quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mais histórias de Valkiria

Valkiria é a terceira da direita para a esquerda.
Mais ou menos aos 17, 18 anos, as amigas de Valkiria foram trabalhar. Em escritórios, a maioria. De recepcionistas, secretárias, faz-tudo, auxiliar disso,daquilo, assistente, essas coisas. Mas a mãe de Val não deixou que a bonequinha fosse à luta. Disse que não precisava, que se dedicasse aos estudos - que eram bancados pela mãe e pelo pai enquanto suas amigas trabalhavam para pagar a faculdade delas -.
Então, enquanto suas amigas cresciam como pessoas e como profissionais, Valkiria se divertia. Era a alegria da turminha da facul, fazia sucesso entre a rapaziada, tinha vários namoradinhos, paquerinhas - na época era assim: você só beijava na boca depois que tivesse certeza de que aquilo era um namoro, mesmo que logo após o beijo e constatado que o cara era uma fria você desmanchasse o tal namoro, mas tudo no maior respeito, nada de mão naquilo nem aquilo na mão; isso era coisa pra namoros mais sérios! -, e as sextas-feiras na cantina mais famosa próxima à facul até o galo dar seu primeiro trinado.
Não existe uma comprovação científica sobre a relação "trabalhar-cedo-faz-de-você-uma-pessoa-bem-sucedida". Porém, aos 35 anos Valkiria constatou que o estágio nas danceterias e nos barzinhos da vida, não lhe proporcionaram a abundância sempre perseguida e nunca alcançada. Um encontro com as antigas amigas - todas casadas, com filhos etc. - jogou na sua cara que, sim, elas estavam em condição financeira muito melhor que a sua. Suas amigas já haviam conhecido vários lugares no exterior, possuíam casas bem montadas, bem decoradas, possuíam carro do ano, estavam empregadas há vários anos na mesma empresa...Uma delas recebera um prêmio de um grande banco por conta de um projeto que idealizara...e a Valkiria? O que tinha conseguido até ali? Estava no segundo casamento, não estava feliz, não tinha carro, não tinha casa própria, tivera um filho de cada um, não estava trabalhando na sua área de formação porque fora morar numa cidade do interior, e ao ser questionada por que se mudara para longe de tudo que, para ela era sua referência, tinha uma longa história - melhor deixar pro analista, pensava - e mentia dizendo que procurara proporcionar qualidade de vida aos filhos, então pequenos. Sim, de fato, por um lado, era verdade. Morar no interior era sinônimo de sossego, de brincar na rua, de andar descalço, de mexer na terra, ter uma horta, árvores no quintal, estrelas no céu e céu azul a maior parte do ano. Mas, profissionalmente e financeiramente não tinha sido uma boa escolha. Naquele momento, aliás, estava mais uma vez, desempregada.O que teria para contar para as amigas depois de 15 anos de separação? Melhor sorrir e calar. Ou mentir uma mentirinha inocente que salvasse seu ego de mais uma humilhação.

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