terça-feira, 25 de julho de 2023

Psicanálise para uma vida mais saudável

 

Muitas pessoas me perguntam na primeira sessão: mas, afinal, o que é psicanálise? Como funciona? O que eu preciso fazer?

Longe de conseguir responder completamente, dada a complexidade do tema, vou tentar explicar grosso modo, de uma maneira mais acessível (embora tenha muita informação na internet, é sempre bom lembrar a necessidade de se ter um certo cuidado com o que se encontra por aí), afinal o que é e como a psicanálise funciona terapeuticamente falando.

A matéria prima da psicanálise é aquilo que Sigmund Freud (1856-1939), um médico neurologista de Viena, considerado Pai da Psicanálise, chamou de Inconsciente, que é a maior parte da nossa mente, digamos assim, e cujo conteúdo nós não conhecemos, não temos consciência, daí, o nome Inconsciente.

Basicamente, uma das funções da Psicanálise seria trazer para a consciência esses conteúdos desconhecidos para a nossa consciência. Por quê? Porque segundo Freud, as raízes de todos os nossos problemas, e que nos levam a procurar ajuda, estão justamente guardadas no Inconsciente. E por desconhecê-los, ficamos à mercê deles. E qual o problema disso?



O problema é que temos pensamentos, desejos, intenções, traumas, medos, crenças, fantasias, que são armazenados no nosso Inconsciente desde quando éramos bebês, e que vão se manifestar na forma de sintomas (os mais variados, como ansiedade, tristezas inexplicáveis, e até mesmo doenças físicas), porque foram reprimidos em algum momento, de alguma forma, e esses danadinhos desses conteúdos querem vir à tona sem pedir licença para nós. Daí que temos o que podemos chamar popularmente de angústias, sentimentos que não conseguimos explicar, que nos incomodam e que nos levam a procurar ajuda através de uma terapia.

Isso que eu chamei de “sintomas” pode ser traduzido pelas queixas mais comuns que levam as pessoas a procurar ajuda (não no início do problema, mas geralmente quando não se aguenta mais!) como por exemplo: não me dou bem como minha mãe (ou pai, filho, irmão, marido, chefe etc.), tenho medo de falar em público, me sinto inseguro no trabalho, não consigo um emprego decente, tenho dificuldade de me relacionar emocionalmente, meus namorados (ou minhas namoradas) me traem, só atraio pessoas abusivas, enfim... a lista é imensa!

Não quero me estender muito, nem entrar em muitos detalhes, afinal, o paciente não precisa estudar sobre Psicanálise para fazer sessões de psicanálise, mas, basicamente, Freud identificou duas estruturas psíquicas principais entre os seres humanos: uma onde o sujeito nem realiza seus desejos, nem os abandona, pelo contrário, esconde-os, reprime-os, e outra onde ele sequer possui desejos porque está psiquicamente alienado ao desejo do Outro.

Claro, que tudo isso são processos inconscientes e por isso mesmo é que os "reprimidos" vão sempre tentar furar a barreira da censura e "aparecer" disfarçados em sintomas, ou em sonhos, atos falhos e todos aqueles outros “problemas” que eu citei acima.

Bom, mas aí você pode perguntar: "mas se reprimir esses conteúdos lá do Inconsciente causa tantos problemas, não seria então mais saudável realizar TODOS os nossos desejos???”.

Eu diria que, embora, os noticiários, principalmente os policiais do tipo "espreme sai sangue", nos deem a impressão de que de fato as pessoas estão por aí realizando todos seus desejos, principalmente os mais violentos e perversos, de forma alguma podemos pensar que não os reprimir seria a solução. Se realizarmos todos nossos desejos a civilização vai pro brejo! Meio que é essa a sensação que a gente tem, não?

É tanta violência, é tanto descontrole...



Por isso, a proposta da psicanálise para se ter uma vida saudável não é a de realizar todos seus desejos e sim, de reconhecê-los. Sim, reconhecer que você não é nenhum santinho, que não é bonzinho, certinho, bonitinho, que pode ter desejos inimagináveis, MAS que não vai realizá-los aleatoriamente e que se o fizer, estará por sua conta e risco, ou seja, vai possivelmente arcar com as responsabilidades e consequências de seus atos.

O psicanalista nunca vai te dizer o que vc deve fazer com seus desejos.

Vai apenas ajudá-lo a reconhecer que eles existem. E daí em diante, seguir a vida, com menos sintomas, menos dores, doenças, mais livre de suas próprias hipocrisias...

E agora, se você leu até aqui, deve estar se perguntando: ok, entendi, mas, na prática, como a psicanálise pode me ajudar?

Então, repetindo com outras palavras: toda aquela lista de queixas, ou problemas que levam as pessoas a procurar ajuda em algum momento de suas vidas, possui origem naqueles conteúdos lá do seu Inconsciente, lembra? Que a psicanálise também chama de desejos (como dito mais acima). E que, como você os desconhece porque são inconscientes, é papel do analista ajudar você a descobrir quais são e a olhar para esses conteúdos excluídos do seu Consciente (até porque se fossem conscientes e se você desse conta deles não precisaria de ajuda, certo?) para que você possa administrar seu dia a dia de uma maneira mais saudável e produtiva.

Repito: o analista não vai fazer milagres, não vai te dar conselhos, não vai te dizer o que tem de ser feito. Mas vai estar ali, presente em todas as sessões, apto e disposto a te ouvir falar tudo o que você quiser, tudo o que vier a sua mente (essa é uma das premissas básicas da psicanálise, que o paciente faça associações livres de tudo que lhe vem à mente durante as sessões).

Mas como o analista vai auxiliar? Ele fica só ouvindo??? Não! Absolutamente! O analista vai pontuar, vai interpretar, vai auxiliar o paciente a perceber o que de fato é a razão de seu incômodo, vai auxiliar o paciente a se perceber, a perceber a realidade em que vive, a perceber que é capaz de interferir e mudar a sua realidade, de modo que num determinado ponto do processo analítico (sim, é um processo e não é curto!) o paciente poderá dizer: nossa, isso faz todo o sentido; ou: puxa, nunca tinha pensado por esse ângulo; ou ainda: percebi que talvez eu também seja parte do problema do qual me queixo...

Enfim, cada caso é um caso e só é possível entender “como funciona” de fato se submetendo à análise.

Normalmente, as sessões acontecem semanalmente, com duração de 45 a 50 minutos aproximadamente. Atualmente, só estou atendendo na modalidade on-line aqui pela plataforma Guia da Alma, através das parcerias das empresas com a própria plataforma, ou com a parceria com a empresa Gympass. Mas também é possível me contatar direto na plataforma, caso a empresa onde você trabalhe não seja atendida por essas duas possibilidades.

