Mostrando postagens com marcador solitário. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador solitário. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de abril de 2016

Essa sua canalhice

Não tem como. Hoje vou dar um fim em tudo. Essa sua miserável apatia me enlouquece.
Acendi um incenso pra ter pelo menos um cheiro bom no ar.
Coloquei mais açúcar na caipirinha pra ter um doce pra sentir.
Outro dia você me trouxe flores. Até chorei, lembra? Mas os chocolates....dei pro cachorro depois de saber das tantas outras presenteadas... Eu sei, você disse, você sempre diz: elas não importam.
Mas essa sua miserável inércia...
Não tem como. Hoje vou ter de dar um fim.
Liguei o ventilador pra ter mais ar.
Traguei a fumaça do charuto pra esquentar o peito vazio. Você deixa ele assim.
Naquele dia, você me deu o anel, lembra?
Eu te beijei por cinco minutos, boca, rosto, olhos, nariz... e você ria, ria... Estava feliz. Mas as cartas... dei pra reciclagem depois que encontrei as trocadas com tantas outras...
Eu sei. Você disse. Você sempre diz. Elas são nada!
Mas essa sua miserável presença...
Não tem como. Hoje vou ter de dar um basta.
Já deixei tudo pronto: martelo, cutelo, câmeras desligadas, as malas.
Quando você chegar com sua sedução eu vou te embriagar com aquele vinho, você sabe qual, aquele do encontro, o único que valeu a pena...por que pegaria um avião?...você disse, você sempre diz.
Tirei as crianças de casa e liguei o som.
Quando você dormir nos meus braços - sim, você vai adormecer feito um príncipe, como sempre, aninhado depois do amor, nos meus seios - nessa hora, vou dar um fim em tudo. Não tem como.
Essa sua miserável canalhice me excita.

domingo, 19 de julho de 2015

E se fizer frio...azar


Ela me olha com os olhos pequenos rodeados de ruguinhas de expressão, pele bem judiada, entre surpresa e desconfiada quando me aproximei explicando minhas intenções. Ela era uma senhorinha baixinha e, muitas vezes, menor que a placa de 2 ou 3 dormitórios, lançamento venha conhecer que segurava com as mãos pequenas. Sabe aquelas pessoas que ficam paradas nas esquinas das ruas tomando conta de placas com propagandas de empreendimentos imobiliários nos fins de semana? Então. Sempre vejo essas pessoas ali paradas o dia todo em pé. Homens e mulheres de todas as idades. Cruzo com elas logo cedo quando vou pra São Paulo de trem, no sábado. Na volta, à tarde, estão lá ainda.
Sempre quis saber quem são essas pessoas, como vivem. Criei coragem e falei com a senhorinha. Apesar de surpresa pelo meu interesse, acabou me contando que mora bem longe, na Zona Leste, que pega ônibus, metrô e trem até um trecho onde se encontra com outros da turma que cobre aquela região. Uma van dirigida por um sujeito que funciona como um capataz (a expressão é minha, ela não disse isso) traz até ali. Ele dá ordens, explica o que pode e não pode, na hora do almoço leva os marmitex – que são consumidos ali mesmo, no chão das calçadas – e faz o pagamento no fim do dia.
E pra fazer suas necessidades? Ah, dona, a gente conta com a boa vontade das pessoas das casas ou de algum comércio por perto. E quando chove? Bom, se chover muito a gente é dispensada. E se fizer muito frio... azar. Ou torra no sol. E não pode deixar a placa cair nem ficar torta. Quando venta é pior porque tem de fazer força pra segurar a danada no lugar. Também não pode ficar de papo com as colega, nem sentar no chão. O certo é ficar em pé. Só que cansa, né? Aí a gente senta e reza pro fiscal não ver porque se ele pega a gente sentada vem bronca, desconta a diária sabe? A diária é trinta real. Dá um total de 60 no fim de semana. Mas eles descontam a marmitex e a condução de casa até a van é por nossa conta. No fim, não sobra muito, mas fazer o quê, né dona? Não tem muita escolha. Tô velha. Tenho pobrema de coluna. Nem faxina dá pra fazer.
A plaqueira tem três filhos pequenos (duas meninas e um garoto) e mora com a mãe de quase 70. Faz outros bicos durante a semana. Emprego, emprego mesmo de verdade nunca teve. Os seus 48 anos aparentam mais. Só estudou até o quinto ano – não sabe até quando vai conseguir segurar placas nas ruas em pé oito horas seguidas. Mas, por enquanto, é essa placa, que ela segura com firmeza apesar de sua figura frágil, que lhe dá algum alento.

