segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ready To Love Again

Seems I was walking in the wrong direction
I barely recognized my own reflection
Oh scared of love but scared of life alone
Seems I’ve been playing on the safe side baby
Building walls around my heart to save me
Oh but it’s time for me to let it go.
I’m ready to feel now
No longer am I afraid of the fall down
It must be time to move on now
Without the fear of how it might end
I guess I’m ready to love again
Just when you think that love will never find you
You’ve run away but still it’s right behind you
It’s just something that we can’t control
I’m ready to feel now
No longer am I afraid of the fall down
It must be time to move on now
Without the fear of how it might end
I guess I’m ready to love again
So come and find me
I’ll be waiting up for you
I’ll be holding out for you tonight.
I’m ready to feel now
No longer am I afraid of the fall down
It must be time to move on now
Without the fear of how it might end
I guess I’m ready to love again

Lady Antebellum


Um homem pra chamar de seu

Walkiria estava novamente num dileminha básico: como ser mais feminina para que atraísse homens que a seduzissem, ou seja, homens que fossem e agissem como homem?
Ela tinha perdido um pouco essa noção desde que se viu sendo obrigada a assumir o papel de pai/mãe dos seus filhos, de provedora da casa, de eletricista, encanadora e pintora/pedreira/mestre-de-obras.
Trocar uma lâmpada, tudo bem. Trocar uma resistência de chuveiro, desde que fosse aquele corona simplezinho, também tudo bem.
Mas era muito chato decidir tudo, ligar pra esse pessoal que presta serviço e que cobra caro quando percebe que você é mulher e sozinha.
Como Walkiria queria ter um homem em casa pra negociar essas coisas, pra ir na loja de material de construção...pra retocar a pintura da porta, chamar o marceneiro, o encanador e o eletricista e falar grosso com eles quando cobrassem os olhos da cara! Ela já estava cansada de falar grosso, fazer cara feia e assinar cheques.
Walkiria estava cansada de ir aos jantares dos seus amigos casados..sozinha.
Walkiria estava cansada de viajar com seus amigos casados e ficar no quarto daqueles hotéis-fazenda lindos...sozinha ou com outra mulheres tão sozinhas quanto ela.
Walkiria estava cansada de só receber sms de promoções; de só atender chamadas por engano. Walkiria queria ganhar flores, bombons, perfumes, e daí? Era romântica, sim. E daí?
Walkiria queria sim, ter alguém que dissesse pra ela no final de um encontro, tarde da noite: liga pra mim quando chegar em casa pra dizer que chegou bem.
Walkiria queria semtir ciúmes (pouquinho) e queria despertar ciúmes também. Ela queria andar de mãos dadas, queria o braço masculino desse homem sobre seu ombro ou na sua cintura mostrando pra quem quisesse ver que ela tinha dono, sim, que ela não estava solta, não.
Walkiria queria um home inteligente pra ir ao cinema com ela, assistit Almodóvar, Copolla, Woody Allen, sim, ela se rendera aos encantos daquele feioso de Nova York, sim ela se rendera ao espanhol que fazia filmes arrebatadores. Mas não é qualquer homem que tem cacife pra encarar um filme desses. E depois, ficar horas e horas falando e falando. Walkiria se sentia atraída por homens assim: inteligentes, bom papo, sedutores com a palavra.E isso estava cada vez raro no mercado.
Walkiria não sabia exatamente quem seria esse alguém. Tinha uma vaga ideia, não era uma certeza ainda, apenas uma possibilidade...mas a pessoa existe. Mas Walkiria ainda não estava segura, não sabia em que terreno estava pisando. Terra firme? Além disso, ela sabia que não ia admitir fantasmas do passado visitando seu castelo duramente construído. Minha amiga Wal me contou que se tivesse de ter outro relacionamento na sua vida as coisas seriam definidas tintim por tintim antes de qualquer coisa. Ela não ia admitir recaídas, mentiras e deslizes. Não tinha tempo a perder, ela me dizia. Walkiria me dizia: Lu, estou envelhecendo. O tempo corre. Mas ainda me restam alguns anos, uns 20 anos talvez. Tenho saúde pra gozar no fim como diria Rita Lee, mas até quando? Walkiria queria paz. Ela me disse que se lembrava de uma das últimas vezes que fizera amor com seu último marido, depois daquelas brigas enormes, depois de várias cervejas...que, ao final, em cima dele, e com ele por dentro dela ainda, dissera: eu só quero ser feliz! mas Walkiria, minha amiga querida, não sabia lidar com aquela situação: ambos tomados por seus complexos - tão parecidos - ambos tomados por suas sombras - ambos vivendo processos projetivos de suas sombras, quase se destruíram, destruíram seus casamentos. Walkiria ficou com pena dos filhos, com pena de si mesma e terminou com tudo. Hoje, sabendo o que sabia, Wal não teria agido como agiu  anos atrás. Por isso agora ela queria uma chance porque agora essa chance seria devidamente aproveitada. Wal já sabe que não pode controlar seu complexos, mas que pode organizá-los. Pode se adaptar e se organizar. Wal mudou. Tem agora uma vontade gigante de cuidar do seu próximo homem como nunca fora capaz. Tem vontade de acolher, de ser mulher. Já fora mãe dos seus filhos, agora os filhos estão grandes, vai ter tempo e disposição para cuidar do seu homem e para ser mulher. O Homem que tiver a sensibilidade e a inteligência para perceber e merecer tudo o que Walkiria tem para dar, será um homem completa e totalmente feliz.
Walkiria queria novamente ter um homem pra chamar de seu. Estava decidido. 

