quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre perfeccionismo, erros e culpa


Segue texto de Antônio Roberto Soares (*) sobre "A Culpa e a Busca da Perfeição", enviado a mim pelo meu professor e terapeuta grupal, Carlos Aníbal, do Instituto Luz.

 Por detrás de nossas tristezas e frustrações, de nossas insatisfações na vida, de nossos tédios e angústias, está um sentimento, o mais arraigado em nosso comportamento e responsável por grandes sofrimentos psicológicos, que é o sentimento de culpa. O sentimento de culpa é o apego ao passado, é uma tristeza por alguém não ter sido como deveria ter sido, é uma tristeza por ter cometido algum erro que não deveria ter cometido. O núcleo do sentimento de culpa são estas palavras: "Não deveria...". A culpa é a frustração pela distância entre o que nós fomos e a imagem de como nós deveríamos ter sido. Nela consiste a base para a auto-tortura. Na culpa, dividimo-nos em duas pessoas: uma real, má, errada, ruim, e uma ideal, boa, certa e que tortura a outra. Dentro de nós processa-se um julgamento em que o Eu ideal, imaginário, é o juiz e o Eu real, concreto, humano, é o réu. O Eu ideal sempre faz exigências impossíveis e perfeccionistas. Assim, quando estamos atormentados pelo perfeccionismo, estamos absolutamente sem saída. Como o pensamento nos exige algo impossível, nunca o nosso Eu real poderá atendê-lo. Este é um ponto fundamental.
                  
Muitas pessoas dedicam a sua vida a tentar realizar a concepção do que elas devem ser, em vez de se realizarem a si mesmas. A diferença entre auto-realização e realização da imagem de como deveríamos ser é muito mais importante. A maioria das pessoas vive apenas em função da sua imagem ideal e este é um instrumento fenomenal para se fazer o jogo preferido do neurótico: a auto-tortura, o auto aborrecimento, o auto-castigo, a autopunição, a culpa.

Quanto maior for a expectativa a nosso respeito, quanto maior for o modelo perfeccionista de como deve ser a nossa vida, maior será o nosso sentimento de culpa. A culpa é a tristeza por não sermos perfeitos, é a tristeza por não sermos Deus, por não sermos infalíveis; é um profundo sentimento de orgulho e onipotência; é uma incapacidade de lidar com o erro, com a imperfeição; é um desejo frustrado; é o contato direto com a realidade humana, em contraste com as suas intenções perfeccionistas, com os seus pensamentos megalomaníacos a respeito de si mesmo. E o mais grave é que aprendemos o sentimento de culpa como virtude!
A culpa sempre se esconde atrás da máscara do auto-aperfeiçoamento como garantia de mudança e nunca dá certo. Os erros dos quais nos culpamos são aqueles que menos corrigimos. A lista de nossos "pecados" no confessionário é sempre a mesma. A culpa, longe de nos proporcionar incentivo ao crescimento, faz-nos gastar as energias numa lamentação interior por aquilo que já ocorreu, ao invés de as gastarmos em novas coisas, novas ações e novos comportamentos. Por isto mesmo, em todas as linhas terapêuticas, este é um sentimento considerado doentio. Não existe nenhuma linha de tratamento psicológico que não esteja interessado em tirar dos seus pacientes o sentimento de culpa. A culpa é um auto-desprezo, um auto-desrespeito pela natureza humana, por seus limites e pela sua fragilidade. A culpa é uma vingança de nós mesmos por não termos atendido a expectativa de alguém a nosso respeito, seja esta expectativa clara e explícita, ou seja uma expectativa interiorizada no decorrer da nossa vida. Por isto é que se diz que, ao nos sentirmos culpados, estamos alienados de nós mesmos, e a nossa recriminação interna não é, nem mais nem menos, do que vozes recriminatórias dos nossos pais, nossas mães, nossos mestres ou outras pessoas que ainda residem dentro de nós.

Mas aquilo que nos leva a esse sentimento de culpa, aquilo que alimenta esta nossa doença auto-destrutiva, são algumas crenças falsas. Trabalhar o sentimento de culpa é, primordialmente, descobrir as convicções falsas que existem em nós, aquelas verdades em que cremos e que são errôneas, e nos levam a este sentimento. A primeira delas é a crença na possibilidade da perfeição. Quem acredita que é possível ser perfeito, quem acha que está no mundo para ser perfeito, quem acha que deve procurar na sua vida a perfeição, viverá necessariamente atormentado pelo sentimento de culpa. A expectativa perfeccionista da vida é um produto da nossa fantasia, é um conceito alienado de que é possível não errar, que é possível viver sem cometer erros.

Quanto maior for a discrepância entre a realidade objetiva e as nossas fantasias, entre aquilo que podemos nos tornar através do nosso verdadeiro potencial e os conceitos idealistas impostos, tanto maior será o nosso esforço na vida e maior a nossa frustração. Respondendo a esta crença opressora da perfeição, atuamos num papel que não tem fundamento real nas nossas necessidades. Nos tornamos falsos, evitamos encarar de frente as nossas limitações e desempenhamos papéis sem base na nossa capacidade. Construímos um inimigo dentro de nós, que é o ideal imaginário de como deveríamos ser e não de como realmente somos. Respondendo a um ideal de perfeição, nós desenvolvemos uma fachada falsa para manipular e impressionar os outros.

É muito comum, no relacionamento conjugal, marido e mulher não estarem amando um ao outro e, sim, amando a imagem de perfeição que cada um espera do outro. É claro que nenhum dos parceiros consegue corresponder a esta expectativa irreal e a frustração mútua de não encontrar a perfeição gera tensões e hostilidades, num jogo mútuo de culpa. Esta situação se aplica a todas as relações onde as pessoas acreditam que amar o outro é ser perfeito. Quando voltamos para nós exigências perfeccionistas, dividimo-nos neuroticamente para atender ao irreal. Embora as pessoas acreditem que errar é humano, elas simplesmente não acreditam que são humanas! Embora digam que a perfeição não existe, continuam a se torturar e a se punir e continuam a torturar e a punir os outros por não corresponderem a um ideal perfeccionista do qual não querem abrir mão.

Outra crença que nos leva à culpa, esta talvez mais sutil, mais encoberta e profunda, é acreditarmos que há uma relação necessária entre o erro e a culpa, é a vinculação automática entre erro e culpa. Quase todas as pessoas a quem temos perguntado de onde vêm os seus sentimentos de culpa, nos respondem taxativamente que vêm de seus erros. Acreditamos que a culpa é uma decorrência natural do erro, que não pode, de maneira alguma, haver erro sem haver culpa. Se acreditamos nisto, estamos num problema insolúvel. Ou vamos passar a vida inteira tentando não errar para não sentirmos culpa - e isto é impossível porque sempre haverá erros em nossa vida - ou então passaremos a vida inteira nos sentindo culpados porque sempre erramos. Essa vinculação causal entre erro e culpa é profundamente falsa. A culpa não decorre do erro, mas da maneira como nos colocamos diante do erro; vem do nosso conceito relativo ao erro, vem da nossa raiva por termos errado. Uma coisa é o erro, outra coisa é a culpa; erros são erros, culpa é culpa. São duas coisas distintas, separadas, e que nós unimos de má fé, a fim de não deixarmos saída para o nosso sentimento de culpa. O erro é o modo de se fazer algo diferente, fora de algum padrão.

O que é chamado erro é a saída fora de um modelo determinado, que pode ser errado hoje e não amanhã, pode ser errado num país e não ser errado em outro. A culpa é um sentimento, vem de nós, vem da crença de que é errado errar, que não podemos errar, que devemos ser castigados pelas faltas cometidas; crença de que a cada erro deve corresponder necessariamente um castigo, de que a cada falta deve corresponder uma punição. Aliás, o sentimento de culpa é a punição que damos a nós mesmos pelo erro cometido. Não é possível não errar, o erro é inerente à natureza humana, ele é necessário a nossa vida. Na perfeição humana está incluída a imperfeição. Só crescemos através do erro.

As pessoas confundem assumir o erro com sentir culpa. Assumir o erro é aceitar que erramos, é nos responsabilizarmos pelo que fizemos ou deixamos de fazer. Mas quando acreditamos que a culpa decorre do nosso erro, tentamos imputar a outros a responsabilidade dos nossos erros, numa tentativa infrutífera de acabar com a nossa culpa.

