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sábado, 2 de março de 2013

Memória celular


A música toca alto nos seus ouvidos através dos fones devidamente encaixados, mas assim mesmo aquela voz lá de dentro fala pra você que não vale a pena brigar, lutar, que é assim mesmo, mas que é possível mudar a realidade. Basta você querer. Bullshit. Besteira. Corta. E apressa o passo que o trem está chegando, mas que música é aquela? que lindo! aquele violão (é violão?), aquela marcação ritmada e uma vontade dançar, bater o pé, palmas e corre que o trem está perto. Atravessa a catraca, enrosca a alça da bolsa. Corre, chega o trem, abre a porta, entra, vê um lugar vago, senta. Olha pra janela. Não, fecha os olhos e sente a música que vai entrando pelos poros tomando conta das células. Vai explicando pra elas (pras células) que agora vocês estão aprendendo a dançar flamenco. É difícil, é diferente, vocês não estão acostumadas. Não? Como não? elas respondem. mas e a sua ancestralidade? Seus avós, bisavós, tataravós não eram espanhóis ou pelo menos é isso que seus sobrenomes por parte de pai e de mãe denunciam, Olé! Então? se existe memória celular para escassez, para repetir padrão negativo e blá-blá-blá deve haver memória suficiente aí nas suas células pra dançar flamenco, olé! Arriba! Gracia! por que não foi aprender espanhol? por que negou as origens? Só agora foi atrás de resgatar isso? Boa, olé! Nunca, nunca é tarde! e que sorte! Sorte? Sim, seu professor tem nome de  personagem de mito épico. Sabe quem foi Ulysses? De James Joyce? Não, o de Homero mesmo, o original. Ulisses, era casado com Penélope.
Que engraçado, há uns 20 anos um moço te chamava de Penélope charmosa...aquela personagem do desenho animado e você  gostava tanto...Agora Ulysses te ensina a dançar, mas você  não tem mais 30 anos. Só Ulisses. Mas as células já conhecem todos os passos, todos os ritmos, todas as canções. Só precisa reativar suas memórias. estrá tudo aí. Dentro de você. deixa sair, deixa subir, deixa evaporar. A música entra pelos poros e sai em forma de lágrimas. Mas por que estou chorando? De onde vem essa sensibilidade toda? Deve ser a música de José Antonio Rodriguez. O professor gravou 606 músicas no pen drive. 606? 6 é o seu número, aquele da numerologia, aquele da soma das letras etc. Duas vezes seu número com um zero no meio....
Jose Antonio Rodriguez, flamenco com pegada jazzística
O professor explicou: fiz três pastas: Pra gostar, Pra abrir os ouvidos e Essência. Primeiro ouça Pra gostar, depois, pra abrir os ouvidos e por último a essência. Pra gostar tem Vicente Amigo. O que é aquilo? É lindo demais. Mas no celular misturou tudo e aí não dá pra saber, mas acho que José estava na pasta essência. Ou pra abir os ouvidos? Não sei, só sei que cheguei à estação, desci, e as lágrimas por detrás dos óculos escuros teimavam em escorrer...Subi a escada rolante, desci na outra plataforma, tomei o segundo trem e, nada! Lá estavam elas novamente, intermitentes. As lágrimas, as notas, as células dançando ao som de J.A.R. e seu violão abrindo não os ouvidos, mas meu coração.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Velha, eu?

Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro.
Uma cliente em terapia relatou outro dia:" Será que estou com cara de muito velha? Velhinha?"
Devolvi assim: Por que você está preocupara com isso? Ela respondeu: "Não sei, ás vezes tenho a impressão que as pessoas me acham velha. Outras penso que me elogiam para me consolar. Como uma moça que não via há muito tempo. Ela me disse que eu estava muito bem e me perguntou o que eu andava fazendo. Eu dei risada e respondi: nada do que vc está pensando que eu estou fazendo! Muitas pessoas, muitas não, algumas, me tratam como jovem, me tratam como se não houvesse essa questão do tempo. Outras...não sei, não sei mesmo o que pensam a meu respeito. Algumas pessoas com quem convivo diariamente nunca me fizeram um único elogio, nem desses simples que se faz assim só para agradar, ou consolar, tipo, 'como vc está bonita hoje'. Esse é o tipo de elogia seletivo. Vc está bonita naquele dia por alguma razão especial. Isso não quer dizer que vc é uma pessoa bonita. Não, de jeito nenhum. Vc é uma pessoa comum, mas naquele dia estava bonita. Pode ser um dia que vc acordou de bem com a vida, com os gatos, com o cachorro, enfim. Pode ser um dia que vc se maquiou melhor, se vestiu com mais apreço...
Mas quando eu entro no metrô e alguém se apressa a se levantar para me dar o lugar...eu aceito, sabe?, mas sempre fico me perguntando, será que pareço ser assim tão velha? Afinal, aquela reserva de bancos especiais é para maiores de 60 e eu ainda não tenho essa idade...Quem inventou essa história de "melhor idade" não tem nem 40 anos!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Esperando o trem

