segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

To love or not to love

E mais uma vez Walkiria olhava para o nada à sua frente. Os sons se misturavam ao sabor do vento enquanto ela pensava se queria ou se não queria ter novamente um relacionamento, um namoro, um casamento? Não, casamento nunca, jamais. Lembrava de ter ouvido frase semelhante anos atrás de um dos seus ex-maridos quando da separação. "Se não for com você não será com mais ninguém." De fato, ele nunca mais se casou. Porém, passados alguns poucos meses lá estava Roberto com uma de suas dezenas de namoradas pós-divórcio. Algumas Walkiria conheceu outras não. O mais engraçado, ria internamente, era que muitos familiares comentaram à época de sua separação que ela estaria com alguém que seria, portanto, o pivô de tudo. Quanta bobagem, lembrava minha amiga Wal. O tempo passava e ela continuava sozinha. De fato, teve um romance logo no início. Foi buscá-lo no seu passado, nas lembranças de sua adolescência.Procurou o nome dele em listas telefônicas (naquele tempo não havia internet) e procura daqui, liga delá, acabou encontrando a figura. Ele era lindo, ela lembrava: alto, olhos azuis, loiro. Passara alguns anos do ginásio tentando conquistá-lo. A história era até bonita. O irmão dele era apaixonado por ela. Ficou amiga do irmão pra se aproximar do seu objeto de desejo. Isso porque ele nem sabia que ela existia, namorava outras meninas, jogava no time de basquete da escola...conversavam na cantina, mas assim como amigos, junto com todo mundo.Suas amigas davam todo o serviço: ele vem vindo, ele está indo, está sozinho, está com a namorada (uma gorda horrorosa  - não, naquele tempo não existia esse negócio de politicamente correto) e Walkiria planejava o "ataque". Um dia ele ainda vai ser meu, pensava. E um dia ela atacou: pegou o rapaz de surpresa subindo a escada. Pensou em todos os detalhes. Falou com ele estando alguns degraus acima para ficar na mesma altura, olhos nos olhos (e que olhos!). Ele sorriu (e que sorriso) e ela disse: Olha eu sei que você está namorando, mas eu sei ser paciente. Tenho certeza que você ainda vai ser meu. Ele sorriu um sorriso largo e nem respondeu, seguiu para sua sala de aula. Walkiria, destemida, perseverante, não se abalou. Semanas depois haveria a formatura do Tiro de Guerra. Ele estaria lá, em formação. O pai era da corporação, comandaria a solenidade. Walkiria e suas duas melhores amigas checaram todas as informações, dia, hora e local. Estrategicamente Walkiria se colocou na frente do palanque onde estavam os pais do dito cujo, o irmão e, pasmem, a namorada - essa já era outra, mais bonita, alta, mas Wal não se abalava, nem temia que fosse páreo -. Ele a viu. Sorriu. Em formação nem poderia. Mas sorriu aquele sorriso que ela amava. A estratégia dera certo. Dias depois, ela estava sentadinha em sua carteira na classe vazia, aguardando a próxima aula - os demais alunos haviam descido, mas ela, por alguma inexplicável razão ficara - e eis que o seu deus grego entra pela sala carregando um álbum de fotografias.Já entrou sorrindo e abrindo o álbum falou: olha só oq ue você fez. Ela estava em praticamente todas as fotos. Ela estava eternizada nas fotografias do desfile de formatura do seu amado dinamarquês. Eles riram da situação e então veio a surpresa: a pergunta mais importante do ano. Se ela iria ao baile de primavera do clube da cidade. Ela nem sabia o que dizer. Por que ele quer saber? perguntou. Por que eu vou, respondeu. Ah, vai apresentar a namorada aos amigos oficialmente, concluiu minha amiga Walkiria. Não, não estou mais namorando. Aquilo soou como música. Sim, é um lugar-comum, mas e daí? Era isso mesmo, foi uma verdadeira sinfonia de Bethoven! Precisava esclarecer, mas, mas, mas, gaguejou, bom, vocês está só perguntando ou me convidando? Convidando, claro! ele disse com aquele sorriso lindo no rosto. Walkiria respondeu sim, iria (nem sabia como, com que roupa? nem falei pra minha mãe, nem sei quanto custa, mas vou, claro que vou) e assim foi feito.