A propósito do erro, há um texto interessantíssimo no livro "Buscando Ser o que Eu Sou", de Ilke Praha, que diz: "O perfeccionismo é uma morte lenta. Se tudo se cumprisse à risca, como eu gostaria, exatamente como planejara, jamais experimentaria algo novo, minha vida seria um repetição infinda de sucessos já vividos. Quando cometo um erro vivo algo inesperado. Algumas vezes reajo ao cometer erros como se tivesse traído a mim mesmo. O medo de cometer erros parece fundamentar-se na recôndita presunção de que sou potencialmente perfeito e de que, se for muito cuidadoso, não perderei o céu. Contudo, o erro é uma demonstração de como eu sou, é um solavanco no caminho que tracei, um lembrete de que não estou lidando com os fatos. Quando der ouvidos aos meus erros, ao invés de me lamentar por dentro, terei crescido". Este é o texto.

Algumas pessoas nos perguntam: "Mas como avançar em relação a este sentimento, como arrancar de mim este hábito de me deprimir com os erros cometidos?". Só existe uma saída para o sentimento de culpa. Façamos uma fantasia: imaginemos por um instante que estamos à morte e nossos sentimentos deste momento são de angústia, tristeza e frustração por todos os erros cometidos, por tudo o que deveríamos ter feito e não fizemos; remorsos pelos nossos fracassos como pai, como mãe, como profissional, como esposo, como esposa, como religioso, como cidadão, mas, ao mesmo tempo, estamos com um profundo desejo de morrer em paz, de sair desse processo íntimo de angústia e morrer tranquilos. Qual a única palavra que, se pronunciada neste momento, sentida com todo coração, teria o poder de transformar a nossa dor em alegria, o nosso conflito em harmonia, a nossa tristeza em felicidade? Somente uma palavra teria essa magia. A palavra é: Perdão.

O Perdão é uma palavra perdida em nossa vida. O primeiro sentimento que se perde no caminho da loucura é o sentimento de perdão, o sentimento de auto-perdão. Se a culpa é a vergonha da queda, o auto-perdão é o elo entre a queda e o levantar de novo. O auto-perdão é o recomeço da brincadeira depois do tombo: "Eu me perdôo pelos erros cometidos, eu me perdôo por não ser perfeito, eu me perdôo pela minha natureza humana, eu me perdôo pelas minhas limitações, eu me perdôo por não ser onipotente, por não ser onipresente, por não ser onisciente, eu me perdôo por...". O perdão é sempre assim mesmo, é pessoal e intransferível.

O perdão aos outros é apenas um modo de dizermos aos outros que já nos perdoamos. Perdoarmo-nos é restabelecer a nossa própria unidade, a nossa inteireza diante da vida, é unir outra vez o que a culpa dividiu, é uma aceitação integral daquilo que já aconteceu, daquilo que já passou, daquilo que já não tem jeito; é o encontro corajoso e amoroso com a realidade.
Somente aqueles que desenvolveram a capacidade de auto-perdão conseguem energia para uma vida psicológica sadia. A criança faz isto muito bem. O perdão é a própria aceitação da vida do jeito que ela é, nos altos e nos baixos. O auto-perdão é a capacidade de dizer adeus ao passado, é a aceitação de que o passado é uma fantasia, é apenas saber perder o que já está perdido. O auto-perdão é um sim à vida que nos rodeia agora, é uma adesão ao presente, à única coisa viva que possuímos, que são nossas possibilidades neste momento. Não podemos abraçar o presente, a vida, o passado e a morte ao mesmo tempo. O perdão é uma opção para a vida, o auto-perdão é a paciência diante da escuridão, é o vislumbre da aurora no final da noite. O auto-perdão é o sacudir da poeira, é a renovação da auto-estima e da alegria de viver, é o agradecimento por sabermos que mais importante do que termos cometido um erro é estarmos vivos, é estarmos presentes.

Para encerrar este tema, quero sugerir-lhes uma reflexão sobre este texto escrito por Frederick Pearls: "Que isto fique para o homem! Tentar ser algo que não é, ter idéias que não são atingíveis, ter a praga do perfeccionismo de forma a estar livre de críticas, é abrir a senda infinita da tortura mental.

Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo é uma maldição e uma prisão. Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Amigo, não tenha medo de erros, erros não são pecados, erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles, você teve a coragem de dar algo de si".

(*) Antônio Roberto Soares é autor dos livros "É possível ser feliz" e Relacionamentos".

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Quantas coisas temos que fazer para manter um casamento?

A frase acima seria um bom título para um filme do Woody Allen. E como os filmes dele, nem sempre o final seria feliz ou previsível como a maioria das comédias românticas americanas.
Mas a pergunta incita respostas abrangentes. Uma ocasião conheci um homem maduro casado há mais de 20 anos que dizia não fazer mais sexo com sua esposa. Viviam como irmãos. E eu não via sentido nisso. Aliás, continuo não vendo. Mas a gente sabe que existem inúmeros casais que vivem assim e isso não tem nada a ver com a idade. Mas o casamento se mantém. O casal mora na mesma casa, dorme na mesma cama, convida amigos para jantar, viaja, comemora Natal, aniversários.
Em outros casos, a esposa mantém o marido apesar de ele traí-la sistematicamente. Mas isso está mudando. Há homens que estão achando caro manter a esposa, digamos, original de fábrica, e estão preferindo o divórcio e um novo relacionamento com alguém bem mais jovem e que não dê nem muitas despesas nem fique fazendo cobranças ou exigências. Tipo assim: estão trocando o Corolla anos 2005 por um Uno Vivace 2012.
E há os casais que ainda encaram o casamento como um aprendizado. E todo aprendizado implica cometer erros e corrigi-los. Mas isso exige uma boa dose de maturidade e alteridade, quer dizer, se colocar no lugar do outro antes de criticar, antes de cobrar, antes de exigir que o "outro" o aceite como você é, você deve aceitar o "outro" como ele é. E quem faz isso? Ou quem consegue fazer isso?
Por que respeitar o que o outro gosta é tão difícil? Por que somos essencialmente EGOístas e defendemos a satisfação de nossas necessidades acima de tudo. Claro que, tudo isso se processa internamente e nós nem nos damos conta. Por isso é tão importante a auto-observação. O se olhar e se enxergar. Mas nem todo mundo gosta, porque em geral o que se vê é muito diferente da nossa imagem idealizada de nós mesmos. Dói. Dói muito. Por isso esse processo, muitas vezes, diria que na maioria das vezes, deve ser acompanhado por um especialista: um padre, um pastor, um terapeuta, psiquiatra, psicólogo.
Porque dá um nó na cabeça. E uma dor enorme no coração. Acontece que sem isso não crescemos. Vamos continuar meninos e meninas mimados, filhinhos de nossas mamães e papais.
Não tenho a fórmula, não tenho receitas. E nem digo que o autoconhecimento é a fórmula ou a receita. É o processo.
Então, não tenho a receita para manter um casamento feliz (complemento que não estava no título deste post). Mas se não for para ser feliz, para que mantê-lo?
Então, não tenho a fórmula, mas sei por experiência própria que o esforço é grande e deve ser compartilhado. E quando um perceber que o outro não está se empenhando dentro da proposta inicial que o levou a ter um relacionamento sério e marital, sou a favor de falar. A dedicação deve ser mútua. Do contrário, mais cedo ou mais tarde, o Titanic vai encontrar um iceberg pela frente.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A familiaridade cria tédio

O rosto muda.
"A familiaridade cria tédio. Vc nunca é receptivo ao familiar. Vc nunca olha sua esposa. Ela está com vc há tantos anos que vc se esqueceu completamente de que ela existe. Qual é o rosto da sua esposa? Vc olhou para ela recentemente? Talvez já tenha se esquecido completamente do rosto dela. Se vc fechar os olhos e meditar e se lembrar, poderá se lembrar do rosto - e dos olhos - para o qual vc olhou pela primeira vez. Mas sua mulher é um fluxo, um rio mudando constantemente. O rosto mudou, ela agora ficou velha. O rio correu e correu, novas curvas foram formadas; o corpo mudou. Vc olhou para ela recentemente? Sua mulher é tão familiar que não há nenhuma necessidade. Devido à familiaridade, tudo desapareceu. Mas não foi sempre assim. Certa vez vc se apaixonou por essa mulher. Esse momento não existe mais; agora vc não olha absolutamente para ela. Maridos e mulheres evitam se olhar." (Osho, em Vida, Amor e Riso)
Vc já olhou para sua mulher hoje?