E agora que você já sabe um pouco mais sobre o que é a psicanálise, que tal agendar uma sessão? Lembrando que quadros de depressão e ansiedade talvez sejam atualmente os de maior demanda, mas a psicanálise funciona muito bem também para pessoas diagnosticadas como borderline, transtornos afetivos bipolar, transtornos alimentares, TDAH e outros transtornos de ordem psíquica e emocional.

(Texto originalmente publicado do site Guia da Alma em 21 de junho de 2023)

https://guiadaalma.com.br/psicanalise-freudiana/

 

sexta-feira, 30 de julho de 2021

De como saber lavar roupa e outros pré-requisitos para reafirmar sua autoestima



Antigamente, antes da invenção da máquina de lavar roupas, e logo depois da libertação dos escravos, essa atividade requeria não só braços fortes como pernas também. As mulheres eram obrigadas a caminhar alguns quilômetros até encontrar um rio ou ribeirão de águas limpas, carregando tinas ou bacias abarrotadas de roupas delas próprias ou de suas patroas.

Hoje em dia, porém, mais braços e cérebro do que pernas - afinal, você não precisa mais ir a pé até o riacho mais próximo carregando uma bacia lotada, até porque também não existem mais riachos com águas limpas nos grandes centros urbanos.

Braços, porque as secadoras de roupas (que reduzem em 100% o trabalho de pendurar e depois recolher as ditas cujas) não são assim exatamente produtos tão acessíveis, mesmo às classes emergentes. E você vai precisar dos seus membros superiores para colocar as peças na máquina, tirá-las e pendurá-las. Haja braço!

A ideia desse post é deixar claro para quem não sabe que, quando uma mulher diz, hoje em dia, que vai lavar roupa, não é, ainda, uma atividade assim tão simples como imaginam alguns seres, principalmente os do sexo oposto! Sim, mais da metade da população do planeta ainda delega as tarefas domésticas para as mulheres por mais que essa informação lhe soe antiga e grotesca.

Duvida? Dê uma olhadinha na reportagem do próprio IBGE: Em 2019, 146,7 milhões de pessoas com 14 anos ou mais de idade realizaram afazeres domésticos no Brasil, o equivalente a 85,7% desta população. O percentual de mulheres que realizam esses afazeres (92,1%) ainda é bem mais alto que o dos homens (78,6%). Em 2018, esses percentuais eram 85,6% (total), 92,2% (mulheres) e de 78,2% (homens), com variação de 0,4 pontos percentuais na taxa masculina. 

(https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27877-em-media-mulheres-dedicam-10-4-horas-por-semana-a-mais-que-os-homens-aos-afazeres-domesticos-ou-ao-cuidado-de-pessoas#:~:text=Em%202019%2C%20146%2C7%20milh%C3%B5es,homens%20(78%2C6%25).

Muito bem, agora que você se inteirou da realidade (e nem precisou usar uma agência de checagem), voltemos ao tema deste post.

Primeiro passo: providenciar um local para o armazenamento temporário das roupas usadas.

Um cesto desses de plástico ou de vime, encontrados em qualquer supermercado de bairro, é suficiente. De preferência com tampa para evitar a desagradável visão de meias e outras peças encardidas e, muitas vezes, mal cheirosas. É.... lidar com roupas usadas alheias não é tarefa para iniciantes, não. Requer anos e anos de aprendizagem e treinamento intensivo!

Você verá que, mesmo tendo um local adequado para armazenar as roupas usadas o risco de encontrá-las jogadas pela casa nos lugares mais incríveis, tais como escostos de cadeiras, no chão, atrás de portas, e até debaixo de camas ou embaixo das almofadas do sofá, é iminente!. Sugiro que os membros da residência sejam orientados a, por exemplo, não colocar meias, cuecas e calcinhas no avesso (aliás, dependendo da idade dos usuários dessas peças, o ideal seria que cada um lavasse as suas), e nem outras roupas porque é um retrabalho insano desvirar camisas, blusas e calças compridas deixadas no avesso.

Muito bem, vamos então ao ato de lavar em si, que é o...

Segundo passo: Se possível, estipule alguns dias da semana para a lavagem das roupas, por exemplo, roupas de cama e banho num dia, e as demais peças, em outros. Lembre-se: se você não tem secadora, nem quem passe as roupas pra você, ainda terá de administrar seu tempo para essa tarefa insana que é passar roupa, bem como todas as outras!

As máquinas de lavar aliadas aos bons sabões exclusivos para lavagem de roupa costumam ser bem eficientes. Em geral, se você seguir as recomendações dos fabricantes de uma e de outro, os resultados costumam ser muito bons. Por experiência própria sugiro que evite os produtos em pó e os amaciantes - os primeiros, dependendo da marca e da qualidade podem empelotar e grudar nas roupas, e os segundos têm muita gordura e entopem os mecanismos das máquinas.

É melhor dar um enxágue a mais do que usar amaciante. Porém, se fizer questão do tal cheirinho (e, de fato, alguns produtos são muito bons mesmo) coloque durante o enxágue extra.

O passo seguinte e terceiro é separar as peças por cor: brancas com brancas e coloridas com coloridas. Hoje em dia é muito difícil uma roupa colorida soltar tinta (nem calça jeans faz isso mais). Porém, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém já dizia Jorge Benjor.

Quarto passo: Ajustar os controles da máquina às suas necessidades, nem é tão complicado. Atualmente as máquinas possuem níveis de água e velocidades específicas para os mais variados tipos de roupas e de tecidos, combinados com grau de sujidade. Procure seguir as recomendações que estão escritas na própria máquina e nas etiquetas das roupas, e suas chances de ter prejuízos ficarão bem reduzidas.

Eu costumo colocar as roupas na máquina e partir para outras atividades enquanto a máquina cumpre sua função. Uma lavagem simples costuma durar aproximadamente 30 minutos. Outras podem utilizar uma hora ou mais. Nesse tempo é possível ler e-mails, marcar consultas, regar as plantas, lavar aquela loucinha encalhada na pia, trocar a terrinha dos gatos, enviar um nude sexy pro marido ou namorado, ter aquela DR pelo Whatsapp, ler aquele livro parado em cima do criado mudo, fazer as unhas,  cortar o cabelo, tomar banho... enfim, o tempo é seu, aproveite-o como quiser, pode ser até pegando uma cor na laje!