Lady Antebellum - I Run To You

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Qual é a sua máscara?

Somos seres do Criador.

Temos o DNA de Deus dentro de nós.

Qual é a nossa kriptonita?

É a desonestidade com nós mesmos.

Isso reduz o DNA que nos foi dado pelo Criador

e nos faz sentir como carne e osso.

É a isso que nos reduzimos,

carne e osso e nada mais.

Nada de espírito, nada de alma, nada.

Temos que atingir um nível para alcançarmos a nossa verdade.

Não existe uma fórmula que possamos todos seguir.

Não existe pílula azul ou vermelha.

Para cada pessoa, o caminho até a Verdade é diferente.

A pessoa lendo isto perto de você tem uma verdade diferente.

Não pense que o caminho vai ser o mesmo.

Não existe Verdade absoluta.

Precisamos ser verdadeiros com nós mesmos

e no que queremos atingir com nossos sonhos,

desejos e metas.

A maioria de nós, se olha no espelho e não se vê.

Não estamos olhando para o que queremos ser.

Não consideramos nós mesmos em um caminho do que queremos ser.

Olhamos para nós mesmos, somos nós, mas e nesse momento que nos vemos,

vemos também quem queremos ser?

Esta nunca é a pessoa refletida.

Com frequência, em algum momento da vida, nós nos vendemos.

Fazemos um outro caminho e escolhemos o outro lado.

E com frequência, procuramos aprovação de outra pessoa.

Começamos a não viver nossas vidas, não viver as nossas verdades,

começamos a viver a verdade deles.

Isto é construído pelo nosso DNA Oponente

em nós para procurar aprovação em outros.

Ao invés de viver a nossa verdade,

vivemos uma realidade que não é a nossa.

Vivemos a verdade do outro em escala,

talvez de nossos chefes no trabalho.

Nós satisfazemos estas pessoas.

Pensamos que isso nos trará uma promoção.

Começamos a seguir um caminho diferente do que deveríamos ir.

Não somos mais autênticos.

Nós perdemos Luz.
Acabamos de pegar a Kriptonita.

Isso nos reduz a nada.

A verdade é, existem apenas duas forças no mundo.

Existe o oponente.

