terça-feira, 13 de setembro de 2011

O sapo que virou príncipe, que virou sapo, que virou....

Walkiria me mandou por escrito, a seguinte questão: "Lu, não é mágoa, não é revolta. É uma questão de justiça. As mulheres ganharam um presente de grego com a tal da emancipação feminina, igualdade de direitos ou coisa do tipo que o valha, vc não acha? Com raríssimas exceções, as mulheres hoje em dia têm duas ou três jornadas de trabalho enquanto seus homens (quando elas conseguem ter tempo para um relacionamento estável) assistem passivamente aos seus programas favoritos de televisão.Existem pesquisas sérias que apontam um número astronômico de mulheres chefes de família. Até aí, tudo bem. Não tem uma figura masculina pra ocupar o posto. Eu mesmo, ano passado, quando respondi à pesquisa do IBGE fui recenseada como chefe de família. Olha eu lá na estatística, Lu. Existem mais mulheres tomando conta sozinhas de suas casas e filhos enquanto trabalham e estudam, do que homens nessa mesma situação. Sem falar que muitos homens, estatisticamente, se estudam não trabalham, se trabalham não estudam. Não é piada, não, Lu.
Bom, vamos imaginar como é a vida de mulheres Classe A: têm mensalistas, babás, carro de R$ 70 mil automático, secretária pessoal e às vezes, motorista. Não paga contas, porque é casada com um cara muuuito mais bem resolvido economicamente do que ela. Vai ao cabeleireiro duas vezes por semana, massagista, dermatologista etc etc etc.
A Classe C, assim, tipo eu, Lu, vc sabe, trabalha fora, paga as contas da casa e dos filhos e lava, passa, cozinha, faxina porque é óbvio, não tem faxineira e muito menos mensalista. Uma mensalista consumiria o equivalente a 30% do salário de uma Classe C feito eu. Não tem carro, anda a pé, de ônibus ou de trem.
Ainda que eu sou privilegiada. Tenho um emprego que me permite fazer várias coisas pela manhã. Por exemplo: acordo às 6h, tomo café com meu filho, subo para o quarto dele (pra poder curtir um pouco a gatinha e a cachorrinha que gostam e estavam acostumadas a dormir comigo na minha cama antes de eu voltar a estar casada) mais ou menos às 6h30, faço meditação até mais ou menos 7h30 (com a gatinha e a cachorrinha grudadas em mim!). Aí, posso dormir de novo até às 8h30 (normalmente chego em casa após o trabalho depois da meia-noite, uma duas da manhã quando não três, quatro, então, de manhã sinto muito sono) ou começar a lida: tirar roupa do varal, colocar roupa na máquina, depois no varal novamente, lavar a louça do dia anterior (que muitas vezes dorme na pia, embora tenha pessoas que vivem na mesma casa que chegam bem mais cedo do que eu, mas que, infelizmente, não se sensibilizam com a situação), limpar o fogão, a geladeira, varrer a casa toda, passar pano na sala, guardar todo tipo de coisa espalhada pela casa, arrumar estantes, tirar pó das mesmas (rs, das mesmas é horrível!), abrir e fechar a porta da sala para as cachorras tomarem um solzinho na garagem...Pensar o que vou fazer para o almoço, preparar o almoço (só essa tarefa implica uma série de sub-tarefas como lavar e cortar legumes, lavar grãos, cortar temperos, tomar conta pra que nada fique queimado....molhar e enxugar as mãos um milhão, setencentas e cinco vezes), colocar água nos potes de água das gatas e das cachorras, limpar as caixinhas de terrinha das gatas, limpar o coco das cachorras do chão da lavanderia, recolher o saco de lixo dos banheiros e o lixo orgãnico e colocar o saco na rua. Depois, tomar banho, me arrumar (mais uma série de sub-tarefas), almoçar e sair para o trampo (o que significa andar a pé uns 20 minutos no sol escaldante das 14 