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domingo, 24 de abril de 2016

Essa sua canalhice

Não tem como. Hoje vou dar um fim em tudo. Essa sua miserável apatia me enlouquece.
Acendi um incenso pra ter pelo menos um cheiro bom no ar.
Coloquei mais açúcar na caipirinha pra ter um doce pra sentir.
Outro dia você me trouxe flores. Até chorei, lembra? Mas os chocolates....dei pro cachorro depois de saber das tantas outras presenteadas... Eu sei, você disse, você sempre diz: elas não importam.
Mas essa sua miserável inércia...
Não tem como. Hoje vou ter de dar um fim.
Liguei o ventilador pra ter mais ar.
Traguei a fumaça do charuto pra esquentar o peito vazio. Você deixa ele assim.
Naquele dia, você me deu o anel, lembra?
Eu te beijei por cinco minutos, boca, rosto, olhos, nariz... e você ria, ria... Estava feliz. Mas as cartas... dei pra reciclagem depois que encontrei as trocadas com tantas outras...
Eu sei. Você disse. Você sempre diz. Elas são nada!
Mas essa sua miserável presença...
Não tem como. Hoje vou ter de dar um basta.
Já deixei tudo pronto: martelo, cutelo, câmeras desligadas, as malas.
Quando você chegar com sua sedução eu vou te embriagar com aquele vinho, você sabe qual, aquele do encontro, o único que valeu a pena...por que pegaria um avião?...você disse, você sempre diz.
Tirei as crianças de casa e liguei o som.
Quando você dormir nos meus braços - sim, você vai adormecer feito um príncipe, como sempre, aninhado depois do amor, nos meus seios - nessa hora, vou dar um fim em tudo. Não tem como.
Essa sua miserável canalhice me excita.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A virtude como ela é: sem graça, seca, triste e neurastênica

Quando assisto a um filme como Relatos Selvagens, dirigido por Damián Szifron e produzido por ninguém menos do que os irmãos Pedro e Agustín Almodóvar, penso que Nelson Rodrigues não morreu (aliás, Pedro Almodóvar deve ter lido ou visto Rodrigues em algum momento de sua vida tamanha semelhança dos seus argumentos eróticos passionais com os do brasileiro). Para quem não sabe quem é Nelson Rodrigues sugiro uma olhada breve no Wikipedia da vida, mas já adianto que uma biografia bacana desse gênio do jornalismo e da literatura contemporânea é O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro.

O que há em comum entre o filme de 2013, estrelado por um elenco maravilhoso encabeçado por Ricardo Darín, e as histórias de NR, que viveu e escreveu sobre a sociedade provinciana das décadas de 50 e 60 do Rio de Janeiro?

Eu diria que quase tudo. A violência, a paixão exagerada, a raiva incontida, o medo, a impotência, o poder...o amor!

E o humor negro que os críticos acentuaram em Relatos e que provavelmente levou à morte os chargistas do Charlie Hebdo (o filme está repleto de ironias e sarcasmos também).

Um humor que de tão cruel (e cruel porque sem retoques, sem filtros) até nos faz rir, porque rir acaba sendo uma válvula de escape, uma catarse para a tensão tão bem conduzida em todos os episódios.

Nelson também costumava escrever pequenas historietas semanais que acabaram virando livros e minisséries da TV, anos mais tarde (A Vida Como ela É, da Globo, sucesso de audiência no tempo que a Globo possuía um padrão de qualidade), apresentando o ser humano com toda sua frágil e às vezes obscena humanidade.

Em Relatos um psicótico reúne seus desafetos num mesmo avião. Quem nunca desejou fazer isso? de brincadeira, nas rodinhas do café na firma, quantas vezes não dissemos que colocar toda a chefia num cargueiro rumo à Sibéria, sem direito a retorno, era uma boa ideia? que atire a primeira pedra!

Num outro momento dois motoristas vão às últimas consequências porque um provocou o outro na estrada, um mostrou o dedo para o outro, um mostrou poder antes da hora e na hora H amarelou....quem nunca?

Em outro, um pacato cidadão vira herói depois de explodir seu próprio carro num estacionamento de veículos guinchados. Quem nunca pensou em mandar pelos ares todo o aparato burocrático que nos atormenta a vida com multas, cobranças, impostos altíssimos e injustiças de toda ordem?