E existe o seu verdadeiro Eu

– sem aprovação, sem a bajulação,

sem fazer coisas por reconhecimento.

Existe uma coisa chamada Síndrome de Estolcomo,

quando o capturado tem uma conexão com o que o capturou.

Estamos tão dentro deste pensamento

de reconhecimento e aprovação,

que pegamos isto até mesmo da pessoa que nos sequestrou.

É assim que o Oponente trabalha em nossa cabeça.

Talvez, estejamos impressionados pelo Oponente,

presos na cadeia.

Ele colocará as pessoas na nossa frente para nos vendermos,

para nos sentirmos para baixo,

para tirar a nossa essência verdadeira.

Ele sempre nos dará oportunidades para cairmos.

Perguntamos a nós mesmos:

- Quem é você, onde você está?

Nos olhamos no espelho e não conseguimos nos reconhecer.

Entramos nesses momentos.

É essa desconexão que nos aliena de nós mesmos e da Luz.

Tudo o que o Criador quer de nós é que sejamos nós mesmos.

É tudo que Ele quer. Não parecer ser tão difícil.

A cada dia, a cada parte de nossas horas,

não somos nós.

Estamos vivendo as coisas de alguém, a fantasia, o que quer que seja.

Mas, se não vivermos verdadeiramente com nós mesmos,

não iremos viver realmente.

Então estamos mortos por dentro.

O que é uma pessoa quando está deprimida?

Ela não tem desejos.

Por quê?

Porque está morta por dentro.

Existe um vazio dentro.

A semente do vazio vem de estarmos nos sentindo desconectados de nossos sonhos,

desconectados de nós mesmos.

Nós temos uma forma de máscara que colocamos.

Todos temos máscaras.

Não existe uma pessoa que não esteja lendo isto que não a tenha.

Não existe uma pessoas em meio a 6 milhões de pessoas no mundo

que não tenha uma máscara.


O que é uma pessoa controladora?

Uma pessoa que está usando a sua fraqueza e insegurança para controlar os outros.

Por que uma pessoa fica com raiva?

Ele ou ela não querem que você fique muito perto.

Esta pessoa está com medo de ficar perto de qualquer pessoa

e criou para si uma concha de raiva.

Todas as pessoas têm uma máscara.

Uma máscara que nos separa da verdade que há dentro.

Não podemos ser felizes,

não podemos nos sentir completos até removermos a máscara.

Tire ela assim como fez Darth Vader no “Retorno de Jedi.”

Finalmente, ele removeu a máscara e dessa forma eliminou a negatividade.

Temos uma concha fora de nós, que desvia as pessoas.

Queremos que as pessoas vejam isto, o que vendemos para todos,

a máscara.

Esta é a nossa Kriptonita, nosso ingresso para o caos.

No fim do dia, tudo o que temos são máscaras e nada mais.

Existe um vazio que vem depois.
A hora é agora.
É tempo de removermos a máscara.
É tempo de arriscarmos e viver a nossa verdade.