Vale para as esposas tb, é claro!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Entrevista com a atriz Patrícia Naves

Escrevi o texto abaixo em junho de 2010, por ocasião da Copa do Mundo. Seria para uma revista para a qual fazia um frila na época. Mas a pauta caiu então decidi agora publicar a entrevista que fiz com a atriz Patricia Naves, esposa do jornalista esportivo Mauro Naves. ela é uma gracinha, supergentil, me atendeu por telefone, de sua casa, entre uma viagem e outra, já que estava acompanhando o marido que cobria a Seleção Brasileira, antes de embarem para a África do Sul. Espero que gostem. Eu gostei.

“Agora veio o reconhecimento”


A atriz Patrícia Naves, na sala de sua casa
Patrícia conheceu Mauro Naves durante um Carnaval, no Rio, assistindo a um desfile da Grande Rio. Mas só conheceu. O interesse pelo jornalista da Rede Globo só foi se confirmar anos mais tarde quando, já separada do primeiro marido, reviu Naves. “Eu não queria saber de nada. Estava fechada para balanço.” Isso foi em 1995. Naves era solteiro, ela já tinha uma filha (Bárbara); ele tinha fama de namorador e Patrícia vinha de um casamento de 13 anos. Mas a paixão falou mais alto. No dia 3 de fevereiro de 1996 estavam se casando. Tudo bem que ela tomou a iniciativa de comprar as alianças de noivado porque achou que a relação estava se arrastando – “Sabe aquele chove não molha? Então resolvi oficializar. E ele topou numa boa”, comenta rindo.
Mineira de Patrocínio, cruzeirense (“lógico! Em Minas não tem outro time!”), Patrícia cresceu cercada de carinho e, principalmente, do apoio do pai, José Novaes, que deixou de herança, além de sólidos valores, o gosto pela pesca. Sim, Patrícia Naves, essa mulher linda, formada em Belas Artes pela UFMG adora pescar e leva os filhos Raíssa, 13 e Maurício, 9,  junto, tanto que eles já aderiram ao hobbie da mãe.
E como fica a paixão pelo marido que vive viajando? Ela conta que sempre soube que a vida de Naves era assim. “Quando ele não está no Exterior, cobrindo algum evento como Copa, Olimpíada ou Pan-Americano, está em alguma cidade do Brasil cobrindo um Brasileirão ou outros eventos”, se resigna. Aliás, dois dias depois de casados Mauro Naves embarcou para o Pré-Olímpico da Argentina, ficou mais ou menos 40 dias ausente, voltou e era ela que estava num desfile em Montevidéu. Ela engravidou em abril e aí ele partiu para a Olimpíada de Atlanta. Aniversários? Raramente comemoram juntos. “Meu filho Maurício só passou um aniversário do pai uma vez na vida”. Eu, só quando estive com ele na Granja Comari. A gente comemora depois.”
As saudades são grandes, Mauro sempre viajando e Patrícia também tem trabalhado bastante. “Mas antes era pior: telefone era muito caro e ruim. Agora tem o Skype, a gente se fala sempre!”, comemora. Fora isso, Patrícia costuma acompanhar as matérias em  que Mauro aparece. “Ele gosta, pede minha opinião, eu participo do trabalho dele”. E vice-versa. “Um entende o trabalho do outro”, diz.
E a atuação em Viver a Vida? “Tenho muita gratidão pelo Jayme (Monjardim, diretor da novela) e pelo Maneco (Manoel Carlos, autor) porque a Silvia me possibilitou ter certeza de que sou capaz. O Maneco escreve ao longo da novela e foi ele quem fez a personagem crescer”, diz modestamente. “A gente vê o reconhecimento das pessoas na rua, com uma energia muito boa pela admiração, pelo respeito, foi muito bom! Eu já tinha ficado contente com o meu trabalho em Paraíso Tropical, mas Viver a Vida foi o reconhecimento mesmo!”
E contracenar com o Thiago Lacerda? “E com o Rodrigo (Hilbert)! Ah, é como bate- bola entre amigos, a gente se divertia muito, era muito gostoso”.
E o futuro? “Atuar é o exercício constante da ansiedade. Se estiver trabalhando quer saber se está bom. Se não está trabalhando, quer saber quando vai ser chamado. Férias são boas, mas nessa profissão não dá pra ficar muito longe da mídia”, diz a atriz, que está analisando um texto de teatro, mas que só vai pensar nisso mesmo depois que voltar de uma viagem que fará eu o Mauro e as crianças, depois que a Copa terminar. “Vamos para Orlando, Portugal e Nova York. Aí, sim, vou retomar minha vida profissional.”


Patrícia Naves:
Um filme: Cinema Paradiso – lembra minha própria infância.Eu ia num cinema muito parecido com o do filme na cidade que nasci.
Um livro: Presente do Mar, de Anne Lindbergh – fala sobre as diferentes fases da vida da mulher. É meu livro de cabeceira.
Um sucesso: Viver a Vida
Um ator: Mateus Solano – eu não o conhecia e me surpreendi com o talento dele principalmente porque o Maneco entregava o texto um dia antes da gravação
Uma atriz: Alinne Moraes – impecável sua atuação
Um ídolo – meu pai, José Novaes
Uma viagem: foram muitas que eu fiz em companhia do Mauro, mas à Grécia foi a mais romântica.
Um som: minha filha Bárbara tocando piano para mim. Ela agora mora em Portugal, toca vários instrumentos e agora é DJ. Adoro quando ela toca o tema de Cinema Paradiso no piano para mim.
Um sonho: ter a oportunidade de realizar meus objetivos

terça-feira, 22 de março de 2011

Dia Mundial da Água - Atividades em Santo André

Para celebrar o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, a Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense preparou uma programação, com uma exposição sobre os mananciais e atividades nas escolas da região. Todas as atividades são gratuitas.
A programação começa no próprio dia 22, com a abertura da exposição “Proteja os Mananciais”, que busca esclarecer o que é um manancial e qual a importância de protegê-lo. São 14 banners que apresentam as principais ameaças à produção de água de qualidade e em quantidade para o consumo e algumas das alternativas para sua recuperação e preservação. A mostra aborda ainda a criação das Áreas de Proteção e Recuperação aos Mananciais (APRM) das Bacias Hidrográficas dos Reservatórios Guarapiranga e Billings, mananciais de grande relevância da Região Metropolitana de São Paulo. A exposição estará aberta à visitação até o dia 29, das 9h30 às 16h, no Centro de Visitantes do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba.
E nos dias 22, 24 e 25 de março, acontece a oficina “Brincando e aprendendo sobre os recursos hídricos”, nas escolas de Paranapiacaba e Parque Andreense. A atividade, destinadas aos alunos do ensino infantil e fundamental, contará com uma série de jogos interativos sobre a temática dos recursos hídricos. Também será debatido com os grupos a necessidade da economia de água.
A Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense foi criada em 2009. Ela é a responsável pela administração de 55% do território de Santo André e compreende, além da histórica vila ferroviária, a área de proteção e preservação de mananciais da cidade.

Serviço:

Programação do Dia Mundial da Água em Paranapiacaba e Parque Andreense

Exposição “Proteja os mananciais”
De 22 a 29 de março, das 9h30 às 16h, no Centro de Visitantes do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba (Av. Rodrigues Alves, 471 A, na Parte Baixa de Paranapiacaba).

