quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O que quer uma mulher?

"Como Freud demonstrou em seu estudo do lapso, é no erro que melhor se confessa o verdadeiro." Esta frase é do autor do livro O que quer uma mulher, de Sergé André.
Uma mulher quer, no fundo, o que todo mundo quer. Ela pode até não confessar, a não ser pelo lapso, talvez por um olhar, ou por uma lágrima que deixa escapar.
Mas o que quer uma mulher? Quer ser ouvida e escutada (sim, tem diferença e só a prática diária oferece o melhor resultado), acarinhada e acariciada (idem), elogiada, elevada, protegida, cantada em prosa e verso e vice-versa. 
Uma mulher quer ganhar presentes de surpresa e presentes-surpresa. Há que ter uma sensibilidade especial para perceber a diferença. Mulheres são seres diferentes entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas e iguais. Iguais entre si, umas das outras e, ao mesmo tempo, tão parecidas com seus homens, com homens que não são seus, com os homens seres humanos.
Mas é na falta que mulheres (e homens) mais se assemelham aos bebês chorões. Assustados com o sumiço (ainda que temporário) das mamães...Mamães que olham para seus bebês e na sua angústia não sabem, afinal, o que querem seus bebês? 
E todos se perguntam: afinal, o que quer um bebê?
Quer o mesmo que uma mulher, que um homem, que uma criança, que um velho.
Em qualquer fase da vida o que quer o ser humano? Quer o amor, o colo, o calor, o abraço, o cheiro, o beijo, o afeto, o olhar quente, o aconchego.
Mas se querer não é realizar o seu querer...Vamos errando de lapso em lapso confessando nosso desejo verdadeiro.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Partiu casa

Uma hora de trem/ metro da Lapa até o Sacomá. Mais meia de busão até o A do ABC. Várias falhas da internet 3G. E quem disse que acabou? E o turno 2? Só começou.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

No Apocalipse, sobrarão apenas os sem-rede

Um post, dois posts, três posts e quando percebeu escancarou toda sua vida ali, naquele retângulo que insiste em saber: "No que você está pensando?". Repare: não é "o que você está fazendo". É "em que você está pensando?" A "Rede" quer entrar em você, descobrir seus pensamentos, desejos, sonhos, preferências!
E você escreve, conta onde está, com quem, o que faz, como faz, por que faz, fotografa, é fotografado, curte, é curtido, ganha amigos, inimigos, destila veneno, atrai inveja...
E a Rede ali, ciente de tudo. Mais que Deus, porque Deus a gente nunca viu. E quem está por trás da Rede que tudo vê, tudo sabe? A Rede rastreia e vasculha toda sua vida sem que você se dê conta. Depois coloca tudo num gráfico para a estatística final. No Apocalipse, sobrarão apenas os sem-rede? Só a Rede poderá nos salvar!

sábado, 26 de julho de 2014

Corre, Dirce, corre

Dirce Maria vive correndo. 
Abriu o semáforo, corre para atravessar a rua; vence uma pista, ganha fôlego, encara a próxima. Vai correndo. 
Desce a ladeira, sobe a calçada, vira na esquina. Sempre correndo. 
Corre pra pegar o ônibus, corre pra fugir da chuva.
Vai, Dirce Maria, corre.
Corre, corre. Corre de quê?
Corre de quem?
Corre pra quem?
Levar os filhos na escola; depois tem de buscar. 
E a academia, o inglês, a natação?
Hidroginástica, feira, supermercado.
Dentista, ginecologista, cardiologista...psicanalista?
Lá vai, Dirce Maria.
Sempre correndo.
Correndo entra no metrô. Quer sentar? Não, fica porta pra sair mais rápido. 
Não pode parar. Está atrasada. 
Atende o filho, o marido, o chefe, a mãe, o pai.
Nem se olha direito na frente do espelho. 
Dirce Maria sai na rua com a blusa no avesso. 
Nem repara. 
Só corre. Socorre? 
Nem se olha, nem se vê, nem se enxerga. 
Nem sequer se sabe, se toca, se ouve.
Corre, corre, pra quê?
Corre, corre, por quê?