Yehuda Berg







segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

To love or not to love

E mais uma vez Walkiria olhava para o nada à sua frente. Os sons se misturavam ao sabor do vento enquanto ela pensava se queria ou se não queria ter novamente um relacionamento, um namoro, um casamento? Não, casamento nunca, jamais. Lembrava de ter ouvido frase semelhante anos atrás de um dos seus ex-maridos quando da separação. "Se não for com você não será com mais ninguém." De fato, ele nunca mais se casou. Porém, passados alguns poucos meses lá estava Roberto com uma de suas dezenas de namoradas pós-divórcio. Algumas Walkiria conheceu outras não. O mais engraçado, ria internamente, era que muitos familiares comentaram à época de sua separação que ela estaria com alguém que seria, portanto, o pivô de tudo. Quanta bobagem, lembrava minha amiga Wal. O tempo passava e ela continuava sozinha. De fato, teve um romance logo no início. Foi buscá-lo no seu passado, nas lembranças de sua adolescência.Procurou o nome dele em listas telefônicas (naquele tempo não havia internet) e procura daqui, liga delá, acabou encontrando a figura. Ele era lindo, ela lembrava: alto, olhos azuis, loiro. Passara alguns anos do ginásio tentando conquistá-lo. A história era até bonita. O irmão dele era apaixonado por ela. Ficou amiga do irmão pra se aproximar do seu objeto de desejo. Isso porque ele nem sabia que ela existia, namorava outras meninas, jogava no time de basquete da escola...conversavam na cantina, mas assim como amigos, junto com todo mundo.Suas amigas davam todo o serviço: ele vem vindo, ele está indo, está sozinho, está com a namorada (uma gorda horrorosa  - não, naquele tempo não existia esse negócio de politicamente correto) e Walkiria planejava o "ataque". Um dia ele ainda vai ser meu, pensava. E um dia ela atacou: pegou o rapaz de surpresa subindo a escada. Pensou em todos os detalhes. Falou com ele estando alguns degraus acima para ficar na mesma altura, olhos nos olhos (e que olhos!). Ele sorriu (e que sorriso) e ela disse: Olha eu sei que você está namorando, mas eu sei ser paciente. Tenho certeza que você ainda vai ser meu. Ele sorriu um sorriso largo e nem respondeu, seguiu para sua sala de aula. Walkiria, destemida, perseverante, não se abalou. Semanas depois haveria a formatura do Tiro de Guerra. Ele estaria lá, em formação. O pai era da corporação, comandaria a solenidade. Walkiria e suas duas melhores amigas checaram todas as informações, dia, hora e local. Estrategicamente Walkiria se colocou na frente do palanque onde estavam os pais do dito cujo, o irmão e, pasmem, a namorada - essa já era outra, mais bonita, alta, mas Wal não se abalava, nem temia que fosse páreo -. Ele a viu. Sorriu. Em formação nem poderia. Mas sorriu aquele sorriso que ela amava. A estratégia dera certo. Dias depois, ela estava sentadinha em sua carteira na classe vazia, aguardando a próxima aula - os demais alunos haviam descido, mas ela, por alguma inexplicável razão ficara - e eis que o seu deus grego entra pela sala carregando um álbum de fotografias.Já entrou sorrindo e abrindo o álbum falou: olha só oq ue você fez. Ela estava em praticamente todas as fotos. Ela estava eternizada nas fotografias do desfile de formatura do seu amado dinamarquês. Eles riram da situação e então veio a surpresa: a pergunta mais importante do ano. Se ela iria ao baile de primavera do clube da cidade. Ela nem sabia o que dizer. Por que ele quer saber? perguntou. Por que eu vou, respondeu. Ah, vai apresentar a namorada aos amigos oficialmente, concluiu minha amiga Walkiria. Não, não estou mais namorando. Aquilo soou como música. Sim, é um lugar-comum, mas e daí? Era isso mesmo, foi uma verdadeira sinfonia de Bethoven! Precisava esclarecer, mas, mas, mas, gaguejou, bom, vocês está só perguntando ou me convidando? Convidando, claro! ele disse com aquele sorriso lindo no rosto. Walkiria respondeu sim, iria (nem sabia como, com que roupa? nem falei pra minha mãe, nem sei quanto custa, mas vou, claro que vou) e assim foi feito.
