quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

2014 - o ano que não termina

Às vezes o melhor conselheiro não é o travesseiro, mas um bom, cheio e suculento copo de vinho. Sim, copo! daqueles tipo americano, cheio até a borda! Que frescura é essa? Taça? meu amigo, minha amiga, taça é coisa de e pra coxinhas, esqueceu?
Encha um belo copo de requeijão que está aí escondido no fundo do armário para os seus outros amigos coxinhas não saberem que você o conserva aí, e beba à sua solidão! beba à sua sábia solidão! brinde àquela sua sábia decisão de não morar com mais ninguém que te tolha os movimentos. Sim, você é um cara difícil, ok, assuma isso, cheio de manias, e daí? desde quando ter manias é defeito? Roberto Carlos tem um milhão de amigos e mais de um milhão de manias e ninguém acha que isso é um defeito, pelo contrário! As manias dele viram hit, viram rituais a serem cumpridos até pelos convidados de seu enésimo show de fim de ano da Globo.
Portanto, meu amigo minha amiga, beba à você! se brinde, se comemore! se ame! você merece tudo de bom! se um ou outro babaca de plantão (oh, mil desculpas aos mais puritanos que ainda pensam que não pronuncio palavrões ou palavras de baixo calão - isso vai gerar uma polemicazinha básica, mas tudo bem, eu sustento!) vier com aquele papo vago: então é Natal! questione, coloque na parede, jogue no ringue, mas não deixe barato.
Como assim, então é Natal e aí zera tudo? Isso é fraude! é como zerar o odômetro (sabe, aquele equipamento do carro que marca a quilometragem que o pessoal zera de forma fraudulenta pra fazer de conta que o carro tem baixa quilometragem e assim conseguir um preço melhor?) então, achar que porque é Natal todo um passado fica automaticamente zerado é fantasia! é ilusão! ou fraude! como assim? a pessoa te sacaneou o ano todo, a vida toda e aí, porque é natal você beija, abraça e fica tudo bem? Nem com 20 anos de terapia! Espera aí! Pensa!
E principalmente quando você está numa fase numerológica marcada pelo fim de um ciclo e início de outro, Aí, "mermão", se você estiver num trimestre 9 de um ano 9, pode esquecer! As pessoas à sua volta vão pirar!
Porque você vai romper barreiras, você vai subir a ladeira como se estivesse dirigindo uma Mercedes conversível modelo top! Vai pisar no acelerador bem fundo e só vai parar depois de chegar no topo e vai perceber que fez isso com certa tranquilidade, sem machucar ninguém. E se houver um copiloto orientando, melhor ainda! Desfrute desse momento! Curta o seu Natal sem se preocupar muito com as convenções sociais vigentes. Elas costumam engessar os sentimentos, enrijecer as ideias, congelar as emoções!
Viva seu Natal com muita vitalidade e disposição! Esquentando os motores para 2015, esse sim, um ano pra ficar na história! Beijos a todos meus leitores daqui e de além mar (descobri que sou mais lida do outro lado do Pacífico! hahaha1 Ah, mas na Europa tenho uns dois ou três fãs bem fiéis!).
Um ótimo Natal, re-nascer, re-nascimento para todos nós! Vamos rever posições, opiniões, amores, hábitos, costumes! Quem não é flexível enrijece! Parece óbvio, mas apesar da obviedade nem todos percebem o quanto são rígidos em seus conceitos e pre-conceitos. Liberte-se! Libere-se! Sua vida pode ser uma aparente confortável prisão!. Sim, mudar dá trabalho! Mudar dói! Mudar provoca crises, mas principalmente mudar LIBERTA!