A Outra


Levava a pequena criança pela mão, atravessava o mar de carros na avenida e voltava pra casa. Era assim todas as manhãs e à tarde. Não questionava.
Depois, bebia o chá, comia o bolo e sonhava: agora sou outra.
Feira, açougue, padaria. Fogão, máquina de lavar. Mas hoje, hoje vai ser diferente. Porque agora sou outra.
Coloca o vestido decotado, calça o sapato de domingo, passa o batom e o perfume emprestados, e sai para encontrar seu amor.
No caminho, alimenta o sonho: agora sou outra.
O coração, acelerado, lugar-comum dos apaixonados, quase pára com as lembranças das cenas na sala de estar da casa da melhor amiga. Foram beijos obscenos, pegação, esfrega-esfrega e a promessa de Jurandir: quero te comer todinha. Me liga. Era sua primeira vez como a outra. Mas que importa? Agora sou mesmo outra.
E no local combinado, assenta o corpo na cadeira do café. Pede um cappuccino e suspira enquanto deseja o marido da amiga, um gostoso tão diferente daquele indigente, pai de sua filha.
Meia-hora, uma hora...finalmente...o encontro naufragado. Os olhos choram por dentro. O que eu fiz de errado? Agora não sou a outra?
Travestida de indiferença, paga a conta pro garçom que, acostumado, adivinha o desfecho do enredo. Mas, não, com ela, não. Afinal, agora ela era outra.
Volta pra casa, se arrasta. Depois, pega a criança pequena pela mão, atravessa de volta o mar de carros e em casa faz sopa de letrinhas. Mistura lágrimas à salsinha, coloca ração para o gato, água para o periquito, tira a roupa do varal... enquanto pensa: agora sou outra mulher.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Por que você fala A e o outro entende B?

Como é difícil o relacionamento entre humanos. Quando se é inconsciente, e a maioria das pessoas é inconsciente, fica mais complicado. Relacionamento é um sistema intrincado de projeções e de despertamento de complexos que nem sequer sabemos que os possuímos, ou que somos possuídos por eles. A teoria psicanalítica explica bem o processo.

Você fala A com uma determinada intenção - e a intenção sempre existe ainda que você não tenha consciência - e o outro entende B.

Até aí não teria nenhum problema se a interpretação do outro não viesse carregada de tanto afetamento. E o afetamento acontece por causa das projeções. Eu projeto no outro aquilo que não vejo ou não reconheço em mim e vice-versa.

E por que ocorrem as discussões e os mal-entendidos? Porque o A que você falou inocentemente funcionou como um gatilho, um despertador de algum complexo de inferioridade, ou de superioridade, ou de poder, ou paterno, ou materno, enfim, o tal do A interpretado como B desencadeia aquilo que no linguajar terapêutico é o "ficar afetado pelo complexo".

Quer um exemplo?