“Brincando e aprendendo sobre os recursos hídricos”
Dias 22, 24 e 25 de março
Atividades relacionadas à temática dos recursos hídricos, nas escolas de Paranapiacaba e Parque Andreense.
Todas atividades são gratuitas
Mais informações sobre a programação: 11 4439-1327

Walkiria queria

Super Lua no Perigeu
Walkiria queria um dia pra ela. Sabe assim? no meio da semana. Não no sábado ou no domingo ou no feriado. Não. De semana. Pra fazer café no meio da manhã e comer sequilhos na frente do computador enquanto assistia aos videos enviados pelos amigos por e-mail que só lotavam sua caixa postal. Pra ler o que desse na telha, pra ver TV, ouvir música, dançar, espichar na cama, brincar com os gatos e não fazer nada. Walkiria queria dormir depois do almoço, acordar e olhar a janela lá fora e ver que estava garoando e pensar - que bom! eu estou aqui no quentinho. Não sair pra nada, mergulhar dentro de si mesma. Walkiria queria. Queria desligar o telefone da tomada e desligar-se do mundo das vozes, das cobranças, dos vendedores chatos de telemarketing que, sim, estão fazendo o seu trabalho mas são chatos. Queria, fazer pipoca e comer vendo aquele filme que há séculos ensaia assistir. Walkiria queria não ter roupa pra lavar, pra passar...não todos os dias. Mas ela também não queria ter uma pessoa que fizesse isso, mas que necessitasse de sua presença ali explicando, fiscalizando. Não. Se um dia tiver uma secretária quer uma que tenha iniciativa, que faça sem mandar. Walkiria queria.

Walkiria queria voltar ao passado e consertar umas coisinhas. Queria refazer outras. Não fazer umas tantas. Walkiria queria. Queria ter muitas plantas em sua sala, um jardim na frente de casa, um ipê na calçada fazendo sombra e amarelando o céu no inverno quando florescesse. Queria um pé de goiaba no quintal, junto com uma horta cheia de alface, tomate e chuchu. Walkiria queria que da  janela do seu quarto pudesse ver o por do sol todos os dias. Mas na hora do por do sol Walkiria não está na janela do seu quarto. Walkiria sentiu raiva de morar numa cidade nublada e perder o espetáculo do Perigeu - que é quando a Lua está mais perto da Terra - fenômeno que só acontece de 18 em 18 anos. Agora, no próximo, vou ter 70 anos! pensou. E então Walkiria se assusta com a conta. E acorda do seu sonho de querer.

Anotações sobre o Feminino

Estou lendo o livro "Mulher: Em busca da feminilidade perdida", organizado por Connie Zweig, uma analista junguiana que, a partir de um determinado sonho decide escrever o livro porque, segundo ela, "aprendi que o alinhamento com meu pai, e - através dele, com a propensão da sociedade de ser patriarcal ou dominada pelo masculino - para possuir plena e conscientemente minha própria identidade feminina - eu precisava romper a conexão com a mente masculina lógica que havia conduzido minha vida como se fora o capitão de um navio disciplinado."
Connie vai desenhando um mosaico de definições sobre o que é feminino, masculino, patriarcal e matriarcal através dos textos de seus convidados, todos também analistas junguianos. As principais questões que Connie pretende desvendar são: o que significa ser mulher num mundo altamente masculinizado para as mulheres que não querem "se masculinizar"? Por que algumas mulheres ainda confundem ser femininas com subserviência e submissão? Por que algumas mulheres não conseguem ser femininas ocupando altos cargos e sendo bem-sucedidas profissionalmente? Por que tantas mulheres querem ter bebês ainda que tardiamente, só para dizer que passou pela experiência da maternidade? e por que se fala tanto sobre espiritualidade feminina e Deusa, quando somos dominados por religiões culturalmente ordenadas pelo masculino?
Já li alguns textos do livro e confesso: isso tudo está mexendo muito comigo. Estou me identificando com vários conteúdos e me questionando sobre meu papel de mãe, de filha, de mulher. E ando ficando muito rebelde, mais do que já sou normalmente e não sei muito bem qual o fim dessa estrada. Se dará em nada? Ando cansada. E confusa. e ao mesmo tempo disposta. e ao mesmo tempo lúcida!
Quero vestir saia, vestido, apesar do trabalho que dá e das cobranças: suas pernas não são mais as mesmas de 30 anos. Você não é a Hebe, a Ana Maria Braga, a Susana Vieira...Você é uma mulher comum, pobre, que não fez lipo, não colocou silicone e teve três filhos. Não faz ginástica, não tem tempo de caminhar, de se cuidar mais, nem grana. Você é isso aí que o espelho mostra diariamente e de forma bem cruel. Uma mulher cinquentona cujo viço da pele vai se perdendo apesar do uso constante e quase compulsivo do hidratante. Os cabelos teimam em ficar cada vez mais brancos, os músculos, cada vez mais flácidos. A barriga, mais roliça, os quilos a mais que, renitentes, não saem do marcador da balança. E tudo isso porque você cismou de deixar a velha calça azul e desbotada no armário para sair me busca do feminino perdido.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um mundo de descontos no clique do mouse

Costa dos Alcatrazes: descontos em hotéis
Quer descontos para passear e se divertir?
O São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB) acaba de lançar o catálogo online Bem Receber 2011. São mais de 130 ofertas de benefícios e descontos de 5% a 60% em serviços, espaços culturais e de entretenimento da cidade. Os cupons podem ser pesquisados e impressos automaticamente pelo site www.descontosp.com.br.
São tarifas especiais em hospedagem e gastronomia e benefícios como segundo hóspede cortesia em hotéis de bandeira internacional ou um delicioso welcome drink em restaurantes renomados. A escolha é fácil e intuitiva. O usuário busca as ofertas de acordo com sua preferência. A procura pode ser feita por categorias que vão de escolas a parques temáticos, por localidade ou até mesmo por faixa de desconto.
Atrações dos destinos parceiros do SPCVB no interior e litoral do Estado também podem ser aproveitados com economia e praticidade. São 14 cidades próximas à capital paulista que oferecem atividades diferenciadas de turismo de aventura e relaxamento. Entre elas estão Brotas, Costa dos Alcatrazes, Ilhabela, Itu e São Roque.
“Os cupons representam uma ótima forma de promover os atrativos da cidade e deixar uma lembrança marcante. Além disso, contamos com mais de 580 associados de diferentes setores, o que facilita uma oferta diversificada”, considera o diretor superintendente da entidade, Toni Sando. Válido para o primeiro semestre de 2011, o catálogo será divulgado em 20 mil cartões-postais da cidade, para distribuição nas principais feiras e eventos pelo Brasil.

Programa Bem Receber

Criado em 2006, o Bem Receber reúne uma série de ações para cativar visitantes de negócios e lazer por meio da boa receptividade. O programa oferece treinamentos para atendentes e concierges da rede hoteleira, além de policiais militares e taxistas, orientando-os sobre como atender bem e encantar o visitante que chega à capital paulista, seja a negócios ou a lazer. O principal objetivo é convencer os turistas a esticar sua permanência na cidade por pelo menos um dia. O projeto contempla ainda a presença do Bem Receber em grandes feiras e eventos, com distribuição de cupons com descontos e benefícios em atividades culturais e de entretenimento.

Sobre o SPCVB

Com 27 anos de existência e primeiro Convention & Visitors Bureau da América do Sul, o SPCVB é uma fundação estadual de direito privado, sem fins lucrativos, congregando atualmente aproximadamente 580 associados-mantenedores, que representam todos os segmentos do trade turístico paulistano. Seus objetivos são a ampliação do número de visitantes em São Paulo - hoje em torno de 11 milhões - e o aumento de sua estadia em nossa cidade, além de dinamizar o volume de negócios e o mercado de consumo na capital. Para isso, busca integrar setores da sociedade por meio de parcerias público-privadas e facilitar novos projetos que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e da renda da população em São Paulo.


Acesse www.visitesaopaulo.com

PSICOLOGIA DO DINHEIRO

Quem disse que dinheiro não dá em árvore?
Compreender o significado e as atitudes das pessoas perante o dinheiro levando em conta padrões familiares e tabus transmitidos de geração em geração ao longo do ciclo vital, é o processo proposto pela psicóloga Valéria Meirelles, que estuda a Psicologia do Dinheiro – teoria ainda inédita no Brasil, uma das áreas da Psicologia Econômica.

Especialista em terapia de Casal e Família (PUC-SP) e Mestrado no Núcleo de Estudos de Psicologia Clínica em Família e Comunidade (PUC-SP), aprofundou-se no tema já publicado na Europa em 1987 e detalhado em 1998 no livro “The Psychology of Money” (Adrian Furnham e Michael Argyle) que refinou a teoria, incluindo as patologias financeiras: vício em jogo, consumismo, avareza, entre outras.

