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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Você curte ou fica?

É curioso observar como as palavras, ao longo do tempo, vão ganhando novos significantes, termo muito usado pelos psicanalistas mais à Lacan.
Em tempos de Facebook, "curtir" é quase o equivalente a medir o quanto somos amados, aceitos ou apreciados. Algumas pessoas sofrem quando postam suas próprias fotos ou frases de efeito ou outra coisa qualquer, e não recebem os "likes" que imaginou que mereceria. Está aí posta inclusive a questão do eu ideal e do ideal de eu, uma eterna discussão que dr trava consigo mesmo, em geral, pela importância que damos ao (Grande) Outro: a distância que há entre o que penso que eu sou, o que eu sou de fato, como os outro me veem e como eu gostaria de ser visto.
Mas nos anos 70, "curtir" possuía outra conotação (outra com nota ação). "Uma curtição" era algo prazeroso feito em turma ou a dois, por exemplo, a festa foi uma curtição, ou estou numa curtição com alguém. Perguntado ao rapaz se o relacionamento era sério, a resposta poderia ser: não, é só uma curtição. E muitas vezes, antes de dar início a uma "curtição" o contrato já ficava formado: vamos só curtir, ok? Ou seja, vamos beijar muuuito, daremos umas boas pegadas, talvez até uma transadinha, mas o que eu quero é curtir! Ou seja, tratava-se de um relacionamento de curta duração,  com zero de envolvimento, zero de compromisso e se possível 100% de prazer.
Notaram alguma semelhança com os "ficar" e "ficantes" da atualidade?
Particularmente acho curtir mais adequado para representar algo que dá prazer sem compromisso do que o tal do ficar. 
Observe que curtir, segundo os dicionários, é "aproveitar, tirar proveito ou vantagem, geralmente de alguma coisa boa, legal, interessante ou lucrativa." 
Já o ficar possui o sentido de não sair de um lugar ou de uma situação; permanecer, deter-se, parar, repousar. Remete a inércia, marasmo, coisa meio sem graça esse ficar. Curtir remete a sentir (sensações). Duas pessoas podem SE curtem. Duas pessoas podem ficar, ficam. Mas não SE ficam. Nem se fixam. Parece que é a mesma coisa, mas não é. O pronome reflexivo sugere uma interação do sujeito com ele mesmo ou com outro, ainda que de forma efêmera. No FICAR não há nem troca nem reflexão. Penso que a diferença sutil pode ser por aí.
Vimos então, que, afinal, relações efêmeras e sem envolvimento afetivo existem desde o século passado, não sendo portanto uma criação - nem uma consequência - dos tempos da contemporaneidade atravessados pelo uso exacerbado da tecnologia, ou dos apelos do consumismo que levam o sujeito a SE iludir com a promessa de alguém sempre melhor que poderá surgir na próxima balada ou no próximo clique, como se novos modelos de pessoas, mais atualizados, pudessem ser lançados no mercado afetivo, a exemplo dos celulares e tablets.
Ah! só a título de curiosidade: em Portugal ainda se usa o termo "curtir" como signi=ficante do ficar ficante. Talvez porque lá ainda resistam à inércia do ficar? Ou à voracidade do consumir? 

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