Quinto passo: Lavadas as roupas, vem a antiga ciência de pendurá-las no varal. Não é tarefa para amadores porque dependendo de como isso é feito você pode marcar a peça e perdê-la para sempre. Regra básica e prática é pendurar blusas, camisas, camisetas, enfim, tudo que tem manga, em cabides. Assim não se corre risco de marcar nada. Vale para vestidos, é claro. As demais peças vá colocando uma ao lado da outra procurando obter um aproveitamento máximo de espaço, já que, hoje em dia, não existem mais aqueles varais enormes nos quintais ensolarados das casas de nossas mães e avós "com suas cercas embandeiradas que separam quintais", como diria Raul Seixas.

Bom, se você tiver um lugar coberto, livre do perigo de se chover perder todo seu hercúleo trabalho, ótimo. Uma preocupação a menos. Mas, se esse não é o seu caso, quando for arrumá-las nos varais ainda terá de "prever" se vai chover antes da secagem ou não. Isso requer um exercício de cálculo funcional inimaginável para o mais modesto dos matemáticos e metereologistas do século 21.

Se isso não for possível, ou seja, se você é dessas pessoas que nem imagina se vai chover ou não quando olha para o céu, se não consegue distinguir um vento que prenuncia chuva de outro qualquer, então nem lave as roupas.

Mas caso você preveja o pior, se for possível pedir para alguém da casa ficar atento e, caso comece a chover, possa recolher as ditas, parabéns! Mas já vou avisando que isso (alguém que as recolha pra você antes da chuva) é muito raro.

Pensou que terminou? Nada disso. Você ainda precisa vencer a sexta etapa desse procedimento praticamente científico que é lavar roupas: saber a hora certa de recolher a roupa. Porque se ela seca ao sol, melhor não deixar esturricar pois para passar dará mais trabalho, consumirá mais energia - sua e a do ferro de passar - e deixará as peças com marcas às vezes, irremovíveis. Se você recolhê-las muito úmidas elas podem ficar com cheiro desagradável se não forem passadas rapidamente.

Percebe como o processo é complexo? Você terá de dominar todas essas informações.

Ah! E outro item importante é saber dobrar as roupas para facilitar a atividade posterior com o ferro de passar.... aquilo que foi pendurado, talvez já possa ir direto para o armário.

É hora de juntar os pares de meias, caso não tenho feito quando pendurou (melhor deixar os pares juntinhos pé com pé, quando for possível encontrar todos, óbvio!), e de separar as peças por usuário: roupa de filho A, filho B, marido, suas etc.

Se você e as pessoas que moram junto desconhecem que a Lei Áurea já foi promulgada  (e a pesquisa do IBGE deixa isso muito claro!) talvez você seja a única habitante da casa responsável por passar, dobrar e guardar nos seus devidos lugares.

Se os usuários das tais roupas tiverem mais de 12 anos de idade (cronológica, claro, porque mental leva um pouco mais de tempo pra alcançar a fase adulta), que possibilite o manejo do arcaico, porém indispensável instrumento "ferro de passar", deixe que cada um cuide das suas, porque, afinal, 90% do procedimento você já fez.

Mesmo assim, as roupas de cama, banho e cozinha provavelmente vão sobrar pra você (mais ou menos como ocorre com a lavagem de louças: misteriosamente as panelas ficam de presente para a dona da casa e eu ainda vou comentar aqui sobre a incrível arte de lavar louça e o prazer de ver sua cozinha organizada).

Agora, meus amigos e minhas amigas que me acompanham nesse blog: quanto vale esse trabalho? Se você vivesse disso, quanto cobraria? Estou me referindo apenas a cuidar das roupas. Não estou nem falando das outras atividades que compõem o trabalho doméstico tipo: limpar (chão, parede, portas, janelas, azulejos, lustres, garagem, calçada); recolher (lixo da cozinha, banheiros, geral, de cachorro, gato, passarinho); preparar refeições (café da manhã, almoço, jantar, lanches, guloseimas, controlar dietas etc): abastecimento (elaborar lista de compras); manutenção (verificar e providenciar a troca de lâmpadas, fechaduras, verificar a necessidade de pintura, a existência de vazamentos, compra ou reposição de louças, copos, talheres, roupas de cama, banho, cozinha, roupas pessoais dos membros da família); saúde (perceber se algum dos pets está doente e levá-lo ao veterinário, dar os medicamentos na hora certa; idem para filhos e companheiros (as))...

E ainda há aquelas(es) que enchem o peito pra falar das conquistas feministas do século 20...

Ah! E, claro, além dessa aparentemente simplória atividade doméstica não ser nem reconhecida nem remunerada, muito provavelmente você, mulher, deve ter de contribuir com o partner desenvolvendo alguma outra atividade remunarada em algum outro lugar pra trazer grana pra dentro de casa, ajudar a pagar as contas e ainda arrumar tempo pra ir à esteticista, academia, cabeleireira, ao shopping, dentista, médico...pra estar em forma e saudável, linda e maravilhosa, olhar no espelho e dizer: bonitona! Você é foda! Só pra não ter de ouvir algo do tipo: você é SÓ dona de casa?

Viva a independência feminina!!!!!


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A CLARIDADE ESTÁ NA OBSCURIDADE (destituição subjetiva, provérbios e jogo de significantes)



EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA SOBRE TUDO

EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA SOBRETUDO

EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA SOBRE

EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA SOB

EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA S

EU NÃO TENHO OPINIÃO FORMADA

EU NÃO TENHO OPINIÃO 

EU NÃO TENHO 

EU NÃO 

EU 

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O real não está onde se espera.

Não na guerra, mas no vidro quebrado.

Não na doença, mas em um esboço de dor.

Naquilo que está relacionado com o furo, com a falta, deficiência.

No "desser" e não no ser.

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O real está na falta.

A claridade está na obscuridade.

Um termo pode significar seu contrário: oposição entre ideia e coisa.

"Toda palavra é uma ideia, toda ideia é uma coisa, toda coisa é uma palavra" (O Desejo e sua Interpretação, pág. 421).

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"Devido ao fato de o significante ser polissêmico é que o sujeito pode sustentar além daquilo que ele acredita querer dizer, e com as mesmas palavras, um discurso completamente diferente".

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"As dores Imaginárias", em O Guerreiro Aplicado, de Jean Paullhan

O ICs reúne os contrários e representa-os em um só objeto (Freud)

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Conceito de falo: 

em Freud esse conceito permite a equivalência de termos aparentemente díspares, como a criança e as fezes.

Funciona como significante do desejo, tanto em um sexo como no outro (enquanto não se reduz ele próprio a um órgão).