Um jovem playboy atropela uma mulher grávida e foge sem prestar socorro! Fato comum nas grandes cidades. A impunidade, o poder do dinheiro que aparentemente tudo resolve...

A justiça feita com as próprias mãos quando a vítima encontra seu algoz...

Enfim, o filme não questiona nem julga. É às vezes assustador, às vezes nojento, às vezes engraçado, ridículo ("porque a dor tem de ser necessariamente ridícula", diria Nelson). Mas nunca enfadonho ou cansativo. Nunca ideológico ou doutrinador.

Apenas nos mostra o ser humano exatamente como ele é: nem bom nem mau, nem certo nem errado; apenas humano.

Quem nunca pensou em resolver seus pequenos problemas cotidianos exatamente do mesmo modo que os terroristas do Estado Islâmico resolveram o deles matando os jornalistas do Charlie Hebdo que ousaram não ter medo de fazer valer o direito supremo à liberdade de expressão? 

Sim, está na mídia todos os dias: algumas pessoas fazem isso com os gatos da rua. Com mendigos, com prostitutas, com homossexuais, travestis, velhos, mulheres e crianças...

Traficantes eliminam seus maus pagadores à bala. Políticos corruptos não titubeiam em roubar o leite das criancinhas da creche, a pensão das viúvas, a aposentadoria dos velhinhos...

O filme aborda questões relacionadas a pessoas que atravessaram o limite de situações-limite quando todos os argumentos se esgotaram! Daí o nome. Selvagem porque deixadas levar por suas raivas mais atávicas, profundas, arraigadas, grudadas no coração feito limo antigo na pedra.

E o episódio que encerra o filme é bem mais a cara de Nelson Rodrigues, é verdade, por ser mais passional (bem passional!). Uma traição, claro, é o estopim de tudo! E o resultado da descoberta dessa traição....só vendo o filme, mas posso garantir que é bem rodriguiano o desfecho. O filme é tão bom que vale a pena ver até na fila do gargarejo (geralmente o pior lugar dos cinemas), como aconteceu comigo, que cheguei em cima da hora e encontrei os dois últimos lugares!

Agora, se você nunca viu a minissérie da Globo ou se quer refrescar sua memória clique no link a seguir e...divirta-se com o episódio Casal de Três, uma espécie de continuação do post anterior Porque só faço com você, só gosto com você, adivinha o quê!, que vai ensinar que "a virtude é triste, seca, amarga e neurastênica"! E que "a melhor esposa do mundo é a que trai o marido com metade do Rio de Janeiro" (teoria de Nelson Rodrigues, claro! por favor, sem julgamentos!)


Casal de Três 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Porque só faço com você, só gosto com você, adivinha o quê?

Hoje cedo quando ia ao supermercado, ouvi a música Adivinha o quê?, cuja frase dá título a este texto, e que foi composta por Lulu Santos, na década de 80, a década da criatividade pós-ditadura militar. 

Eu ouvia essa música e ela me fez pensar nas relações múltiplas dos dias de hoje, nesses casos de amor onde várias pessoas se envolvem simultaneamente, implícitas na música do Lulu, embora nos anos 80 nem existisse a expressão poliamor. E antes que me corrijam é claro que a música dá margem a outras interpretações, mas agora vou ficar com a que me ocorreu mais cedo.

Poliamor, resumidamente, é manter várias relações amorosas simultaneamente, com pessoas diferentes (óbvio!) com o conhecimento e o consentimento de todos os envolvidos. E quando se fala em relações amorosas é isso mesmo e não sacanagem sexual pura e simples. Aliás, alguns adeptos do poliamor nem sempre fazem sexo com seus parceiros. Aliás, tem gente que vive um poliamor e nem sabe disso!

Enfim, o que a música me fez pensar não foi no poliamor em si, mas sim na capacidade do ser humano de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e de formas diferentes, de intensidades diferentes, daí o "porque só faço com você..."

Porque cada pessoa é um universo exclusivo e, portanto, é possível sim amar duas ou mais pessoas simultaneamente, mas de formas diferentes. 