No dia, ou melhor, na noite do baile, foi. Entrou. O salão propriamente ficava no andar de cima. As amigas já informaram empolgadas: ele está lá em cima. Sozinho? Sim, sim, com uns amigos. Ah, bom, com amigos, pode. Subiu. As amigas atrás. Ele veio recebê-la. Deu um beijinho no rosto e uma bronca: você demorou. Então ele sentiu minha falta, estava ansioso? Ah isso tudo Walkiria só sabe, só entende agora. Naquele dia tudo era mágico. Ele a tirou para dançar (é, era assim, os meninos esperavam uma música lenta e "tiravam" a menina para dançar). Foram. Era engraçado. Ele muito alto, ela baixinha...nem sabe direito como foi, mas ele perguntou: quer namorar comigo? se ela dissesse sim, podia beijar na boca. Imaginem o que ela respondeu? Sim, sim, sim. Dançaram e se beijaram a noite toda. Depois, em casa, nem dormiu. À tarde, ele ligou. Esse era o sinal de que a coisa era séria (já naquele tempo era assim). Namoraram quase um ano. Um amor tão bonito. Namoro na varanda da casa dela, com a luz apagada, ouvindo o som da Tv que vinha da sala e quando dava 10 horas a mãe aparecia na janela avisando que já estava tarde e como era difícil a despedida. E ele descia a rua e andava quase de costas pra continuar a olha pra Walkiria que ficava no portão olhando até ele desaparecer na escuridão da rua mal-iluminada.
Mas um dia, Walkiria entrou da faculdade e imaginou que a partir daí um mundo, um universo se descortinaria e que não poderia estar compromissada com nada nem com ninguém. Não, namoro, sáriodeus grego e ele por ela. Hoje Walkiria acha que era mais ele por ela. Sem dó nem piedade Walkiria acabou com aquilo tudo.Ele corava copiosamente. Até sua mãe foi ver o que estava acontecendo. Até hoje, quando Wal se lembra da cena, sente uma dor no peito, uma dor de culpa, uma dor de remorso. e foi movida por esse sentimento que Walkiria procurou seu loiro dinamarquês quando estava recém-separada. Queria reparar o erro, quem sabe retomar de onde pararam. O reencontro foi lindo. Se beijaram com saudades, se abraçaram, se amaram como que pra compensar 18 anos de ausência. Cada um contou sua vida. E quanto mais ele falava, mais Walkiria se sentia culpada. Porém, a segunda chance não teve também um final feliz. Desta vez, ele deu o fora nela. Seria vingança? Provavelmente. O fato é que Walkiria chorou como nunca chorara por homem nenhum na sua vida. Não conseguia se imaginar sem ele novamente. Mas não teve jeito. Era o fim. Depois ainda se encontraram algumas vezes, escondidos, os filhos de Walkiria não aprovavam aquele relacionamento e seu ex, apesar de ter outras, não admitia que ela tivesse seus romances. Não, não foi por causa desse rapaz que Walkiria terminou seu casamento. Na verdade, seu casamento já havia terminado lá pelo 5º ou 6º ano dos quase 20 que durou.
Depois, Walkiria teve alguns namorados sem importância.Walkiria fugia de controle como o diabo foge da cruz. Quando começavam as cobranças, muitos torpedos, muitas perguntas, patrulhamento ideológico, ela pulava fora. Melhor sozinha. Melhor sozinha. E agora, olhando para o nada, pensava. Passar por tudo isso novamente? Não sabia se queria. Talvez fosse legal ter alguém que se importasse com ela, que ligasse antes de dormir, que perguntasse se chegou bem em casa, se pegou chuva, se dormiu bem...o que almoçou, com quem? Vai demorar? Alguém pra ir num cinema ver o último filme do Woody Allen ou do Coppolla...alguém pra fazer amor, pra fazer carinho, pra ter carinho, pra dar carinho, pra cuidar, pra ser cuidada, alguém pra fazer uma comidinha gostosa, bater um papo despreocupada, beber junto uma garrafa de vinho, dar risada até perder o fôlego; alguém pra escrever um poema, pra ganhar um poema, pra ler um livro antes de dormir; alguém pra dizer bom dia de manhã com mau hálito, com a cara amassada? quem sabe? Pra ouvir o ronco? Pra ouvir o seu ronco? dividir o banheiro? a cama? o cobertor? se não fosse todos os dias, quem sabe? Walkiria não sabia. Não ainda.

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