é símbolo, no ICs, tanto do interdito como do desejo,

A cada vez, reúne os contrários.

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A Psicanálise leva o sujeito ao encontro com um objeto que constitui, para ele, o real, um objeto certamente bizarro o bastante para que Lacan tenha precisado inventar-lhe um nome: objeto a.

Eu sou objeto a? O objeto a sou eu.

Essa descoberta tem um efeito - destituição subjetiva: o sujeito não é o que imaginava, não é o que pensava,

ELE É ONDE NÃO PENSA

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em "O Guerreiro aplicado" - perlaboração - parágrafos curtos, fragmentados, frases transparentes, pelas quais pode passar a lua.

"A condição da força sustenta-se em uma certa fraqueza".

Onde creio que minhas dores sejam imaginárias, que as invento, dou-me conta de que elas são reais.

Elas me sentem quando eu, na verdde, acreditava que as sentia.

Onde acredito ter ideias, são as ideias que já me elaboraram: sou feito."

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É no assujeitamento que o sujeito pode apreender-se. É nessa destituição, nessa falta a ser, que ele pode, finalmente, encontrar sua realidade: acreditava-se ativo, era passivo; apreendendo o que o constituía sua passividade, pode, enfim, agir.

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Pudor - qualidade para os analistas

Pudor é, em primeiro lugar, uma recusa.

É pudico o homem que mantém à distância suas emoções, sua vontade, seus desejos. Que os trata pelo mistério, sendo belo, dissimula seu corpo; forte, sua potência; enamorado, seu desejo.

Seria bom que o analista também fosse pudico.

Em que sentido?

Não demonstrando seus sentimentos: isso é fácil, ele o aprendeu e chama de neutralidade, esse seu ar de não se deixar abalar; não exibir muito seus pensamentos ou suas opiniões, assim como para qualquer pensamento que o atravesse, antes mesmo de produzi-los. Então, talvez o mais difícil e, ao mesmo tempo, o mais essencial, seja tampouco exaltar em si próprio o assujeitamento.

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A dor sente-me e o significante comanda-me.

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"A experiência do provérbio e o discurso psicanalítico".

"Désêtre" (des-ser), neologismo introduzido por Lacan para dar conta da queda do sujeito suposto saber do lado do analista como correlato da destituição subjetiva do lado do analisante.

Trata-se da queda da consistência (do ser) do analista na situação de fim de análise e passagem do analisante para a posição de analista. Esse termo é empregado por Lacan no discurso proferido  sobre o passe na École freudienne de Paris, em 1967.

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"A experiência do provérbio e o discurso analítico".

A essência da linguagem é o mal-entendido (o mal sabido?).

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A pulsão e o fantasma são dois intermediários. Entre o inconsciente e o consciente quais são

as leis que presidem a formação e a estruturação da pulsão e do fantasma?

o artigo "As lembranças encobridoras", é pela virada ao avesso que Freud estabelece o "fantasma" por trás da lembrança, "levar flores a uma jovem", significando "tomar-lhe sua flor, deflorá-la".

Da mesma forma, a interpretação do fantasma clássico "bate-se em uma criança" gira em torno da virada ao avesso do GESCHLAGEN [bater], um pouco como se aplicasse o provérbio - "quem ama bem castiga bem", ou seu inverso - "quem bate muito gosta muito, ou ainda, "quem bate bem beija bem."

Freud diz: "...o estudo dos provérbios não seria o último a nos esclarecer a respeito do virar ao avesso",

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metáfora: analisante mulher tem um medo obsessivo do que pode sair da boca do analista - o pênis? ele interpreta. Ela rechaça, até que ele cita um provérbio japonês: "o cego não tem medo de serpentes".

"O nervo da metáfora está na substituição como tal" e não nos termos que são substituídos um pelo outro."

Assim, no paciente o desejo acha-se "reconhecido como tal, i.é., reconhecido sem ser conhecido."

a diferença entre "você não quer ver a verdade" e "o cego não tem medo de serpentes" é a diferença entre o imperativo "você deve saber" e o convite "você pode saber",

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Enquanto insistia em fazer sua paciente admitir sua interpretação, o analista mantinha com ela uma relação dual. A relação imaginária do eu (MOI) com o outro, constituía uma barreira para que surgisse o que quer que fosse do ICs.

Para que tal possibilidade seja aberta é preciso ir além do eu (MOI) assim como do VOCÊ. O ICs como discurso do Outro tem essa dimensão que (Moustapha) Safouam designa como dimensão do ELE.

Porém, é inessencial que seja a enunciação de um provérbio que opere esse apagamento da pessoa do analista, correlativo de um discurso que não se dirige mais a um outro, mas ao Outro?

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questão essencial para um psicanalista: " a pressão paradigmática" - Para Octave Mannoni (A elipse e a barra) trata-se de saber como funciona efetivamente, na análise, o significante com seus equívocos, suas próprias leis de homofonia e o que elas induzem.

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Paciente cuja esposa chama-se Laurence e a irmã Florence acha que não  há mais semelhança entre elas do que entre um OEUF (ovo) e um BOEUF (boi).

Para Mannoni o importante é que quando o paciente pronuncia essa frase, é que a homologia das relações, por um lado entre oeuf e boeuf e Laurence e Florence.

Não é isso que surpreende o analisante e sim o provérbio - Quem rouba um oeuf rouba um boeuf certamente ele já havia notado a semelhança entre os nomes sem dar a isso a devida importância e, ainda desta vez, sem dúvida, não teria sido surpreendido pela semelhança significante, pela analogia literal, se não fiosse o provérbio.

"o jogo com os significantes não se manifesta no discurso neurótico senão quando algo de recalcado é posto em questão (se quem rouba um oeuf rouba um boeuf, quem deseja Laurence pode muito bem desejar Florence).

O sentido de um provérbio não é apenas seu sentido aparente, depende do contexto em que foi empregado.

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Provérbio - é preciso lembrar não da imagem, e sim da frase inteira, como se ela fosse apenas uma única palavra.

O provérbio só funciona bem com a condição de não ser tido por provérbio.

Cada provérbio deveria ser tomado como um significante, enigmático enquanto tal e em relação ao qual toda significação só poderia ser secundária.

Todo o problema seria ver como os sujeitos falantes - os falaseres - podem acomodar-se com esse significante, tomando-o por sua conta, comentando-o, dando-lhe sentido.

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O que acontece quando um sujeito choca-se  com o significante? O que ele percebe em primeiro lugar?

- que está dele excluído (faltam peso e valor às suas palavras).