Agora, Valéria traz a teoria para a realidade brasileira em sua tese de doutorado, em andamento, intitulada “Cara e Coroa – Atitudes de Homens e Mulheres perante o Dinheiro ao longo do ciclo vital”.

Tanto nas pesquisas bibliográficas como na prática clínica, a psicóloga encontrou os motivos que levam as pessoas a terem péssimas relações com o dinheiro. “Ainda que o dinheiro faça parte de nosso dia a dia, se pensarmos bem, nem mesmo nossos pais se pararam para nos dar noções básicas sobre o seu uso. Aprendemos muito mais assistindo do que com explicações. Sem perceber, repetimos padrões financeiros familiares que ora nos ajudam, ora nos atrapalham, dependendo do contexto e da relação”, diz Valéria.

A Psicologia do Dinheiro torna-se importante ferramenta especialmente aqueles que se interessam pelo Planejamento Financeiro, pois antes de saber como poupar, onde investir e gastar com inteligência é importante saber o que ele significa para você e qual o lugar que ocupa em sua vida.

“A questão do dinheiro não é só capitalista, é mental. Afinal, por que sabemos exatamente o que deve ser feito para poupar, e mesmo assim, muita gente não consegue, demonstrando atitudes completamente irracionais?”, questiona.

Há também a questão familiar: Muitas vezes, frases feitas e repetidas ao longo da vida de um indivíduo marcam profundamente a visão dele sobre o dinheiro. Por exemplo: “Dinheiro não é tudo na vida”. “Só com muito esforço o dinheiro vem”. “Quem muito quer, pouco tem”. Parece simples desvencilhar-se dessas crenças, mas elas ficam muito mais enraizadas do que se pode imaginar e para isto, é importante também identificar e direcionar.

Através da junção de conceitos de terapia familiar (área de origem na formação de Valéria) com a Psicologia do Dinheiro, a psicóloga se propõe a ajudar as pessoas a identificarem o que foi exposto até aqui para então poderem colocar em prática os ensinamentos sobre dinheiro (que fazem parte da Educação Financeira) e claro, atingirem seus objetivos de maneira mais consciente e saudável.

Tabu

Falar de Dinheiro seja em família, entre amigos, com parceiros, cônjuges muitas vezes é mais difícil do que falar de sexo. “O dinheiro é um verdadeiro tabu. Pouco se discute, pois a maioria das pessoas sente-se desconfortável em falar sobre ele, especialmente quando envolve amor. Por dinheiro muito se constrói, mas também muito se disputa. Famílias se rompem e muitas heranças negativas são deixadas por gerações”, diz Valéria. Segundo a especialista, a Psicologia do Dinheiro trabalha todos esses assuntos com objetivo de ajudar as pessoas a compreenderem o significado do dinheiro em suas vidas, identificar as atitudes que possuem em relação a ele e a partir daí promover uma mudança que gere ganhos financeiros e pessoais.

São estes os temas que a Psicologia do Dinheiro engloba: atitudes frente ao dinheiro; jovens, socialização econômica e dinheiro; dinheiro e a vida do dia a dia; loucura do dinheiro – dinheiro e saúde mental; bens e heranças; dinheiro e a família; dinheiro no trabalho; desperdício de dinheiro; os muito ricos; dinheiro e felicidade.

Valéria Meirelles é formada em Psicologia pela USP há 21 anos; Mestre e Doutoranda pela PUC-SP e especialista em Terapia de Casal e Familiar (PUC-SP). Atua em na área clínica há 19 anos. Também é Coach.

Fonte:Floter & Schauff Assessoria de Imprensa
Jornalista Responsável: Christiane Alves
Tel: ( 11 )  3085-6583
Fax: ( ) 
Email: christiane@flotereschauff.com.br

terça-feira, 15 de março de 2011

Memorial da resistência/Pinacoteca/Jardim da Luz

Prédio onde funcionava o Deops, em 64
Entre 1964 e 1980 o Brasil viveu sob o regime de Ditadura Militar. Essa história está registrada no Memorial da Resistência de São Paulo, uma instituição dedicada à preservação das memórias da resistência e da repressão políticas instalada em parte do edifício que sediou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo – Deops/SP, entre os anos de 1940 a 1983.
O Memorial foi inaugurado em 24 de janeiro de 2009,  para lembrar a população de uma fase negra, escura e triste na nossa história. 
Estive lá na semana passada e pude ver as celas onde os presos políticos eram mantidos. Eram quatro celas. Em cada uma delas ficavam de 16 a 30 pessoas, dependendo da época. As pessoas eram torturadas - não nas celas - mas próximo dali de modo que os presos ouviam os gritos dos torturados além de verem em que condições eles voltavam das sessões de tortura.
Lá no museu é possível ouvir depoimentos de sobreviventes sobre a rotina da prisão.
Uma das celas foi mantida intacta com as marcas nas paredes dos nomes das pessoas que passaram por lá. Mantiveream alguns colchonetes e toda uma ambientação representando aqueles dias negros.
É de arrepiar.
Tirando esse aspecto triste o Memorial possui um programa museológico estruturado em procedimentos de pesquisa, salvaguarda (ações de documentação e conservação) e comunicação (exposições e ação educativa e cultural) patrimoniais por meio de seis linhas de ação. Voltadas à pesquisa e à extroversão dos principais conceitos norteadores do Memorial e atuando articuladamente, essas linhas objetivam fazer da instituição um espaço voltado à reflexão e que promova ações que possam colaborar na formação de cidadãos conscientes e críticos, sensibilizando para a importância do exercício da cidadania, da valorização da democracia e do respeito aos direitos humanos.
- Centro de Referência (conexão em rede com fontes documentais e bibliográficas)
- Lugares da Memória (inventário dos lugares da memória localizados no Estado de São Paulo)
- Coleta Regular de Testemunhos (registro de testemunhos de cidadãos envolvidos com as ações do Deops/SP)
- Exposição (exposição de longa duração e mostras temporárias)
- Ação Educativa (encontros de formação para educadores, produção de materiais pedagógicos de apoio, visitas educativas e palestras)
- Ação Cultural (seminários, lançamento de filmes e de livros, apresentação de peças de teatro)(parte do texto extraído do site da Pinacoteca do Estado).
Após a visita é possível relaxar na cafeteria do espaço, bem decorada e com vista para o pátio do estacionamento da SalaSão Paulo. Tomamos dois cafés simples, uma Schwepps e comemos um pão de quijo e dois quibes. Pagamos em torno de R$ 20.
Saguão da Estação Sorocabana/Sala São Paulo
O Memorial fica ao lado da Sala São Paulo, o imponente edifício da Estrada de Ferro Sorocabana que abriga hoje a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e uma das mais importantes casas de concertos e eventos do País.
Quando fui não estava aberta à visitação, mas apreciar a arquitetura do prédio em si já é um deleite. Ele possui um salão gigante com três lustres enormes, que faz divisa com a estação. Aliás, a estação também possui uma arquitetura fantástica com as estruturas de ferro  e a bilheteria que manteve a decoração em madeira original, bem como o relógio que lembra o da estação de trem da antológica cena do filme Os Intocáveis.
"O caipira picando fumo", de Antonio Almeida