sábado, 19 de julho de 2014

Amor é uma invenção de Hollywood

Algumas pessoas me perguntam por que os relacionamentos estão mais complicados?
Não sei a resposta, não sei nem se existe uma, mas devolvo a pergunta: complicado pra quem?
Geralmente quem pergunta é o fator complicador. Então, vamos tentar entender.
Muitas vezes, os namoros/casamentos não dão certo porque as pessoas não querem abrir mão de nada. Não querem ceder um milímetro e ainda exigem que o outro da relação aja/pense/sinta de acordo com sua vontade.
Vamos para os relacionamentos cheios de expectativa que giram em torno do que o Outro vai me dar? e se o outro não atinge a cota daquilo que eu quero que ele faça, as coisas começam a ruir. Isso vale para ambos os lados.
Mas, se homens são de Marte e mulheres são de Vênus (e aqui vou me ater aos relacionamentos héteros apenas) é bom que fiquem claras as diferenças entre os sexos.
Se uma relação não dá certo, em geral as mulheres são as primeiras a detectar e a desejar sair do sofrimento, ainda que a separação cause um outro tipo de sofrimento. Muitas vezes, um rompimento não significa que o sentimento terminou. Às vezes ele perdura por anos. É que entre viver na dor acompanhada, muitas mulheres optam por vivem na dor sozinhas.
Já os homens, nunca ficam sós. Muito raramente. A maioria esmagadora sai de uma relação e já coloca o pé (e todas as outras partes do corpo) em outra relação. Mesmo que o seu coração ainda esteja lá na outra, principalmente se essa outra for a mãe dos seus filhos. Que fique bem claro, há exceções. Estamos aqui falando sobre as pessoas que se encaixam na média e não sobre os extremos.
Os homens desejam mulheres/mãe e ponto. Que sejam nutridoras, jamais cobradoras e disponíveis. 
Mulheres querem homens/paiemãe e ponto. Que sejam provedores, que coloquem ordem e deem a direção.
Se as coisas fugirem disso, ou seja, se o cara se casa com uma mulher que resolve ser ela mesma e não topa fazer o papel de mãe e se a moça se envolve com um rapaz que não está a fim de pagar a conta no fim do mês, vai tudo por água abaixo.
E se um dos dois tiver essa consciência e o outro não também desanda.

Ninguém sabe o que vai pelo coração e pela mente das pessoas.
Ninguém pode garantir nada. As pessoas podem dizer e agir de um modo e lá no íntimo a situação ser bem diferente da mostrada exteriormente. Quantas vezes já nos surpreendemos com relacionamentos que aparentemente iam às mil maravilhas???? Muitas vezes!
Quem pode garantir o que vai pela cabeça dos amantes? Nem eles podem garantir nada.
Tudo é um grande jogo de conveniências.Os relacionamentos dão certo, funcionam, enquanto for conveniente para ambas as partes. Se uma das partes quebrar o acordo tácito firmado no inicio de todo relacionamento, ainda que inconscientemente, surge a desunião.
Relacionamentos não têm nada a ver com amor. Amor é uma invenção de Hollywood pra vender filme. Existe sim um amor, imenso, entre pessoas que estão separadas que quanto mais negado, mais aumenta!
Sempre que não se assume o objeto de amor mais ele ficará ali, na sua vida, como um fantasma,
Assuma que ama, mas que a convivência não foi possível por "n" razões.
ou assuma que nunca amou e que todo o tempo só existiu o fator conveniência.
Mas não use as pessoas, nem as do passado, nem as do presente, como muletas para justificar seu egoísmo e sua inflexibilidade.
Quando um relacionamento fracassa, não existe apenas um responsável ou um que seja O mais culpado.
Cada um tem sua parcela de responsabilidade. Assuma a sua. É mais honesto e verdadeiro com você mesmo(a).

domingo, 27 de abril de 2014

O projeto narcísico de Deus

Quando lemos em Gênesis 1 - 26:"Deus disse: façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança (...)" estamos diante de um projeto que os pais têm em relação aos seus filhos, um desejo narcísico de que os filhos sejam sua imagem e semelhança.

Que pai não se orgulha quando ouve de alguém, ainda na maternidade, a célebre frase: é a cara do pai!? Não só por lhe confirmar a legítima paternidade, pois, como Freud dizia, a maternidade é certa, a paternidade, porém, é dúbia... que alívio ouvir a confirmação do Outro de que, sim, o filho é seu e é parecido com você, é à sua imagem e semelhança.