Há "no interior da língua comum"..."uma segunda linguagem esotérica".

Linguagem comum - poderia estar imajada, mas a imagem, inessencial, jamais é percebida como tal. Quando sabe diz que "o boi morto não se defende das moscas", ele não se compara a um boi, não coloca em relação a sua própria imagem a um boi morto. Onde não se está na ordem da significação, todo imaginário é neutralizado.

(trecho de anotações, não sei de que aula, seminário ou estudo, nem de quando. É curioso porque, em geral, costumo anotar datas, nomes e locais...mas, para não perdê-las, registro-as aqui. Poderá ser útil a mais alguém. A mim, me foi bastante.)



segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O que acontece quando você se enamora?

 
Basicamente Freud vai dizer que cada indivíduo possui um jeito particular de se relacionar eroticamente, jeito esse resultado de algo inato nele mais as experiências e influências dos primeiros anos, isto é, "nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela (A Dinâmica da Transferência - vol. 12 - página 111 - Obras Completas Imago).
Ao longo de sua vida o indivíduo vai repetir esse padrão de enamorar-se que é o padrão aprendido lá atrás com sua mãe e "que decerto não é internamente incapaz de de mudar, frente a experiências recentes" (idem pág. 111)
 
Uma parte desses impulsos do "enamorar-se - que determinam em nível consciente, faz parte da realidade. Outra parte, porém, fica retida, afastada da personalidade consciente e da realidade, e impedida de se expandir, a não ser pela fantasia, ou permanecem totalmente no inconsciente, de modo que é desconhecida pela consciência da personalidade.
 
Se a necessidade que alguém tem de amar não é inteiramente satisfeita pela realidade, "ele está fadado a aproximar-se de cada nova pessoa que encontra com ideias libidinosas antecipadas; e é bastante provável que ambas as partes de sua libido, tanto a que é capaz de tornar-se consciente quanto a inconscinete, tenham sua cota de formação dessa atitude."

É importante observar que Freud está nos avisando, grosso modo, do seguinte: seu paciente vai repetir com você, analista, as formas dele de amar. A isso Freud chamou de "transferência, ou seja, a pessoa transfere para o analista o amor que possui e, de certo, .espera que seja retribuído.

E, claro, o bom analista, bem analisado, saberá manejar essa demanda para que isso não se transforme numa contra-transferência, sempre norteado pela ética psicanalítica.

domingo, 2 de agosto de 2020

O que atrai é o mesmo de separa

"O que é o amor?

E o que é o sexo?

Não são parte do mesmo fenômeno, muitas vezes antagônico?

Quando nascemos, ocorre uma mudança para pior. É o fim da harmonia. É a expulsão do Paraíso, nosso Big Bang foi no encontro do espermatozoide com o óvulo.

Levamos um tempo, às vezes a vida toda, para nos adaptarmos ao novo mundo cheio de ameaças, desconforto e desamparo.

E aí começa a sensação de que para que tenhamos algo parecido com aquele aconchego uterino precisamos nos acoplar (de cópula mesmo) a uma outra pessoa, que vai substituir o primeiro objeto de desejo de todos nós: a mãe!

Nossos amores giram em torno disso. Se nosso companheiro não nos proporciona esse "aconchego", conforme essa memória uterian, trocamos por outro que, supostamente, fará essa função, e vamos trocando sempre que entendermos que o outro não nos dar aquilo que entendemos sermos merecedores.

O amor é um remédio para a sensação desagradável de desamparo. É a sensação agradável que deriva do fim da dor ou do desamparo.

"Os homens se atrapalham muito quando tentam juntar sexo com amor. O que deixa as mulheres perplexas!"

Não se pode tomar a sexualidade como referência da qualidade da relação. A maior parte dos casais que se dão bem têm uma vida sexual relativamente pobre. Igualmente não se pode tomar a sexualidade como indicativo do que vai acontecer no futuro.

O amor deriva da admiração (Platão).

O problema é que os critérios dessa admiração vão sofrendo alterações com o passar do tempo (ou da cultura etc, entre os islâmicos os critérios são uns, católicos, outros, asiáticos, ocidentais, etc)

O que pode acarretar o colapso amoroso da relação a qualquer instante. A pessoa é legal, mas aquilo que eu achava legal não acho mais. O sentimento amoroso vai despencar pela mesma razão que um dia ele subiu.

Vou me desencantar pelas mesmas razões que um dia me encantei.

E, ATENÇÃO! quanto mais baixa minha autoestima mais vou me encantar pelo meu oposto!

Aquela história de que os opostos se atraem, como se isso fosse algo positivo, é propaganda enganosa! Muita atenção!

O fim do amor não é necessariamente o fim imediato do relacionamento conjugal. Existem milhares de casais, principalmente na maturidade, que con vivem relativamente bem, sem necessariamente se amarem e muito menos fazerem sexo.

Ah mas eles nunca vão se separar? Pode ser que sim, pode ser que não.

A separação, se acontecer, vai acontecer em decorrência do mesmo motivo que houve o casamento."

(este texto são anotações minhas feitas durante algum seminário do qual eu não me lembro o nome, nem quem o proferiu, por isso coloquei entre aspas. Sorry. Fazendo umas arrumações em armários, cadernos, livros etc encontrei várias anotações como essa, sem data, sem referências precisas... e para que elas não se percam completamente vou compartilhar aqui e no meu blogue que anda meio abandonadinho. LMR)


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Toda mulher sabe sempre duas coisas

Há 35 anos nascia Patrick. Gertrudes tem certeza de que ele foi concebido no dia 12 de junho de 1985. Por quê? 
Primeiro porque toda mulher sabe sempre duas coisas: quem é o pai (já dizia Freud...) e quando fica grávida. 
Por isso ela achava muito bizarras as cenas de novelas ou filmes onde a mocinha desmaia e...pimba! "descobre" que engravidou. 
"Ora bolas", dizia Gertrudes para as filhas adolescentes, Emma e Monique, do primeiro casamento: "Primeiro sinal de gravidez é a falta da menstruação, óbvio! E o principal: se você transou sem proteção, ou seja, sem nenhum tipo de contraceptivo, suas chances de engravidar são de 99%". Simples assim, raciocinava a pragmática dona de casa de quase 40 anos.
Na noite em questão, conta Gertrudes que o pai do Patrick chegou de surpresa. Como assim, chegou de surpresa? 
Explico: na época, a família Durand morava numa pequena cidade no interior e Jean Pierre, pai de Patrick, passava a semana toda na capital a trabalho. Só ia para casa nos finais de semana. 
Como era Dia dos Namorados, porém, ("uma quarta-feira, me lembro até hoje", disse) o romântico marido apaixonado resolveu aparecer de surpresa e ainda trouxe na mala uma lingerie sexy de presente para sua Gertrudes. Gertrudes que, nesse tempo, havia justamente abolido o uso de pílulas anticoncepcionais depois de um escândalo envolvendo um grande laboratório farmacêutico que vendia pílulas falsas. 
Além disso, como ela se protegia dessa forma há mais de 10 anos, havia decidido, por orientação médica, a utilizar outro tipo de contraceptivo, menos tóxico, como a camisinha.
Acontece que Jean Pierre, assim como 99% dos homens da sua geração, odiava usar camisinha. E ela, assim como 99% das mulheres da sua geração, das anteriores e das posteriores, tinha uma certa dificuldade em dizer "não" para o desejo do outro. 
O resultado dessa combinação faz aniversário hoje.