Também estive na Pinacoteca do estado e no Jardim da Luz . A Pinacoteca está em reforma e promete reabrir com muitas novidades. Mas é possível ver parte do acervo formado por obras importantes como os quadros de Antonio Almeida, Di Cavalcanti, Anita Malfati, Volpi e Cândido Portinari. É possível através do site se informar sobre a data da abertura da nova disposição de exposição do acervo. Mas assim como a Sala São Paulo, o prédio da Pinacoteca já vale o passeio. Há também uma loja funcionando e uma cafeteria também em reforma que reabrirá na nova fase. Para entrar na Pinacoteca, durante a semana, você paga R$ 6 inteira e R$ 3 meia entrada. Os ingressos valem para o Memorial.
Algumas obras a Pinacoteca estão no Jardim da Luz
Ao lado o Jardim da Luz, com seus mais de 110 mil metros quadrados de Mata Atlântica está ao lado da Estação da Luz, próximo ao Museu de Arte Sacra de São Paulo e ao Departamento Histórico da Prefeitura do Município. No Jardim, encontra-se a sede da Pinacoteca de São Paulo. Originalmente um jardim botânico, foi transformado em jardim público no fim do século XIX.
Em 1900 foi aí inaugurada a sede do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, prédio que atualmente abriga a supracitada Pinacoteca.
O aquário da Luz está com a água muito suja
Durante grande parte do século XX o Jardim passou um grave período de degradação, servindo de zona de prostituição e tráfico de drogas. A situação reverteu-se com uma política de revitalização da região central levada a cabo pelo Governo do Estado cujos resultados foram, entre outros, a instalação de esculturas ao longo do parque, reforma da Pinacoteca, maior policiamento e valorização da região.
Algumas obras do acervo da Pinacoteca estão expostas no parque que também possui um aquário (que poderia estar mais bem cuidado)
Um casal de namorados
no subsolo de um dos lagos. Apesar de as instalações estarem limpas e, pasmem!, sem cheirinho de xixi - comum naquela região da cidade - a água dos peixes está muito turva e com poucos peixes. Tem também uma caverna artificial bem interessante. Em cima dela fica um belvedere com bancos em volta, um lugar bem romântico, bom para namorar. 
Vista lateral do prédio da Pinacoteca
Pra fazer um passeio desse não se gasta muito, mas é bom vestir roupas bem confortáveis e tênis ou sapatos que não apertem os pés porque a gente anda muuuito. É bem agradável o contato com a natureza e com as obras de arte. Assim como, apesar de não ser tão agradável o contato com as celas do  Memorial, mas é bacana ver que moramos num país de relativa liberdade onde se pode lembrar de tempos que deveriam ser esquecidos mas ao mesmo tempo, devem ser lembrados para que não se repitam. Todas as escolas, faculdades, igrejas e comunidades deveriam organizar visitas a esses locais, principalmente ao Memorial para que essas novas gerações tomem consciência dos erros do passado e eles não se repitam.





segunda-feira, 14 de março de 2011

Digressões de Walkiria

Ligar ou não ligar, desligar, deixar pra lá, sem se importar, esquecer, desfrutar, dormir, saborear, degustar, esquecer, mergulhar, em si mesmo, esquecer, desligar, relaxar, des-sofrer, des-doer. Viver para si. Esquecer o outro, do outro, desligar-se, do outro. Ligar-se em si, mergulhar em si mesmo. Olhar para dentro, dentro, foco, centro, centrada, ser. Inteira, íntegra, entrega, entregar, entregar-se sem perdas, perdoar, perder, perder-se do outro. Diferenciar-se. Ser você: você é você e o outro é outro.

terça-feira, 8 de março de 2011

Do diário óbvio de Walkiria - 27/12/2010

Walkiria estava tomada por uma angústia que doía por dentro, corroía, ardia entre as pernas. Uma mistura de desejo e raiva, desejo e medo, desejo e dúvida.
Ela queria muito ter coragem de dizer olhos nos olhos tudo o que estava sentindo, mas quando ficava a sós com Maurício ficava muda.
Era assim. Maurício era o pai de seus filhos. Eles estavam separados há mais de 10 anos. Um dia, tempos atrás, Wal viu uma reportagem no Globo Repórter que mostrava um casal que voltara após 10 anos de divórcio. Na época, ela achou um absurdo e pensou que isso nunca, jamais aconteceria com ela. Porém, o que era então isso agora? Não era a primeira vez que ela pensava em voltar. Não voltar para o passado, porque ninguém volta para o passado. Mas voltar para o sentimento que ela ainda nutria por Maurício e que negara durante uns bons pares de anos. No começo da separação, claro, foi aquela confusão, muita briga, discussão, ofensas. Mas Wal, já fazia um tempão, não aguentava mais saber que Maurício tinha namorado Ana, Beatriz,Carolina, Daniela....era melhor não pensar. Hoje Walkiria entendia que chegou ao cúmulo de receber em sua casa uma das tais namoradas e as pessoas ficavam divididas: ah, como a Wal é moderna e compreensiva...ah, como a Wal é boba, onde já se viu? Hoje ela sabe que não vai mais admitir isso. Hoje, Walkiria entende que a pseudo modernidade era a mais pura manifestação de sua persona, a máscara que todos criamos para conseguir sobreviver nesse mundão de Deus. Se Maurício não ficasse com ela, se Maurício tivesse outra namorada qualquer, além de morrer (e de ter de renascer, como sempre) Walkiria sabia que nunca mais conseguiria olhar nos olhos dele.
Walkiria imaginava que, agora, uma vida a dois teria de ser construída, tijolo a tijolo, por mais lugar-comum que a expressão pudesse ser. Dia a dia. Mas de uma coisa ela tem certeza: não vai sobreviver emocionalmente a outros casos dele. Se casos existirem.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O movimento do trem

O trem partiu silencioso. Foi tomando velocidade aos poucos. Acelerava e rapidamente ficava difícil identificar a paisagem do lado de fora. Apenas o céu parecia imóvel, estático. Era verão. O mais quente dos últimos dez anos, diziam os especialistas em metereologia. Walquiria tentava ficar acordada, mas a vontade de fechar os olhos e dormir era muito grande. Seria uma fuga da realidade tanto sono, ou apenas cansaço físico por estar sem férias há quase cinco anos? O trem seguia seu caminho. Ela ainda não havia analisado se o trem de sua vida ir rápido como estava indo era bom ou ruim. Ela só sabia que estava gostando do ritmo que a sua vida estava caminhando. Assim como aquele trem, sua vida ganhava um ritmo diferente. Espaços antes não ocupados agora eram preenchidos. Às vezes ela se surpreendia, não imaginava que outra pessoa pudesse ocupar tanto espaço na sua vida como agora, o seu guerreiro perdido - e encontrado - ocupava.
A começar pela cama: Walkiria tinha uma cama enorme onde antes dormia sozinha com uma das cachorrinhas de estimação. Agora a cama era mais estreita e dividida com seu guerreiro. A cachorrinha dorme em sua caminha sem reclamar. Submeteu-se à presença do macho alfa sem rebeldia. E Walkiria dorme feliz, acorda feliz. Dorme de conchinha, acorda com surpresas agradáveis.
Mas, às vezes, Walkiria se pega com ciúmes das aventuras do guerreiro. As mulheres, as viagens...um mundo que ele viveu. Ela não gosta de pensar, mas de vez em quando ele traz para o presente um fato banal qualquer citando uma "amiga" qualquer e Walkiria já imagina se ele teve ou não teve um caso com ela, se foi bom, se gostou, se ainda pensa nela, se ainda se comunica com ela, se ela manda torpedos no celular...Walkiria se impõe uma tortura atroz. Alucinante. Sofre. Sente dor. Tenta se controlar, é verdade. É esforçada. Tenta racionalizar pensando: mas, e daí? ele está comigo agora. Ele me escolheu, ele tomou uma decisão. Ah, mas isso tudo é tão bonito na teoria...Walkiria gostaria muito de se livrar de seus medos, de confiar mais em si mesma...mas isso tudo é muito bonito no papel. Na prática, na vida real...E Walkiria se põe a imaginar: e se fosse ele? Então, puxa pela memória e lembra: sim, ele faz cara feia quando ela comenta algo do seu passado e inclui um personagem masculino. Sim, ele parece não gostar. Sim, ele não pergunta nada para não sofrer como você sofre Walkiria. Será? Walkiria acha que seu guerreiro não se importa com ela como ela se importa com ele. Sim, minha amiga ainda precisa de anos-luz de terapia porque é ela que não se importa com ela como deveria se importar e se seu amor por si mesma bastasse não precisaria do amor ou da atenção ou da consideração de quem quer que seja. Mas Walkiria está longe de se amar. Não se ama e odeia imaginar seu guerreiro ao lado de qualquer outra mulher. Odeia. É possessiva, sim. Aceitar esse fato já é um caminho para a cura. Embora esse caminho seja infinitamente longo.Quando Walkiria se dá conta, o trem estaciona com um tranco na plataforma da estação. Walkiria acorda do cochilo naquela tarde quente e modorrenta.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Só Tinha De Ser Com Você

Neste fim de semana meu amor dedicou esta música para mim. Acho que não preciso dizer mais nada. A letra fala da nossa história. E isso basta.
Letra e música de Tom Jobim / Aloysio de Oliveira
 
