segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Domingos

Minha lembrança dos domingos são boas. Quando criança, tipo 5, 6, anos, meu avô Adriano almoçava em casa domingo sim, domingo não. Porque nos domingo não, quem almoçava era minha tia Viva. Como eles não se davam, intercalavam as visitas. Assim foi durante muitos anos, até quando eu tinha uns 15 anos, quando o vovô ficou doente, veio pra minha casa, pois precisava de cuidados e minha tia trabalhava (e minha mãe, nessa época já estava aposentada) e aí, minha tia aboliu as diferenças e passou a amar o pai como nunca tinha antes. Mas não adiantou muito. Um dia ele morreu, ela chorou muito, deu um belo show no velório, mas já era tarde. Quando ele tinha saúde, decidiu não frequentar os mesmos ambientes que ele - salvo raríssimas exceções, tais como casamentos, batizados, enterros, quando, então, ficava num canto, bem longe dele, não cumprimentava, fingia que ele não existia. Bom, mas eu dizia que tinha boas lembranças dos meus domingos. Então, meu avô sempre chegava por volta das 11 horas trazendo uma caixa de bombons Sonho de Valsa em formato de coração. Até hoje não sei se ele trazia os bombons porque eu gostava deles, ou se que gosto desses bombons até hoje porque meu avô levava a caixinha pra mim todos os domingos. Ele costumava assistir à missa da igreja matriz de São Caetano. Era uma forma de passear um pouco, pegar um ônibus (ele morava no bairro Barcelona e eu, no Santa Paula), ver pessoas, como ele dizia naquele sotaque de espanhol. Ele dizia que era espanhol. Depois, muitos anos depois, descobri que nem meu bisavô era espanhol pois nascera em Santos. E, meu avô era brasileiríssimo, mas havia adotado o sotaque, afinal, era um legítimo Alvarez. No domingo, o cardápio girava em torno de macarrão, carne ou frango assado, maionese e uma sobremesa diferente que a minha mãe pedia para a Ana (a moça negra de Pouso Alegre (MG) que morava conosco) preparar. Sempre tinha uma cervejinha - meu pai não ficava sem, aliás, bebia até demais, mas isso é assunto para outro post - e, naquela época fumar não era politicamente incorreto. Muito pelo contrário. Fumar era charmoso, bonito, bacana. Meu avô fumava um cigarro forte, sem filtro, não me lembro o nome. depois, esse cigarro saiu de linha e aí ele passou a fumar o Continental, mas fazia questão de fumar o sem filtro (porque tinha a versão com filtro). O maço do sem filtro era branco e havia um desenho dos continentes, se não me engano. Antes do almoço nós jogávamos dominó. Ele sempre ganhava. Aí, quando percebia que eu ia perder a esportiva, me deixava ganhar uma rodada. Eu não percebia, claro! Quando comecei a jogar melhor, e pegar os macetes do jogo é que ele me fez a revelação. Depois do almoço, íamos jogar alguma coisa, mas aí todos mundo participava: mãe, irmão, Ana, vô e eu. Meu pai ia ler jornal como desculpa para tirar uma soneca. Era comum lá pelo meio da tarde aparecer alguém pra visitar: um tio, uma tia... e assim, terminava o domingo. Nos domingos que a tia Viva ia lá em casa eu gostava porque ela era minha "ídola". Ela era linda, se vestia muito bem, chique, sapatos e bolsa sempre combinando, sempre de vestido ou saia. O guarda-roupa dela era meu sonho de consumo na época. E ela fumava. Um cigarro francês, charmosíssimo, cuja marca não me recordo também. Mas era sem filtro, como o do meu avô. Nisso, pelo menos, ela combinava com ele. E ela era muito alegre, divertida, tinha sempre uma história interessante pra contar, fazia parte de um grupo de teatro amador, me levava pra assistir aos ensaios, às peças, e eu via tudo, os bastidores, tudo, conhecia os atores, participava das festas, das viagens aos festivais que o grupo participava interior afora...mas isso também pode caber num outro post. Estava falando dos domingos. Talvez volte a comentar outro dia sobre eles.

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