domingo, 23 de novembro de 2014

Todo esse mistério

A menina de sapato amarelo e calça jeans delavé (que coisa mais demodé), não sabe.
O rapaz de cabelo rastafári e celular simplesinho, não sabe.
A senhora de chinelo havaiana de duas cores, também ignora.
O distinto cavalheiro de cavanhaque azulado e sobrancelhas grossas...ignora completamente.
A menina de saia rodada e chinelo de dedo...nem desconfia!
O idoso com cara de inteligente... talvez desconfie, mas não tem certeza.
O jovem de óculos tradicionais pensa que sabe...mas está frio.
A mulher de barriga de fora e calça justa pode ser...mas é improvável.
O casal gay feminino está tão ocupado em firmar sua posição, que não vai dar atenção...ao sorriso daquela senhora, beirando os 50, mas bonitona ainda, jovial...Que sorriso é esse? de lagarto?
E aquela japonesinha...loira, de minissaia, tatuada...nem aí...fone de ouvido...nem imagina...
O homem velho, mas vigoroso, acredita que a japinha sorriu pra ele...
Ninguém sabe...
A mulher de chapéu de palha e boca ajustada no preenchimento sorri para o cobrador do ônibus, que solenemente ignora...
O sujeito com cara de executivo decepciona ao tirar a Bíblia da mochila e recitar Provérbios...
A moça com cara de modelo é um travesti. E aí?
Mas ninguém sabe o motivo de seu sorriso de lagarto.
E como Marina, o que você quer é "todo esse mistério"....

AutoAjuda

Livros de autoajuda fazem sentido para você?
Se a resposta foi positiva, beleza!
Pra mim não faziam.
Durante a minha Idade das Trevas - um tempo em que eu não me permiti ser feliz - li diversos desses livros de Louise Hay a Brian Adams, passando por Deepak Chopra e Shyniashiki.
Sim eu li todos esses autores no desespero de encontrar respostas às minha angústias.
Talvez tivesse tido mais resultado buscando respostas nos grandes clássicos ou se tivesse ouvido mais rock.
Mas eu estava tão deprê que até ler bula de remédio era melhor do que ficar com a a mente ociosa. Sabe como é, tem aquela coisa do capeta (mente vazia é casa do demônio ou coisa assim), então mesmo que você não acredite muito nisso, na dúvida é sempre melhor ocupar a mente com alguma coisa.
Menos com funk, gente. Porque funk é coisa do capeta, aí  não vai aliviar muito, enfim, naquela época não tinha funk então eu estava meio que a salvo.
Bom, voltando aos livros de autoajuda, o fato é que eles não me ajudavam em nada e o que eu percebia era que os autores dos livros só ficavam cada vez mais ricos - e eu tinha contribuído para isso de certa forma - enquanto eu ficava na mesma...
Bom, o que me tirou da lama. em que eu me afundava (desculpem o uso de termos não muito ortodoxos, mas é que na verdade eu quero atingir um número bem grande  de pessoas e ficar com frescura em relação à estética da linguagem vai acabar me afastamento de quem eu quero atingir, que é a pessoa  comum e não os iluminados, porque esses provavelmente nem leem meu blog), o que me salvou foi a psicanálise.
Ah! pode torcer o nariz, pode fazer cara feia.
Mas, o que deu resultado mesmo foi a psicanálise.
Terapias holísticas de um modo geral são muito legais, ajudam, mas se você não escarafunchar a fundo não adianta; se você não mergulhar no tal do Inconsciente, não adianta; se você não se entregar ao tal do Freud, não tem Jung que te sustente.
A melhor autoajuda só você pode dar a você mesmo.
Psicanalise-se! Taí a receita eficaz de autoajuda!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Uma estação chamada Facebook