É,
Só eu sei
Quanto amor
Eu guardei
Sem saber
Que era só
Pra você.
É, só tinha de ser com você,
Havia de ser pra você,
Senão era mais uma dor,
Senão não seria o amor,
Aquele que a gente não vê,
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você.
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você.
É, você que é feito de azul,
Me deixa morar nesse azul,
Me deixa encontrar minha paz,
Você que é bonito demais,
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
É, você que é feito de azul,
Me deixa morar nesse azul,
Me deixa encontrar minha paz,
Você que é bonita demais,
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim

Só tinha de ser com você - Elis Regina

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu sei que vou te amar - Toquinho e Orquestra Arte Viva - Vinicius Jobim

Reciclando o coração


Acordei esta manhã com a frase-título na cabeça: reciclando o coração. "Reciclagem: ato, processo ou efeito de reprocessar uma substância, quando sua transformação está incompleta ou quando é necessário aprimorar suas propriedades ou melhorar o rendimento da operação como um todo; reutilização com uma nova roupagem; revisão ou modificação de política, método de trabalho, etc.;adaptação a uma nova utilização."
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)




Tem tudo a ver.
A substância pode ser interpretada como sentimentos guardados, armazenados de forma equivocada, bem como mágoas, ressentimentos, medos. Aprimorar as propriedades de sentimentos como o amor, ser mais tolerante, paciente, verdadeira. Melhorar o rendimento da operação como um todo, ou seja, estar atenta aos detalhes de um relacionamento. Ser terna, doce, disposta. Se observar, respeitar o outro, o tempo do outro, o jeito do outro, como o outro funciona, sem esquecer de ME respeitar, respeitar meu próprio tempo, meu jeito, como funciono.
Dizer o que penso, sinto, como enxergo a realidade sem magoar, ofender, denegrir. Mas dizer, não camuflar, esconder, sabotar.
Me soltar mais, ser mais eu. Sem medos, inseguranças.
Esquecer o passado, não temê-lo.
Confiar mais.
Isso tudo eu já sei. Só falta colocar em pura prática.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

Começo 2011 com uma séria reflexão

Polêmica

"Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade"

Em novo livro, o filósofo e neurocientista americano Sam Harris propõe a criação de uma 'ciência da moralidade' para acabar de uma vez por todas com a influência da religião

Marco Túlio Pires
"A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado", diz Sam Harris "A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia"
"Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta"
"O Papa é culpável pelo escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica"
—Sam Harris
Quando o filósofo americano Sam Harris soube que o atentado ao World Trade Center em Nova York (Estados Unidos), no dia 11 de setembro de 2001, teve motivações religiosas, a briga passou a ser pessoal. Harris publicou em 2004 o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras) — uma brutal investida contra as religiões, segundo ele, responsáveis pelo sofrimento desnecessário de milhões. Para Harris, os únicos anjos que deveríamos invocar são a ‘razão’, a ‘honestidade’ e o ‘amor’.
Divulgação
"A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado", diz Sam Harris
Ao entrar de cabeça em um assunto tão delicado, o filósofo de 43 anos conquistou uma legião de inimigos e deu início a uma espécie de combate literário. Em resposta à repercussão de seu primeiro livro, que levou à publicação de livros-resposta sob as perspectivas muçulmana, católica e outras, os ataques de Harris à fé religiosa continuaram em 2006, com o lançamento do livro Carta a Uma Nação Cristã (Companhia das Letras).

Criado em um lar secular, que nunca discutiu a existência de Deus e nunca criticou outras religiões, Harris recebeu o título de Doutor em Neurociência em 2009 pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos). A pesquisa de doutorado serviu como base para seu terceiro livro, lançado em outubro de 2010: The Moral Landscape (sem edição brasileira). Nele, Harris conquista novos inimigos, dessa vez cientistas.

Agora, Harris tenta utilizar a razão e a investigação científica para resolver problemas morais, sugerindo a criação do que ele chama de "ciência da moralidade". Ele afirma que o bem-estar humano está relacionado a estados mentais mensuráveis pela neurociência e, por isso, seria possível investigar a felicidade humana sob essa ótica — algo com que a maioria dos cientistas está longe de concordar.
A ciência da moralidade substituiria a religião no papel de dizer o que é bom ou mau. Esse ‘novo ateísmo’ rendeu a Harris e outros três autores proeminentes — Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens — o título de 'Cavaleiros do Apocalipse'.

Em entrevista ao site de VEJA, Harris explica os pontos mais sensíveis de sua argumentação, e afirma que descrer de Deus é um atalho para a felicidade.

Por que a moralidade e as definições do bem e do mal não deveriam ser deixadas para a religião? O problema com relação à Religião é que ela dissocia as questões do bem e do mal da questão do bem-estar. Por isso, a religião ignora o sofrimento em certas situações, e em outras chega a incentivá-lo. Deixe-me dar um exemplo. Ao se opor aos métodos contraceptivos, a doutrina da Igreja Católica causa sofrimento. É coerente com seus dogmas, embora eles levem crianças a nascerem na pobreza extrema e pessoas a serem infectadas pela aids, por fazerem sexo sem camisinha. Através das eras, os dogmas contribuíram para a miséria humana de maneira tremenda e desnecessária. 

Nem toda moralidade é baseada em religião. Existe uma longa tradição de pensamento moral secular por meio da filosofia. O que há de errado com essa tradição? Não há nada de errado com ela a não ser o fato de que a maior parte das discussões filosóficas seculares são confusas e irrelevantes para as questões importantes na vida humana. Deveria ser consenso o apreço ao bem-estar humano. Se alguma coisa é má, é porque ela causa um grande e desnecessário sofrimento ou impede a felicidade das pessoas. Se alguma coisa é boa, é porque ela faz o contrário. Mas existem filósofos seculares batendo cabeça em debates entediantes, dizendo que não podemos falar de verdade moral. Segundo eles, cada cultura deve ser livre para inventar seus ideais morais sem ser perturbado por outros. Isso é loucura. Hoje reconhecemos que a escravidão, que era praticada por muitas culturas, era fonte de sofrimento. Nesse caso, deixamos para trás o relativismo. Por que não podemos fazer o mesmo em outros casos?
Você parece sugerir que a tolerância a outros credos não é uma virtude, como a maioria pensa. Por quê? É um posicionamento inicial muito bom. A tolerância é a inclinação para evitar conflito com outras pessoas. É como queremos que a maioria se comporte a maior parte do tempo quando se depara com diferenças culturais. Mas quando as diferenças se tornam extremas e a disparidade na sabedoria moral se torna incrivelmente óbvia, então, a tolerância não é mais uma opção. A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia. Não podemos tolerar uma jihad global. A ideia de que se pode chegar ao paraíso explodindo pessoas inocentes não é um arranjo tolerável. Temos que combater essas coisas por meio da intolerância às pessoas que estão comprometidas com essa ideologia. Não acredito que seria possível sentar à mesa com, por exemplo, Osama Bin Laden e convencê-lo que a forma como ele enxerga o mundo é errada.

Por que a ciência deveria ditar o que é certo e o que é errado? Temos que reconhecer que as questões morais possuem respostas corretas. Se o bem-estar humano surge a partir de certas causas, inclusive neurológicas, quer dizer que existem formas certas e erradas para procurar a felicidade e evitar a infelicidade. E se as respostas corretas existem, elas podem ser investigadas pela ciência. Chamo de ciência o nosso melhor esforço em fazer afirmativas honestas sobre a natureza do mundo, tendo como base a razão e as evidências.
O que é a ciência da moralidade e o que ela quer conquistar? É a ciência da mente humana e das variáveis que afetam a nossa experiência do mundo para o bem ou para o mal. Ela pretende discutir, por exemplo, o que acontece com mulheres e garotas que são forçadas a utilizarem a burca [vestimenta muçulmana que cobre todo o corpo da mulher]. São efeitos neurológicos, psicológicos, sociológicos que afetam o bem-estar dos seres humanos. Com a burca, sabemos que é ruim para as mulheres e para a sociedade. Se metade de uma sociedade é forçada a ser analfabeta e economicamente improdutiva, mas ter quantos filhos conseguir, fica óbvio que essa é uma estratégia ruim para construir uma população que prospera. O objetivo é entender o bem-estar humano. Assim como queremos fazer convergir os princípios do conhecimento, queremos que as pessoas sejam racionais, que avaliem as evidências, que sejam intelectualmente honestas e que não sejam guiadas por ilusões. A Ciência da Moralidade pretende aumentar as possibilidades da felicidade humana.
O senhor afirma que há um muro dividindo a ciência e a moralidade. No que ele consiste? Existem razões boas e ruins para a existência desse muro. A boa é que os cientistas reconhecem que os elementos relevantes ao bem-estar humano são extremamente complicados. Sabemos muito pouco sobre o cérebro, por exemplo, para entender todos os aspectos da mente humana. A ciência espera um dia responder essas questões e isso é muito bom. A razão ruim é que muitos cientistas foram confundidos pela filosofia a pensar que a ciência é um espaço sem valores. E a moralidade está, por definição, na seara dos valores. Esse muro não será destruído enquanto não admitirmos que a moralidade está relacionada à experiência humana, que por sua vez está relacionada com o cérebro e com a forma pela qual o universo se apresenta. Ou seja, por elementos que podem ser investigados pela ciência.