"Eu soube na hora: fiquei grávida", lembra Gertrudes com um sorrisinho maroto. "Duas semanas depois, o primeiro e fatídico sinal: nada de menstruação". 
Mas, mesmo não tendo planejado, diz ela que ficou feliz e que teve outra certeza: a de que desta vez era um menino! "De cara pensei no nome: Patrick".
De fato, a convicção era tanta que contou a novidade para as meninas antes mesmo de receber a confirmação do laboratório sobre seu estado interessante:"Disse que elas teriam um irmãozinho, o Patrick". Segundo ela, as garotas vibraram de alegria! 
Emma, a mais nova, teria perguntado: "Mamãe, mas como você sabe disso tudo?". 
Gertrudes teria respondido: "Não sei como sei. Só sei que sei".
Dessas certezas antissocráticas que só as mulheres possuem...    

domingo, 20 de outubro de 2019

De volta para o futuro

Nem me lembrava! Repertório Feminino tem DEZ anos.


Comecei aqui em julho de 2008. Acabara de ser demitida de um hospital onde trabalhei por longos 18 meses e havia começado numa loja de objetos de decoração como vendedora. Pertinho de casa. Num dos primeiros textos eu comentava exatamente sobre as delícias de trabalhar perto de onde se mora.
Em outubro fui pra Editora Três e lá fiquei até abril de 2015. Nesse meio tempo fiz uma formação em psicologia analítica e dei início a outra de psicanálise, ofício que exerço atualmente praticamente em tempo integral.



Fiz vários outros cursos, mas de verdade, hoje vivo de psicanálise e complemento minha renda com alguns frilas de revisão.


Em 2015 fiz minha primeira oficina de escrita literária na Casa Mário de Andrade com o escritor Luiz Bras.

A oficina acabou resultando numa coletânea de contos do gênero literatura fantástica, o que dá para perceber a partir do próprio título da obra:
Um Circo de Percalços Falsos: Guia para a bibliotecária das galáxias


Era o coletivo literário As Lontras Daquela Hora, que foi nascendo a partir da contribuição de todos os escritores. E quando digo todos não é apenas uma expressão de retórica. De um conto surgia a ideia de outro, aproveitava-se o personagem ou seu dilema, e assim foi-se desenhando o cenário das desventuras de Manu, da Velha, dos fantasmas da biblioteca Mário de Andrade...aliás, minha participação foi com o conto  "Depois eu conto" sobre a estátua Literatura que fica na entrada do prédio, testemunha do entra e sai de viciados em livros, em estudos, em pesquisas, em mundos além da imaginação.

Dessa experiência criei o outro blog Pajelança das Letras onde publiquei toda a minha produção realizada a partir das atividades da oficina.

Depois, publiquei aqui igualmente, porque bem ou mal este espaço tem muito mais visibilidade do que o Pajelança.

Em 2018 fui convidada pela escritora Cleonice Alves Lopes-Flois a participar da Segunda Coletânea de Prosa do Mulherio das Letras. E aí eu participei com o conto "A Bibliotecária Sonâmbula", escrito na oficina da Casa Mário de Andrade.


E agora, ontem, 19 de outubro de 2019, participei do lançamento da coletânea Realidades Voláteis & Vertigens Radicais, gênero ficção científica, novamente sob a coordenação de Luiz Bras, um defensor figadal da produção brazuca desse estilo pouco incentivado aqui em terras brasilis.


Foi também resultado de uma oficina organizada por ele, a Escrevendo o Futuro,  da qual participei entre maio e agosto de 2018, que me fez sair de minha zona de conforto, estudar, pesquisar, ver filmes... e na verdade eu descobri que já gostava desde criança de ficção científica, pois era fã de Perdidos no Espaço, Star Treck e a literatura de Júlio Verne que mistura premonição do futuro (a FC na verdade é um pouco premonitória) com literatura fantástica, enfim, quando mostrava minha produção para o grupo descobri que estava em casa!


Parecia que sempre havia escrito aquele gênero, modestamente falando, por favor, porque tenho muita consciência de minhas limitações, limitações impostas principalmente por minha imensa capacidade de me autossabotar, indisciplina etc (sim, travo brigas imensuráveis todos os dias comigo mesma, aliás, se mais alguém aqui sofre desse mal recomendo que leia urgentemente o livro de Stefen Pressfield A Guerra da Arte, vou deixar o link do PDF pra quem se interessar).

Resumindo, todo esse blábláblá é para anunciar que Repertório Feminino está de volta. Ah! pra quem tem dúvidas, todos os meus contos sempre abordaram temas sobre a feminilidade, então não é à toa que meu blogue tem esse nome
que, diga-se de passagem, surgiu dentro de uma das minhas sessões de análise pessoal.

Vou publicar aqui os contos da fase FC (que são poucos) e está nos meus planos dar continuidade, ou dar mais vida, à minha personagem Oyaak, do conto de Realidades Voláteis e Vertigens Radicais.

Por quê?

Porque as estatísticas do Blogger me informaram que apesar da não produção desde 2017 (!) meu Repertório sempre tem leitores, alguns localizados a distâncias consideráveis no planeta, quiçá em outras galáxias!!!

Até!!

https://lookaside.fbsbx.com/file/A_Guerra_da_Arte_Steven_Pressfield.pdf?token=AWw1GKQMtOiqr7IwXlZ8b9gJn9I1n05dEi_94UPxqpNQrrDW0D3tb-GhsZ8ehB6kljvrGiDmJ1fElmebqJgSAteUcMTr18REI_vqrBh7ZPlgm4_UUS1I829yHFtH6hVsFllEJgJKt2mMjFal8mRMQDscdvwz2XhvM-sIBC6PFOStHA

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Sobre EDUCAÇÃO ALIMENTAR Por que não consigo atingir meus objetivos?