Quando a criança cresce o suficiente para perceber esse desejo do pai (e da mãe, porque ela faz parte desse projeto "o que eu quero que me filho seja"), ela começa a responder a esse desejo e surge então o ideal de eu: o que meus pais (e depois a sociedade) esperam que eu faça para ser amado (aceito)? e aí começam a surgir os conflitos pois o ideal de eu se contrapõe ao eu ideal, que se constitui narcisicamente ainda quando a libido está toda concentrada no próprio Eu, ainda bebê, naquele período quando a criança tira prazer de seu próprio corpo, que todo tocar é prazeroso, onde dedinhos de pés e mãos são uma farra, onde tudo que vai até a boca é um sucesso! Mamar, óbvio! é a glória! porque além de satisfazer o prazer físico que a sucção bucal provoca, aplaca a fome! e de quem é aquele seio enorme cheio de leite que satisfaz o bebê? ele não sabe, ele pensa que é dele! É meu! Sou eu! Tudo se confunde. 

Então, um dia, ele percebe que aquela fonte de prazer não está à sua disposição. O que fazer? CHORO!!!! GRITO!!! ESPERNEIO!!! FICO ROXO!!!! e  como num passe de mágica lá vem o seio novamente me dar prazer, sorri o bebê.

O pai, não percebeu, mas até aí, seu papel foi de coadjuvante. Um coadjuvante merecedor de Oscar, sim, mas para o bebê, não passa disso. É preciso que a mãe, - essa danada!!!! que transa com meu pai, mas deixa eu chupar o seio dela - diga ao bebê, mostre ao filho que o coadjuvante, na verdade, é o diretor do filme! é o cara de que manda, é o produtor, o provedor! ELE É O CARA! Pode espernear, chorar, ficar roxo, perder o fôlego, mas sEU PAI é o mEU HOMEM, é ele quem me dá prazer, é ele que me dá o falo dele para que possa ter o meu falo, que é você, meu filho (filha).

Oras, quando esses distintos papéis ficam estabelecidos e claros para o indivíduo, a passagem do processo narcísico primário (quando a criança pensa que o m
undo gira em torno dela) para o secundário (quando ela percebe que existe um terceiro na relação edípica dela com a mãe), ou seja, do narcisismo para o amor objetal, fica natural e sem o surgimento de neuroses mais graves.

Muito bem, tudo isso pra dizer o seguinte: qual é a nossa relação com essa entidade que chamamos Deus? Deus PAI! como o vemos? como o sentimos? como o imaginamos? Isso tem muito a ver com o que sentimos, imaginamos em relação ao nosso pai biológico ou a quem fez as vezes de, a função de.

Em qualquer uma das imagens de Pai - o divino ou o real - está implicado o que sua mãe lhe disse sobre seu pai. Ele é mesmo o cara ou é um banana? Quem manda é ele ou sua mãe? Sua mãe é manipuladora (daquelas que se orgulham de dizer: seu pai pensa que manda, mas na verdade ele sempre acaba fazendo o que eu quero; eu sei direitinho como dobrar seu pai, etc)?

Enfim, pense sobre isso e me diga: qual é o seu caso?

terça-feira, 11 de março de 2014

O apaixonamento


Que interessante! Este post estava na seção de rascunho há nem sei quanto tempo. Há muito tempo. Cliquei para ver o que eu teria escrito sobre o tema e a surpresa: estava em branco.

O que me chamou a atenção é que este termo, especificamente este termo, apaixonamento, foi mencionado durante a minha sessão de análise pessoal.Não posso revelar o contexto, é claro, mas sabe-se que o apaixonamento também faz parte do processo analítico.

E como nós, psicanalistas, sabemos que somos muito mais guiados pelo nosso sábio inconsciente do que imagina nossa vã consciência, me intrigou o tal apaixonamento. Ou eu estaria implicada?

Ainda não tenho as respostas.Mas não se preocupe. Caso você também esteja intrigado com algum possível apaixonamento que o esteja rondando como um fantasma, não se assuste. Talvez ele seja apenas a manifestação de um amor dirigido a vários alvos. 


Podemos nos apaixonar por nós mesmos, pelo outro, pelo trabalho, por um livro, pelo autor do livro, por uma música, uma poesia. Freud identifica esse apaixonamento como o depósito da libido em um objeto, associando-o a aspectos pulsionais que estão a serviço de um ideal perdido. Mais ou menos isso: quando nos apaixonamos, estamos desejando sentir aquele aconchego do colo materno, o prazer da proximidade do seio nutridor, enfim, aquele amor de mãe que nós achamos que é insubstituível e por estarmos assim iludidos navegamos pelas ondas das sensações físicas que a proximidade de outros corpos nos dá, imaginando, inconscientemente, que estamos novamente no embalo do primeiro colo. Sem falar que estamos projetando no outro aquela imagem positiva que temos de nós mesmos (e vice-versa), como fazíamos quando bebês e olhávamos no espelho e não nos reconhecíamos, mas pensávamos que se tratava de outra criança e dizíamos "bebê", na terceira pessoa.