Você segue sua vida caminhando pelas trilhas que ligam suas várias estações. A estação de sua casa, de seu trabalho, de seus familiares; de seus amores, de ex-amados; dos mais odiados, dos desprezados.
Tudo tão pessoal e, ao mesmo tempo, tudo tão parecido, mas diferente, junto e separado, misturado e distante.
E como num passe de mágica lá na estação Facebook todos se encontram.
Vidas paralelas se cruzam ali, naquele palco virtual, com holofote permanente. Entrou, olhou e curtiu, comentou, postou? As luzes se voltam para você. 
Caiu na rede, é Face! Caiu na malha, na trama, mergulhou no oceano virtual do narcisismo.
Parada obrigatória em algum momento do seu dia, na estação chamada Facebook se desnudam emoções, o real se mostra a si mesmo se mostrando ao mundo. Seu post fica ali, não é mais seu. É do mundo agora. Não adianta espernear, ameaçar e reclamar. Agora você e suas ideias são de domínio público.
O espaço virtual onde todas as trilhas e tribos se encontram, onde se troca, se ama, se odeia, se vive, se nasce, se mata, se enamora, se bloqueia, se deleta, se adiciona, se engana, engana, odeia, ama, marca encontro, desencontro, manifesto, festa, protesto, casamento, nascimento e funeral. 
Na estação chamada Facebook sua vida é medida pelo tanto de likes e visualizações e compartilhamentos que seu post provocou. Seu post é um pouco você, é uma parte sua, talvez a menos visível pra você mesmo. Só se preserva quem está fora, out!
E você segue sua vida - aquela que pensa que ninguém vê - e num instante, num link ela cruza com a de todos os "faces" da sua lista. Você vê e é visto. Isso é bom, às vezes não. 
Estar na estação pode aliviar a solidão. Ou piorar. 
Conversas paralelas, secretas, in box, dentro da caixa, podem tecer o fio da meada da sua trama pessoal, como podem enredá-lo e jogá-lo num abismo. Percebe-se o sorriso, a intenção, a quilômetros de distância. As palavras são carregadas de emoção e sentimentos. É quase palpável apesar de virtual. Essa é a mágica inexplicável, o canto da sereia da estação chamada Facebook. 
Alguns Ulisses já se afogaram.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Você curte ou fica?

É curioso observar como as palavras, ao longo do tempo, vão ganhando novos significantes, termo muito usado pelos psicanalistas mais à Lacan.
Em tempos de Facebook, "curtir" é quase o equivalente a medir o quanto somos amados, aceitos ou apreciados. Algumas pessoas sofrem quando postam suas próprias fotos ou frases de efeito ou outra coisa qualquer, e não recebem os "likes" que imaginou que mereceria. Está aí posta inclusive a questão do eu ideal e do ideal de eu, uma eterna discussão que dr trava consigo mesmo, em geral, pela importância que damos ao (Grande) Outro: a distância que há entre o que penso que eu sou, o que eu sou de fato, como os outro me veem e como eu gostaria de ser visto.
Mas nos anos 70, "curtir" possuía outra conotação (outra com nota ação). "Uma curtição" era algo prazeroso feito em turma ou a dois, por exemplo, a festa foi uma curtição, ou estou numa curtição com alguém. Perguntado ao rapaz se o relacionamento era sério, a resposta poderia ser: não, é só uma curtição. E muitas vezes, antes de dar início a uma "curtição" o contrato já ficava formado: vamos só curtir, ok? Ou seja, vamos beijar muuuito, daremos umas boas pegadas, talvez até uma transadinha, mas o que eu quero é curtir! Ou seja, tratava-se de um relacionamento de curta duração,  com zero de envolvimento, zero de compromisso e se possível 100% de prazer.
Notaram alguma semelhança com os "ficar" e "ficantes" da atualidade?
Particularmente acho curtir mais adequado para representar algo que dá prazer sem compromisso do que o tal do ficar. 
Observe que curtir, segundo os dicionários, é "aproveitar, tirar proveito ou vantagem, geralmente de alguma coisa boa, legal, interessante ou lucrativa." 
Já o ficar possui o sentido de não sair de um lugar ou de uma situação; permanecer, deter-se, parar, repousar. Remete a inércia, marasmo, coisa meio sem graça esse ficar. Curtir remete a sentir (sensações). Duas pessoas podem SE curtem. Duas pessoas podem ficar, ficam. Mas não SE ficam. Nem se fixam. Parece que é a mesma coisa, mas não é. O pronome reflexivo sugere uma interação do sujeito com ele mesmo ou com outro, ainda que de forma efêmera. No FICAR não há nem troca nem reflexão. Penso que a diferença sutil pode ser por aí.
Vimos então, que, afinal, relações efêmeras e sem envolvimento afetivo existem desde o século passado, não sendo portanto uma criação - nem uma consequência - dos tempos da contemporaneidade atravessados pelo uso exacerbado da tecnologia, ou dos apelos do consumismo que levam o sujeito a SE iludir com a promessa de alguém sempre melhor que poderá surgir na próxima balada ou no próximo clique, como se novos modelos de pessoas, mais atualizados, pudessem ser lançados no mercado afetivo, a exemplo dos celulares e tablets.
Ah! só a título de curiosidade: em Portugal ainda se usa o termo "curtir" como signi=ficante do ficar ficante. Talvez porque lá ainda resistam à inércia do ficar? Ou à voracidade do consumir? 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Embarque no horário da magia

