crise provoca tanto desconforto que gera o medo de ter a crise.


Um ou mais dos seguintes efeitos são comuns ao indivíduo que tem esse quadro psicológico, em maior ou menor nível: medo de fazer esporte, medo de viajar, medo de passar pelos lugares em que a crise ocorreu, depressão, isolamento, medo de sair de casa, início da dependência da companhia de alguém, sensação de incapacidade, diminuição de auto-estima, alterações de apetite e aumento de alguma compulsão.


O seguinte movimento constitui, na maioria esmagadora das vezes, a síndrome do pânico:


Bloco I: ansiedades/ preocupações/ pressões/ cobranças/ "nervosismos" cotidianos


Problemas de relacionamento, no trabalho, doenças, dificuldades financeiras, com filhos, com amigos, crises existenciais, assalto/ violência e/ou uso de drogas geram um acúmulo de um ou mais desses pesos comuns do viver provocando um pico de ansiedade, comumente confundido com ataque cardíaco, direcionando-se ao hospital, geralmente passando por inúmeros exames cardíacos para chegar à descoberta que o corpo está bem, e que a causa das alterações fisiológicas é psíquica.


Bloco II: medo de ter a crise


Após uma ou mais crises, o indivíduo começa a ter medo de sofrê-la novamente, seja pela (a) dor dela em si, (b) sensação de morte que a crise representa, pela possibilidade de (c) passar vexame ao ter a crise em frente a outros ou (d) pensamento suicida por considerar ser uma solução para a dor presente.Ademais, um ou mais desses medos se tornam gatilhos para a crise, bastando pensar neles por segundos para provocá-la.




Um efeito comum, limitante também, é a fobia originada pelo medo de se encontrar no mesmo contexto em que ocorreu a crise, por exemplo: caso tenha ocorrido ao estar no trânsito, avião ou situação social, o indivíduo pode vir a criar uma fobia de passar por essas situações, circunscrevendo mais ainda a vida.


Síndrome do pânico como epidemia


É possível considerar a síndrome do pânico como a doença psíquica da década, e potencialmente do século, por duas crescentes causas (além da divulgação constante de violência, catástrofes e outros aspectos ansiogênicos): (a) culturas/ sociedades têm aumentado as pressões/ cobranças dos indivíduos de múltiplas formas, seja no convívio familiar-relacionamento (antes o homem tinha menos obrigações em casa ou com os filhos, não era tão exigido que fosse um bom ouvinte, que estivesse disposto a conversar com mulher e filhos, que fosse tão atencioso com a mulher e outras exigências de alta performance, inclusive em sexo), no trabalho (antes a mulher não precisava se preocupar tanto em ser bem-sucedida numa profissão, bastava se formar no segundo grau, hoje, tanto homem como mulher precisam ter uma boa faculdade, duas pós-graduações, uma língua além da nativa, ser líder, saber se relacionar bem com os colegas e outras “obrigações de alta performance”), na aparência (é preciso ser magro e jovial por toda a vida para ser digno de valor), ou no estado de humor, é preciso estar de bem com a vida o tempo inteiro, sendo sinal de fraqueza ou inferioridade não “estar sorridente” ; e (b)antes as pessoas tinham mais facilidade de lidar com a morte (embora pudessem sofrer imensamente pelo medo de terem que pagar pelos seus pecados no inferno após a morte), pois as religiões eram mais fortes, dando respaldo para lidar com o fim da vida, diminuindo o medo da finitude (outra causa tão forte para a crise de ansiedade quanto o próprio medo de tê-la).


Portanto, a ansiedade no cotidiano aumentando gradualmente, intensifica radicalmente a probabilidade de ocorrência da “síndrome do pânico”. Contudo, é possível na psicoterapia moderna, principalmente fazendo uso da hipnose, em colaboração com remédios psiquiátricos, curar mais de 70% dos indivíduos com esse sofrimento em até 20 sessões.


Bayard Galvão

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os sintomas e seus significados

Emprestei do meu colega de profissão, o terapeuta Geraldo de Souza, alguns simbolismos sobre sintomas mais comuns que acometem as pessoas no dia a dia e que geralmente as levam para dentro de um consultório médico, quando na verdade, depois de se medicarem fisicamente, deveriam levá-las a procurar ajuda para curar suas almas, papel que o psicoterapeuta está apto a desempenhar. 
Leia a seguir, alguns exemplos dos sintomas mais recorrentes.

  • A garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
  • O resfriado ocorre quando o corpo não chora. 
  • O estômago arde quando a raiva não consegue sair. 
  • O diabetes invade quando a solidão dói. 
  • O corpo engorda quando a insatisfação aperta. 
  • A dor de cabeça deprime quando as dúvidas aumentam. 
  • O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar. 
  • A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável. 
  • As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. 
  • O peito aperta quando o orgulho escraviza.
  • O coração enfarta quando chega a ingratidão. 
  • A pressão sobe quando o medo aprisiona. 
  • As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.
  • A angústia e a depressão aparecem quando se perde a autoestima e o controle.
  • As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. 
  • O peito aperta quando o orgulho escraviza.
  • O coração enfarta quando chega a ingratidão. 
  • A pressão sobe quando o medo aprisiona. 
  • O sentimento de abandono e maus-tratos geram mágoas, raivas, ódios e somatizações.
  • A falta de amor a si mesmo, emperra a evolução consciencial e espiritual.
  • O plantio é livre.  A colheita, obrigatória.
O(s) sintoma(s) aparece(m)  para que ocorram as reflexões e busca de uma solução melhor, mas nós quase sempre ficamos na linha dos normóticos, resignados, aceitando tudo que nós vem, mesmo o que não nos servem mais, cultivando crenças negativas, adotando o equívoco do coitado, abandonado, o bonzinho, o dadivoso, “ajuda a todos, mas ninguém me ajuda.” 

Reflita, o que lhe está prejudicando e coloque para fora, e faça terapia psicanalista com profissional de sua confiança que você pode alcançar melhora e cura há tempo!Sua saúde e sua vida dependem de suas escolhas!!! 

"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."  Mário Quintana

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...