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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O que acontece quando você se enamora?

 
Basicamente Freud vai dizer que cada indivíduo possui um jeito particular de se relacionar eroticamente, jeito esse resultado de algo inato nele mais as experiências e influências dos primeiros anos, isto é, "nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela (A Dinâmica da Transferência - vol. 12 - página 111 - Obras Completas Imago).
Ao longo de sua vida o indivíduo vai repetir esse padrão de enamorar-se que é o padrão aprendido lá atrás com sua mãe e "que decerto não é internamente incapaz de de mudar, frente a experiências recentes" (idem pág. 111)
 
Uma parte desses impulsos do "enamorar-se - que determinam em nível consciente, faz parte da realidade. Outra parte, porém, fica retida, afastada da personalidade consciente e da realidade, e impedida de se expandir, a não ser pela fantasia, ou permanecem totalmente no inconsciente, de modo que é desconhecida pela consciência da personalidade.
 
Se a necessidade que alguém tem de amar não é inteiramente satisfeita pela realidade, "ele está fadado a aproximar-se de cada nova pessoa que encontra com ideias libidinosas antecipadas; e é bastante provável que ambas as partes de sua libido, tanto a que é capaz de tornar-se consciente quanto a inconscinete, tenham sua cota de formação dessa atitude."

É importante observar que Freud está nos avisando, grosso modo, do seguinte: seu paciente vai repetir com você, analista, as formas dele de amar. A isso Freud chamou de "transferência, ou seja, a pessoa transfere para o analista o amor que possui e, de certo, .espera que seja retribuído.

E, claro, o bom analista, bem analisado, saberá manejar essa demanda para que isso não se transforme numa contra-transferência, sempre norteado pela ética psicanalítica.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Culpa, medo e manipulação, como se libertar do jogo?