Walkiria olhava para aqueles olhares tristes e distantes e se reconhecia em muitos deles. "O único rosto que não enxergamos é o nosso próprio rosto", disse um pensador. Walkiria andava meio cansada de não sabia o quê. Os olhares estavam ali. Na rua, nos vagões do metrô, nos corredores da empresa onde trabalhava. Tinha dias que Walkiria acordava cheia de entusiasmo. E já ouvira que entusiasmo é ter deus dentro de si. E nos dias que acordava desanimada. Sem ânimo? Animus aquilo que anima, que dá vida! Pra onde foi sua vida? Pra onde vai? Walkiria, tinha dias, não sabia. Não pensava. Não queria pensar. Queria fazer nada. Só olhar. Olhar perdido, pro nada ou pro céu azul debaixo das nuvens, ou olhar pra gata dormindo na janela...queria ser uma gata hoje e dormir ao sol que saía por debaixo das nuvens. Melhor ser gato que cachorro. Os cães são estressados e Walkiria queria paz. A paz do ócio. Relógio é prisão. É inexorável, ele te mostra os minutos que faltam pra acabar a sua ociosidade, a sua paz, o seu não pensar, o seu não sentir. o seu vaguear no nada. Por isso Walkiria não usa relógio. Será por isso que o da cozinha está parado há anos? Tem um livro pra ler, podia ler mas não quer; tem, tem tem, mas não quer. Quer só olhar. E não pensar. Enquanto não chega o trem.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mulheres no trem

Como andam as mulheres nesse trem desumano, pegajoso, que cheira a suor, pum e arroto?
Andam, em sua maioria, em pé, apertadas, amassadas, cansadas, tocadas, bolinadas, caladas, sofridas essas mulheres.
Os homens vão sentados, em sua maioria.
As mulheres, em pé. Poucos homens dão lugar, dão espaço, dão atenção, consideração às mulheres, sejam novas, sejam velhas, crianças, mulheres barrigudas, bonitas, feias, gordas, magras. Carregam sacolas, crianças, malas, guarda-chuvas, pacotes, caixas. Sozinhas. Sem ajuda. Ninguém ajuda, às vezes outra mulher. às vezes mais velha até da mesma idade. Mais nova, difícil. Pensa que não vai envelhecer. Olha pro lado, de lado, desvia o olhar, finge que dorme. Abre a boca. Baba. Homens? Dormem,roncam, têm o olhar perdido no vazio. Desde o século passado sua maior motivação ainda é o futebol. São os primeiros a entram no vagão. São os primeiros a se sentar. As mulheres vão em pé. Ali. Na fuça deles. E, nada!
No frio é menos ruim. Mas não é bom.
No calor é pior. Não tem ar-condicionado. Um sistema de ventilação transforma o ar em algo que venta quente, agrava a temperatura. As janelas abertas não amenizam o abafado. O bafo, o mau-hálito. O calor indesejado no cangote. O encosto. O roçar incômodo. O ultraje. Dos que vão em pé. Não passam nem um perfume, um desodorante...raro sentir um cheiro bom dentro do trem vindo de um macho. Fedem. Não cheiro de macho. Cheiro de falta de banaho, de falta de amor por si mesmo. Não se gostam tanto quanto não gostam de mulheres, de crianças, de velhos...

As mulheres têm alma. Homens têm alma. Alma feminina. Alma masculina. Há que resgatar essas almas. Há que salvar essas almas.
Almas sofridas, vividas, cheias de vida.
Há que deixar essas vidas se manifestar, brotar, nascer, desabrochar, emergir, vir à tona.
Mas como? Como acessar esse feminino tão ultrajado? Tão vilipendiado? De que maneira? E o masculino? Onde está?

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...