No dia, ou melhor, na noite do baile, foi. Entrou. O salão propriamente ficava no andar de cima. As amigas já informaram empolgadas: ele está lá em cima. Sozinho? Sim, sim, com uns amigos. Ah, bom, com amigos, pode. Subiu. As amigas atrás. Ele veio recebê-la. Deu um beijinho no rosto e uma bronca: você demorou. Então ele sentiu minha falta, estava ansioso? Ah isso tudo Walkiria só sabe, só entende agora. Naquele dia tudo era mágico. Ele a tirou para dançar (é, era assim, os meninos esperavam uma música lenta e "tiravam" a menina para dançar). Foram. Era engraçado. Ele muito alto, ela baixinha...nem sabe direito como foi, mas ele perguntou: quer namorar comigo? se ela dissesse sim, podia beijar na boca. Imaginem o que ela respondeu? Sim, sim, sim. Dançaram e se beijaram a noite toda. Depois, em casa, nem dormiu. À tarde, ele ligou. Esse era o sinal de que a coisa era séria (já naquele tempo era assim). Namoraram quase um ano. Um amor tão bonito. Namoro na varanda da casa dela, com a luz apagada, ouvindo o som da Tv que vinha da sala e quando dava 10 horas a mãe aparecia na janela avisando que já estava tarde e como era difícil a despedida. E ele descia a rua e andava quase de costas pra continuar a olha pra Walkiria que ficava no portão olhando até ele desaparecer na escuridão da rua mal-iluminada.
Mas um dia, Walkiria entrou da faculdade e imaginou que a partir daí um mundo, um universo se descortinaria e que não poderia estar compromissada com nada nem com ninguém. Não, namoro, sáriodeus grego e ele por ela. Hoje Walkiria acha que era mais ele por ela. Sem dó nem piedade Walkiria acabou com aquilo tudo.Ele corava copiosamente. Até sua mãe foi ver o que estava acontecendo. Até hoje, quando Wal se lembra da cena, sente uma dor no peito, uma dor de culpa, uma dor de remorso. e foi movida por esse sentimento que Walkiria procurou seu loiro dinamarquês quando estava recém-separada. Queria reparar o erro, quem sabe retomar de onde pararam. O reencontro foi lindo. Se beijaram com saudades, se abraçaram, se amaram como que pra compensar 18 anos de ausência. Cada um contou sua vida. E quanto mais ele falava, mais Walkiria se sentia culpada. Porém, a segunda chance não teve também um final feliz. Desta vez, ele deu o fora nela. Seria vingança? Provavelmente. O fato é que Walkiria chorou como nunca chorara por homem nenhum na sua vida. Não conseguia se imaginar sem ele novamente. Mas não teve jeito. Era o fim. Depois ainda se encontraram algumas vezes, escondidos, os filhos de Walkiria não aprovavam aquele relacionamento e seu ex, apesar de ter outras, não admitia que ela tivesse seus romances. Não, não foi por causa desse rapaz que Walkiria terminou seu casamento. Na verdade, seu casamento já havia terminado lá pelo 5º ou 6º ano dos quase 20 que durou.
Depois, Walkiria teve alguns namorados sem importância.Walkiria fugia de controle como o diabo foge da cruz. Quando começavam as cobranças, muitos torpedos, muitas perguntas, patrulhamento ideológico, ela pulava fora. Melhor sozinha. Melhor sozinha. E agora, olhando para o nada, pensava. Passar por tudo isso novamente? Não sabia se queria. Talvez fosse legal ter alguém que se importasse com ela, que ligasse antes de dormir, que perguntasse se chegou bem em casa, se pegou chuva, se dormiu bem...o que almoçou, com quem? Vai demorar? Alguém pra ir num cinema ver o último filme do Woody Allen ou do Coppolla...alguém pra fazer amor, pra fazer carinho, pra ter carinho, pra dar carinho, pra cuidar, pra ser cuidada, alguém pra fazer uma comidinha gostosa, bater um papo despreocupada, beber junto uma garrafa de vinho, dar risada até perder o fôlego; alguém pra escrever um poema, pra ganhar um poema, pra ler um livro antes de dormir; alguém pra dizer bom dia de manhã com mau hálito, com a cara amassada? quem sabe? Pra ouvir o ronco? Pra ouvir o seu ronco? dividir o banheiro? a cama? o cobertor? se não fosse todos os dias, quem sabe? Walkiria não sabia. Não ainda.