Existe um horário da magia. Nesse momento pode-se (e deve-se) deixar vir á tona seu desejo mais íntimo. Qual é o seu desejo inconfessável, aquele que "nem às paredes confesso" (como já cantava Amália Rodrigues em seu famoso fado que os mais jovens leitores deste blog nem sequer imaginam, mas um clique no Google resolve tudo http://www.vagalume.com.br/amalia-rodrigues/nem-as-paredes-confesso.html); aquele que nem ao travesseiro se revela? Aquele que não arriscamos comentar nem com o espelho?
Que desejo você deseja?
É daqueles desejos inocentes? indecentes? incandescentes? ambivalentes? 
O que é algo sem decência? Se é desejo e se veio lá de dentro do seu inconsciente...se o seu ego não barrou...então, por que seria indecente?
Nosso cérebro processa quatro bilhões de bits de informações, mas só dois mil bits chegam à consciência, segundo os cientistas que estudam a física quântica.
E aquele local das infinitas possibilidades onde todos os seus desejos podem ser realizados? Já esteve lá?
Dizem que os desejos não podem ser realizados. Mas Freud constatou em sua experiência clínica que os sonhos são desejos (inconfessáveis) realizados. Disfarçados, mascarados, porém, realizáveis. Você não sabe do que se trata. Mas seu inconsciente sabe. E às vezes, isso basta.
Que desejo você deseja?
São desejos de amar? matar? fazer doer? sentir dor? gozar? 
Desejo de ser desejado (a)? Desejo de desejar?
É o que ou é quem, aquilo que se deseja? É sujeito? É objeto? Se desejo é objeto? deixa de ser sujeito? É sujeito barrado? Barrado no seu desejo? No seu ou no dele (a)?
Prestou atenção no momento da magia? Passou? é aquele momento ou é este momento? (não deixe passar!) Aquele que seu sorriso se abre involuntariamente. Que seu peito (que dormia em berço esplêndido) inesperadamente esquenta por alguns segundos, segundos que se transformam em horas, horas que se transportam em dias, dias que viajam semanas...
Não perca o trem da fantasia. Nem só de real (idade) vive o simbólico.
Embarque no horário da magia.

domingo, 7 de setembro de 2014

Que sonho você sonha?

Você sonha? 
Não digo aqueles sonhos sonhados dormindo. Falo daqueles que, às vezes, até mesmo nos tiram o sono reparador dos dias de trabalho intenso.

Sonhar acordado, você sonha? Você se permite, vez ou outra, fechar os olhos no meio do expediente, na cadeira do dentista, no metrô, no trem, dirigindo não, claro, mas no congestionamento pode e deve, relaxar e sonhar? Você sonha?

Sonha um sonho certinho? Sonha um sonho maluco?

O que é um sonho certinho? Um sonho com uma vida certinha? Daquelas que podem ser fotografadas e publicadas no Facebook? Um sonho de comercial de margarina? De novela das sete? 

Como é  o seu sonho? Ele é publicável ou censurável? Você sonha com a mulher do chefe? Você sonha com o chefe? Com a colega de trampo? Com a desconhecida do Face? do Tinder? Com a autora das frases ousadas do Secret? Com quem você sonha? Quem são os personagens de suas histórias oníricas?

Seu/sua analista? Professor/a? Guarda? Governador?