Não vou entrar no mérito do moralismo religioso que permeia a discussão, lógico, mas posso afirmar, baseada na minha experiência clínica, que essa história de todos os envolvidos saberem e consentirem é conversa pra boi dormir (boi, boi, boi, boi da cara preta...)

Existem casos de poliamor bem-sucedidos citados pela mídia, é fato.

A realidade, porém, está bem distante do que a mídia divulga. O que tenho ouvido no consultório são relatos de combinações das mais variadas formas, por exemplo, por uma mulher e três homens ou o inverso, um homem e três mulheres, ou ainda, um homem e duas mulheres...ou dois homens e uma mulher...onde nem todos têm conhecimento dos demais participantes. Alguém não sabe, alguém não conta. 

Alguém sente culpa. Alguém se sente traído quando sabe e se não sabe desconfia e sente que tem algo diferente...e aí é que entra a música. 

Como cada pessoa tem suas particularidades, quando se ama, amamos justamente essas diferenças. Por não poder suprir a falta da relação perfeita, compomos um mosaico de preferências com diferentes pessoas.

Na literatura, no cinema, temos exemplos vários disso que estou falando: as pessoas se completam com vários amores. Com um somos mais amigos, abrimos nosso coração, somos transparentes (geralmente quem tem esse perfil é o sujeito para o qual se revela a existência dos demais parceiros).

Com outro gostamos de fazer sexo, apreciamos outras qualidades, mas jamais moraríamos com aquela pessoa! Seria morte na certa! Com outra, o pacto é de ajuda mútua, estima, mas não existe contato físico.

Dá pra viver assim? É possível. Mas é preciso analisar o que existe por trás dessa necessidade de procurar preencher esse vazio (negado, é claro) com tantos parceiros.  A neurose que se instala a partir de um único relacionamento já é complicada de administrar, calculem com um relacionamento com um número superior a duas pessoas! e se imaginarmos que basicamente fomos constituídos a partir de um relacionamento com três personagens - filhinho(a), papai e mamãe - fica mais fácil entender por que relações múltiplas incomodam. Ou não!

E é preciso também ficar alerta para as dores que esse tipo de amor pode gerar. Não existe entrega total para todos os envolvidos. Com um não tem sexo, mas tem ternura. Com outro tem sexo, mas não tem confiança; com outro tem sexo, confiança, ternura, mas não tem disponibilidade.

Enfim, é preciso pesar os prós e os contras de entrar numa relação desse tipo, ou de manter relações desse tipo por tempo indeterminado. Alguém sempre sai machucado, é o que demonstram os fatos.

Mas seja como for, Lulu estava certo: há coisas que só fazemos e só gostamos de fazer com determinadas pessoas e não com outras. E talvez essa seja a saída! 

E mesmo que você não concorde com nada do que eu escrevi, curta a música que tem um saxofone genial e um suingue afrodisíaco! e é do Lulu! o nosso rei do pop!

https://www.youtube.com/watch?v=p61gmM5ZOuw



Ainda lembro aquela noite
Só porque eu cheguei mais tarde
Ainda arde a lembrança de te ver
Ali tão contrariada

Meu bem, meu bem
Será que você
Não vê não
Não houve nada
Só o passado rondando
Minha porta
Feito alma penada

Você vive me dizendo
Que o pecado mora ao lado
Por favor, não entra nessa
Porque um dia
Ainda te explico direito
Eu sei, eu sei
Que esse caso tá meio
Mal contado
Mas você pode ter certeza
Nosso amor
É quase sempre perfeito

Porque eu só faço com você
Só quero com você
Só gosto com você ê ê
Adivinha o quê?...(2x)

Mas eu só faço com você
Só quero com você
Só gosto com você ê ê
Adivinha o quê?

Ainda lembro aquela noite
Só porque eu cheguei mais tarde
Ainda arde a lembrança de te ver
Ali tão contrariada

Meu bem, meu bem
Será que você
Não vê não
Não houve nada, nada!
Só o passado rondando
Minha porta
Feito alma penada...

Porque eu só faço com você
(Só faço com você!)
Só quero com você
(Só quero com você)
Só gosto com você
(O que?)
Adivinha o quê?...

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