domingo, 14 de novembro de 2010

Estávamos certos e não sabíamos

As sacolinhas de plástico oferecidas pelos supermercados existem há uns 30 anos mais ou menos. Eu me lembro que  quando eu era criança isso não existia. Minha mãe, meu pai iam ao mercadinho da esquina ou à feira munidos de uma sacola enorme feita de lona. Muita gente usava carrinhos nas feiras - esse imbatível objeto que atravessou o século 20 merecia um estudo! -. Aliás, quando eu era criança, pra vocês terem uma ideia do quanto sou antiga, nem supermercado existia na região do ABC. Em Santo André - que sempre foi uma cidade mais cosmopolita - o mais parecido com supermercado era a cooperativa da Rhodia, hoje Coop e hoje com quase dois milhões de sócios. Me lembro que ia lá com a minha madrinha quando passava o fim de semana na casa dela. Era uma bagunça incrível. Tudo meio misturado. Parecia uma feira com empório. Mas era legal, eu adorava ir lá porque minha tia comprava coisas que só lá eram vendidas. Naquela época a cooperativa era fechada, exclusiva para funcionários da Rhodia. Minha tia comprava lá porque meu tio trabalhava na Rhodia. Um outro tio meu, funcionário da Coral, comprava numa outra cooperativa: a da Volkswagen que não era assim tão fechada, já que meu tio não trabalhava na montadora e comprava lá. Na despensa da casa dele também sempre havia coisas diferentes das que eu estava acostumada. Tipo: Ovomaltine, patê de presunto, castanha de caju em latinha...Eles compravam as coisas e levavam pra casa em caixas de papelão. Não haviam embalagens de espécie alguma. Quem tinha carro se virava bem. E quem não tinha? 
Atravessou o século 20
Não sei. Acho que levavam carrinhos de feira e as sacolas de lona. Nunca prestei atenção porque meus tios tinham carro, então não me ligava no problema até porque meus pais, como disse, não compravam nesses locais. Perto de casa tinha o mercadinho do seu Onofre, uma quitanda que sempre mudava de dono, uma padaria...e a feira, duas ruas pra baixo de casa. O essencial. Novidades meu trazia do centro da cidade quando voltava do trabalhoo. Na mão, embrulhado em jornal - hoje em dia dizem que é anti-higiênico embrulhar comestíveis em palpel de jornal, mas naquela época era assim que as coisas funcionavam e ninguém morria por causa disso. Enfim, fora isso o primeiro super que eu vi foi um Peg-Pag que havia no largo do Cambuci, em São Paulo, onde morava uma professora que era amiga da minha mãe - e eu apaixonada, namoradinha, do filho dela, o Renato Felini, lindo de matar! todos os anos fomos os noivinhos da quadrilha junina no Externato Nossa Senhora do Carmo onde estudávamos -. E eu achava muito chique fazer compras naquele tal de Peg-Pag com suas prateleiras todas arrumadas, com aquela infinidade de shampoos de marcas famosas que anunciavam na TV - sim, já existia a TV quando eu era criança, preto e branco claro, mas estava lá na sala quando eu nasci -. Nesse lugar as mercadorias eram colocadas em pacotes de papel bem grosso, parecidos com as embalagens de cinco quilos de açúcar e de arroz da época que também eram feitas de papel reforçado e tinhas uma costura na borda.
Mais tarde, quando me casei pela primeira vez fui morar na alameda Santos em São Paulo - é...já tive meus momentos, leitores - e ali, na Santos, atrás do Conjunto Nacional havia um super (isso foi no início dos 80) chamado Barateiro, mas não era esse Barateiro que hoje pertence ao Pão de Açúcar. Na época, o Barateiro tinha um certo glamour, havia algumas lojas, não era parte de uma grande rede...enfim, ali, as mercadorias também eram colocadas em grandes sacos de papel grosso. Eu saía do super me sentindo a Diane Keaton chegando em casa em Manhattan com seus pacotes de supermercado. Aliás, nos filmes americanos até hoje as pessoas chegam em casa carregando pacotes de papel. Parece que a febre das sacolas de plástico só atingiu o terceiro mundo.
Depois, já no segundo casório, morava próximo à Santa Cecília e ali, na rua das Palmeiras também tinha um Barateiro antes de ser vendido ao GPA. O inconveniente dos pacotes de papel era que, se por acaso você comprasse algo úmido como frios ou carne, o pacote rasgava, ou caso você colocassae mais coisas do que o papel conseguia suportar, ou se alguma das mercadrias possuísse uma ponta, todo cuidado era pouco. Era necessário ser organizado e meticuloso na hora de ensacar a mercadoria, senão você corria o risco de chegar na calçada e ver tudo escorrer pelos seus braços - aliás, cena bem comum na época, diga-se de passagem. Talvez por isso nessa mesma época os supermercados mantinham meninos empacotadores nas pontas dos caixas. Algunes eram verdadeiros especialistas na arte de empacotar sem rasgar a embalagem.
Muito bem, as sacolinhas chegaram e eu nem percebi exatamente quando foi mas sei que eu e milhões de pessoas adotamos as tais vilãzinhas sem pensar. Ninguém, ninguém falava nada contra a talzinha.
As ecobags vão nos salvar?
Hoje em dia, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estima-se que o Brasil consuma, por ano, cerca de 12 bilhões de sacolas plásticas tradicionais. Para modificar esse quadro, o Instituto Nacional do Plástico (Inp), a Associação Brasileira das Indústrias de Embalagens Flexíveis (Abief) e a Plastivida criaram, em 2007, o programa de Qualidade e Consumo Responsável de Plástico. Com amplitude nacional, houve um incentivo ao uso de ecobags e sacolas mais resistentes. Como resultado para as redes que aderiram, já no primeiro ano houve uma redução de 19,9 bilhões no consumo de sacolas e em 2010 estima-se uma diminuição de 14 bilhões.
Em 2008 foi criada uma certificação pelo Inp concedida aos produtores de sacolas para que eles cumprissem as normas da ABNT e fizessem uma sacola mais resistente. “Nós também incentivamos o uso das ecobags. Mas a adesão depende de uma mudança na cultura e um custo acessível”, diz Paulo Dacolina, presidente do Inp.
(fonte: Bruna Bessi, iG São Paulo |13/11/2010 05:30).
O problema é que essas danadinhas estão indo pros esgotos, pros bueiros e, consequentemente, para os rios, mares, oceanos e para as barriguinhas de tartarugas, pinguins, focas que as confundem com comida. Poluem e matam. Pois bem, precisamos voltar ao passado. Não acho que seja uma questão de cultura, a mudança de hábito, mas sim de esclarecimento, porque a cultura existia e não faz assim tanto tempo. Não sei exatamente em que momento perdemos isso. Mas é urgente que se resgate essa consciência e se diminua esse consumo. Já faz algum tempo que eu uso as sacolas de lona, caixas de papelão...mas estou londe de ter conseguido abolir completamente as sacolinhas de plástico, infelizmente. Estou me esforçando.

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