Lembra dos seus sonhos? Não? Por que será? Sempre tem um porquê!

Bloqueio? resistência? Por que diabos você permite que seus mecanismos de defesa estejam atentos a lhe proteger? Oras, mecanismos de defesa! Como assim? Você já devia saber! Então por que eles ainda estão tão ativos?

Feche os olhos e sonhe à vontade! Sonhe dormindo, Sonhe acordado...

Não se reprima ao sonhar! Sonhe o que quiser! Realize seus desejos...sonhando! Sonhar é libertador! Acordado ou dormindo...Sonhe! Sonhe sem parar!

Pelo menos em seus sonhos seja livre! Se é que isso é possível.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O que quer uma mulher?

"Como Freud demonstrou em seu estudo do lapso, é no erro que melhor se confessa o verdadeiro." Esta frase é do autor do livro O que quer uma mulher, de Sergé André.
Uma mulher quer, no fundo, o que todo mundo quer. Ela pode até não confessar, a não ser pelo lapso, talvez por um olhar, ou por uma lágrima que deixa escapar.
Mas o que quer uma mulher? Quer ser ouvida e escutada (sim, tem diferença e só a prática diária oferece o melhor resultado), acarinhada e acariciada (idem), elogiada, elevada, protegida, cantada em prosa e verso e vice-versa. 
Uma mulher quer ganhar presentes de surpresa e presentes-surpresa. Há que ter uma sensibilidade especial para perceber a diferença. Mulheres são seres diferentes entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas e iguais. Iguais entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas com seus homens, com homens que não são seus, com os homens seres humanos.
Mas é na falta que mulheres (e homens) mais se assemelham aos bebês chorões. Assustados com o sumiço (ainda que temporário) das mamães...Mamães que olham para seus bebês e na sua angústia não sabem, afinal, o que querem seus bebês? 
E todos se perguntam: afinal, o que quer um bebê?
Quer o mesmo que uma mulher, que um homem, que uma criança, que um velho.
Em qualquer fase da vida o que quer o ser humano? Quer o amor, o colo, o calor, o abraço, o cheiro, o beijo, o afeto, o olhar quente, o aconchego.
Mas se querer não é realizar o seu querer...Vamos errando de lapso em lapso confessando nosso desejo verdadeiro.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Partiu casa

Uma hora de trem/ metro da Lapa até o Sacomá. Mais meia de busão até o A do ABC. Várias falhas da internet 3G. E quem disse que acabou? E o turno 2? Só começou.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

No Apocalipse, sobrarão apenas os sem-rede

Um post, dois posts, três posts e quando percebeu escancarou toda sua vida ali, naquele retângulo que insiste em saber: "No que você está pensando?". Repare: não é "o que você está fazendo". É "em que você está pensando?" A "Rede" quer entrar em você, descobrir seus pensamentos, desejos, sonhos, preferências!
E você escreve, conta onde está, com quem, o que faz, como faz, por que faz, fotografa, é fotografado, curte, é curtido, ganha amigos, inimigos, destila veneno, atrai inveja...
E a Rede ali, ciente de tudo. Mais que Deus, porque Deus a gente nunca viu. E quem está por trás da Rede que tudo vê, tudo sabe? A Rede rastreia e vasculha toda sua vida sem que você se dê conta. Depois coloca tudo num gráfico para a estatística final. No Apocalipse, sobrarão apenas os sem-rede? Só a Rede poderá nos salvar!