horas, ou na chuva ou no frio, até a estação de trem mais próxima). Às vezes também consigo passar roupa, mas aí, não limpo a casa. Então, num dia limpo a casa, no outro passo a roupa. Me sobra muito pouco tempo para fazer o que gosto de verdade que é ler, estudar (tenho uma infinidade de livros começados e não finalizados na cabeceira da cama, livros que preciso estudar para o meu curso de fim de semana, filmes que preciso assistir e analisar, videos....e está lá tudo parado). Preciso aplicar Reiki em mim mesma, treinar as técnicas de radiestesia....mas não sobra tempo, Lu. Ou eu largo a casa. E se largo a casa ela fica lá, suja, empoeirada, as roupas ficam dias e dias no varal, ninguém as recolhe, as que estão no cesto de roupa suja ficam lá, ninguém as coloca na máquina e as limpas para passar vão se acumulando nos cestos respectivos, ninguém passa. Vivemos numa comunidade mas só eu limpo o fogão, só eu limpo janelas, só eu limpo portas, portão, paredes....só eu arrumo armários, limpo armários Só eu coloco roupas para lavar, só eu tiro roupas do varal. Estou com sobrepeso, Lu, engordei pra caramba. Mes into inchada. Preciso emagrecer uns 4 quilos pelo menos. Se isso não me afetasse, tudo bem. Mas me sinto gorda, feia, e envelhecida. Mas que horas vou correr ou caminhar ou me exercitar? Com todas essas coisas para fazer em casa? E se eu for andar, as coisas da casa ficam lá, paradas.
Eu não me incomodaria de fazer tudo isso, Lu, se eu só fizesse isso. Se depois ainda não tivesse de ir até o outro lado da cidade todo santo dia e chegar tarde toda santa noite. Então, chego tarde, cansada e aí não tenho vontade de ler, de estudar. Mas se eu não trabalhar, quem vai pagar meu curso, meus livros? o inglês e o dentista do meu filho, meu plano de saúde... Quem?
Sem falar que muitas vezes os homens que estão com as mulheres não as tratam como elas gostariam de ser tratadas: com carinho, amorosidade, ternura...Homens não são gentis por natureza?  Será isso, Lu? Eu até entendo que suas mães não disseram a eles como deveriam ser cuidadosos com suas mulheres quando as tivessem, porque suas mães aceitavam a falta de carinho de seus maridos, as grosserias e ainda se curvavam humildemente levando o chinelo e o prato de sopa quando o marajá se refestelava no sofá para ver TV. Muitas mulheres acreditavam que a vida era assim mesmo. Que o homem devia ser um grosso mesmo, afinal ele também aprendera a ser assim com seu pai, avô. Só estava repetindo o padrão familiar.
Mas eu estou cansada de grosserias. de falta de verniz...de narcisismos, de só enxergar o próprio umbigo, de atitudes egoístas, individualistas....de tom de voz agressivo, de falta de carinho na voz, sabe como é? De um olhar carinhoso. E sorriso, então? Nossa, nem sei mais o que é isso, já tem um tempo... O que fazer? A pessoa diz que sou eu que faço tudo isso, Lu, ou melhor, que não faço. Mas os filhos não têm a mesma opinião. Mas esse assunto é assunto para uma próxima consulta virtual. Sei que o meu dilema é muito parecido com o de milhares de mulheres. O sapo que virou príncipe e que depois virou sapo novamente.
Eu não sou diferente de milhares de mulheres que se enfiaram numa sinuca de bico enorme com essa tal de emancipação feminina.
Se eu estivesse sozinha não estaria escrevendo nada disso. Mas não estou. E isso está me incomodando. Não é mágoa, nem ressentimento. É só uma questão de justiça, Lu. O que eu devo fazer? Me sinto na beira do precipício com um leão faminto na minha cola."
Alguém tem aí uma sugestão para a minha amiga Walkiria? Porque se eu tivesse já a teria utilizado em benefício de mim mesma.