A morte não separa os corações

Sexta-feira 3, meu ex-sogro faleceu. Seo Antônio foi um sogro bacana. Não interferia, não dava palpites. Ajudou sempre que possível. Sempre foi um homem simples e correto. Falava o que pensava. Aparentemente estava sempre de boa comigo. Se tinha diferenças, não fiquei sabendo. Quer dizer, houve um tempo, logo após a separação, me deram uma informação que, no final das contas, provocou um afastamento desnecessário. Passei boa parte desses dez anos de divórcio sem visitá-lo e sem conviver com ele por conta dessa informação. Agora, quando ele esteve internado num hospital aqui em São Paulo, já bastante adoentado, perguntei ao meu ex se eu poderia visitá-lo. Embora minha consciência e meu coração estivessem tranquilos eu não queria causar nenhum constrangimento, principalmente para alguém acamado. Meu ex informou que não haveria problema. E assim, depois de 10 anos, reencontrei seo Antonio, magrinho, mais envelhecido, mas a mesma carinha, o mesmo sorriso e o bonezinho na cabeça que ele tanto gostava de usar. Me recebeu sorridente como se ontem estivéssemos juntos. Conversamos animadamente. Ele estava com esperanças de ter a saúde recuperada com a cirurgia que deveria sofrer. Fez planos de voltar a pescar - coisa que adorava, mas que ultimamente havia abandonado -. O Rafa se animou também e disse que sempre quis ir pescar com o avô. Mas, ele não resistiu à cirurgia. Eu o visitei duas vezes durante os 30 que esteve internado. No sábado fomos ao velório e enterro. Revi muitas pessoas que, confesso não me lembrava mais o nome. Mas, incrível, elas lembravam do meu! Não sabia que algumas daquelas pessoas tinham tanto apreço por mim, não imaginava que deixara tão boa impressão. Era como se o hiato de 10 anos não tivesse existido. As pessoas, vinham e abraçavam com aquela simplicidade que só quem é e mora no interior tem, e diziam palavras de conforto, convidavam para voltar à casa delas em outra ocasião, mais alegre...vários convites recebi.  Outras disseram: "Nossa, outro dia mesmo estávamos falando de você, lembrando disso e daquilo", outras me perguntavam se eu me lembrava disso e daquilo...De algumas lembrei, de outras, não...mas coisas boas...que bom, que no fim, prevalece o bom. Engraçado, como a morte, apesar da dor, pode aproximar pessoas que não se veem há tampo tempo. Engraçado constatar que, apesar da distância física, os corações ainda estavam próximos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O abismo que nos une