Se você está em tratamento nutricional e não está conseguindo obter o resultado desejado este texto é para você. 
Você já deve ter lido, ou ouvido falar, ou mesmo assistido a dezenas de vídeos de coachs e gurus mundo afora sobre processos de autossabotagem e modos milagrosos de se “curar”.
Se você já fez tudo o que lhe indicaram e mesmo assim não atingiu suas metas de emagrecimento,  já deve ter se perguntado por que não consegue sair desse processo.
Comportamentos de autoboicote são comandados pelo seu inconsciente, ou seja, você não tem nenhum controle sobre eles... pelo menos até que se tornem claros pra você!
Por isso não basta boa vontade nem repetir autoafirmações "milagrosas".
Não existe um truque, uma dica sensacional que apenas aquele coach tem (e que vai cobrar bem caro para lhe dar).
Existe um processo de análise que, contrariando algumas crenças errôneas, nos faz de verdade ganhar tempo para viver nossa vida mais intensamente.
Comer de forma exagerada – principalmente alimentos ou bebidas que nos dão um prazer a mais, como chocolate, doces e bebidas alcoólicas – pode ser uma forma de compensar outros tipos de prazeres que pensamos não termos direito. Comer está diretamente associado ao prazer. Se eu acredito (inconscientemente) que não tenho direito a outro tipo de prazer (como o sexual, por exemplo) posso estar compensando comendo de forma exagerada!
Se neste momento você não está conseguindo ser disciplinado o suficiente para conseguir os resultados de sua educação alimentar e utiliza “desculpas” do tipo “é só um pedacinho/golinho, eu mereço, hoje é sexta, depois eu compenso...” atenção: Pode ser que você esteja vivendo um momento de autossabotagem!
Para a psicanálise o corpo é a expressão do psiquismo, ou seja, aquilo que sentimos, pensamos e, não elaboramos bem, vai acabar aparecendo no corpo de um jeito ou de outro.
Por isso o excesso de peso pode sim ter causas de ordem emocional, que às vezes só a educação alimentar não consegue resolver e que você sozinho, por mais que se esforce, não consegue também.
Existem muitas razões para alguém comer em excesso que podem ter sua raiz no seu inconsciente. 
E por que a psicanálise pode te ajudar? 
Porque todos temos um desejo, um querer, contra o qual lutamos ou do qual nos distanciamos quando os sintomas nos incomodam. E uma análise permite reconhecer quais são os sintomas e atenuar o sofrimento para que se possa liberar aquilo que desejamos de fato. E o que é esse querer, esse desejo, senão a nossa própria vida em todos os níveis? Você pode se perguntar por que deixou sua saúde de lado...por que não SE CUIDA....
Como cheguei até aqui?
Como tenho levado a minha vida? O que me incomoda?
E não são as respostas que te farão desejar saber mais sobre você mesmo e como sair desse círculo vicioso de autossabotagem.
São os questionamentos, as dúvidas!
Este texto sobre educação alimentar é só uma isca! 
A psicanálise ajuda em todos os setores da nossa vida: relações amorosas, relações parentais, pessoais, profissionais...
E se você deseja saber mais... está na hora de começar sua análise pessoal!
:)
(texto originalmente publicado em https://www.facebook.com/lourdesriverapsi/)

SOBRE O CIÚME

Freud afirma que "o ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais." 
E alerta:" Se alguém parece não possuí-lo, justifica-se a inferência de que ele (o ciúme) experimentou severa repressão e, consequentemente, desempenha um papel ainda maior em sua vida mental inconsciente".
Ou seja, aquelas pessoas que costumam dizer que não são ciumentas...sinto muito informá-las, mas sim, vcs são ciumentas.. 
Freud divide o ciúme em três categorias - ou camadas ou graus, para manter os termos originais.
O primeiro nível seria esse que ele chama de "normal", mas que, "não é, em absoluto, completamente racional". Ou seja, por estar enraizado no inconsciente (sempre) e ser uma continuação das primeiras manifestações de ciúmes que temos em relação aos nossos pais, principalmente em relação à mamãe, pode levar às famosas e intermináveis DRs em que o enciumado cobra do seu objeto de amor, geralmente, mais atenção, etc, exatamente como fazia com sua mãe por ela dar (na sua opinião) mais atenção ao irmão mais velho, ou mais novo, ou ao pai, hoje em dia, ao trabalho.
Parece simples, mas não é. Tomado pelo ciúme, ainda que nesse primeiro nível, o sujeito pode imaginar situações envolvendo seu (sua) amado (a) que não correspondem exatamente à verdade. Às vezes, ele (ela) acerta em suas desconfianças. E então... há uma quebra da confiança, e o amor é posto à prova. 

Numa primeira vez é possível superar a crise. Mas quando a quebra de confiança se repete indefinidamente e as promessas de mais atenção não se cumprem, dificilmente o amor resistirá.
E aquelas pessoas que dizem que não têm ciúmes?
Nesse caso, Freud vai dizer que se trata do ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, ou seja, essas pessoas já partem de sua própria infidelidade (realizada ou imaginada) e, portanto, acreditam que se elas traem, todo mundo trai, portanto, pra quê perder tempo com ciúme? O que elas não sabem é que elas têm tanto ciúme reprimido (lá atrás, pela mamãe, mesma coisa) que encontram alívio às pressões das convenções sociais projetando no(a) parceiro(a) a sua incapacidade de se manter fiel (minha mãe não foi fiel a mim, por que serei a ela??). Se o seu objeto de amor o trair, tanto melhor. Além de comprovar sua teoria, alivia sua própria culpa.
E a terceira camada fica com os absolutamente paranoicos, delirantes que chegam às vias de fato e cometem verdadeiras insanidades em função de seus delírios, parcela mínima da sociedade. Raros estão em análise. Geralmente quem procura ajuda são as vítimas dos seus delírios.
A maioria das pessoas talvez se encaixe no grau um e uma faixa representativa no dois. Não existem estatísticas. Mas o que se vê na clínica é:
- Se uma pessoa da camada 1 se relaciona com um indivíduo do grau 2 teremos conflitos eternos. Até porque a pessoa da camada 1 vai viver reclamando ao companheiro a falta de ciúmes dele - o que pra ela significa falta de amor - sem falar nas checadas de mensagens de celular e outras atitudes de controle que toda pessoa da camada 1 exerce. E o companheiro vai passar a vida acreditando que tudo aquilo é cena e que no fundo seu parceiro o trai, traiu ou trairá, porque afinal, para o tipo 2 ninguém é fiel, a começar dele.
- Se a pessoa da camada 1 se relacionar com outra da camada 1 poderá experimentar do próprio veneno quando o parceiro também fizer sua cena de ciúme. Talvez seja o melhor remédio e a possibilidade de o casal se equilibrar na confiança mútua é grande.
- Quanto ao sujeito da camada 2, ele já se relaciona - simultaneamente - com outros da camada 2 na categoria de amantes - porque todo amante é aquele que projeta a infidelidade no outro e, portanto, trai. E deve ter mais de um, claro! É um tipo bem mais resistente à análise.
O assunto Ciúme não se esgota aqui. É mais complexo. Mas por ora, ficamos assim.
A base para este texto foi o de Freud, "Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo", que vc encontra em Obras Completas - Vol XVIII.