8 comentários:

Anônimo disse...

Lourdes, muito interessante esse dilema da sua amiga. Eu também já vivi isso há alguns anos e estou vivendo de novo o mesmo dilema, em uma situação diferente.
Eu acredito que o fato da sua amiga se chamar "Walkiria" já diz muita coisa. Wlakiria é um mito nórdico. São as "guerreiras de Odin" e recebem os guerreiros mortos em batalhas nos salões do Valhalla. Elas os servem para que eles possam lutar as guerras deles novamente no dia seguinte. Elas tb trabalham em parceria com a deusa Freyja, que é tb uma walkyrja. São atribuídas muitas funções a uma walkyrja... Já imaginou a responsabilidade? Que tipo de guerreira sua amiga quer ser? Por quem ela está lutando de verdade? No desabafo dela ela realmente não sabe como ganhar essa luta e uma walkyrja é um tipo de "guerreia que serve ao seu senhor". Quem é "o senhor" da vida da Walkiria humana, de carne e osso?
Eu não tenho uma fórmula, nem receita, mas sei que todo mundo tem um "propósito de alma". E sei que se como mulher eu tomar as lutas do meu propósito de alma eu estarei em uma luta que sei que posso ganhar. Eu cansei de lutar lutas que não podia ganhar, lutas que não eram minhas. Eu tb não sei como fazer muita coisa, mas sei que se eu prestar mais atenção em mim e tomar o que eu tenho vontade de "tomar" há muito tempo, eu vou resolver os meus dilemas. Eu me perguntei: "eu realmente tenho sede de que?" E descobri que não queria mais me relacionar daquela forma comigo, eu queria uma relação diferente, mais amorosa e menos "obrigatória".
Não tem sido nada fácil, mas hj tenho uma relação um pouco diferente comigo. Acho que meu foco saiu do spot que estava para fora e voltou-se para iluminar a parte de dentro.
Bem... é isso. Sem fórmula mas com atitude.
Bjos!

Lady Lou disse...

Que prazer ver um comentário da experiente Luciaurea Coelho no meu blog! Muito obrigada Si! Sempre que possível, acrescente seus comentários aqui. Eles são pertinentes, apropriados e enriquecem meu trabalho. Tenho certeza que muitos leitores tb vão apreciar MUITO! Vou dar o recado pra minha amiga Walkiria! Bjo!

giacomo disse...

Amélia é que era mulher de verdade. Pô, Val! Na boa! Você não tem tempo pra nada e ainda quer ter bicho em casa? Nada contra nossos irmãozinhos menores, mas, pra ter bichos em casa, é preciso ter tempo para cuidar deles. E tempo é o que você não tem, certo? Nem pra você mesma, né? Outra coisa: bota esse povo aí da sua casa pra trabalhar, mulher. Enquadre esse povo, todos, filhos, maridos, papagaio. Coloque-os todos para fazer o serviço de casa. Pelo que li, seus filhos nem a cama fazem, nem a louça lavam. Vão tomar banho! Ou melhor, não vão, não; senão, o banheiro vai ficar uma aguaceira só, né? Isso é, simplesmente, ridículo nos dias de hoje. Só a mulher fazer os serviços de casa? Isso é do tempo em que minha avó era nenê. Acorde, Val! Enquadre esse povo aí, mulher. Amélia é morta, minha filha!

Lady Lou disse...

Oi, Giacomo! A minha amiga Wal, disse que os bichos foram aparecendo na casa dela. Não foram exatamente um desejo dela ter tantos assim. Qualquer dia ela comenta esse assunto em detalhes. Quanto às camas...bom, eles arrumam, mais ou menos rsrsrs...A louça? às vezes lavam, às vezes não...E qto a enquadrar o pessoal, ela me disse que já tentou, sabe? Mas aí o povo chia, diz que ela só sabe reclamar, que ela só vê defeito em tudo, que ela só sabe criticar...Aliás, ela disse que quando os moradores da casa dela virem esse desabafo dela aqui no meu blog vão ficar magoadinhos, vão dizer que ela é ingrata, que eles fazem uma porção de coisas, mas que é ela que não vê, não reconhece...Não é fácil, não, meu amigo.Mas eu acredito que ela vai sair dessa! Obrigada por sua participação! Bjo!

Anônimo disse...

