terça-feira, 30 de setembro de 2014

Uma estação chamada Facebook

Você segue sua vida caminhando pelas trilhas que ligam suas várias estações. A estação de sua casa, de seu trabalho, de seus familiares; de seus amores, de ex-amados; dos mais odiados, dos desprezados.
Tudo tão pessoal e, ao mesmo tempo, tudo tão parecido, mas diferente, junto e separado, misturado e distante.
E como num passe de mágica lá na estação Facebook todos se encontram.
Vidas paralelas se cruzam ali, naquele palco virtual, com holofote permanente. Entrou, olhou e curtiu, comentou, postou? As luzes se voltam para você. 
Caiu na rede, é Face! Caiu na malha, na trama, mergulhou no oceano virtual do narcisismo.
Parada obrigatória em algum momento do seu dia, na estação chamada Facebook se desnudam emoções, o real se mostra a si mesmo se mostrando ao mundo. Seu post fica ali, não é mais seu. É do mundo agora. Não adianta espernear, ameaçar e reclamar. Agora você e suas ideias são de domínio público.
O espaço virtual onde todas as trilhas e tribos se encontram, onde se troca, se ama, se odeia, se vive, se nasce, se mata, se enamora, se bloqueia, se deleta, se adiciona, se engana, engana, odeia, ama, marca encontro, desencontro, manifesto, festa, protesto, casamento, nascimento e funeral. 
Na estação chamada Facebook sua vida é medida pelo tanto de likes e visualizações e compartilhamentos que seu post provocou. Seu post é um pouco você, é uma parte sua, talvez a menos visível pra você mesmo. Só se preserva quem está fora, out!
E você segue sua vida - aquela que pensa que ninguém vê - e num instante, num link ela cruza com a de todos os "faces" da sua lista. Você vê e é visto. Isso é bom, às vezes não. 
Estar na estação pode aliviar a solidão. Ou piorar. 
Conversas paralelas, secretas, in box, dentro da caixa, podem tecer o fio da meada da sua trama pessoal, como podem enredá-lo e jogá-lo num abismo. Percebe-se o sorriso, a intenção, a quilômetros de distância. As palavras são carregadas de emoção e sentimentos. É quase palpável apesar de virtual. Essa é a mágica inexplicável, o canto da sereia da estação chamada Facebook. 
Alguns Ulisses já se afogaram.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Você curte ou fica?

É curioso observar como as palavras, ao longo do tempo, vão ganhando novos significantes, termo muito usado pelos psicanalistas mais à Lacan.
Em tempos de Facebook, "curtir" é quase o equivalente a medir o quanto somos amados, aceitos ou apreciados. Algumas pessoas sofrem quando postam suas próprias fotos ou frases de efeito ou outra coisa qualquer, e não recebem os "likes" que imaginou que mereceria. Está aí posta inclusive a questão do eu ideal e do ideal de eu, uma eterna discussão que dr trava consigo mesmo, em geral, pela importância que damos ao (Grande) Outro: a distância que há entre o que penso que eu sou, o que eu sou de fato, como os outro me veem e como eu gostaria de ser visto.
Mas nos anos 70, "curtir" possuía outra conotação (outra com nota ação). "Uma curtição" era algo prazeroso feito em turma ou a dois, por exemplo, a festa foi uma curtição, ou estou numa curtição com alguém. Perguntado ao rapaz se o relacionamento era sério, a resposta poderia ser: não, é só uma curtição. E muitas vezes, antes de dar início a uma "curtição" o contrato já ficava formado: vamos só curtir, ok? Ou seja, vamos beijar muuuito, daremos umas boas pegadas, talvez até uma transadinha, mas o que eu quero é curtir! Ou seja, tratava-se de um relacionamento de curta duração,  com zero de envolvimento, zero de compromisso e se possível 100% de prazer.
Notaram alguma semelhança com os "ficar" e "ficantes" da atualidade?
Particularmente acho curtir mais adequado para representar algo que dá prazer sem compromisso do que o tal do ficar. 
Observe que curtir, segundo os dicionários, é "aproveitar, tirar proveito ou vantagem, geralmente de alguma coisa boa, legal, interessante ou lucrativa." 
Já o ficar possui o sentido de não sair de um lugar ou de uma situação; permanecer, deter-se, parar, repousar. Remete a inércia, marasmo, coisa meio sem graça esse ficar. Curtir remete a sentir (sensações). Duas pessoas podem SE curtem. Duas pessoas podem ficar, ficam. Mas não SE ficam. Nem se fixam. Parece que é a mesma coisa, mas não é. O pronome reflexivo sugere uma interação do sujeito com ele mesmo ou com outro, ainda que de forma efêmera. No FICAR não há nem troca nem reflexão. Penso que a diferença sutil pode ser por aí.
Vimos então, que, afinal, relações efêmeras e sem envolvimento afetivo existem desde o século passado, não sendo portanto uma criação - nem uma consequência - dos tempos da contemporaneidade atravessados pelo uso exacerbado da tecnologia, ou dos apelos do consumismo que levam o sujeito a SE iludir com a promessa de alguém sempre melhor que poderá surgir na próxima balada ou no próximo clique, como se novos modelos de pessoas, mais atualizados, pudessem ser lançados no mercado afetivo, a exemplo dos celulares e tablets.
Ah! só a título de curiosidade: em Portugal ainda se usa o termo "curtir" como signi=ficante do ficar ficante. Talvez porque lá ainda resistam à inércia do ficar? Ou à voracidade do consumir? 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Embarque no horário da magia