(texto publicado originalmente na minha página do Facebook 
https://www.facebook.com/lourdesriverapsi)

LUTO

Hoje faz um mês que meu irmão, Zezé, morreu. 

Não temos muitas fotos juntos. Uma ou outra quando eu era bebê, ele me carregando no colo. Depois, acho que no casamento dele (eu fui madrinha do primeiro) e no meu (ele foi padrinho do primeiro) e alguns Natais e encontros familiares. 


Esta foto aí foi tirada em 2003/4 não tenho certeza. 
Foi em Foz do Iguaçú numa casa linda onde ele morou com a segunda família. 


Nunca fomos muito próximos, sabe? desses irmãos superunidos? não. Não era o nosso caso.
Mas nos ajudamos sempre que foi possível. Teve um tempo que precisei morar na casa dele com toda minha família e ele me acolheu. Teve um tempo que ele veio pra minha.
Ele saiu de casa muito jovem. Com 16 ou 17 anos foi pra Guaratinguetá servir na Aeronáutica. Depois foi morar no RGS por muitos anos. Nos víamos nas férias. Nos anos 80 ele veio pra SP. Eu fui pra Boituva em 87 e acho que até 96 foi o período que estivemos mais unidos. Praticamente todos os finais de semana ele ia pra minha casa em Boituva. Fim de ano revezávamos: um ano lá, outro cá.
Na última década estivemos bem distantes. Não só geograficamente (ele estava em Mongaguá). Mas era uma coisa assim: não houve uma briga, uma discussão...nada. 

Apenas um distanciamento silencioso. Sem mágoas (pelo menos de minha parte). Nos falávamos por telefone e mais recentemente pelos aplicativos de praxe. Ele sempre muito reservado. Pelo menos comigo. Era a impressão que eu tinha. Diferente daquele Zezé que animava as festas em casa.
Em maio ele me deu uma notícia chata: era sobre a sua doença. Nos vimos algumas vezes nesses últimos seis meses - não tantas quantas eu gostaria -.
Mas a última vez (que eu ainda não queria aceitar que seria a última, embora lá no fundo da alma soubesse) foi decisiva. Houve um olhar. Houve um aperto de mão longo, carinhoso, forte.. ficamos minutos assim, de mãos dadas, mas era um aperto de mão diferente. Um significante de "eu te amo" que acho que eu só disse uma vez, numa carta, quando ele estava havia poucos meses no RGS quando eu tinha uns 15 anos.
Parece que preciso da distância pra avaliar com clareza os sentimentos. A sensação, hoje, é a de que ele simplesmente está distante, meio que como sempre esteve de um jeito ou de outro, mas que a qualquer momento vamos nos ver, ou nos falar.
É isso. Não tive vontade de expor publicamente um mês atrás. Mas agora é possível.
Precisei de um certo distanciamento. De novo.


(texto publicado originalmente no Facebook em 06/12/2017)

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Esquartejando palavras

não precisa entender tanto faz a ordem quando olho pra esses jardins ensimesmados minha vontade é despedaçar palavras cortar em várias partes esquartejar e fazer você engolir fração por fração até ser um inteiro completo desse amor fragmentado que eu teimo em cultivar todos os dias desde sempre desde quando nem havia a luz nem o verbo e se fez a dor que só os poetas entendem e você teima em dizer não existe é coisa do imaginário mas a minha é palpável é sanguinolenta malcheirosa putrefata e está à deriva à tona descoberta e você ignora ou finge e nessa hora salto no abismo desse desejo hermético obscuro inerte como as estrelas já mortas do universo vomitando os excrementos da saudade do seu toque nessa distância de anos luz que faz do nosso amor o mais antigo que invadiu meu coração quando me apaixonei pelas palavras não ditas pelas entrelinhas pelos escaninhos do tempo meu querido meu amigo desde sempre desde antes da criação do cosmos vou te amar aqui e morar em seu coração albergue que abriga todos os desvalidos inclusive eu entrei assim como um sem chão e você me deu de beber dos seus beijos me deu de comer do seu corpo  fui ficando e agora tenho direitos adquiridos por usucapião a sua ração diária de carinhos no café da manhã almoço e jantar petiscos de sexo nos intervalos meu amor talvez o que você nem saiba é que agora seu sangue circula no meu sistema na velocidade acelerada das manhãs apocalípticas do meu entardecer e antes que o sol se ponha definitivamente anote mais uma vez o que fica eu te amo mas não precisa entender tanto faz a ordem quando olho pra esses jardins ensimesmados minha vontade é despedaçar palavras cortar em várias partes esquartejar e fazer você engolir fração por fração até ser um inteiro completo desse amor fragmentado coisa do imaginário desde sempre desde quando nem havia a luz nem o verbo desde antes da criação do cosmos você teima em dizer não existe pelas entrelinhas pelos escaninhos do tempo você me deu de beber dos seus beijos me deu de comer do seu corpo  fui ficando e agora tenho direitos adquiridos por usucapião a jantar petiscos de sexo nos intervalos desse desejo hermético obscuro inerte como as estrelas já mortas vomitando os excrementos da saudade do seu toque vou te amar aqui e para sempre morar em seu coração albergue que abriga todos os desvalidos inclusive eu entrei assim como um sem chão mas não precisa entender tanto faz a ordem quando olho pra esses jardins ensimesmados minha vontade é te amar aqui e para sempre morar em seu coração albergue coisa do imaginário do meu entardecer quando nem havia a luz nem o verbo salto no abismo à deriva vomitando sanguinolenta malcheirosa putrefata quando olho pra esses jardins ensimesmados minha vontade é despedaçar palavras anote mais uma vez o que fica eu te amo

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...