Sempre que alguns amigos a convidavam para sair e se divertir lá vinha a sensação de culpa. Primeiro a obrigação, segundo a obrigação, terceiro, a obrigação. Sem sofrimento não há progresso. Assim educaram a minha amiga Wal. Então, naquela tarde os colegas de trabalho a convidaram para jogar sinuca num bar da Lapa e beber umas "brejas" enquanto reencontravam outros amigos e se despediam do ano que já estava no fim.
Walkiria ficou com muita vontade. Mas....sempre o mas....e os filhos que a aguardavam em casa? e a grana que, afinal, ia gastar e que, afinal não estava assim sobrando, e...será que teria carona para voltar? Primeiro, Walkiria enxergava os empecilhos.Fora educada assim. À parte a educação, alguns outros fatos de sua vida corroboravam nesse momento para reforçar suas convicções. Errôneas e bem arraigadas. Walkiria pensou, pensou....e lembrou de uma outra época, anos atrás, que era tão feliz...saía com os amigos sem culpa apesar de os filhos serem menores, e tudo dava certo. Por conta da falta de culpa e da falta de medos bobos e infundados conhecera muitos restaurantes bacanas, participou de conversas memoráveis... Divertiu-se sem preocupação. Nessa época Walkiria tinha carro. Um carro bacaninha, quatro portas, seminovo, filmado, travas e vidros elétricos. Um carro que levava Walkiria aonde ela quisesse. Walkiria, nesses tempos, não tinha receio de passar às duas da manhã na avenida que cortava a maior favela de São Paulo. Ela ia que ia, toda faceira, cantando suas músicas preferidas. Nunca sofrera nenhum tipo de acidente, nem assalto, nem pneu furado. Nada. Ia despreocupada de volta para sua casinha com chuva ou sem chuva. Nem enchentes nem alagamentos enfrentava. Milagrosamente.Então, por que agora minha amiguinha colocava tantos mas antes de suas frases, antes de seus desejos, antes de suas vontades, antes de seus sonhos?
Seria porque justamente no meio daquela fase as coisas começaram a não dar muito certo? Ela me contou que resolvera vender aquele carro, cuja prestação estava um pouco alta para o seu orçamento, e dali a alguns meses, quando recebesse a restituição do seu Imposto de Renda, daria entrada num outro veículo, com uma prestação mais ajustada às suas contas. Porém, (e talvez por causa desse porém Walzinha adquiriu outros mas e poréns) quando chegou em casa a pé, levou um superpito de sua filha mais velha que lhe disse poucas e más sem dar a ela nenhuma chance de defesa. Mais uma vez, Wal se calara, como tantas e tantas outras vezes fizera em sua vida desde quando era bem pequenininha (só que nessa época, ela desconhecia esse sistema que só agora a terapia havia revelado). A filha despejou sobre ela todos os medos que eram dela, filha, e Wal absorveu tudo calada, pior do que calada, vexada, pior do que vexada, humilhada. Wal queria explicar: não, filha, eu vendi agora porque está difícil pagar, mas daqui a alguns meses comprou outro com a restituição do IR...mas a mocinha não deu trégua. Disse que ela não sabia conduzir a própria vida, que era irresponsável, que não planejava nada em sua vida (mas, mas, tentou dizer) e terminou com a frase que nunca mais Walkiria esquecera, a frase-sentença, a frase-guilhotina: sabe quando você vai conseguir outro carro igual a este que você acabou de vender? nunca mais!
Wal não tem certeza se a filha disse o que disse da boca pra fora, apenas no calor do desespero por ver a mãe a pé e todas as dificuldades decorrentes disso. O fato é que daquele momento em diante, como uma mágica ao contrário, sua vida foi se esvaindo, perdeu o emprego, a alegria, a segurança e a restituição, quando chegou, não pôde ser usada para comprar seu sonhado carrinho porque teve de ser usado para pagar contas e a bola de neve de azares cresceu tanto que engoliu minha amiguinha levando-a ladeira abaixo, carregando junto sonhos, vontades e desejos. Minha amiga ficou seis anos sem um emprego fixo. Foram seis anos contando moedas para comprar pão no final da tarde que garantiam não passar fome até a hora de dormir. Moedas muitas delas surrupiadas do cofrinho de moedas juntadas desde a infância por essa mesma cria que, por decreto, ainda que involuntário, talvez inconsciente e inconsequente jogou a mãe de ego frágil para o patamar mais baixo que ela poderia suportar. Seis anos dependendo da boa vontade de amigos para pagar contas, para emprestar dinheiro até para comprar papel higiênico. Seis anos se achando incapaz, incompetente, impotente. Wal se nutria do pão que o diabo amassou e como prêmio ganhou uma anemia e várias hemorragias. Para que viver? era o recado que ela dava sem ter consciência, para o universo. Para completar, o distanciamento que se deu entre elas a partir da venda do carro se tornou abissal. Oito longos anos se passaram desde então e Wal ainda não conseguiu comprar um carro, exatamente como previra sua filha. Walkiria acredita que um dia ainda vai comprar novamente um carro. E aos poucos superar o Grand Canyon que se abriu entre elas.

Deixando o Rancor de Lado: Cultivando a Liberdade Interior

O   rancor é um sentimento negativo que pode prejudicar nossa saúde mental e nossos relacionamentos. Abaixo, apresento algumas estratégias ...