sábado, 26 de julho de 2014

Corre, Dirce, corre

Dirce Maria vive correndo. 
Abriu o semáforo, corre para atravessar a rua; vence uma pista, ganha fôlego, encara a próxima. Vai correndo. 
Desce a ladeira, sobe a calçada, vira na esquina. Sempre correndo. 
Corre pra pegar o ônibus, corre pra fugir da chuva.
Vai, Dirce Maria, corre.
Corre, corre. Corre de quê?
Corre de quem?
Corre pra quem?
Levar os filhos na escola; depois tem de buscar. 
E a academia, o inglês, a natação?
Hidroginástica, feira, supermercado.
Dentista, ginecologista, cardiologista...psicanalista?
Lá vai, Dirce Maria.
Sempre correndo.
Correndo entra no metrô. Quer sentar? Não, fica porta pra sair mais rápido. 
Não pode parar. Está atrasada. 
Atende o filho, o marido, o chefe, a mãe, o pai.
Nem se olha direito na frente do espelho. 
Dirce Maria sai na rua com a blusa no avesso. 
Nem repara. 
Só corre. Socorre? 
Nem se olha, nem se vê, nem se enxerga. 
Nem sequer se sabe, se toca, se ouve.
Corre, corre, pra quê?
Corre, corre, por quê?

sábado, 19 de julho de 2014

Amor é uma invenção de Hollywood

Algumas pessoas me perguntam por que os relacionamentos estão mais complicados?
Não sei a resposta, não sei nem se existe uma, mas devolvo a pergunta: complicado pra quem?
Geralmente quem pergunta é o fator complicador. Então, vamos tentar entender.
Muitas vezes, os namoros/casamentos não dão certo porque as pessoas não querem abrir mão de nada. Não querem ceder um milímetro e ainda exigem que o outro da relação aja/pense/sinta de acordo com sua vontade.
Vamos para os relacionamentos cheios de expectativa que giram em torno do que o Outro vai me dar? e se o outro não atinge a cota daquilo que eu quero que ele faça, as coisas começam a ruir. Isso vale para ambos os lados.
Mas, se homens são de Marte e mulheres são de Vênus (e aqui vou me ater aos relacionamentos héteros apenas) é bom que fiquem claras as diferenças entre os sexos.
Se uma relação não dá certo, em geral as mulheres são as primeiras a detectar e a desejar sair do sofrimento, ainda que a separação cause um outro tipo de sofrimento. Muitas vezes, um rompimento não significa que o sentimento terminou. Às vezes ele perdura por anos. É que entre viver na dor acompanhada, muitas mulheres optam por vivem na dor sozinhas.
Já os homens, nunca ficam sós. Muito raramente. A maioria esmagadora sai de uma relação e já coloca o pé (e todas as outras partes do corpo) em outra relação. Mesmo que o seu coração ainda esteja lá na outra, principalmente se essa outra for a mãe dos seus filhos. Que fique bem claro, há exceções. Estamos aqui falando sobre as pessoas que se encaixam na média e não sobre os extremos.
Os homens desejam mulheres/mãe e ponto. Que sejam nutridoras, jamais cobradoras e disponíveis. 
Mulheres querem homens/paiemãe e ponto. Que sejam provedores, que coloquem ordem e deem a direção.
Se as coisas fugirem disso, ou seja, se o cara se casa com uma mulher que resolve ser ela mesma e não topa fazer o papel de mãe e se a moça se envolve com um rapaz que não está a fim de pagar a conta no fim do mês, vai tudo por água abaixo.
E se um dos dois tiver essa consciência e o outro não também desanda.

Ninguém sabe o que vai pelo coração e pela mente das pessoas.
Ninguém pode garantir nada. As pessoas podem dizer e agir de um modo e lá no íntimo a situação ser bem diferente da mostrada exteriormente. Quantas vezes já nos surpreendemos com relacionamentos que aparentemente iam às mil maravilhas???? Muitas vezes!
Quem pode garantir o que vai pela cabeça dos amantes? Nem eles podem garantir nada.
Tudo é um grande jogo de conveniências.Os relacionamentos dão certo, funcionam, enquanto for conveniente para ambas as partes. Se uma das partes quebrar o acordo tácito firmado no inicio de todo relacionamento, ainda que inconscientemente, surge a desunião.
Relacionamentos não têm nada a ver com amor. Amor é uma invenção de Hollywood pra vender filme. Existe sim um amor, imenso, entre pessoas que estão separadas que quanto mais negado, mais aumenta!
Sempre que não se assume o objeto de amor mais ele ficará ali, na sua vida, como um fantasma,
Assuma que ama, mas que a convivência não foi possível por "n" razões.
ou assuma que nunca amou e que todo o tempo só existiu o fator conveniência.
Mas não use as pessoas, nem as do passado, nem as do presente, como muletas para justificar seu egoísmo e sua inflexibilidade.
Quando um relacionamento fracassa, não existe apenas um responsável ou um que seja O mais culpado.
Cada um tem sua parcela de responsabilidade. Assuma a sua. É mais honesto e verdadeiro com você mesmo(a).