Quais avanços científicos lhe fazem pensar que, agora, a moralidade pode ser tratada a partir do ponto de vista do laboratório? Temos condição de dizer quando uma pessoa está olhando para um rosto, ou uma casa, ou um animal, ou quais palavras ela está pensando dentro de uma lista. Esse nível cru de diferenciação de estados mentais está definitivamente ao alcance da ciência. Sabemos quando uma pessoa está sentindo medo ou amor. Por causa disso podemos, em princípio, pegar uma pessoa que diz não ser racista, colocá-la em um medidor e verificar se ela está falando a verdade. Não apenas isso, podemos descobrir se ela está mentindo para si mesma ou para as outras pessoas. A tecnologia já chegou a esse nível, mas não conseguimos ler a mente das pessoas com detalhes. É possível que futuramente possamos descobrir coisas sobre a nossa subjetividade de que não temos consciência, utilizando experimentos científicos. E isso tudo se relaciona ao bem-estar humano e o modo como as pessoas ficam felizes e como poderemos viver juntos para maximizar a possibilidade de ter vidas que valham a pena.

Por que deveríamos confiar a educação dos nossos filhos aos valores científicos? Os cientistas não se transformariam, com o tempo, em algo como padres, mas com uma ‘batina’ diferente? Cientistas não são padres. Os médicos, por exemplo, agem sob o pensamento da medicina, que, como fonte de autoridade, não se tornou arrogante ou limitou a liberdade das pessoas de maneira assustadora. É uma disciplina que está concentrada em entender a vida humana e minimizar o sofrimento físico. Seu médico nunca vai até você ‘pregar’ sobre os preceitos da ciência, você vai até ele quando precisa. Pais que se deixam guiar por dogmas religiosos não dão remédios aos filhos e os deixam morrer. Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta.

O que dizer dos experimentos neurológicos que sugerem que a crença religiosa está embutida nos nossos cérebros? Não acho que a crença religiosa esteja embutida no cérebro humano. Mas digamos que esteja. Façamos um paralelo com a bruxaria. Pode ser que a crença em bruxaria estivesse embutida em nossos cérebros. A bruxaria matou muitos seres humanos, assim como a religião. Todas as culturas tradicionais acreditaram em algum momento em bruxas e no poder de magia e, na verdade, a crença na reza possui um conceito semelhante. Algumas pessoas dizem que sempre acreditaremos em bruxas, que a saúde humana será afetada pela 'magia' de vizinhos. Na África, muitas pessoas realmente acreditam em bruxaria e isso é terrível porque causa sofrimento desnecessário. Quando não se entende porque as pessoas ficam doentes, ou porque as crianças morrem antes dos três anos, você está num estado de ignorância que a crença em bruxaria está suprindo uma necessidade de maneira nociva. Superamos isso no mundo desenvolvido por causa do avanço da Ciência. Sabemos como a agricultura é afetada, por exemplo. Entendemos os fenômenos meteorológicos e a biologia das plantas. Não é algo que a religião resolve, e sim a ciência. Mas costumava ser assim. A crença na regência de um deus sobre a lavoura era universal.

As pessoas deveriam parar de acreditar em Deus? Se eu acho que as pessoas deveriam parar de acreditar no Deus da Bíblia? Com certeza. Da mesma forma que as pessoas pararam de acreditar em Zeus, em Thor e milhares de deuses mortos. O Deus da Bíblia tem exatamente o mesmo status desses deuses mortos. É um acidente histórico estarmos falando dele e não de Zeus. Poderíamos estar vivendo num mundo onde os suicidas muçulmanos se explodiriam por causa de ideias dos deuses do Monte Olimpo. A diferença entre xiitas e sunitas muçulmanos é a mesma diferença entre seguidores de Apolo e seguidores de Dionísio.
O senhor sempre foi ateu? Nunca me considerei um ateu, nem mesmo ao escrever meu primeiro livro. Todos somos ateus em relação a Zeus e Thor. Eu era um ateu em relação a eles e ao deus de Abraão. Mas nunca me considerei um ateu, como a maioria das pessoas não se considera pagã em relação aos deuses do Monte Olimpo. Foi no 11 de setembro de 2001, dia do atentado ao World Trade Center em Nova York, que senti que criticar a religião publicamente havia se tornado uma necessidade moral e intelectual. Antes disso eu era apenas um descrente. Eu nunca havia lido livros ateus, ou tivera qualquer conexão com a comunidade ateísta. O ateísmo não é um conceito que considere interessante ou útil. Temos que falar sobre razão, evidências, verdade, honestidade intelectual — todas essas coisas são virtudes que nos deram a ciência e todo tipo de comportamento pacífico e cooperativo. Não é preciso dizer que você é contra algo para advogar em favor da honestidade intelectual. Foi justamente isso que destruiu os dogmas religiosos.

O senhor cresceu em um ambiente religioso? Cresci em um ambiente completamente secular, mas não havia crítica às religiões ou discussões sobre ateísmo, existência de Deus etc. Quando era adolescente, fiquei muito interessado em religiões e experiências religiosas. Coisas como meditação, por exemplo. Aos vinte, comecei a estudar espiritualidade e misticismo. Ainda me interesso por essas coisas, mas acho que, para experimentar, não precisamos acreditar em nada que não possua evidencias suficientes.

Como o senhor se sente em ser rotulado como um dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’? Estou muito feliz com a companhia! É uma honra. A associação não me desagrada de forma alguma. Acho que os quatro lucraram por terem sido reunidos e tratados como uma pessoa de quatro cabeças. Em alguns momentos é um desserviço porque nossos argumentos não são exatamente os mesmos e não acreditamos nas mesmas coisas em todos os pontos. Mas tem sido útil sob o ponto de vista das publicações e admiro muito os outros cavaleiros  — os considero mentores e amigos. A parte do apocalipse tem um efeito cômico.
Se o senhor tivesse a chance de se encontrar com o Papa para um longo e honesto bate-papo, qual seria sua primeira pergunta? Gostaria de falar imediatamente sobre o escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica. Acho que o Papa é culpável por tudo que aconteceu. A evidência nesse momento sugere que ele estava entre as pessoas que conseguiram fazer prolongar o sofrimento de crianças por muitos anos. Acho que ele trabalhou ativamente para proteger a Igreja do constrangimento e no processo conseguiu garantir que os estupradores tivessem acesso às crianças por décadas além do que deveria ter sido. O Papa deveria ser diretamente desafiado por causa disso. Contudo, é algo que seu status como líder religioso impede que aconteça. Ele nunca seria protegido dessa forma se ele estivesse em qualquer outra posição na sociedade. Imagine o que aconteceria se descobrissem que o reitor da Universidade de Harvard [uma das universidades americanas mais respeitadas do mundo] tivesse permitido que empregados da universidade estuprassem crianças por décadas e ele tivesse mudado essas pessoas de departamento para protegê-las da justiça secular? Ele estaria na cadeia agora. E isso é impensável quando se fala do Papa. Isso acontece por que nos ensinaram a tratar a religião com deferência.
Publicado em:
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/nao-acreditar-em-deus-e-um-atalho-para-felicidade-diz-sam-harris

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