Joana, uma moça trabalhadora, simples, porém, sofisticada, feliz de um modo geral, com seu trabalho e com sua vida, diz para Paulo, seu colega de departamento, moço bem-sucedido financeiramente, e provavelmente na vida pessoal já que ele nunca comenta nada sobre o assunto de forma negativa, que ele está num nível acima da média da humanidade. Joana se referiu à uma possível condição em nível espiritual, já que Paulo é sempre considerado e citado pelos seus amigos mais próximos como uma pessoa generosa, ponderada, meio fria, não demonstra muito seus sentimentos, mas por isso mesmo é considerado por alguns como uma pessoa que tem controle sobre seus impulsos mais primitivos, que a  maioria dos reles mortais não possui. Resumindo: Paulo aparenta ser uma pessoa perfeita, que, naturalmente não é, embora não faça nenhuma questão de demonstrar para o mundo sua falibilidade.

Paulo entende que Joana está se referindo à sua condição financeira que é, em termos de conta bancária, propriedades etc, sim, maior do que a de Joana, e ele entende que ela, por ter uma condição financeira inferior estava sendo sarcástica e fazendo uma crítica velada ao fato de ele ter uma posição endinheirada "um nível acima" da dela. E aí, Paulo, tomado pelo seu complexo de inferioridade (sim, apesar das aparências Paulo tinha um enorme complexo de inferioridade que vem sempre acompanhado de um de poder, de forma compensatória, claro) começa a discursar para Joana que sempre que ela se refere ao fato de ele ter mais grana do que ela faz com que ele se sinta como um lorde inglês que, no fim da história será descoberto como sendo na verdade o filho do cocheiro. E que ele tem grana porque sempre trabalhou, que nunca roubou, que acorda cedo, que  se sacrificou (sabe lá Deus quanto), que juntou, que poupou, que fez e  aconteceu, sempre de forma honesta, e que não via nenhum problema em ter mais dinheiro do que Joana ou qualquer outra pessoa etc etc etc.

Bom, Joana se espantou com a reação de Paulo. Justamente ele, o ponderado, o controlado, o educado, o sempre tão inteligente e culto. Paulo perdeu as estribeiras e Joana não entendeu por quê.

Você, com certeza já deve ter vivido ou presenciado cenas assim. Tanto no papel de Joana quanto no de Paulo.

Então, bem-vindo(a) à normalidade dos 95% da população neurótica que habita este planeta. Não se avexe. Você não está sozinho. Sozinho permanece aquele que se acha diferente.  Ou que pensa que esse post não é pra ele.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Uma dor de barriga é sinônimo de doença incurável????

Quando Freud pedia para se dizer qualquer coisa, sabia que não é o mesmo
 que pedir para dizer uma coisa qualquer.
Quando as pessoas se sentem organicamente doentes, ou seja, quando têm dores, mal-estares físicos em geral, correm para o médico ou para a farmácia com o objetivo de aliviar aquilo que as incomoda.

Muitas vezes comentam com seus pares, colegas de trabalho, vizinhos, membros da religião que frequenta. Falam de suas dores, de seus desconfortos...parecem não se envergonhar nem do calo do dedinho do pé, nem da enxaqueca e muito menos da fibromialgia. Aliás, às vezes têm-se a impressão de que até gostam de comentar sobre suas dores físicas que, claro, sempre são maiores do as dos seus ouvintes.

Então, por que será que essas mesmas pessoas que se entopem de analgésicos comprados até em supermercados, se recusam a procurar ajuda quando o mal-estar é psíquico ou emocional? Ou seja, quando esses mesmos pares que as ouvem pacientemente, lá um dia...se viram para elas e dizem: estou te achando meio deprê; ou estou te achando meio cheio de manias; ou, parece que você está deturpando o que as pessoas te falam; ou são mais objetivas: você não está bem e precisa de ajuda....

Por que nessa hora - quando alguém lhes diz que precisam de ajuda, que devem procurar um psicólogo, um terapeuta ou nos casos mais graves, um psiquiatra - as pessoas se ofendem?

Por que a reação mais comum é dizer: o quê???? você acha que estou louca?

Por que ainda hoje, apesar de tão divulgado sobre os benefícios de uma boa análise, uma boa terapia...por que, as pessoas acham que estão querendo dizer que elas estão loucas quando se sugere procurar a ajuda de um profissional da alma? 