domingo, 27 de abril de 2014

O projeto narcísico de Deus

Quando lemos em Gênesis 1 - 26:"Deus disse: façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança (...)" estamos diante de um projeto que os pais têm em relação aos seus filhos, um desejo narcísico de que os filhos sejam sua imagem e semelhança.

Que pai não se orgulha quando ouve de alguém, ainda na maternidade, a célebre frase: é a cara do pai!? Não só por lhe confirmar a legítima paternidade, pois, como Freud dizia, a maternidade é certa, a paternidade, porém, é dúbia... que alívio ouvir a confirmação do Outro de que, sim, o filho é seu e é parecido com você, é à sua imagem e semelhança.

Quando a criança cresce o suficiente para perceber esse desejo do pai (e da mãe, porque ela faz parte desse projeto "o que eu quero que me filho seja"), ela começa a responder a esse desejo e surge então o ideal de eu: o que meus pais (e depois a sociedade) esperam que eu faça para ser amado (aceito)? e aí começam a surgir os conflitos pois o ideal de eu se contrapõe ao eu ideal, que se constitui narcisicamente ainda quando a libido está toda concentrada no próprio Eu, ainda bebê, naquele período quando a criança tira prazer de seu próprio corpo, que todo tocar é prazeroso, onde dedinhos de pés e mãos são uma farra, onde tudo que vai até a boca é um sucesso! Mamar, óbvio! é a glória! porque além de satisfazer o prazer físico que a sucção bucal provoca, aplaca a fome! e de quem é aquele seio enorme cheio de leite que satisfaz o bebê? ele não sabe, ele pensa que é dele! É meu! Sou eu! Tudo se confunde. 

Então, um dia, ele percebe que aquela fonte de prazer não está à sua disposição. O que fazer? CHORO!!!! GRITO!!! ESPERNEIO!!! FICO ROXO!!!! e  como num passe de mágica lá vem o seio novamente me dar prazer, sorri o bebê.

O pai, não percebeu, mas até aí, seu papel foi de coadjuvante. Um coadjuvante merecedor de Oscar, sim, mas para o bebê, não passa disso. É preciso que a mãe, - essa danada!!!! que transa com meu pai, mas deixa eu chupar o seio dela - diga ao bebê, mostre ao filho que o coadjuvante, na verdade, é o diretor do filme! é o cara de que manda, é o produtor, o provedor! ELE É O CARA! Pode espernear, chorar, ficar roxo, perder o fôlego, mas sEU PAI é o mEU HOMEM, é ele quem me dá prazer, é ele que me dá o falo dele para que possa ter o meu falo, que é você, meu filho (filha).

Oras, quando esses distintos papéis ficam estabelecidos e claros para o indivíduo, a passagem do processo narcísico primário (quando a criança pensa que o m
undo gira em torno dela) para o secundário (quando ela percebe que existe um terceiro na relação edípica dela com a mãe), ou seja, do narcisismo para o amor objetal, fica natural e sem o surgimento de neuroses mais graves.

Muito bem, tudo isso pra dizer o seguinte: qual é a nossa relação com essa entidade que chamamos Deus? Deus PAI! como o vemos? como o sentimos? como o imaginamos? Isso tem muito a ver com o que sentimos, imaginamos em relação ao nosso pai biológico ou a quem fez as vezes de, a função de.

Em qualquer uma das imagens de Pai - o divino ou o real - está implicado o que sua mãe lhe disse sobre seu pai. Ele é mesmo o cara ou é um banana? Quem manda é ele ou sua mãe? Sua mãe é manipuladora (daquelas que se orgulham de dizer: seu pai pensa que manda, mas na verdade ele sempre acaba fazendo o que eu quero; eu sei direitinho como dobrar seu pai, etc)?