Existe um horário da magia. Nesse momento pode-se (e deve-se) deixar vir á tona seu desejo mais íntimo. Qual é o seu desejo inconfessável, aquele que "nem às paredes confesso" (como já cantava Amália Rodrigues em seu famoso fado que os mais jovens leitores deste blog nem sequer imaginam, mas um clique no Google resolve tudo http://www.vagalume.com.br/amalia-rodrigues/nem-as-paredes-confesso.html); aquele que nem ao travesseiro se revela? Aquele que não arriscamos comentar nem com o espelho?
Que desejo você deseja?
É daqueles desejos inocentes? indecentes? incandescentes? ambivalentes? 
O que é algo sem decência? Se é desejo e se veio lá de dentro do seu inconsciente...se o seu ego não barrou...então, por que seria indecente?
Nosso cérebro processa quatro bilhões de bits de informações, mas só dois mil bits chegam à consciência, segundo os cientistas que estudam a física quântica.
E aquele local das infinitas possibilidades onde todos os seus desejos podem ser realizados? Já esteve lá?
Dizem que os desejos não podem ser realizados. Mas Freud constatou em sua experiência clínica que os sonhos são desejos (inconfessáveis) realizados. Disfarçados, mascarados, porém, realizáveis. Você não sabe do que se trata. Mas seu inconsciente sabe. E às vezes, isso basta.
Que desejo você deseja?
São desejos de amar? matar? fazer doer? sentir dor? gozar? 
Desejo de ser desejado (a)? Desejo de desejar?
É o que ou é quem, aquilo que se deseja? É sujeito? É objeto? Se desejo é objeto? deixa de ser sujeito? É sujeito barrado? Barrado no seu desejo? No seu ou no dele (a)?
Prestou atenção no momento da magia? Passou? é aquele momento ou é este momento? (não deixe passar!) Aquele que seu sorriso se abre involuntariamente. Que seu peito (que dormia em berço esplêndido) inesperadamente esquenta por alguns segundos, segundos que se transformam em horas, horas que se transportam em dias, dias que viajam semanas...
Não perca o trem da fantasia. Nem só de real (idade) vive o simbólico.
Embarque no horário da magia.

domingo, 7 de setembro de 2014

Que sonho você sonha?

Você sonha? 
Não digo aqueles sonhos sonhados dormindo. Falo daqueles que, às vezes, até mesmo nos tiram o sono reparador dos dias de trabalho intenso.

Sonhar acordado, você sonha? Você se permite, vez ou outra, fechar os olhos no meio do expediente, na cadeira do dentista, no metrô, no trem, dirigindo não, claro, mas no congestionamento pode e deve, relaxar e sonhar? Você sonha?

Sonha um sonho certinho? Sonha um sonho maluco?

O que é um sonho certinho? Um sonho com uma vida certinha? Daquelas que podem ser fotografadas e publicadas no Facebook? Um sonho de comercial de margarina? De novela das sete? 

Como é  o seu sonho? Ele é publicável ou censurável? Você sonha com a mulher do chefe? Você sonha com o chefe? Com a colega de trampo? Com a desconhecida do Face? do Tinder? Com a autora das frases ousadas do Secret? Com quem você sonha? Quem são os personagens de suas histórias oníricas?

Seu/sua analista? Professor/a? Guarda? Governador?

Lembra dos seus sonhos? Não? Por que será? Sempre tem um porquê!

Bloqueio? resistência? Por que diabos você permite que seus mecanismos de defesa estejam atentos a lhe proteger? Oras, mecanismos de defesa! Como assim? Você já devia saber! Então por que eles ainda estão tão ativos?

Feche os olhos e sonhe à vontade! Sonhe dormindo, Sonhe acordado...

Não se reprima ao sonhar! Sonhe o que quiser! Realize seus desejos...sonhando! Sonhar é libertador! Acordado ou dormindo...Sonhe! Sonhe sem parar!

Pelo menos em seus sonhos seja livre! Se é que isso é possível.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O que quer uma mulher?

"Como Freud demonstrou em seu estudo do lapso, é no erro que melhor se confessa o verdadeiro." Esta frase é do autor do livro O que quer uma mulher, de Sergé André.
Uma mulher quer, no fundo, o que todo mundo quer. Ela pode até não confessar, a não ser pelo lapso, talvez por um olhar, ou por uma lágrima que deixa escapar.
Mas o que quer uma mulher? Quer ser ouvida e escutada (sim, tem diferença e só a prática diária oferece o melhor resultado), acarinhada e acariciada (idem), elogiada, elevada, protegida, cantada em prosa e verso e vice-versa. 
Uma mulher quer ganhar presentes de surpresa e presentes-surpresa. Há que ter uma sensibilidade especial para perceber a diferença. Mulheres são seres diferentes entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas e iguais. Iguais entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas com seus homens, com homens que não são seus, com os homens seres humanos.
Mas é na falta que mulheres (e homens) mais se assemelham aos bebês chorões. Assustados com o sumiço (ainda que temporário) das mamães...Mamães que olham para seus bebês e na sua angústia não sabem, afinal, o que querem seus bebês? 
E todos se perguntam: afinal, o que quer um bebê?
Quer o mesmo que uma mulher, que um homem, que uma criança, que um velho.
Em qualquer fase da vida o que quer o ser humano? Quer o amor, o colo, o calor, o abraço, o cheiro, o beijo, o afeto, o olhar quente, o aconchego.
Mas se querer não é realizar o seu querer...Vamos errando de lapso em lapso confessando nosso desejo verdadeiro.

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...