Porque se essas mesmas pessoas  reclamam de uma dorzinha abdominal e alguém lhes diz para ir ao médico elas não respondem defensivamente: Você pensa que eu estou com câncer? Uma dor de barriga é sinônimo de doença incurável? Não necessariamente. Então, não necessariamente é louco todo aquele que, embora doente da alma, procura um analista, psicólogo ou psiquiatra!

Então, por qual motivo inconsciente e inconsistente, homens e mulheres fogem dos analistas, psicoterapeutas e terapeutas em geral como o diabo foge da cruz, como o vampiro foge do alho, como o lobisomem foge da bala de prata?

Bom, se não procurarem uma ajuda imediatamente nunca saberão!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Velha, eu?

Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro.
Uma cliente em terapia relatou outro dia:" Será que estou com cara de muito velha? Velhinha?"
Devolvi assim: Por que você está preocupara com isso? Ela respondeu: "Não sei, ás vezes tenho a impressão que as pessoas me acham velha. Outras penso que me elogiam para me consolar. Como uma moça que não via há muito tempo. Ela me disse que eu estava muito bem e me perguntou o que eu andava fazendo. Eu dei risada e respondi: nada do que vc está pensando que eu estou fazendo! Muitas pessoas, muitas não, algumas, me tratam como jovem, me tratam como se não houvesse essa questão do tempo. Outras...não sei, não sei mesmo o que pensam a meu respeito. Algumas pessoas com quem convivo diariamente nunca me fizeram um único elogio, nem desses simples que se faz assim só para agradar, ou consolar, tipo, 'como vc está bonita hoje'. Esse é o tipo de elogia seletivo. Vc está bonita naquele dia por alguma razão especial. Isso não quer dizer que vc é uma pessoa bonita. Não, de jeito nenhum. Vc é uma pessoa comum, mas naquele dia estava bonita. Pode ser um dia que vc acordou de bem com a vida, com os gatos, com o cachorro, enfim. Pode ser um dia que vc se maquiou melhor, se vestiu com mais apreço...
Mas quando eu entro no metrô e alguém se apressa a se levantar para me dar o lugar...eu aceito, sabe?, mas sempre fico me perguntando, será que pareço ser assim tão velha? Afinal, aquela reserva de bancos especiais é para maiores de 60 e eu ainda não tenho essa idade...Quem inventou essa história de "melhor idade" não tem nem 40 anos!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Existe amizade verdadeira?

Por que é tão difícil se alegrar com o êxito alheio? Mesmo que esse êxito seja o de um amigo, ou de um parente próximo, sempre fica uma pontinha de inveja, não fica? Se você respondeu que sim, parabéns! você está assumindo sua humanidade. Se você respondeu que não, que vibra, sinceramente, com o sucesso de seus amigos ou pessoas próximas, duplamente parabéns! Você está acima da média da humanidade.
Oscar Wilde, escritor irlandês nascido em Dublin em 1854, que ficou mais conhecido pelo seu "Retrato de Dorian Gray", costumava dizer que era fácil encontrar quem se compadecesse de nossas dores e provações, mas que era quase impossível encontrar quem sinceramente se alegrasse com nossos êxitos.
Confesse: quando seu colega no trabalho é promovido e você não, qual o sentimento que lhe vem logo de cara? Quando você vê seu amigo trocar de carro, não vem ao seu pensamento: por que não eu?
Voltaire, que nasceu no século 17, disse:
"A amizade é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis porque um monge ou um solitário podem ser pessoas de bem e mesmo assim não conhecer a amizade. E virtuosas porque os malvados só têm cúmplices; os festeiros, companheiros de farra; os ambiciosos, sócios; os políticos, partidários; os vagabundos, contatos; e os príncipes, cortesãos - mas só as pessoas virtuosas têm amigos.
Se você tem amigos que se alegram verdadeiramente com seu sucesso, rejubile-se: você é uma pessoa virtuosa e seu amigo também.

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...