Enfim, pense sobre isso e me diga: qual é o seu caso?

terça-feira, 11 de março de 2014

O apaixonamento


Que interessante! Este post estava na seção de rascunho há nem sei quanto tempo. Há muito tempo. Cliquei para ver o que eu teria escrito sobre o tema e a surpresa: estava em branco.

O que me chamou a atenção é que este termo, especificamente este termo, apaixonamento, foi mencionado durante a minha sessão de análise pessoal.Não posso revelar o contexto, é claro, mas sabe-se que o apaixonamento também faz parte do processo analítico.

E como nós, psicanalistas, sabemos que somos muito mais guiados pelo nosso sábio inconsciente do que imagina nossa vã consciência, me intrigou o tal apaixonamento. Ou eu estaria implicada?

Ainda não tenho as respostas.Mas não se preocupe. Caso você também esteja intrigado com algum possível apaixonamento que o esteja rondando como um fantasma, não se assuste. Talvez ele seja apenas a manifestação de um amor dirigido a vários alvos. 


Podemos nos apaixonar por nós mesmos, pelo outro, pelo trabalho, por um livro, pelo autor do livro, por uma música, uma poesia. Freud identifica esse apaixonamento como o depósito da libido em um objeto, associando-o a aspectos pulsionais que estão a serviço de um ideal perdido. Mais ou menos isso: quando nos apaixonamos, estamos desejando sentir aquele aconchego do colo materno, o prazer da proximidade do seio nutridor, enfim, aquele amor de mãe que nós achamos que é insubstituível e por estarmos assim iludidos navegamos pelas ondas das sensações físicas que a proximidade de outros corpos nos dá, imaginando, inconscientemente, que estamos novamente no embalo do primeiro colo. Sem falar que estamos projetando no outro aquela imagem positiva que temos de nós mesmos (e vice-versa), como fazíamos quando bebês e olhávamos no espelho e não nos reconhecíamos, mas pensávamos que se tratava de outra criança e dizíamos "bebê", na terceira pessoa.

E por nos equivocarmos assim, pensamos que nosso amado ou amada atenderá a todos as nossas carências sem nos darmos conta de que do outro lado também jaz um ser que, da mesma forma, deseja que nós atendamos a todas as usas carências. 


É mais ou menos como se colocássemos dois bebês de cinco a seis meses um ao lado do outro e ficássemos observando de longe. Enquanto estiverem bem alimentados e limpos estarão alegres, tranquilos, se divertindo, rindo, brincando com seus próprios dedinhos ou pezinhos. À medida que o tempo passa e a fome ou o desconforto da fralda molhada aumenta, eles passam a ficar irritados, choram e se desesperam porque um não pode fazer nada pelo outro. Quem vai salvá-los? A mãe.
Só que não. Num apaixonamento, pensamos que o outro é a mãe. Mas ele (ela) não é. É apenas outro bebê chorão.


Por isso os relacionamentos amorosos são tão complicados. Em geral, nos apaixonamos por nós mesmos pensando que é o outro. Quando descobrimos que o ele não sou eu e que o eu não sou ele, vem a decepção frases comuns do tipo: mas quando a gente começou (o namoro, casamento etc) ele era outra pessoa!!! Sim. Era você. Depois vem a fase mais triste e turbulenta que é quando ambos se esforçam para atender às necessidades do outro - como uma mãe faria - mas a luta é inglória! Os bebês são tiranos insaciáveis! Sempre querem mais e mais. E a insatisfação se instala na vida do casal. Ela reclama de um lado, ele sai batendo a porta de outro.


Como solucionar esse impasse? Se não podemos ou se não devemos desejar o outro como a uma mãe nutridora e provedora, mas ao mesmo tempo, segundo Freud estamos condenados a isso o tempo todo, como se dá, afinal o verdadeiro apaixonamento entre dois adultos e não entre dois bebês? Isso existe? É possível? Quem sabe?

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...