                É muito comum atendermos pessoas com sérios problemas no casamento que envolvem culpa, medo e manipulação. Um cliente, tempos atrás, tinha a seguinte queixa: já havia um certo tempo em que ele se sentia insatisfeito e acabou se envolvendo com outra mulher. O relacionamento extra conjugal veio à tona. A esposa descobriu tudo e muito sofrimento foi gerado. A princípio decidiram se separar. Passado certo tempo da separação conversaram e decidiram retomar o casamento. Ela falava que tentaria perdoar o ocorrido e ele afirmava que tudo seria diferente dali por diante já que dizia realmente gostar da sua esposa e se sentia culpado pelo sofrimento que havia causado.
                Entretanto, algo muito mais fundamental, que vai além do diálogo racional não foi cuidado até aquele momento: os sentimentos de raiva e mágoa da esposa e a culpa que ele sentia.
                Guardando ainda ressentimentos do marido, a esposa passou a exigir mais e mais dele no relacionamento. Demandava que ele abrisse mão de todas as suas vontades para satisfazer as dela. Era ao mesmo tempo uma forma de puni-lo e de exigir que ele provasse que a amava. Como ele carregava a culpa de tê-la feito sofrer no passado, não conseguir impor limites e cedia cada vez mais, para compensar o que tinha feito.
                Esse jogo de manipulação acabou dando origem a brigas e mais sofrimento. Embora os dois afirmassem que desejavam continuar casados, a situação ficava cada vez mais insustentável.
                Quem guarda raiva ou mágoa de outra pessoa será levado de forma inconsciente por esses sentimentos a querer se vingar. Isso pode vir na forma de manipulação como ocorria com este casal. Mas o jogo só funciona quando o outro lado se sente culpado e cede às manipulações como forma de tentar compensar a culpa. Ela remoía e alimentava a mágoa do marido, e ele, sem saber, estava também alimentando a mágoa dela ao manter o sentimento de culpa pois entrava no jogo da chantagem. A cada dia ficavam mais infelizes.
                O jogo de manipulação precisa das duas partes para sobreviver: um lado magoado e o outro lado que se sente culpado para ceder ao jogo. Só existia uma maneira para que ele saísse desse jogo. Ele precisava acabar completamente com todo o seu sentimento de culpa, assim conseguiria impor limites na relação. Isso acabaria sendo benéfico para os dois, pois ela passaria a respeitá-lo e o relacionamento certamente melhoraria.
                Depois de muitas sessões de terapia, ele apresentava sinais de que havia dissolvido o sentimento de culpa. Sugerimos que ele deveria conversar com a esposa, dizendo que entendia a responsabilidade do que ele havia feito e que estava consciente do sofrimento que havia causado. Mas mesmo assim, a partir daquele momento ele voltaria a ter seu espaço no relacionamento como tinha antes. E que se não fosse dessa forma, seria melhor realmente uma separação definitiva pois aquela situação só estava causando mais sofrimento para os dois lados.
                Surgiu então o medo de que isso o levasse a se separar. Esse é também um sentimento que dá grande margem para a manipulação. Afinal, a esposa era resistente a fazer análise, acreditava que o problemático da relação era apenas o marido já que era ela quem fazia terapia.
Ele tentou conversar com ela, expondo seus sentimentos.
                No início ela reagiu à nova postura e tentou fazê-lo novamente sentir culpa relembrando o sofrimento que ele havia lhe causado. Ele ouviu e voltou a afirmar que sabia da sua responsabilidade mas que viveria a vida daquele momento por diante, e que se ela não estivesse preparada, a separação era o único caminho. Ele recomeçou a impor os limites e ela de vez em quando ainda tentava puni-lo. Mas como não havia mais o sentimento de culpa ele não mais cedia, deixando de alimentar a mágoa da esposa. Isso pode parecer frieza para algumas pessoas, mas não se trata disso. É apenas uma forma madura, livre de negatividade, de lidar com uma situação difícil. Ele já havia anteriormente pedido perdão várias vezes, mas ela permanecia alimentando a mágoa.
O processo não é rápido. Mas, com perseverança é bem possível que o relacionamento se transforme e as brigas acabem.
                A culpa que sentimos serve para alimentar a raiva dos outros a quem fizemos ou achamos que fizemos algo de "errado". Quando nos livramos da culpa a mágoa do outro não mais consegue crescer  pois não há mais qualquer ganho secundário em mantê-la já que não é mais possível haver manipulação.
                Quando estamos nesse jogo, a única forma de conseguirmos nos libertar é liberando nossos sentimentos de culpa e medo, deixando o outro livre para se afastar se ele desejar. Mas o afastamento raramente vai ocorrer. Normalmente o que acontece é que nós paramos de alimentar uma relação doente e o outro lado fica também mais saudável e acaba se aproximando de uma forma muito melhor.
                Esse jogo também pode ocorrer entre pais e filhos. Uma mãe que abandonou a filha e depois tenta retomar a relação com ela será muito suscetível a ser manipulada se guardar sentimentos de culpa. A filha vai alimentar a sua mágoa jogando na cara o quanto sua mãe lhe fez sofrer. Com isso a mágoa cresce e a filha tem o poder de conseguir mais coisas desse relacionamento doente. No momento em que essa mãe se libertar da culpa pelo erro cometido e do medo que a filha se afaste, ela conseguirá se aproximar da filha com outra postura e não se deixará manipular. A filha a princípio irá tentar manter o jogo, mas não haverá o outro lado contribuindo. A tendência será então que haja uma reaproximação e melhora na qualidade do relacionamento.
                O processo também pode ocorrer dos filhos para os pais. Filhos de pais manipuladores carregam muitas culpas. Esse pais são mestres em criar esse sentimento nos filhos. Cobram de mais e fazem chantagem emocional. O filho se sente um devedor, que nunca atende às expectativas, e se sente culpado por não conseguir dar alegria aos pais. Movido pela culpa, vira uma presa fácil da manipulação, cria uma vida infeliz de escolhas para agradar o pais, e alimenta a mágoa insana deles. Curando sua culpa, conseguirá se libertar desse jogo, será mais respeitado e uma transformação para melhor ocorrerá no relacionamento.
                O manipulador, embora possa parecer que está ganhando algo, apenas alimenta o seu ego e cria sofrimento para si mesmo e para os outros. A satisfação em fazer o outro atender a sua vontade é apenas uma falsa satisfação que encobre mágoas e problemas de autoestima. Esse texto é importante para ajudar a identificar os dois papéis, assim é possível se libertar de qualquer um deles com mais facilidade. Sozinho é possível, mas muito mais demorado. Procure a ajuda de um profissional.


Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...