terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reencontros

Numa tarde de um dia qualquer de 2008 o telefone tocou. Atendi e do outro lado uma voz feminina pedia para falar comigo. Confirmei que era eu mesma e a moça falou: sou eu, a Margareth da Folha de São Paulo, que trabalhou com você, lembra? Lembrei imediatamente! Como poderia me esquecar daquela moça andava de moto, sempre de jaqueta de couro, sorridente, de óculos à lá John Lennon que despertava ciúmes no meu namorido, também jornalista e revisor da Folha?
Ela estava me convidando para um almoço que pretendia reunir os quase 100 revisores que passaram por lá até os estertores em janeiro de 84 (ou foi fevereiro?). Bom, Margareth conseguiu seu intento: no primeiro reencontro reuniu praticamente todos os remanescentes vivos. A gente levava um susto às vezes, não reconhecia esse ou aquele e  depois fiquei mais aliviada por não reconhecer vários que, na verdade, haviam saído bem antes de eu entrar. Fui pra Folha em maio de 83. Saía de um casamento fracassado com uma filha bebê - Raquel tinha 10 meses - e precisava sustentá-la de alguma forma. Quem me levou pra Folha foi a Rute, na época, esposa do Coimbra, que havia sido meu professor na faculdade Metodista onde estudara jornalismo. Coimbra me avisou: a revisão da Folha está fechando. Mas a Rute achou que pelo menos mais um ano funcionaria e que eu precisava cuidar da menina, enfim, topei. Fiz o teste (ela me emprestou o Manual da Folha) e alguns dias depois o Carlinhos - nosso eterno chefe - me chamava para conversar. Disse que eu e um outro rapaz (cujo nome não me recordo) havíamos passado no teste, mas que ele ia dar a vaga para mim por causa da minha filha (ele vira naquela ficha que a gente preenche e tal).Essa foi a nossa conversa. Logo estava eu lá naquela revisão enorme cheia de gente que eu nunca tinha visto. Entrava às 21h00. Como eu era nova, ninguém queria fazer dupla comigo. Ia lá pra "cozinha" como era chamada uma salinha nos fundos com uma mesa e várias cadeiras em volta onde os boys despejavam os "mortinhos" (sessão de fúnebres) e os "navios" (tabelas gigantes do jornal "Cidade de Santos" com as chegadas e partidas dos navios). Lá pelas tantas, o pessoal da elite que entrara mais cedo, saía e aí o pessoal da cozinha podia ir para o salão principal fazer dupla com alguém. A Rute sempre me dava uns toques: vai com fulano, vai com sicrano...e foi assim que um dia ela me apresentou ao tal do Soldera, que depois virou meu marido. Trabalhávamos sábados e domingos. Aos sábados entrávamos ao meio-dia. Aos domingos às 18h. Eu folgava às terças, coincidentemente o mesmo dia que o tal do Soldera o que depois, facilitou o namoro, a procura por um apê pra dividir, etc. Fomos em várias festas. O pessoal da revisão era muito animado pra festas em geral. Tínhamos 20 e poucos anos. Nessa idade, não faltam motivos pra se comemorar. Ficávamos no bar em frente, o bar do seu Ribeiro, depois do expediente, às vezes até amanhecer. Íamos a pé pra casa - morávamos na Conselheiro Nébias esquina com a Nothmann - e éramos muito felizes. Depois, engatei um trabalho à tarde numa revista sobre informática e como precisava levar minha filha pra morar comigo - porque por causa do meu horário maluco ela ficava com a minha mãe, embora eu fosse à casa dela todos os dias, dormisse a hora que fosse - porque o meu ex, pai dela ameaçara tirar a guarda de mim, pedi pro Carlinhos me demitir. Isso foi em janeiro de 84. Em fevereiro, a revisão acabou.
Graças à iniciativa da Marhareth - que depois de sofre um grave acidente com sua moto e de ter ficado entre a vida e a morte vários dias, e de ter optado pela vida, nunca mais andou de moto - reencontramos os ex-colegas.
O encontro mais recente aconteceu no dia 20 de novembro. Depois, conto mais histórias desse grupo. São várias.

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