Lourdes, acrescentando mais uma idéia que me ocorreu ontem à noite sobre sua amiga, eu gostaria de emprestar as metáforas do mito.
As walkyrjas são "aquelas que servem ao Self", porque Odin, na figura de comandante e senhor, lhes dá tarefas para serem cumpridas.
Quando ocorre um equívoco na vivência deste mito, a mulher walkyrja passa a identificar Odin como seu pai senex e com um senex fica muito difícil constelar uma vida a dois.
Porque Odin tem várias faces, ele pode tanto ser o velho sábio, como o Odin jovem puer, ou o guerreiro ferido como era antes de alcançar a sabedoria rúnica, ou o amante erotizador, o animus considerador e protetor da mulher e ou aquele que serve ao Self. Porém ele sempre será um andarilho em busca de conhecimento, o homem não pára muito em casa, então, é melhor identificá-lo com o Self do que tê-lo como um pai na figura do senex.
Então, a função de uma walkyrja seria basicamente servir ao self, que é o seu senhor.
Se metaforicamente ela resolve servir "a outro senhor" (coisas que estão fora dela e não dentro) será redirecionada por Odin Arquétipo, e aí vai depender do mecanismo de defesa que ela tenha, se ela alimentar crenças de punição será punida com mais tarefas, se alimentar crenças de que merece uma atenção mais consideradora será amorosamente redirecionada ao seu propósito de alma.
Bom, é isso.
Beijos e boa sorte pra sua amiga!

Anônimo disse...

Mais outra coisa que me ocorreu:

Odin e as walkyrjas são arquétipos muito errantes, por isso, talvez, sua amiga sente a necessidade ou obrigação de fazer as coisas, mas equivocada, busca por outras que não são dela.
Odin pode ser um homem (quando identificado) que não pára muito em casa ou se for, sua errância irá se manifestar como um cara que viaja em si próprio e não dá atenção pra mulher (em seu aspecto negativo).
Como animus de Frigga (a esposa dele), por exemplo, ele é o marido que a considera, ele é muito bom para ela, um ótimo marido, considera tanto que sempre quer saber o que ela pensa sobre as coisas, praticamente, em toda a relação no mito. Ele toma decisões e considera as decisões da esposa, ele é muito carinhoso com ela e não deixa de exercer suas funções de marido e homem da casa (entenda-se Aesgard - cada um tem seu palácio, porque no mito nórdico, os deuses e deusas são auto suficientes, mas esse aspecto é extremamente positivo, e Aesgard é o território onde todos eles habitam).
O diálogo entre os dois é muito genuíno.
Desculpe falar tanto!
Beijos!

Lady Lou disse...

Imagine! Por favor, continue, faz todo o sentido, Si. Vc está elucidando o dilema da minha amiga com muita propriedade. Tenho a impressão, por ter uma certa intimidade com ela, que os véus estão sendo tirados e ela está começando a enxergar tudo muito claro. Fantástico!!!! Não pare, não. Vc nem imagina o quanto está ajudando a minha amiga! Bjo!

Anônimo disse...

Olá Walquíria, meu nome (apelido) é Diva.
Gostei da sua franqueza exposta ao público.Seguinte: "Quando estou vivendo um sufoco igual ao seu lembro da frase "Você escolheu isso". No início, dói ouvir tal verdade, depois busco outra(s) escolhas. E sempre temos mais opções para outras saídas. Talvez, inconscientemente vc esteja "preenchendo demais" o seu tempo para fugir de algo que não queremos pensar, resolver, assumir.
O que será?
Depois, lembre-se "que se não fosse você seria outro(a) qq realizariam as tarefas". Imagine que vc precise viajar, ou mesmo se adoece, alguém faria alguma coisa, certo? Converse com as outras pessoas e coloque isso para elas, do jeitinho que vc colocou no blog.
Às vezes somos, ainda, controladoras e tb não percebemos.
Enfim, já tive as mesmas questões e resolvi, em parte, respondendo a seguinte pergunta: "Qual a minha meta de vida e o que eu estou fazendo hoje para atingi-la?
Levei um susto ao perceber que eu só estava fugindo e não sabia o porquê. Faço terapias e vou redescobrindo aos poucos, um dia de cada vez, devagar e sempre. Se não ajudei, vc me ajudou...e muito, com a sua coragem de buscar ajuda.

Bons votos de clareza durante a sua meditação.
Diva Ferreira.
Jornalista.

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