E por nos equivocarmos assim, pensamos que nosso amado ou amada atenderá a todos as nossas carências sem nos darmos conta de que do outro lado também jaz um ser que, da mesma forma, deseja que nós atendamos a todas as usas carências. 


É mais ou menos como se colocássemos dois bebês de cinco a seis meses um ao lado do outro e ficássemos observando de longe. Enquanto estiverem bem alimentados e limpos estarão alegres, tranquilos, se divertindo, rindo, brincando com seus próprios dedinhos ou pezinhos. À medida que o tempo passa e a fome ou o desconforto da fralda molhada aumenta, eles passam a ficar irritados, choram e se desesperam porque um não pode fazer nada pelo outro. Quem vai salvá-los? A mãe.
Só que não. Num apaixonamento, pensamos que o outro é a mãe. Mas ele (ela) não é. É apenas outro bebê chorão.


Por isso os relacionamentos amorosos são tão complicados. Em geral, nos apaixonamos por nós mesmos pensando que é o outro. Quando descobrimos que o ele não sou eu e que o eu não sou ele, vem a decepção frases comuns do tipo: mas quando a gente começou (o namoro, casamento etc) ele era outra pessoa!!! Sim. Era você. Depois vem a fase mais triste e turbulenta que é quando ambos se esforçam para atender às necessidades do outro - como uma mãe faria - mas a luta é inglória! Os bebês são tiranos insaciáveis! Sempre querem mais e mais. E a insatisfação se instala na vida do casal. Ela reclama de um lado, ele sai batendo a porta de outro.


Como solucionar esse impasse? Se não podemos ou se não devemos desejar o outro como a uma mãe nutridora e provedora, mas ao mesmo tempo, segundo Freud estamos condenados a isso o tempo todo, como se dá, afinal o verdadeiro apaixonamento entre dois adultos e não entre dois bebês? Isso existe? É possível? Quem sabe?

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Você ama ama ou ama ama?

Sabe aquele comercial de café, que tem como protagonista o casal de atores Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, em que ela pergunta: Rodrigo você me ama: E  ele diz: amo. E ela pergunta: mas ama ama ou ama ama? Dando a entender que o amor que ele diz deveria ter uma dimensão mais profunda do que um simples "amo". E ele, pra mudar de assunto, diz: vou fazer um café pra você.
Embora faça parte do comercial que apresenta o casal como o casal perfeito (e faz uma relação da perfeição do casamento com a nova parceria entre as marcas do café e da cafeteira) trata-se de uma cena bem típica do relacionamento homem/mulher. 

A mulher sempre quer ouvir, precisa ouvir, porque a mulher é muito mais tocada pelo que ouve ou fala do que pelo que vê. Para ela, o simples fato de ele estar ali, fazendo uma gentileza - que é preparar o café - não é suficiente para que ela entenda a dimensão do amor dele por ela. Inclusive, é muito comum entre casais que acabaram de transar, a mulher perguntar: você me ama?

No comercial, Rodrigo, por sua vez, como todo homem, simplifica tudo com o gesto: fazer o café é dizer eu te amo com outras palavras. Ele a olha como quem diz: deixe de bobagem,  não está VENDO que eu estou aqui? Sou todo seu. Não, a mulher não vê. E a cena continua com o casal saboreando o café e ele dizendo: eu te amo e a Fernanda perguntando novamente: mas ama ama ou ama ama? e ele faz uma cara de: Pô você não entendeu nada e vai começar a tortura de novo!!!

Quando homem e mulher entendem como cada um funciona, a mulher não fica insistindo em obter respostas dele por meio de palavras e ele entende que a mulher precisa ouvir muito mais do que ver.

Ou seja, se levar flores, não basta entregá-alas com um beijo. Tem que dizer eu te amo.
Mas, mulheres, se ele trouxer as flores e não disser eu te amo...entenda: ele te ama porque homens só compram flores para as mulheres amadas.

Agora, se ele não compra flores...aí, talvez seja o caso de perguntar: você me ama? Mas ama ama ou ama ama?

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...